Capítulo 80: Persuasão
Ji Min ainda não desistira.
Ao encontrar Lu Ran novamente, aproveitou a oportunidade para tocar no assunto mais uma vez. Aprendendo com as tentativas anteriores, desta vez ele foi direto ao ponto. Em um tom ponderado e seguro, disse com seriedade:
“Pensei bastante e cheguei à conclusão de que seria mais adequado você vir morar comigo.”
“Hã?” Lu Ran, que estava brincando com Dahuang, levantou o rosto com uma expressão de surpresa.
Com naturalidade, Ji Min explicou: “Lá é bem tranquilo, ideal para você estudar. E eu já preparei um quarto para o Dahuang.”
Ele deu ênfase especial a essa última parte.
Lu Ran ficou em silêncio por um momento, lançando um olhar desconfiado para Ji Min: “Mas eu nem acho que morar na casa dos Shen atrapalhe meus estudos…”
Ele estreitou os olhos, como se suspeitasse de algo: “Você não está, por acaso…”
Ji Min, conhecendo-o bem, já sabia onde aquilo ia parar. Mas, desta vez, ele estava preparado. Sem pressa, tomou um gole de chá, desviando habilmente o rumo da conversa.
Então, com precisão, atingiu o ponto fraco de Lu Ran: “Você tem medo do Shen Xingyu.”
Lu Ran: “…”
Pego de surpresa, ele se apressou em negar:
“Claro que não! Eu fiz ele comer uma barata dias atrás! Agora, é ele que foge quando me vê, então ele é que deveria estar com medo de mim.”
Ji Min arqueou uma sobrancelha, sem dizer nada, apenas o observando atentamente.
Sentindo-se desconfortável sob o olhar analítico de Ji Min, Lu Ran abaixou Dahuang de seu colo e pegou seu copo, fingindo beber. Ele mordeu o canudo, desviando o olhar para checar a reação de Ji Min.
Mas Ji Min continuava imóvel, observando-o pacientemente.
Depois de mais uma tentativa de esvaziar o copo mordendo o canudo e transformando-o em outras formas, Lu Ran finalmente explodiu, empurrando o copo e admitindo, de má vontade:
“Tá bom, tá bom! Eu admito, tenho um pouco de medo dele, e daí?”
“É normal eu ter medo dele!” afirmou Lu Ran com convicção.
Ji Min franziu as sobrancelhas: “O que exatamente o Shen Xingyu fez com você?”
Ele percebera há tempos que o comportamento de Lu Ran ao ver Shen Xingyu era anormal: uma rigidez no corpo, suor frio… era um pavor muito maior que um mero “um pouco de medo”.
Lu Ran hesitou, lembrando-se de tudo o que acontecera em sua vida anterior, inclusive o acidente de carro depois que encontrara Shen Xingyu.
Mesmo antes do acidente, ele já sentia um certo medo de Shen Xingyu.
Depois de ponderar, Lu Ran fez um sinal para que Ji Min se aproximasse.
Ji Min, intrigado, inclinou-se para ouvir melhor.
Logo sentiu Lu Ran sussurrar em seu ouvido: “Você não acha o Shen Xingyu… meio estranho?”
“Estranho?” Ji Min perguntou, surpreso.
“Em que sentido?”
Lu Ran fez uma expressão peculiar e respondeu: “Ele não parece ter… alguma coisa errada da cabeça?”
Em um sussurro trêmulo, acrescentou: “Tenho a impressão de que ele é o mais doente de toda a família Shen, porque ele consegue fingir que é uma pessoa normal.”
Lu Ran continuou, com convicção:
“Eu, sendo uma pessoa normal, ficar com medo e manter distância de alguém assim não é perfeitamente razoável?”
Ji Min: “…”
Antes de conhecer Lu Ran, Ji Min admirava bastante Shen Xingyu. O rapaz era competente e fazia um bom trabalho em vários projetos da empresa Shen. Se fosse em outros tempos, ao ouvir essas palavras de Lu Ran, um jovem que frequentemente tinha o hábito de lavar o copo no vaso sanitário, Ji Min teria descartado a ideia imediatamente.
