Capítulo 62: Aniversário

O propósito do banquete da família Shen era apresentar formalmente seu filho mais novo, que havia desaparecido por quinze anos, a todos os convidados presentes.

Ninguém esperava que o chefe da família Ji aparecesse no banquete e levasse o protagonista da noite embora.

Quando Shen Hongyuan procurou por ele para todos os lados e não o encontrou, finalmente soube que Ji Min havia fugido com o garoto.

Shen Xingzhuo chegou um pouco atrasado.

Ele se destacou logo ao aparecer, pois carregava uma grande caixa de papelão.

Parecia que ele tinha vindo às pressas, pois uma fina camada de suor brilhava em sua testa.

Seu cabelo, normalmente bem arrumado, estava um pouco desalinhado, dando-lhe uma aparência mais casual.

“Zhuo-ge!”

“Por que demorou tanto para chegar?”

Chen Sheng e os outros levantaram as mãos para cumprimentá-lo imediatamente.

Alguns se aproximaram para ver a grande caixa nos braços de Shen Xingzhuo.

Chen Sheng, curioso, estendeu a mão para espiar: “O que é isso? Parece pesado!”

Assim que ele esticou a mão, Shen Xingzhuo lançou-lhe um olhar de advertência: “O que pensa que está fazendo? Acha que isso é algo que você pode tocar?”

Chen Sheng rapidamente retraiu a mão.

Shen Xingzhuo, com um ar misterioso, não revelou o que havia dentro da caixa e não a colocou no chão.

Em vez disso, carregou-a como um objeto precioso, circulando pelo banquete.

Depois de dar duas voltas sem encontrar ninguém, franziu a testa e perguntou a Chen Sheng: “Onde está Lu Ran?”

“Não sei,” respondeu Chen Sheng. “Estava procurando por ele também; não o vi há um tempo. Por que não pergunta ao tio Shen?”

Shen Xingzhuo franziu levemente a testa.

Subiu as escadas, foi até seu quarto para deixar a caixa e depois saiu à procura de Shen Hongyuan.

Shen Hongyuan estava na sala de jogos, conversando com alguém.

Gu Ningqi já havia saído mais cedo.

As expressões dos outros também eram difíceis de interpretar.

Assim que Shen Xingzhuo chamou Shen Hongyuan para fora, perguntou: “Pai, onde está Lu Ran?”

A expressão de Shen Hongyuan não era tão animada quanto costumava ser diante dos outros; havia uma leve tensão entre suas sobrancelhas.

Ele deu uma tragada no charuto entre os dedos antes de responder: “Ele saiu com Ji Min. Não se preocupe com isso.”

Shen Xingzhuo ficou surpreso por um momento e, em seguida, suas sobrancelhas se contraíram profundamente.

“Saiu com Ji Min? Já está quase dez horas. O que Ji Min quer com ele?”

A voz de Shen Xingzhuo subiu involuntariamente: “Como pôde deixá-lo ir? Ele é seu filho biológico. Está realmente disposto a vendê-lo para aquela família Ji?”

“Basta!” Shen Hongyuan interrompeu em voz baixa, com o rosto frio.

Olhou ao redor, certificando-se de que ninguém estava prestando atenção, e lançou um olhar irritado para Shen Xingzhuo, cerrando os dentes ao dizer: “Quero que ele fique longe de Ji Min ainda mais do que você!”

Enquanto isso, Lu Ran estava completamente alheio aos acontecimentos na família Shen.

Naquele momento, ele estava sentado no carro de negócios de Ji Min, pressionando os olhos contra a janela, olhando curioso para fora.

“O que vamos fazer?” Lu Ran perguntou.

Eles não poderiam estar indo trabalhar a essa hora, poderiam?

O homem na cadeira de rodas virou levemente a cabeça para olhar para trás.

O carro estava escuro por dentro e a divisória frontal também estava abaixada.

Apenas uma luz fraca das janelas laterais penetrava pelo vidro escuro.

Essa luz tênue lançava um brilho sutil no perfil bem definido do homem.

Lu Ran percebeu que o homem o havia olhado e disse: “Vamos comemorar o aniversário do Da Huang.”

“Hum?” Lu Ran arregalou os olhos surpreso.

