Capítulo 64: Identidade
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Ao ouvir de novo aquela pergunta familiar, Ji Min ficou brevemente atônito. Comparado à última vez, em que Lu Ran abordou o assunto de forma cuidadosa, desta vez o tom dele tinha uma certeza firme, quase como um suspiro resignado.
Ji Min, por outro lado, sentiu-se de maneira diferente de antes. Ele fitou o garoto à sua frente e, por um momento, não pôde deixar de pensar que Lu Ran era realmente audacioso. Em seu território, usando as roupas que ele preparara, comendo a comida que ele providenciara – e ainda assim conseguia perguntar de novo, sem hesitação ou constrangimento, sobre um assunto que Ji Min já havia rejeitado de forma clara. Aquela autoconfiança… talvez não fosse à toa que Lu Ran tinha coragem de fazer discursos públicos comparando cogumelos. Realmente um talento único.
Na verdade, o tom de convicção dele era tão inabalável que, por uma rara vez, Ji Min sentiu um leve desconforto. Ele respirou fundo, tentando dissipar esse incômodo. Pegou a xícara de chá na mesa, deu um gole e perguntou, o mais calmamente possível:
“Eu já não respondi a essa pergunta?”
O garoto à mesa não mostrou a menor hesitação ou embaraço com a pergunta de Ji Min. Ele até pegou mais um bolinho de camarão, mastigando com as bochechas infladas. Então, respondeu com seriedade:
“Naquele momento você não gostava de mim, mas isso não significa que agora não goste.”
Ji Min: “…”
À primeira vista, parecia uma lógica simples, quase irrefutável, mas aquela confiança absurda…
Ji Min levantou a mão, massageando a testa enquanto soltava um suspiro longo. Ele já encontrara muitas pessoas tentando se aproximar dele, oferecendo-se de forma insistente e, em ocasiões de negócios, até parceiros tentando pequenos truques. Mas essa era a primeira vez que se deparava com alguém que estava convencido de que ele, Ji Min, gostava dele.
E, por mais irônico que fosse, ele tinha que admitir que provavelmente fora ele mesmo quem dera início a tudo isso.
Sem saber como corrigir essa percepção errada de Lu Ran sem ser ríspido, Ji Min ficou em silêncio por um tempo, o que só deu ao garoto mais confiança.
Lu Ran suspirou profundamente e disse: “Na verdade, eu entendo tudo.”
Ji Min ficou confuso: “…”
Entender o quê? Ele sequer havia dito algo!
Com uma expressão séria, Lu Ran olhou para ele e afirmou: “Eu sei que as coisas que eu disse ultimamente te emocionaram.”
Ji Min: “?”
Que coisas? Quais?
Lu Ran balançou a cabeça e, com uma expressão sincera, explicou: “É normal que um homem se sinta tocado ao ser elogiado por outra pessoa. Afinal, eu falei de você com tanta sinceridade, usando comparações bem expressivas.”
Ele fez uma pausa, referindo-se ao discurso de forma orgulhosa: “Usei um exemplo comum, o cogumelo eryngii, e também um recurso comparativo – usando Gu Ningqi como referência.”
Ji Min: “…”
Ele finalmente entendeu e, no mesmo instante, quase perdeu o fôlego. Ótimo. O garoto nem sequer esperou que ele perguntasse, já havia se autodenunciado. E ainda achava que ele se “emocionou” por causa disso? E estava visivelmente satisfeito com isso?!
Ji Min sentiu as orelhas esquentarem, de pura irritação. Seus dentes se apertaram, mas antes que conseguisse expressar sua frustração, o garoto o encarou com aqueles olhos grandes e brilhantes, falando de forma séria:
“Mas, Sr. Ji, você precisa se lembrar de sua posição.”
Ji Min ficou tão surpreso que quase perdeu a raiva. Por um segundo, ele até questionou se não tinham trocado os papéis.
Lu Ran o olhava com seriedade, quase com um toque de carinho: “Nós temos uma relação profissional. Você me paga, e eu cumpro meu trabalho. Limpar sua reputação publicamente faz parte do meu serviço, então você não precisa gostar de mim.”
Ji Min: “…”
Espera, trabalho?
Agora ele entendia. Claro, isso explicava por que o garoto, que nem sabia o que era uma embalagem de preservativos, achou que devia dizer aquelas coisas. Mas… onde é que existia esse tipo de trabalho?