Mas agora…
Ji Min refletiu por um momento e, em seguida, concordou com um aceno de cabeça: “Você tem razão.”
Toda a família Shen parecia ter algo de anormal. Viver naquele ambiente era como estar em um hospital psiquiátrico tentando levar uma vida normal.
No entanto, isso não deixou de impactar Lu Ran. E Ji Min, astutamente, aproveitou para reforçar seu argumento:
“É exatamente por isso que você deveria se mudar. Você ainda está na escola, e viver na casa dos Shen pode acabar te influenciando de uma forma ruim.”
“Hm? Então eu… deveria me mudar?” Lu Ran pareceu ponderar, finalmente convencido.
Ji Min disfarçou a satisfação. Ele já tinha notado que, apesar da personalidade difícil, Lu Ran se mostrava muito mais receptivo quando percebia que alguém realmente se importava com ele, sem qualquer intenção de controle. Nessas horas, ele se tornava surpreendentemente dócil e acessível.
Mas logo o olhar de Lu Ran vacilou e, lembrando-se de algo, ele olhou diretamente para Ji Min e perguntou:
“Mas, chefe… Isso é um assunto pessoal da minha família. O que isso tem a ver com o trabalho? Por que você está tão preocupado?”
Ji Min prendeu a respiração, sentindo que a “negociação” estava prestes a desandar mais uma vez. Mas, desta vez, ele já tinha uma resposta na ponta da língua. Com uma expressão tranquila, ergueu os olhos e lançou-lhe um olhar firme, como quando corrigia um subordinado em uma reunião:
“E como isso não teria a ver com o trabalho?” Ji Min perguntou, direto.
“Já contou quantas vezes você pediu folga recentemente?”
“Mas foi porque andei ocupado com os estudos!” Lu Ran retrucou.
Ji Min, imitando um capitalista implacável, rebateu: “Se não fosse pelos problemas na sua família, o estudo não teria comprometido o trabalho.”
Lu Ran franziu o cenho: “Hm… Parece fazer sentido?”
Mas algo ali ainda soava errado para ele, de algum modo.
“Morando comigo, você não vai precisar se preocupar com nada disso, nem com alguém comendo seus trabalhos,” Ji Min argumentou, em tom persuasivo.
“Mas… mas…” Lu Ran tentava identificar a fonte daquele desconforto que o inquietava.
De repente, uma ideia o atingiu. Ele virou-se para Ji Min, perguntando diretamente:
“Então, chefe, isso quer dizer que você quer morar junto comigo?”
Ji Min: “…”
O mordomo Chen, que acompanhava a conversa nos bastidores, não pôde conter um leve sorriso.
Ji Min sentiu uma vontade momentânea de simplesmente abandonar a conversa. Mas ele já havia decidido que não deixaria Lu Ran sozinho na casa dos Shen, não importava o quanto o garoto parecesse autossuficiente.
Tendo tomado essa decisão, Ji Min, com uma respiração profunda e sob o olhar curioso do jovem, assentiu com seriedade:
“Sim, é exatamente isso.”
Antes que Lu Ran tivesse a chance de dizer “Ahá, você gosta de mim!”, Ji Min lançou um olhar significativo ao mordomo Chen e qadisse:
“Senhor Chen, por favor, deixe-nos a sós.”
Apesar da surpresa, o mordomo Chen saiu e esperou do lado de fora. Ficou ali alguns minutos, estranhando o silêncio que vinha de dentro. Parecia uma conversa civilizada, sem qualquer ruído.
Lá dentro, Ji Min ainda não havia começado a falar. Ele massageava a testa, organizando seus pensamentos.
“Chefe, afinal, o que você quer dizer com isso?” Lu Ran perguntou, curioso.
Ji Min ergueu a palma, sinalizando que o garoto esperasse. Respirou fundo algumas vezes antes de finalmente falar, com dificuldade:
“Você anda muito ocupado com os estudos, talvez nem tenha percebido.”
“Hã?” Lu Ran piscou, confuso.
Outra respiração profunda, e Ji Min continuou:
“Como você tem estado muito ausente, os rumores sobre mim pioraram.”
“Como assim?” Lu Ran arregalou os olhos, chocado.