Quando ele havia enviado Da Huang para a casa de Ji Min, também havia entregue a licença do cão.

A licença tinha um registro que mostrava a data de nascimento de Da Huang, então não era surpreendente que Ji Min soubesse.

“Mas…” Lu Ran pensou por um momento, “o aniversário do Da Huang é no mês que vem.”

O homem à frente já havia se virado novamente.

Ele simplesmente disse: “No próximo mês não haverá tempo, então vamos comemorar hoje.”

“Oh.” Lu Ran respondeu, pensando em como ele devia estar ocupado.

Mas essa era a primeira vez que alguém celebrava o aniversário de Da Huang.

Antes, Lu Ran apenas abria uma lata de comida para Da Huang.

Agora, Ji Min, esse chefe extravagante, estava indo tão longe, o que atiçou a curiosidade de Lu Ran.

Ele tentou manter os olhos abertos, mas acabou cedendo e cochilando por um tempo.

Quando acordou, percebeu que o carro havia entrado em uma área ampla.

Estava um pouco escuro lá fora. Lu Ran não viu uma placa, mas teve a vaga sensação de que era algo como um paraíso para animais de estimação.

No entanto, ao entrar, não havia outros cães por perto.

Havia várias instalações de lazer comuns encontradas em parques para animais de estimação.

O carro parou em uma pequena ilha no meio de um lago.

A ilha estava coberta por grandes extensões de grama, cercada por um lago em forma de meia-lua.

Na margem do lago, havia fileiras de árvores desconhecidas.

Surpreendentemente, folhas verdes ainda pendiam dos galhos nessa época do ano.

Estava completamente escuro ao redor.

Lu Ran saiu do carro, segurando Da Huang, e sentiu o cheiro do ar, confuso.

“Como vamos comemorar um aniversário aqui?”

Ji Min também saiu do carro.

Ignorando Lu Ran, ele fez um sinal com a cabeça para o tio Chen: “Pegue um casaco para ele.”

A temperatura havia subido um pouco desde o ano novo, mas ainda estava frio.

Lu Ran havia saído às pressas e estava vestindo apenas o terno de alta-costura.

Ele não tinha trazido um casaco, então o mordomo Chen pegou um sobretudo de caxemira do carro e entregou a ele.

“Obrigado.” Lu Ran vestiu o casaco.

A princípio, ele não pensou muito a respeito.

Mas, uma vez vestido, percebeu que as mangas eram exageradamente longas e as costuras dos ombros caíam até os cotovelos.

Envolto no sobretudo, parecia uma criança vestindo as roupas de um adulto.

Lu Ran olhou para o homem atrás dele com uma leve insatisfação.

Na hora certa, pegou um vislumbre do brilho divertido nos olhos de Ji Min.

“Não ria!”

Lu Ran tentou puxar as mangas algumas vezes, mas eram largas demais e continuavam caindo.

Ele não teve escolha senão enrolar as mangas.

Isso o fazia parecer ainda mais como uma criança.

Lu Ran: “…”

Lançou outro olhar para Ji Min.

Foi lembrado novamente de que a compleição de Ji Min poderia ser definitivamente descrita como “robusta” entre os homens.

Ao mesmo tempo, uma leve sensação de pesar surgiu em seu coração.

Ji Min deveria ser bem alto quando estivesse em pé, com ombros largos e firmes.

Que pena que uma pessoa assim estivesse sentada em uma cadeira de rodas.

“Leve Da Huang e caminhe na frente,” Ji Min disse, interrompendo seus pensamentos.

Lu Ran olhou para baixo e percebeu que Da Huang já estava puxando a barra de sua calça.

Por algum motivo, Da Huang parecia muito animado.

Ao vê-lo chegar, as quatro patinhas curtas quase saltaram como as de um filhote.

Lu Ran não pôde evitar sentir-se feliz também.

Seguiu Da Huang enquanto caminhavam para a frente.

Quando chegaram a um túnel transparente, Da Huang correu para dentro com entusiasmo.

Ele deve ter pressionado algo, pois todo o túnel se iluminou.

Lu Ran levou um susto.

Ele se agachou para olhar mais de perto e descobriu que havia um interruptor instalado dentro do túnel, com pequenos petiscos sobre ele.

