Capítulo 103: Um Beijo
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O beijo do homem tremia, quase que em uma tentativa de se conter.
Lu Ran ficou surpreso.
Ele ergueu o rosto para olhar para Ji Min.
Assim que levantou a cabeça, a mão grande do homem cobriu-lhe os olhos.
Ao redor, havia um burburinho de vozes.
Algumas pessoas conhecidas se aproximaram para perguntar se ele estava bem.
Mas tudo o que ele enxergava era uma escuridão tranquila e acolhedora.
Como o interior do carro preto de Ji Min, que nunca tinha luz acesa.
Naquela paz silenciosa, Lu Ran sentiu a respiração quente do homem em sua face.
Em seguida, um toque mais leve do que pétalas e plumas roçou seus lábios ainda trêmulos.
Seu olfato se encheu com a fragrância intensa, calma e amadeirada de Ji Min.
Aos poucos, o som ao redor se dissolveu por completo.
Lu Ran afundou o rosto no peito de Ji Min, sentindo o movimento da respiração do homem.
Uma manta fina bloqueava a luz do ambiente.
Ele permaneceu quieto ali, sentindo as pontadas nervosas e o eco de uma dor fantasma provocada pelo susto do acidente.
O homem ainda o segurava com força, sem relaxar o abraço.
Ambos se mantinham naquela sensação de alívio por estarem juntos, após o susto de quase uma perda.
Até que o som da ambulância preencheu o ar.
Lu Ran ergueu a cabeça debaixo da manta e murmurou: “Não quero ir ao hospital…”
A mão de Ji Min, de dedos longos e firmes, pousou em sua cabeça, empurrando-o suavemente de volta ao seu peito.
“Não é preciso, foi só uma queda.”
Lu Ran insistia.
Mas logo sentiu o toque de Ji Min beijando seus cabelos.
Perto de seu ouvido, ele sussurrou: “Mas eu estou muito preocupado, por favor.”
Lu Ran ficou em silêncio.
Por um longo momento.
Foi só quando Ji Min o colocou na ambulância que ele murmurou novamente: “Mas você não pode me deixar sozinho no hospital.”
“Tudo bem.”
Ji Min beijou sua orelha de leve.
Ao chegarem ao hospital, o cheiro familiar de desinfetante e o ar frio e impessoal daquele ambiente o envolveram.
Lu Ran fechou os olhos, tentando ignorar.
Depois de uma série de exames rápidos, ele foi colocado numa cama de emergência.
Encolhido, ele virou o rosto para o lado, evitando encarar o teto do quarto.
Após uma série de toques cuidadosos, o médico analisou os relatórios e disse a Ji Min:
“O paciente só tem alguns arranhões e hematomas, não há sangramentos internos nem ferimentos graves.”
Ji Min finalmente relaxou um pouco.
Mas o médico franziu o cenho: “Entretanto, na análise física, ele apresentou uma sensibilidade acentuada à dor nos membros.”
Ji Min já havia notado isso antes.
Lu Ran frequentemente mantinha os músculos tensionados, até mesmo trêmulos.
Ele também tinha o hábito de apertar as próprias articulações.
Quando Ji Min perguntou sobre isso, Lu Ran apenas dizia que estava tudo bem.
Ao saber desses detalhes, o médico concluiu: “Seria bom realizar exames mais detalhados.”
Ji Min franziu o cenho.
Olhou para o jovem encolhido na cama, que ainda tremia, e disse:
“Hoje… deixa pra lá. Vamos deixá-lo descansar.”
O médico percebeu que algo não estava bem com Lu Ran e pediu que a enfermeira aplicasse um sedativo.
O efeito veio rápido, relaxando cada nervo tenso.
Ainda assim, sob a calmaria induzida pelo medicamento, Lu Ran hesitava em fechar os olhos.
Até que Ji Min retornou à sua cabeceira e segurou sua mão.
O sono de Lu Ran parecia se espalhar lentamente pela sua mente, enevoando-a.