Sentia como se um grupo de crianças levadas tivesse amarrado fogos de artifício na sua cabeça. Ao menor sinal de fogo, explodiriam de uma vez, deixando-o completamente desnorteado.
Finalmente, Ji Min conseguiu apertar os dentes e murmurou, frustrado: “Quem disse que essa era sua função?”
“Você me disse para observar, não foi?” Lu Ran tomou um gole de mingau, parecendo orgulhoso. “Você foi tão vago que, felizmente, eu fui esperto o suficiente para descobrir o que fazer.”
Ji Min: “…”
Ele pensou por um momento e fechou os olhos, frustrado. Quem imaginaria? As últimas semanas de confusão e mal-entendidos foram causadas por ele mesmo?
Sem conseguir mais se conter, ele baixou o tom de voz e murmurou: “Quem te deu permissão para…”
Mas antes que pudesse terminar a frase, Lu Ran o encarou, com uma expressão que indicava a pergunta iminente: Então, o que você quer que eu faça? Nada? Ou você realmente gosta de mim?
Naquele instante, Ji Min amaldiçoou sua própria habilidade de prever o próximo movimento numa negociação. Quase mordeu a própria língua.
Ele se encontrava num verdadeiro beco sem saída: negar o que o garoto fazia significava explicar o motivo pelo qual o contratou, o que colocaria a questão do “gostar” de volta à tona. Se concordasse com essa “função”, então Lu Ran provavelmente o colocaria em um pedestal cada vez mais alto.
E Ji Min realmente não pretendia dar nenhum trabalho sério ao garoto nem queria que ele se ocupasse com isso enquanto estivesse na faculdade.
Sentindo-se preso, Ji Min encarou o garoto, e Lu Ran piscou.
Ele não parecia ter dúvidas em acabar com os bolinhos e o mingau na mesa. Depois de terminar de comer, falou: “Não se preocupe com isso.”
“…” Preocupar-se com o quê? Ji Min estava quase esgotado mentalmente.
Com um ar profissional, Lu Ran garantiu: “Apesar de eu não gostar de você, ainda farei meu trabalho direitinho.”
Ele deu um tapinha no peito, confiante: “Pode deixar, enquanto eu estiver por perto, seus rumores desaparecerão num biubiu!”
Ji Min apenas forçou um sorriso cansado. “Eu deveria agradecer?”
Conseguia imaginar como seria o próximo ano, com rumores ainda mais absurdos se espalhando por toda a cidade.
Quando saíram, encontraram o mordomo Chen esperando por eles do lado de fora. Ele notou o brilho nos olhos de Lu Ran e a expressão desanimada de Ji Min, que controlava a cadeira de rodas com uma expressão desolada.
Embora o próprio Ji Min sempre mantivesse um ar sombrio, hoje parecia até um espírito recém-saído do inferno.
Depois de Ji Min entrar no carro, o mordomo Chen, sem entender, perguntou a Lu Ran: “O que houve? Ele estava bem antes do café da manhã.”
Lu Ran, com um toque de remorso, suspirou e disse: “Acho que está de coração partido.”
No mesmo instante, ouviu-se um tom irritado de dentro do carro: “Entre logo.”
Embora fosse fim de semana, Ji Min ainda tinha trabalho para cuidar, então Lu Ran o acompanhou em vez de voltar para a casa dos Shen.
Para ele, seu “trabalho” não exigia que seguisse Ji Min em tempo integral. Caso contrário, ficaria muito óbvio. Quem leva o ex-namorado a reuniões de negócios para se gabar de si mesmo?
Mas, ao se lembrar de sua “persona” de alguém que perseguia Ji Min, considerou que era normal.
Afinal, perseguir alguém significava segui-lo aonde fosse, certo? Contudo, em poucos dias, as aulas começariam, e ele se perguntava qual seria o plano de Ji Min.
Ao chegarem, Lu Ran e Ji Min desceram do carro e foram recebidos por um representante. Depois do evento na casa dos Shen, Lu Ran já não era apenas o “filho ilegítimo” desconhecido. Nem o garoto anônimo que andava ao lado de Ji Min.
Após cumprimentar Ji Min, o representante se voltou para Lu Ran, apertou sua mão e o cumprimentou como “jovem mestre Shen”, trocando algumas cortesias.
Agora toda a cidade sabia que o filho caçula perdido da família Shen havia sido encontrado e que Shen Xingran era apenas um filho adotivo. Segundo rumores, o jovem adotado até usava o nome que pertencia ao herdeiro legítimo, um nome que o próprio velho Sr. Shen escolhera.