Da Huang pressionou o interruptor e comeu o petisco, fazendo as luzes coloridas escondidas no túnel se acenderem.

O interesse de Lu Ran foi despertado; o cansaço anterior desapareceu de repente. Ele correu pelo gramado junto com Da Huang.

O garoto e o cachorro passavam de um túnel para outro.

Eles continuaram correndo até ficarem exaustos.

Quando Lu Ran se virou, percebeu que todo o gramado havia se iluminado.

As luzes coloridas, ativadas diligentemente pelo pequeno cachorro, formaram o desenho de um bolo de aniversário.

O bolo tinha três camadas, e até as chamas no topo pareciam vívidas e realistas.

As luzes estavam espalhadas pelo gramado.

As minúsculas luzes coloridas emitiam um brilho suave, fazendo com que a grama verde luxuriante cintilasse com um halo verde quase transparente.

“Uau.” Lu Ran exclamou, admirado, “Isso é incrível!”

Instintivamente, ele se virou para olhar para o homem atrás dele.

Ji Min não havia pisado no gramado.

Ele estava sentado em silêncio em sua cadeira de rodas, observando da beira da grama.

Seus olhos escuros pareciam iluminados pelas luzes ao redor, revelando um tom quase gentil.

Lu Ran levantou o pé, com a intenção de voltar, mas Da Huang latiu para ele duas vezes e correu em direção à beira do lago.

Preocupado que Da Huang pudesse cair no lago, Lu Ran apressou-se em segui-lo.

Ele nem percebeu como Da Huang se movia.

Só viu o pequeno cachorro correr ao redor das árvores junto ao lago como um coelhinho.

Uma por uma, as enormes copas das árvores se acenderam em resposta.

Essas luzes não eram comuns.

Em vez disso, eram cordões de lâmpadas arranjados em padrões intrincados.

As lâmpadas brilhantes delineavam as silhuetas do garoto e do cachorro.

Havia uma cena do garoto agachado para proteger o filhote do vento, outra dos dois correndo juntos, e mais uma dos dois deitados no chão cochilando.

Cada copa de árvore parecia capturar um momento no tempo.

Lu Ran ficou no gramado.

Estava no centro, rodeado por esse círculo de árvores.

Ele olhava maravilhado para a cena diante de si, seus olhos refletindo a surpresa pura e cristalina da juventude.

Nem percebeu quando Da Huang voltou para o seu lado.

Depois de um bom tempo, finalmente se abaixou para pegar o filhote, apontando para uma das luzes e murmurando, “Da Huang, aquele é você!”

Seu olhar permaneceu fixo nas luzes coloridas enquanto ele não resistiu a dizer, “Da Huang, você tem muita sorte.”

Da Huang latiu para ele novamente, puxando a perna de sua calça para guiá-lo para a frente.

Lu Ran correu meio que apressado atrás dele.

Descobriu que Da Huang o havia levado até uma grande árvore.

Quando Lu Ran se aproximou, notou uma corda pendurada na árvore.

Mas a corda estava um pouco alta. Mesmo quando Da Huang ficou nas patas traseiras, não conseguiu alcançá-la.

“É isso que você quer puxar?” Lu Ran perguntou, levantando Da Huang.

No entanto, o filhote não foi em direção à corda; ao contrário, ele se remexeu para descer.

Lu Ran ficou confuso.

Mas estava realmente curioso sobre o que aconteceria se puxasse a corda.

Naquele momento, sentiu como se tivesse voltado à infância, e aquela curiosidade era algo que ele simplesmente não conseguia reprimir.

Lu Ran se virou para olhar para Ji Min.

O homem permanecia no lugar, um pouco distante dali.

Lu Ran disse a Da Huang em segredo, “Vou puxar por você.”

Dizendo isso, estendeu a mão e puxou a corda com entusiasmo.

Num instante, toda a ilha no lago se iluminou.

As luzes se espalharam como chamas do centro para o lago.

Num piscar de olhos, os pavilhões e construções no lago estavam banhados em um brilho de sonho.

Era como se alguém tivesse passado da noite escura e sem luz diretamente para um dia brilhante, cheio de esperança e alegria.

Ao mesmo tempo, ouviram-se vários sons agudos de “fiu”.

