Capítulo 19: Pãozinho no Vapor

“Você não entende o que estou dizendo? Eu mandei você ir embora!” gritou a senhora Shen, à beira de um colapso.

Depois de berrar, de repente percebeu onde estavam — bem na entrada da mansão. Esse era um bairro de alto padrão, onde cada morador era rico ou poderoso. Mesmo uma caminhada casual podia levar a encontrar conhecidos da alta sociedade, sem falar em potenciais parceiros de negócios da família Shen.

Se alguém a visse assim, como poderia manter sua reputação?

Enquanto isso, Lu Ran estava deitado no travesseiro, jogando no celular.

“Vocês me trouxeram até aqui e agora acham que eu devo ir embora só porque estão mandando? Não é tão simples assim,” disse Lu Ran, ainda concentrado no telefone.

A senhora Shen estava furiosa, mas recuou rapidamente ao notar alguém caminhando ao longe.

Lu Ran soltou uma risada fria.

Quando recebeu sua mala, quase se sentiu como se pudesse sair voando de felicidade enquanto passeava com seu cachorro, Da Huang. Eles realmente achavam que ele queria ficar nesse lugar ridículo?

Mal podia esperar para cortar todos os laços com a família Shen.

Mas Lu Ran ainda se lembrava de seu destino na vida passada.

Mesmo depois de ter saído da família Shen, eles ainda o procuraram. Ele suspeitava que seu acidente de carro não tinha sido um acidente de verdade, mas sim uma forma da família Shen obrigá-lo a voltar.

Claramente, eles tinham suas próprias razões para querer que ele voltasse, e isso tinha que estar relacionado aos interesses deles. Devia haver algo que queriam dele.

Sem descobrir isso, Lu Ran sabia que partir não resolveria nada.

Na sala de estar, a senhora Shen andava de um lado para o outro, inquieta.

Depois de um tempo, ela perguntou: “Ele ainda está lá fora, recusando-se a ir embora?”

O empregado balançou a cabeça.

A senhora Shen murmurou um xingamento baixinho e nem conseguiu jantar direito.

Ela esperou até a noite, quando a luz do celular de Lu Ran finalmente se apagou.

Uma pontinha de esperança surgiu em seu coração. Ela agarrou o empregado e perguntou: “Rápido, veja se ele foi embora!”

Pouco depois, o empregado voltou, despedaçando sua esperança.

“Senhora, ele não só não foi embora, como também está dormindo profundamente.”

A senhora Shen levou a mão ao peito e sentou-se.

“Você! Você vai…” Ela apontou para o empregado. “Arranje algumas pessoas e o carregue para bem longe daqui!”

Mas, assim que o empregado virou-se para sair, ela rapidamente o chamou de volta. “Espere, espere!”

Ela não podia fazer isso.

Com o hábito de Lu Ran de causar confusão no meio da noite, se realmente o acordassem, era impossível prever o escândalo que ele faria. Amanhã, todo o bairro saberia da confusão ridícula em sua casa.

Shen Xingran, que tinha ido consolá-la, disse: “Mãe, ele está só tentando te assustar. Não há chance de ele realmente dormir lá fora a noite toda. Ele com certeza vai encontrar outro lugar para ficar.”

Observando sua expressão, ele acrescentou deliberadamente: “Ou… talvez você pudesse ceder e deixá-lo voltar para dentro?”

Como esperado, o rosto da senhora Shen endureceu imediatamente. “De jeito nenhum!”

“Não acredito que ele vai mesmo dormir lá fora a noite inteira!”

Com isso, ela virou-se e subiu as escadas, recusando-se a pensar mais em Lu Ran.

Shen Xingran sorriu de canto enquanto ela se afastava.

Apesar de suas palavras duras, a senhora Shen teve uma noite inquieta, incapaz de dormir direito. Sua mente não parava — ora imaginando Lu Ran tocando música alta no meio da noite, ora imaginando-o pulando para dentro enrolado no saco de dormir e gritando “Surpresa!” para ela.

Quando o amanhecer chegou, sua cabeça estava uma completa bagunça.

Essa noite de sono foi pior do que se não tivesse dormido nada.