Apesar de já falecido, as pessoas ainda falavam sobre o nome com admiração e certa nostalgia.
Além disso, circulava um boato de que, no evento de apresentação do herdeiro legítimo, ele havia deixado a festa mais cedo, sendo levado por Ji Min.
Agora, os dois aparecendo juntos parecia apenas confirmar os rumores da noite anterior.
O representante lançou olhares de cumplicidade, ora para Ji Min, ora para Lu Ran. Ji Min franziu levemente a testa, pois não gostava que as pessoas interpretassem sua relação com Lu Ran daquela forma.
Afinal, o jovem tinha apenas dezenove anos, acabara de entrar na faculdade e tinha um futuro brilhante pela frente. Não precisava desse tipo de boato, especialmente envolvendo um homem com deficiência.
Ele teria muitas outras maneiras de proteger Lu Ran sem precisar de tal insinuação.
Enquanto pensava em uma forma sutil de indicar isso ao garoto, levantou o olhar e viu Lu Ran, com uma expressão de profunda reflexão, como se estivesse absorto em seus próprios pensamentos.
Ji Min apertou o controle remoto da cadeira, os dedos tencionando.
Então as bobagens de ontem à noite finalmente o afetaram. Afinal, Lu Ran era ainda muito jovem, e era compreensível que ficasse incomodado com o olhar dos outros.
Ji Min suspirou e franziu as sobrancelhas, refletindo sobre a situação. Mal haviam avançado, quando sentiu um leve toque em seu braço. Outro toque.
Ele olhou para o lado e viu o garoto, que, aproveitando que não havia ninguém por perto, abaixou-se furtivamente ao seu lado, com um olhar malicioso.
Lu Ran se inclinou, como se fosse contar um segredo, e sussurrou ao ouvido de Ji Min: “Eles todos já sabem que passei a noite na sua casa.”
O ar quente da voz de Lu Ran bateu na lateral do rosto de Ji Min, que inclinou a cabeça levemente e, após ouvir, tentou responder com calma: “Não se preocupe, eu vou…”
Antes que pudesse terminar, o garoto franziu o cenho, interrompendo-o: “Você acha que eu não devia fazer algo pra parecer mais… digamos, ‘afetado’?”
Ji Min: “?”
Por um instante, ele ficou perdido. “Como assim, mais ‘afetado’?”
“A minha postura, é claro!” Lu Ran lançou-lhe um olhar de surpresa. “Depois de uma noite inteira juntos, se eu estiver andando normalmente, vão achar que você não tem… sabe…”
Ji Min: “…”
Percebendo do que ele falava, Ji Min respirou fundo, o ar preso no peito. Ele apertava o controle remoto da cadeira de rodas com tanta força que quase o quebrou. Enquanto isso, Lu Ran já estava totalmente imerso em sua encenação de alguém “acabado” após uma noite agitada.
Sem experiência alguma, ele andava desajeitado, mais parecendo alguém que ficara agachado por tempo demais até as pernas ficarem dormentes. Totalmente alheio ao absurdo da situação, Lu Ran ainda se virou, dando uma olhadinha para Ji Min e sussurrando com orgulho: “Estou andando do jeito certo?”
Ji Min: “…”
Sentindo uma dor de cabeça se intensificar, Ji Min fechou os olhos, exasperado. Ele já estava preocupado em como esclarecer o mal-entendido, mas agora Lu Ran parecia determinado a complicar as coisas ainda mais.
Num raro impulso, quando Lu Ran se aproximou mancando, Ji Min fez algo que normalmente jamais faria. Levantou a mão e, num movimento rápido, quase deu um tapa na parte traseira coberta pelo moletom do garoto. No último instante, reconsiderou o local e deu um leve tapa na cintura dele.
Mesmo assim, Lu Ran deu um pulo à frente, assustado. Ele se virou, encarando Ji Min com aqueles olhos redondos e escuros, que pareciam úmidos à luz da manhã. Ji Min recolheu a mão de forma discreta, tentando manter a compostura, e falou com um tom frio:
“Ande direito.”
Dito isso, ele controlou a cadeira de rodas e começou a se afastar. Lu Ran ficou olhando para ele, parado, com o olhar perdido e molhado pelo brilho do sol. Ji Min parou de novo, repensando a atitude impulsiva. Quando abriu a boca para falar algo, ouviu o garoto suspirar e, já reconhecendo o tom, Ji Min sentiu um calafrio.