Ele fechava os olhos, mas forçava-se a reabri-los.
Repetiu o movimento algumas vezes.
Foi então que Ji Min cobriu seus olhos com a mão: “Por que não dorme?”
Meio sonolento, Lu Ran tentou segurar sua mão.
Mas a mão de Ji Min era larga, e ele conseguiu segurar apenas três dedos.
“Não estou com sono,” murmurou Lu Ran.
“Mentira.”
Ji Min sentiu as pálpebras piscando suavemente em sua palma.
“Está tudo bem, durma. Eu não vou deixar você sozinho no hospital.”
A voz baixa de Ji Min soava reconfortante.
“Então, enquanto eu estiver dormindo, você não pode sair daqui,” Lu Ran pediu.
“Está bem,” Ji Min prometeu em um sussurro.
Assim que o Sr. Chen recebeu a notícia, correu para o hospital.
Ao abrir a porta do quarto, viu uma cena inesperada.
Ji Min estava sentado em sua cadeira de rodas, segurando o jovem que deveria estar deitado na cama.
Ele acariciava suavemente as costas de Lu Ran, num gesto calmo para ajudá-lo a dormir.
Ao notar a presença do Sr. Chen, Ji Min fez um gesto pedindo silêncio.
Depois de verificar que o jovem em seu colo já dormia profundamente, ele indicou para que o Sr. Chen se aproximasse.
“Como ele está?” O Sr. Chen perguntou em voz baixa.
“O acidente de carro não causou grandes danos.” Ji Min ajustou a posição do jovem em seu colo para que ele dormisse mais confortável. “Mas ainda não sabemos se há outros problemas.”
O Sr. Chen assentiu e fez um breve relato:
“A polícia já inspecionou o local do acidente, mas a situação não é boa; o motorista do carro morreu. Teremos que aguardar mais informações das autoridades.”
“Morto? Que conveniente,” Ji Min riu com frieza.
Se um carro avançasse diretamente, isso poderia ser justificado como um erro ao ultrapassar o sinal vermelho. Mas o veículo havia parado antes do semáforo e só arrancou de repente quando Lu Ran estava passando. Não havia como isso ter sido um simples acidente.
“Investigue a fundo,” Ji Min ordenou em tom sombrio.
O Sr. Chen acenou com a cabeça e saiu para tomar as providências.
Ao retornar, disse:
“Os dois irmãos da família Shen estão aqui fora e disseram que querem ver o Sr. Lu Ran.”
“Mande-os embora,” Ji Min respondeu, com uma dureza incomum.
Depois, preocupou-se que sua voz pudesse ter despertado o jovem em seus braços e, então, verificou que ele ainda dormia, finalmente aliviado.
O Sr. Chen não se surpreendeu com a reação de Ji Min.
Esse acidente parecia suspeito demais para descartar uma possível conexão com a família Shen.
“Mas o Sr. Gu Zhi também veio,” acrescentou o Sr. Chen. “Afinal, o acidente aconteceu logo depois que eles saíram da casa da família Gu. O velho Sr. Gu até ligou perguntando por ele.”
“Não vou receber ninguém,” Ji Min respondeu.
O Sr. Chen assentiu e virou-se para sair. Antes, Ji Min acrescentou: “Chame o Dr. Kaemiller.”
O Sr. Chen hesitou por um momento, entendendo a intenção, e assentiu.
Do lado de fora, Gu Zhi e os irmãos Shen aguardavam no corredor, embora não fosse o mesmo onde Lu Ran estava internado. Eles nem sequer sabiam em qual quarto ele estava.
Shen Xingyu andava impaciente pelo corredor.
Shen Xingzhu estava sentado, apoiando o queixo com uma expressão pensativa.
Somente Gu Zhi parecia relaxado, sentado com as pernas cruzadas.
“Por que vocês estão tão preocupados? Disseram que ele está bem, e além disso, o Ji Min está com ele!”
“Você fala isso com tranquilidade porque não estava lá,” respondeu Shen Xingzhu com um tom amuado.