Assim que abriu os olhos, a senhora Shen desceu correndo as escadas, sem nem lavar o rosto ou trocar o pijama. Ela agarrou um empregado e perguntou ansiosa: “Ele foi embora durante a noite? Quando foi que ele saiu?”

Vendo a expressão hesitante do empregado, a senhora Shen teve um mau pressentimento.

E, claro, logo ouviu o empregado dizer: “O jovem mestre Lu não foi embora. Ele até pediu comida para ele…”

A senhora Shen sentiu-se tonta.

Comida para viagem? Ele até pediu comida para viagem?

Ele estava planejando acampar ali para sempre?

“O que ele pediu?” exigiu a senhora Shen.

O empregado lançou-lhe um olhar constrangido. “Ah… pãozinho no vapor e legumes em conserva.”

“O quê?!” gritou a senhora Shen. “Ele está comendo esse tipo de comida bem na porta da casa da família Shen?”

Ela teve uma vaga sensação de que talvez tivesse cometido um erro, mas seu orgulho não a deixava convidar Lu Ran a voltar para dentro.

Nesse momento, Lu Ran já tinha ido a um banheiro público próximo para se refrescar. Ele emergiu do saco de dormir, meio recostado nele enquanto comia, com as costas apoiadas na mala.

Estava completamente relaxado, deitado como o famoso personagem preguiçoso Ge You. Com habilidade, ele partia o pãozinho no meio, mordia um pacote de legumes em conserva, rasgava um cantinho e enfiava os legumes dentro do pão. Abrindo a boca bem grande, dava uma mordida satisfatória, seus olhos se estreitando de contentamento.

Era só um pãozinho branco comum, mas ele o comia como se fosse uma iguaria gourmet, fazendo o pãozinho branco parecer irresistivelmente macio e tentador.

Chen Sheng tinha acabado de sair para passear com seu cachorro. Após andar apenas uma curta distância, viu aquela cena. Sem motivo, ele e seu husky pararam, fitando o pãozinho de Lu Ran, praticamente babando.

Eles ficaram ali, observando enquanto Lu Ran dava uma mordida grande após a outra, terminando o pãozinho inteiro. De vez em quando, ele dava um gole de leite de soja.

O estômago de Chen Sheng roncou.

Ele já tinha tomado café da manhã antes de sair, mas, de repente, os bolinhos de sopa e o mingau de camarão cuidadosamente preparados por seu chef particular não pareciam nem de longe tão apetitosos quanto o pãozinho de Lu Ran.

Seu husky sentia o mesmo, de repente arrastando Chen Sheng em uma corrida desenfreada em direção ao portão da família Shen. O cachorro derrapou até parar bem na frente de Lu Ran, sentando-se obedientemente e balançando o rabo furiosamente.

Lu Ran ergueu os olhos, reconhecendo o rosto familiar. Ele arrancou um pedaço do pãozinho e o enfiou na boca do husky.

O husky balançou o rabo ainda mais entusiasmado.

Chen Sheng: “…”

Será que ele devia mencionar que, antes de sair de casa, aquele cachorro estava em greve de fome, recusando-se a comer sua ração?

“Bom dia.” Lu Ran cumprimentou preguiçosamente, deitado bem na entrada da casa da família Shen.

“Bom dia, bom dia.” Chen Sheng respondeu com um sorriso sem jeito, misturado com um certo respeito.

Lu Ran havia conquistado fama após sua briga com Lin Yi. Agora, no círculo social deles, ele era praticamente uma lenda, um verdadeiro deus da guerra, comparável a Lü Bu.

Mas Chen Sheng estava confuso. Ele tinha visto pessoalmente Lu Ran enfiar uma escova de banheiro na boca de alguém e imobilizar Lin Yi no banheiro. Ainda assim, agora, vendo-o comer, por que aquilo parecia tão apetitoso?

Lu Ran, claro, não ligava para o que Chen Sheng pensava. Ultimamente, ele estava crescendo e um pãozinho no vapor não era suficiente para encher seu estômago. Então, ele abriu outro, enfiando o resto dos legumes em conserva dentro.