Ji Min manteve a compostura e continuou, com uma expressão impassível:
“Andam dizendo que eu… bem, não sou muito… eficiente… nessa área. E que, por isso, até mesmo você, meu suposto ex, acabou desistindo de mim.”
“Hã?” Lu Ran olhou para ele, com um ar de pena. “Então eles acertaram em cheio?”
Ji Min: “…”
Ele pressionou a têmpora, tentando manter a paciência.
Forçou-se a acenar concordando e seguiu, com seu tom mais sério:
“Também estão dizendo que, apesar de tudo que eu havia falado, a experiência te decepcionou tanto que você sequer aceitou morar comigo, preferindo passar os dias no laboratório.”
O olhar de Lu Ran agora estava cheio de compaixão: “Nossa, chefe, isso é realmente triste.”
Ji Min passou a mão pelo rosto, respirando fundo: “Agora entende por que estou insistindo?”
Logo, a porta se abriu, e o mordomo Chen pôde ver Lu Ran saindo, empurrando a cadeira de Ji Min, que parecia abalado e quase derrotado.
“Será que o chefe confessou e foi rejeitado?” Chen se perguntou, ao ver o estado de Ji Min. Ele, que antes levava a vida com uma postura calma e até apática, parecia desanimado, e Chen começou a se preocupar.
Mas então Lu Ran, com uma expressão constrangida, suspirou: “Desculpa, chefe. Eu não tinha ideia de que meu foco nos estudos tinha gerado esses rumores todos sobre você.”
O mordomo Chen: “?”
“Agora entendo por que você andou insistindo tanto para eu ir morar com você,” disse Lu Ran, batendo no peito, decidido: “Pode deixar! Assim que eu me mudar, eu dou um fim nesses boatos todos!”
Ji Min: “…”
O mordomo Chen ainda estava confuso.
“Então ele aceitou?” pensou. “Mas se aceitou, por que Ji Min parece tão desolado?”
Sentindo que talvez suas promessas ainda não tivessem sido totalmente convincentes, Lu Ran adicionou, com sinceridade: “Esse foi um lugar que conquistei com tanto esforço ao longo de semanas, e eu não posso deixar que o trabalho de todo esse tempo seja jogado fora!”
Agora, o mordomo Chen entendeu claramente.
Em silêncio, ele lançou um olhar para Ji Min. Essa insistência e essas mentirinhas… Bem, parecia um caso clássico de amor verdadeiro.
Ji Min recostou-se na cadeira e olhou para o teto com uma expressão de pura resignação, enquanto o garoto, cheio de mistério, murmurava:
“Não se preocupe, chefe. Tudo o que você me disse aqui vai ficar entre nós.”
Ji Min: “…”
Você já espalhou tudo, e ainda diz que vai guardar segredo?
“Ótimo, então no próximo final de semana eu me mudo,” concluiu Lu Ran.
Mal terminara a frase, quando Ji Min, antes cabisbaixo, de repente endireitou o corpo.
Consultou o relógio e disse, firme:
“Mas hoje ainda temos tempo. Você se muda hoje.”
“Hã? Tão rápido?” Lu Ran parecia surpreso.
Ji Min, já sem paciência, estava determinado. Ele já pagara um preço alto demais para deixar para depois; era hoje e ponto final.
Lu Ran: “…”
Sim, definitivamente o chefe tinha pressa.
Ji Min ordenou ao motorista que seguisse direto para a mansão Shen. Seu carro já havia parado em frente àquela casa diversas vezes, mas essa era a primeira vez que ele realmente adentrava a propriedade de forma tão decidida.
Ainda no carro, Ji Min ordenou: “Encoste mais. Mais perto, para que eu possa levar as caixas mais fácil.”
Não era horário de pico, então só a Senhora Shen e Shen Xingran estavam em casa.
Eles logo perceberam a chegada do carro da família Ji e vieram recepcioná-lo. Para a surpresa de ambos, Lu Ran desceu do banco de trás e, sem perder tempo, entrou na casa para começar a arrumar suas coisas.
Ainda junto ao carro, ele foi chamado por Ji Min mais uma vez. “Lembre-se de levar os livros. Não vai esquecer, certo?”