Fitas coloridas misturadas com bolinhas coloridas redondas surgiram de lugares desconhecidos em todas as direções.

Depois, caíram suavemente.

As fitas que caíam pousaram sobre o cabelo de Lu Ran.

Lu Ran ficou surpreso. Depois de um longo momento, riu alegremente enquanto segurava Da Huang.

O filhote correu atrás das fitas e bolinhas espalhadas.

Lu Ran se abaixou para pegar uma das bolinhas.

Descobriu que havia “Feliz Aniversário” escrito nela em uma elegante caligrafia cursiva em inglês.

A pequena bola tinha um interruptor.

Ao abrir, encontrou-a cheia de balas coloridas.

Essas eram as mesmas balas que Lu Ran desejava na infância.

Ele e Da Huang correram e brincaram, inconscientemente coletando um monte de bolinhas.

Usou a barra de seu casaco para juntá-las.

Quando voltou ao lado de Ji Min, notou que havia atendentes parados a uma curta distância.

No chão, havia um pequeno bolo de dois andares.

Lu Ran colocou dez velas no bolo e disse a Da Huang, “Da Huang, faça um pedido!”

O cachorro não entendeu nada disso. Cansado de tanto correr, nem soprou as velas antes de dar uma mordida.

O bolo era feito especialmente para ele, recheado com carne enlatada.

Lu Ran se abaixou para observar o bolo por um tempo.

Não resistindo, ergueu o olhar com olhos brilhantes e perguntou a Ji Min, “Isso… pessoas também podem comer, certo?”

O sorriso leve de Ji Min congelou no rosto, revelando a expressão de um pai ouvindo seu filho dizer que queria pegar algo do lixo.

Ele ergueu a mão até a testa e respondeu irritado, “Está pensando em competir com o cachorro pela comida?”

Antes que Lu Ran pudesse responder, Ji Min bateu palmas.

Então, dois atendentes surgiram carregando um enorme bolo de três andares.

Eles cantavam a música de aniversário enquanto caminhavam.

O bolo estava adornado com velas brilhantes, idênticas ao desenho de sonho que iluminava o gramado.

O garoto olhava, atônito, para o enorme bolo.

A chama das velas refletia em seus olhos escuros, revelando o desejo e a admiração que ele havia reprimido em seu coração nos últimos quinze anos.

“Uau~”

Sua voz soou como a de uma criança, com a última nota se prolongando docemente.

Os lábios de Ji Min se curvaram levemente.

Um toque de diversão brilhou em seus olhos.

Lu Ran não resistiu e correu até o bolo.

O bolo estava coberto de velas.

Ele apenas dizia “Feliz Aniversário”, sem nenhum nome escrito.

Lu Ran deu algumas voltas ao redor do bolo.

Então, correu de volta e exclamou para Ji Min, “As pessoas vão comer bolo também no aniversário do Da Huang?”

“A menos que queira passar fome,” Ji Min respondeu.

Lu Ran: “…”

Ele pensou que isso fazia sentido.

Eles não podiam deixar as pessoas comerem o bolo do cachorro também.

Assim, começou a cena de uma pessoa e um cachorro aproveitando o bolo.

Lu Ran inclinou-se totalmente sobre o bolo.

Desde o momento em que os atendentes começaram a cortar o bolo, ele não tirou os olhos dele.

Ji Min simplesmente se sentou em sua cadeira de rodas, observando sem qualquer intenção de participar.

Ele aproveitou o momento para se inclinar e dizer discretamente ao mordomo Chen, “Este é o padrão para o meu aniversário de cinco anos.”

Foi uma provocação a um certo garoto infantilmente irritante.

Mas seus olhos sempre carregavam um sorriso.

Havia várias instalações de lazer no gramado.

Lu Ran brincou feliz com Da Huang.

Aos poucos, ele esqueceu completamente o banquete da família Shen que acontecia naquele dia.

Até que, rolando no gramado com Da Huang, não resistiu e exclamou ao ver seu traje, “Ah!”

Levantou-se, afastou-se da grama e voltou ao lado de Ji Min.

“Não vai brincar mais?” o homem perguntou.

Lu Ran balançou a cabeça.

Ficara quente de tanto correr, então já havia tirado o casaco de Ji Min.