O pãozinho quente, recheado de picles, exalava um aroma irresistível. O husky sentado ali perto ganiu ansiosamente, “Auuu.”

Lu Ran estendeu a mão e empurrou o focinho do cachorro para o lado. “Você não pode comer isso. Vai lá e come aquilo.” Com isso, ele despejou um pouco de ração na tigela de Da Huang.

O husky imediatamente atacou a comida.

Lu Ran deu uma grande mordida no pãozinho, com as bochechas cheias enquanto mastigava.

O estômago de Chen Sheng roncou de repente.

Apressando-se para mudar de assunto, Chen Sheng olhou para a montagem peculiar de Lu Ran e perguntou: “O que… o que você está fazendo aqui?”

Lu Ran apontou para o saco de dormir debaixo dele. “Acampando bem na frente da minha própria casa.”

Chen Sheng: “…”

Ele olhou para Lu Ran e depois para o portão da família Shen. Lentamente, fez um sinal de positivo para ele.

Agora, ele realmente admirava Lu Ran.

Quando Lu Ran causou problemas com a família Lin, todos especularam que a família Zhang poderia vir atrás dele. Mas depois de tantos dias, nada aconteceu. Era difícil não ficar impressionado.

Enquanto isso, o husky tinha terminado o pouco de ração no chão e continuava olhando esperançoso, pedindo mais.

Lu Ran olhou para o cachorro e depois para o dono do cachorro.

Chen Sheng olhou para o cachorro e então fixou o olhar, cheio de desejo, no pãozinho na mão de Lu Ran. Ele não pôde mais se conter.

Gaguejando, Chen Sheng perguntou: “Esse… é bom?”

Ele era o jovem mestre da família Chen, afinal. Embora sua família fosse um pouco menos influente que a família Shen, ainda estava no mesmo nível da família Lin. Ele já havia provado todos os tipos de iguarias, mas ali estava ele, salivando por um simples pãozinho no vapor.

Mas…

Em toda a sua vida, Chen Sheng nunca tinha comido um pãozinho recheado com picles.

Ele encarou o pãozinho na mão de Lu Ran, os olhos cheios de vontade.

“Quer experimentar?” Lu Ran perguntou.

Chen Sheng assentiu animadamente.

Sem hesitar, Lu Ran meteu a mão na sacola, tirou um grande pãozinho branco e um pacote de legumes em conserva, e entregou a Chen Sheng. Ele até mostrou como rechear o pão com os picles.

Chen Sheng ficou ao mesmo tempo surpreso e lisonjeado. Ele não esperava que alguém tão feroz quanto Lu Ran fosse tão generoso.

Seguindo o exemplo de Lu Ran, Chen Sheng deu uma grande mordida no pãozinho. A maciez e o calor do pão, combinados com a crocância dos legumes em conserva, encheram sua boca com uma satisfação surpreendente.

A frescura dos legumes em conserva explodiu na língua de Chen Sheng, dando ao simples pãozinho um novo nível de sabor.

Não era tão refinado quanto a comida a que Chen Sheng estava acostumado, mas trouxe uma inesperada sensação de contentamento e felicidade.

Lu Ran olhou para o jovem mestre como se ele fosse um idiota. Será que esse garoto rico nunca tinha provado as maravilhas dos carboidratos cheios de glutamato?

“Gostoso?” Lu Ran perguntou.

Chen Sheng assentiu energicamente, mostrando o polegar para cima.

“Ah, a propósito, um pãozinho custa cem paus. Vou deixar passar o custo da ração e dos picles, é só mandar o dinheiro para o meu Alipay.” Lu Ran mostrou o código QR do Alipay.

Chen Sheng, que o elogiava anteriormente: “…”

Cem paus por um pãozinho?

Por que você não me rouba logo?

Apesar de Chen Sheng não ser ignorante em relação a preços, ele sabia que aquilo era uma exploração total. Mas, afinal, ele já tinha comido o pãozinho e, sem querer provocar Lu Ran, transferiu os cem yuans a contragosto.

Quando terminou o pãozinho, Chen Sheng olhou para cima e viu outro rosto familiar se aproximando.