Ele olhou para Shen Xingyu e murmurou:
“Mesmo que ele não tenha sido atropelado, uma queda dessas pode causar algum dano.”
Ao ouvir isso, Shen Xingyu virou-se para ele: “O que quer dizer? Pelo menos eu fiz algo, diferente de você, que ficou parado.”
“Você!” Shen Xingzhu levantou-se de repente.
Observando o clima tenso entre os dois irmãos, Gu Zhi ficou espantado.
Ele se apressou em segurar os dois: “Estamos no hospital! Vocês dois parem com isso.”
Nesse momento, o Sr. Chen apareceu no corredor.
Ele sorriu educadamente para os três: “O Sr. Lu Ran está bem, só precisa ser monitorado por mais um tempo. Vocês já podem ir.”
Gu Zhi rapidamente perguntou: “Podemos vê-lo? Meu pai não pôde vir e me pediu que fizesse um vídeo do pequeno Lu para ele.”
Mas o Sr. Chen apenas sorriu com um pedido de desculpas: “Agradecemos a preocupação do Sr. Gu.”
Gu Zhi, que estava acostumado a lidar com o Sr. Chen, entendeu que seria inútil insistir.
Shen Xingyu franziu as sobrancelhas e olhou para o relógio.
Ao notar isso, Shen Xingzhu comentou: “Você deve ter trabalho a fazer, então eu fico. Vou esperar por aqui.”
O Sr. Chen não se importava com a decisão deles de ficar ou não. Terminou a conversa e saiu.
Gu Zhi recostou-se na cadeira, suspirando:
“Pronto, nem mesmo a influência do meu pai ajudou. Parece que Ji Min desconfia de todo mundo.”
“O que você quer dizer com ‘desconfia de todo mundo’?” Shen Xingzhu perguntou.
“Quero dizer que qualquer pessoa num raio de cem metros é vista como suspeita,” respondeu Gu Zhi.
Todos ali, que vinham de famílias complicadas, entenderam imediatamente o que ele queria dizer.
Shen Xingyu não disse mais nada, virando-se para sair.
Quando o Sr. Chen voltou ao quarto, o Dr. Kaemiller já havia chegado e estava conversando com Ji Min.
Ao ver Ji Min segurando Lu Ran, o médico o advertiu instintivamente: “Segurando-o assim, ele não vai dormir bem.”
“Mas se eu o colocar na cama, ele pode acordar.”
Ji Min, hesitante, apertou o menino em seus braços, e logo afrouxou o aperto, cauteloso.
Observando a cena, o Dr. Kaemiller arqueou as sobrancelhas, questionando-se se o que impedia o sono de Lu Ran era o desconforto de estar na cama… ou se era Ji Min quem não queria soltá-lo.
“Ele tomou um sedativo e não vai acordar agora. Se ele está com dor, segurá-lo assim só piora,” explicou o médico.
Finalmente convencido, Ji Min suspirou, levantou-se e deitou o jovem de volta na cama, puxando a coberta sobre ele com cuidado, cobrindo até suas orelhas.
Voltando-se para o Dr. Kaemiller, Ji Min disse:
“Te chamei porque decidi adiantar minha cirurgia.”
“Adiantar? Mas estava marcada para daqui a seis meses!” exclamou o médico, surpreso.
“Agora é o momento ideal.” Ji Min lançou um olhar para o jovem dormindo.
O acidente havia criado um clima de tensão, e quem estava por trás daquilo não teria como agir abertamente.
Se ele esperasse mais, talvez não conseguisse se afastar.
“Bem…”
A decisão repentina de Ji Min pegou o Dr. Kaemiller de surpresa.
“Mas não é uma questão de adiantar e pronto; seu corpo precisa estar preparado, e o pós-operatório é longo. Além disso, você sabe dos riscos envolvidos; precisa organizar tudo no trabalho…”
Ji Min o interrompeu: “Esses são meus problemas. Eu vou resolver. Só precisa preparar a cirurgia.”