Agora ele estava vestindo aquele terno preto de alta costura adornado com sutis padrões florais dourados.

O garoto deu tapinhas para tirar a grama das roupas e foi até o lado para pegar uma bebida.

Ele se sentou em uma cadeira próxima, segurando a borda do copo, e de repente lembrou-se de algo. Seus olhos brilharam ao dizer: “Eu vi o Gu Ningqi no banheiro antes de ele chegar hoje.”

Ji Min voltou o olhar para ouvir.

Lu Ran raramente falava sobre seus próprios assuntos.

Ele perguntava a Ji Min o que ele gostava, o que queria que ele fizesse.

Também mencionava Da Huang e outras pessoas.

Mas nunca falava da família Shen, nem compartilhava seus sentimentos e experiências.

Naquele momento, talvez por ter acabado de brincar livremente,

Ele finalmente falou com a franqueza de um adolescente comum, com gostos e desgostos claros: “Eu realmente não gosto do Gu Ningqi. Só empurrei ele casualmente para dentro do banheiro.”

Ji Min: “…”

Ele ficou em silêncio por alguns segundos, sem saber que expressão fazer.

Por um momento, sentiu um pouco de pena de Gu Ningqi, mas não pôde deixar de querer rir.

O mais surpreendente era a maneira simples e direta com que o garoto falava sobre ter empurrado alguém para o banheiro…

Realmente deixava uma pessoa sem saber como reagir.

Após um longo tempo segurando, o homem finalmente não pôde se conter.

Ele esfregou o rosto, deixando escapar uma risada baixa e breve.

“O que aconteceu depois?” Ji Min perguntou.

Ele se lembrou da postura arrogante de Gu Ningqi no banquete e acrescentou: “Não conseguiu fazer o que queria?”

“Claro que consegui!” Lu Ran respondeu. “Quando você chegou, ele já tinha trocado de roupa.”

Ji Min de repente teve a sensação de que tinha chegado tarde demais naquela noite.

Depois de anunciar sua conquista, Lu Ran ficou em silêncio por um momento, até que de repente disse: “Antes, eu nunca hesitava ao fazer algo assim. Mas hoje… parecia que hesitei por um segundo?”

Ji Min o observou por um tempo e perguntou suavemente: “Por quê?”

Lu Ran fitou as luzes coloridas nas árvores, mas não respondeu.

Pensando agora, realmente não havia razão para hesitar.

Porque era claramente uma ótima oportunidade para agir.

Gu Ningqi estava trocando de roupa, abaixando as calças, vestindo o casaco. Com um mínimo de esforço, qualquer um poderia facilmente empurrá-lo para dentro do vaso.

Lu Ran já havia feito coisas desse tipo antes.

Nunca achou nada errado nisso.

Depois de empurrar alguém no banheiro, ele apenas voltava, lavava as mãos, comia, bebia e dormia.

Na verdade, lá no fundo, Lu Ran não conseguia entender por que essas pessoas reagiam tão intensamente ao serem empurradas no banheiro.

Como Shen Hongyuan e Shen Xingran, que ficavam tão enojados com um pequeno incidente desses que perdiam o apetite por dias.

Para Lu Ran, isso era bastante misterioso.

Se fosse ele, nada e ninguém o faria desistir de comer.

Em sua vida anterior, ele foi expulso da faculdade pela família Shen e não conseguia arranjar emprego.

Só podia fazer os trabalhos mais sujos e cansativos.

Ele limpou muitos banheiros.

Sabia que, mesmo fazendo um trabalho tão sujo e se sentindo cansado, quando chegava a hora da refeição, a fome ainda aparecia.

Lu Ran também já tinha ido a alguns criadouros clandestinos.

Os gatos e cachorros passavam a vida toda em gaiolas, comendo, bebendo e fazendo suas necessidades lá dentro.

As gaiolas eram imundas.

Mas quando viam humanos passando, ainda gritavam desesperadamente por comida.

Mais tarde, Lu Ran sentiu que seu próprio tratamento não era muito diferente.

Deitado em uma cama de hospital, ele se perguntava como era diferente dos cães presos em gaiolas.

Os cães ainda podiam latir algumas vezes; ele nem mesmo tinha a habilidade de falar.

Por isso, Lu Ran não se importava muito com essas questões.