Acenando freneticamente, ele gritou: “Grande Chuang!”

O homem chamado Grande Chuang se aproximou e, ao ver Lu Ran deitado no chão, ficou momentaneamente espantado.

Ele também estivera presente quando Lu Ran enfiou uma escova de banheiro na boca de alguém. Então, ao ver Lu Ran, seu primeiro instinto foi virar-se e ir embora, mas ele parou no meio do caminho.

Chen Sheng ficou em silêncio, esperando enquanto Grande Chuang observava Lu Ran, que dava outra grande mordida no pãozinho, as bochechas se movendo como as de um esquilo.

Como esperado, ninguém conseguia resistir ao espetáculo de Lu Ran comendo.

Chen Sheng observou enquanto Grande Chuang inconscientemente engolia em seco.

Apontando para o pãozinho na mão de Lu Ran, ele promoveu: “O pãozinho do nosso Irmão Lu é especialmente cheiroso, realmente delicioso.”

Não ia ser explorado sozinho — melhor arrastar mais alguém junto.

Grande Chuang bufou no início, pronto para ir embora, mas então seu olhar captou Lu Ran dando outra mordida. O pãozinho branco e macio, com os picles avermelhados aparecendo, parecia incomumente tentador.

Alguns minutos depois, o saldo do Alipay de Lu Ran aumentou em mais cem yuans.

Lu Ran sentou-se no saco de dormir, pensativo.

Para quê trabalhar? Por que não vender pãezinhos aqui mesmo?

Na casa dos Shen.

A senhora Shen olhava para a mesa de café da manhã à sua frente, incapaz de comer. Ela cutucava a comida enquanto considerava se deveria esvaziar o galpão e deixar Lu Ran morar lá.

Mas, depois de pensar um pouco, decidiu que seria um favor grande demais para Lu Ran. Ele que limpasse o lugar sozinho.

Decidida, a senhora Shen se acalmou e continuou seu café da manhã, planejando deixar Lu Ran do lado de fora por mais um tempo.

Ela levou uma colher de sopa de frutos do mar aos lábios, mas, no momento em que a colher chegou à boca, o jardineiro entrou de repente.

“Senhora, tem algo errado! O Lu Ran está conversando com o jovem mestre da família Chen lá fora!”

A senhora Shen cuspiu a sopa imediatamente.

Ela limpou a boca rapidamente e perguntou: “Com quem você disse?”

“A família Chen, da casa ao lado!”

A senhora Shen estava incrédula.

“Ele está deitado lá fora e ainda tem a ousadia de conversar com as pessoas?”

O jardineiro assentiu.

A senhora Shen voltou a ficar apreensiva.

O jovem mestre da família Chen era uma coisa, mas o verdadeiro problema era a senhora Chen da casa ao lado — uma fofoqueira infame. Se ela descobrisse, provavelmente toda Pequim ouviria falar disso.

Antes que a senhora Shen pudesse pensar em uma solução, o jardineiro lançou um olhar para fora e disse: “O jovem mestre da família Zhao também está aqui!”

A senhora Shen espiou e viu Lu Ran entregando um pãozinho a Zhao Chuang.

Por algum motivo, o alto e musculoso Zhao Chuang, que parecia capaz de enfrentar dois Lu Rans ao mesmo tempo, aceitou o pãozinho com uma surpreendente reverência. Não só pegou com ambas as mãos, mas também agradeceu educadamente a Lu Ran.

A senhora Shen sentiu como se tivesse entrado em um mundo bizarro.

Isso não podia continuar.

Ela recompôs-se, ajeitou-se, e com uma expressão serena, dirigiu-se ao portão da propriedade da família Shen.

Quando chegou, viu que já havia uma pequena multidão de três a cinco pessoas ao redor de Lu Ran.

Além de Chen Sheng e Zhao Chuang, havia outros dois jovens mestres de famílias ricas, todos agachados lado a lado, olhando fixamente para o pãozinho na mão de Lu Ran.

Lu Ran bocejou preguiçosamente e disse: “Esse é o último, duzentos paus. Vocês podem fazer um PK para decidir quem fica com ele ou dividir meio a meio.”