Sua voz era firme, deixando claro que não admitiria objeção.
O médico hesitou, mas assentiu: “Muito bem. Quando deseja realizar o procedimento? Em até dois meses?”
Ji Min respondeu apenas com duas palavras: “O mais rápido.”
O Dr. Kaemiller saiu, intrigado.
Depois, Ji Min voltou-se para o Sr. Chen, para alinhar uma série de preparativos.
Kaemiller tinha razão; ele tinha toda uma empresa para organizar.
Além disso, Ji Min não queria que a notícia de sua cirurgia vazasse, o que tornava a logística ainda mais desafiadora.
Quando terminou de dar as instruções, Ji Min voltou-se para a cama onde Lu Ran dormia.
Ele estendeu um dedo e acariciou de leve o rosto quente do jovem.
A cirurgia tinha um risco de morte.
Ele precisava estar preparado para o pior.
Lu Ran não dormiu por muito tempo.
Quando acordou, já era fim de tarde.
O céu estava limpo, e o pôr do sol parecia belo.
Mas, ao abrir os olhos, ele não percebeu a luz suave que inundava o quarto.
O que viu foi o teto do hospital e o odor persistente de desinfetante.
Ficou olhando o teto, atordoado.
Acordar em meio a uma dor fantasma, com o mesmo teto imóvel à sua frente… aquilo era tão familiar.
Músculos dos braços e pernas doloridos, como se fossem inexistentes.
Aquela sensação lhe era familiar demais.
Parecia com cada despertar que tivera em sua vida passada.
Até que uma voz conhecida veio de seu lado: “Acordou?”
Lu Ran virou o pescoço lentamente e olhou para o lado.
Ji Min fechou o laptop, colocou-o ao lado, controlou a cadeira de rodas para se aproximar e perguntou:
“Ainda sente dor? Algum incômodo?”
Lu Ran ficou em silêncio, apenas o olhando.
Após um longo tempo, perguntou: “E o Dahuang?”
Ji Min estendeu a mão e tocou sua testa, sentindo o suor frio.
Seu rosto imediatamente ficou preocupado: “Dahuang está em casa, o Sr. Chen está cuidando dele. Vou chamar o médico.”
Ji Min ia apertar o botão de chamada, mas Lu Ran segurou seu pulso.
A mão de Lu Ran estava fria.
Ele não disse nada, apenas olhou fixamente para Ji Min com aqueles olhos escuros e profundos.
“O que houve? Está doendo muito?”
Ji Min perguntou, preocupado.
Lu Ran olhou para ele por um longo tempo.
Seu olhar era distante, tão frio quanto no dia em que Ji Min o encontrou pela primeira vez, naquela noite de chuva.
Ele olhava para Ji Min, e, então, com a voz rouca, perguntou:
“Ji Min, você é real?”
A pergunta o deixou surpreso.
Preocupado, mas com uma ponta de riso, Ji Min deu um leve tapa em sua cabeça: “Que ideia é essa?”
O toque conhecido fez o frio no olhar de Lu Ran diminuir um pouco.
Ele segurou a mão de Ji Min, sua voz carregada de urgência:
“Mas… como posso saber se você não é apenas algo que imaginei?”
O jovem saiu debaixo das cobertas.
Sem dar chance a Ji Min de recusar, subiu em seu colo.
Se aproximando, olhou para ele com seriedade.
“Chefe, você me beijou, não foi? Pode me beijar de novo?”
Instintivamente, Ji Min segurou-o firme.
Lembrando-se do que fizera antes, desviou o olhar, dizendo baixinho:
“Não faça isso, vamos chamar o médico primeiro. Depois do exame, voltamos para…”
Mas o jovem o interrompeu com um beijo.
Os lábios de Lu Ran estavam frios.
O beijo era apressado, com respiração curta, como um pequeno animal procurando contato, esfregando-se contra os lábios de Ji Min.
Sem jeito, mas tão sincero que fez Ji Min apertar os dedos, segurando-o ainda mais forte.
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