Como esperado, Lu Ran disse em seguida: “Eu sei que você gosta de mim, mas tente controlar um pouco, por favor.”
Ji Min: “…”
Ele queria amaldiçoar a própria mão. Por que tinha que ser impulsivo justamente com ele? Fez uma pausa do lado de fora, respirando fundo antes de entrar no local do evento, uma pequena conferência do setor financeiro da cidade.
No salão, encontrou rostos conhecidos, incluindo alguns que estiveram na festa da noite anterior. Lu Ran, como de costume, não se envolveu com o trabalho de Ji Min e, assim que ele entrou no salão, o garoto começou a passear pelos arredores.
Ji Min o observou à distância, notando que ele não o seguira para dentro. Lançou um rápido olhar para o organizador do evento e os outros presentes, que já haviam chegado, e pediu ao assistente: “Vá lá fora e dê uma olhada para que ele não se meta em confusão.”
Ele disse isso num tom normal, então todos ao redor ouviram e olharam curiosos para Ji Min. Alguns notaram Lu Ran do lado de fora e mostraram o mesmo olhar ambíguo e provocador que o organizador exibira antes. Então o presidente Ji realmente se importava com o jovem mestre Shen.
Percebendo isso, Ji Min começou a bater os dedos no apoio da cadeira, em tom casual: “Ele é bem jovem, aproveitando as férias para dar uma voltinha.”
A fala fez os outros pararem por um momento. Ji Min então olhou pelo corredor e suspirou: “É culpa minha. Eu estraguei o garoto e ele agora tem a língua solta. Pode acabar dizendo coisas que não parecem apropriadas, então peço a todos paciência.”
Ao ouvir as palavras de Ji Min, os presentes primeiro mostraram um pouco de confusão. A maneira como ele falava, chamando Lu Ran de “jovem” e “mais novo”, soava mais como alguém falando de um parente querido do que de um interesse amoroso.
O tom informal, quase como uma repreensão, carregava uma clara proteção que ia além de um simples relacionamento romântico. Os outros começaram a entender, trocando olhares mais sérios e respeitosos. Um deles, rindo, comentou: “Com certeza, qualquer pessoa que Ji Min considera um parente mais jovem é nosso parente também. Todos devem cuidar bem dele.”
As vozes se uniram em concordância.
Lu Ran acompanhou Ji Min durante o dia inteiro e, só ao entardecer, voltou à casa dos Shen. Assim que entrou, viu a Sra. Shen sentada sozinha na sala de estar, e foi recebido por um sorriso inusitado dela. Com um tom amável, ela perguntou:
“Chegou, não? Já jantou?”
Enquanto se abaixava para limpar as patas de Da Huang, Lu Ran a ignorou e perguntou diretamente: “O que a senhora quer?”
A Sra. Shen ficou sem fala por um momento, desviando o olhar antes de chamar em direção ao andar superior: “Ranran, desça aqui e converse com seu irmão.”
Shen Xingran parecia estar esperando e, ao ouvir a voz dela, logo desceu. A Sra. Shen lançou um olhar para as roupas de Lu Ran. Apesar de serem simples – apenas um moletom e jeans –, o tecido e o corte mostravam que não eram peças baratas, como as que ele costumava usar.
Ela desviou o assunto: “Essas roupas foram presente do Sr. Ji, certo?”
Lu Ran respondeu diretamente: “Quem mais poderia ser, a senhora?”
Sra. Shen: “…”
Ela rapidamente deixou de lado essa provocação e foi direto ao ponto: “Veja, você já experimentou alguns benefícios.”
A Sra. Shen sorriu novamente para Lu Ran e continuou: “Agora que você está em casa, somos todos uma família, e a nossa casa valoriza muito a justiça e o compartilhamento de recursos. Contatos também são um recurso.”
Lu Ran arqueou as sobrancelhas, sem responder, esperando para ver onde ela queria chegar.
Sem surpresa, ela puxou Shen Xingran para perto e disse:
“Agora que já teve contato com a família Gu, o que acha de apresentar seu irmãozinho à família Ji?”
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Capítulo 64: Identidade
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A BUCHA DE CANHÃO DA FAMÍLIA RICA ENLOUQUECEU
Lu Ran é o filho biológico negligenciado de uma família rica.
Quando ele tinha quatro anos, se perdeu. Ao retornar para casa, sua família favoreceu o filho adotivo, Shen Xingran,...