Desde que ficasse limpo depois, isso já era o suficiente.

Ele também não conseguia entender as reações exageradas de Shen Xingran, Lin Yi, Zhang Lin e os outros.

Achava que essas pessoas estavam realmente fazendo drama demais.

Até que encontrou Gu Ningqi no banheiro.

Lu Ran quis agir, mas hesitou por um momento.

Olhou para suas roupas e um pensamento surgiu em sua mente.

Naquele instante, ele surpreendentemente entendeu por que Shen Xingran e os outros tinham tanto nojo de sujeira.

Tudo chegou ao fim.

A cena animada na ilha do lago voltou à calma.

Apenas os agrupamentos de luzes coloridas continuavam brilhando.

Ji Min permanecia em sua cadeira de rodas.

Lu Ran caminhava ao seu lado, segurando Da Huang.

Ji Min virou-se para observar as gotas de suor na testa do garoto. Quando estava prestes a lembrá-lo de vestir o casaco para não pegar um resfriado, ouviu o garoto murmurar suavemente: “Porque eu não queria sujar minhas roupas.”

Ji Min ficou paralisado por um segundo.

Quando recobrou a consciência, o tio Chen já havia trazido o carro.

O aquecimento do carro estava em uma temperatura confortável.

Assim que entraram, não precisariam mais dos casacos.

O espaçoso veículo de negócios estava escuro como sempre.

Mas já não parecia perigosamente misterioso como da primeira vez.

Naquele momento, a escuridão densa, que outrora transmitia uma sensação de ameaça, tornava-se a camada mais reconfortante de proteção.

Era como uma caverna profunda e acolhedora, isolando-os de todo o caos.

O carro mal havia entrado na estrada quando Ji Min ouviu o som de respiração regular vindo de trás.

Ele virou a cadeira de rodas.

No fundo do carro, viu que o último banco estava reclinado.

O garoto estava deitado, dormindo profundamente.

Depois de tanto correr, ainda havia pequenas gotas de suor em seu nariz.

Suas bochechas estavam coradas de maneira saudável devido ao exercício.

Ji Min olhou para o terno que Lu Ran vestia e, em seguida, para o cabelo cuidadosamente arrumado do garoto.

Ele era realmente muito bonito.

Tão bonito que, só deitado ali, parecia que o carro escondia um tesouro precioso.

Isso despertava uma alegria secreta dentro dele, uma vontade de proteger e possuir.

Ji Min desviou o olhar, olhando pela janela do carro.

À medida que o veículo entrava na cidade, as luzes coloridas do lado de fora aumentavam gradativamente.

Esses brilhos suaves e enevoados filtravam-se pela janela do carro, acariciando os olhos de Ji Min e tocando o garoto adormecido à sua frente.

A luz pousava nas feições limpas e delicadas do garoto, tocando seu nariz e os cantos de seus lábios.

Finalmente, deslizava sobre os lóbulos pálidos de suas orelhas, aninhados entre os fios de cabelo, antes de desaparecer silenciosamente.

Ji Min apenas olhava pela janela, acompanhando a luz.

Talvez devido ao cansaço e ao espaço apertado do assento traseiro, o garoto dormia torto, não muito confortável. Ele franziu o cenho e se mexia levemente.

Seus dedos não agarravam nada e caíam novamente, e em seu sonho, ele bufava com impaciência.

Foi só então que Ji Min desviou o olhar de volta.

Deixou escapar uma risada suave, pensando que o garoto tinha um temperamento peculiar.

Lu Ran se mexeu mais algumas vezes.

Ji Min observou por um momento e percebeu que ele estava tentando ajeitar a gravata-borboleta.

A gravata, parte do terno sob medida, era um pequeno laço.

Era presa com uma fita sob a gola da camisa.

Parecia que, depois de tanta correria, a gravata já estava fora do lugar.

Prendia-se ao redor de seu pescoço, provavelmente deixando-o desconfortável.

Com compaixão, Ji Min inclinou-se, os dedos segurando levemente a gravata-borboleta.

Pretendia soltá-la.

Ao puxar o delicado laço dourado escuro, descobriu que a gola da camisa de Lu Ran já estava desabotoada.

Não sabia se isso havia sido feito pelo próprio Lu Ran ou se tinha se soltado por si.

Os dois primeiros botões da camisa de seda preta estavam ligeiramente abertos, revelando o pescoço branco delicado por baixo.

O interior do carro estava escuro.

Ainda assim, Ji Min conseguiu ver que, sob seus dedos, o pequeno pomo de Adão já estava corado.

Não se sabia se era por causa do laço aparentemente delicado, mas incômodo, ou pelos próprios dedos dele.

Num momento de distração, o garoto, ainda adormecido, engoliu. O pomo de Adão já avermelhado subiu e desceu suavemente, roçando levemente contra os dedos de Ji Min.

“Ele está dormindo?” A voz do tio Chen veio da frente.

Ji Min parou e instintivamente retirou a mão.

A gravata-borboleta que ele acabara de soltar voltou para o lugar.

Com um leve “plop”, o garoto adormecido ficou completamente agitado, agarrando aleatoriamente até segurar o objeto incômodo ao redor de seu pescoço.

Ele puxou a gravata-borboleta, arrancou-a e a jogou de lado.

Seus braços flutuavam desajeitadamente.

O tio Chen virou a cabeça a tempo de ver a cena e riu, “Olhe só para ele, um rapaz tão crescido ainda brigando no sono.”

“Tem um temperamento igual ao de um cachorro,” Ji Min respondeu.

O tio Chen olhou para ele e perguntou, “Você não lhe deu os parabéns de aniversário?”

“Ele está se divertindo,” Ji Min respondeu, evitando a pergunta.

O tio Chen sorriu para ele sem dizer mais nada.

Da Huang também não estava dormindo; ele observava a cena atento.

O aniversário de Da Huang era só no mês seguinte.

Lu Ran provavelmente não se lembrava de quando era o seu próprio aniversário.

A data em seu documento de identidade era o dia em que foi levado para o orfanato.

Em um momento de urgência, Shen Hongyuan havia prometido adotar Lu Ran de volta para a família Shen e marcado uma data às pressas.

Provavelmente, ninguém se lembrava de que o aniversário verdadeiro daquele menino perdido aos quatro anos era hoje.

O tio Chen olhou para Da Huang novamente.

Se o pequeno cachorro não tivesse sido treinado, ele não teria seguido o cronograma de hoje com tanta facilidade.

Ji Min olhou para o garoto adormecido no banco traseiro.

Da Huang também o fitava com seus olhinhos curiosos.

Vendo o olhar divertido do tio Chen, Ji Min respondeu, raramente sendo honesto sobre a questão anterior.

“Não tem motivo específico, mas não foi nenhum incômodo, apenas uma celebração casual.”

Estritamente falando, ele e Lu Ran não tinham conexão real.

Celebrar o aniversário de um cachorrinho era uma coisa.

Mas se ele se esforçasse tanto para preparar o aniversário de uma pessoa, isso não seria exatamente razoável.

Mesmo que esse garoto à sua frente parecesse nada mais do que uma criança aos olhos de Ji Min.

Então, ele pensou em algo e bufou, “Se ele realmente soubesse, acharia que eu gosto dele.”

Suas palavras tinham um tom de zombaria.

Ainda assim, com movimentos gentis, ele cobriu o garoto adormecido com seu casaco.

O tio Chen soltou uma risada suave e o lembrou, “Lembra por que veio aqui hoje?”

Para quê…

Ji Min de repente se lembrou dos rumores que ouvira na empresa naquele dia.

E dos comentários sobre “cogumelo shiitake e cogumelo enoki” no banquete.

Sua expressão fria vacilou por um momento.

Agora que haviam saído, ele não fazia ideia de quais rumores surgiriam após o banquete.

Estava acabado.

Agora, não havia como limpar sua reputação, nem se ele pulasse no Rio Amarelo.

Os olhos escuros de Ji Min fixaram-se no garoto adormecido no banco traseiro, cuja saliva estava quase escorrendo.

Sentia-se ao mesmo tempo irritado e aborrecido, com uma vontade súbita de estrangulá-lo.

Mas, depois de um longo tempo encarando, ele simplesmente não conseguiu fazer isso.

“Aguente só mais um pouco,” suspirou.

Hoje era seu aniversário.

Era raro estar feliz; poderia adiar as perguntas para depois.