“Entendido, entendido. Não esqueceria dos livros.”
Assim que deu dois passos, foi puxado de volta por Ji Min, que lhe disse algo mais. Lu Ran então franziu a testa e perguntou:
“Não precisa de roupa? E eu vou usar o quê?”
Finalmente liberado, Lu Ran subiu para arrumar suas coisas.
Logo após, o mordomo Chen, ainda no carro, desceu para cumprimentar a Senhora Shen e Shen Xingran, esboçando um sorriso educado:
“Nosso senhor deseja convidar o jovem Lu Ran para residir na mansão Ji por alguns dias.”
A Senhora Shen ficou um tanto confusa. Isso significava que Lu Ran estava de saída?
Quando assimilou o que isso significava, um sentimento contraditório tomou conta dela. Lu Ran havia sido dado como perdido quando criança e, anos depois, finalmente voltara para a família. Ela o rejeitara diversas vezes, mas, ao ouvir que ele estava indo embora, sentiu uma pontada inesperada de desconforto.
Esse incômodo, porém, rapidamente se transformou em alívio e até alegria.
Finalmente, Lu Ran estava saindo! Estava deixando a casa dos Shen em paz. Era o tipo de coisa que merecia uma celebração!
Lu Ran ignorou ambos e subiu direto para arrumar seus pertences. Não tinha muita coisa: uma mochila e uma mala já comportavam tudo.
Ao descer com sua bagagem, a Senhora Shen, que havia passado por uma série de emoções conflitantes, lembrou-se de seu papel como anfitriã e matriarca. Afinal, Lu Ran fora oficialmente reconhecido como parte da família Shen.
A Senhora Shen sabia que, como anfitriã e matriarca da família, deveria dizer algo na partida de Lu Ran. Então, enquanto ele passava pela sala, ela o chamou:
“Espere aí.”
Lu Ran arqueou uma sobrancelha, olhando-a com curiosidade.
Com uma xícara de chá nas mãos, a Senhora Shen retomara sua pose habitual de autoridade, a mesma que Lu Ran presenciara ao conhecê-la pela primeira vez. Com um tom de reprovação, ela começou:
“Lembre-se de que você é parte da família Shen. Não vá fazer papel de bobo e envergonhar o nosso nome na casa dos Ji.” Ela respirou, continuando: “Sair sem trazer nenhum benefício, e ainda acabar dando trabalho ao Shen para limpar a sua sujeira…”
Mas, antes que pudesse terminar a frase, foi interrompida pela visão de uma figura na entrada.
Ji Min, sentado na cadeira de rodas, observava a cena com olhos negros e impacientes. Ele lançou um olhar rápido pela sala, e com um tom levemente impaciente, perguntou:
“Já está tudo pronto?”
Ficava claro a quem essa impaciência era dirigida.
A Senhora Shen parou no meio da frase, como se tivesse sido subitamente estrangulada. Ao lado, Shen Xingran também olhou para Ji Min com espanto.
Era estranho o suficiente que Ji Min tivesse vindo pessoalmente buscar Lu Ran, considerando que eles, teoricamente, não tinham qualquer ligação familiar. Insistir para que ele fosse morar na casa dos Ji já era ousado. E agora ele ainda tinha entrado na casa.
“Já terminei,” respondeu Lu Ran, empurrando sua mala até onde Ji Min estava.
Ele estava prestes a sair quando, ao olhar para a Senhora Shen, parou de andar. Ji Min, vendo-o hesitar, levantou uma sobrancelha:
“Por que parou?”
Lu Ran lançou-lhe um olhar sugestivo, tentando sinalizar algo. Mas Ji Min não pareceu entender, franzindo o cenho.
Finalmente, percebendo que precisaria agir por conta própria, Lu Ran virou-se para a Senhora Shen e disse:
“Meu chefe mencionou que está interessado na estrutura desta casa. Gostaria de dar uma olhada.”
A Senhora Shen: “?”
Ji Min: “?”
Ji Min pressionou a têmpora, ciente de que sua presença ali já era um pouco inadequada. E agora ainda teria que fazer um “tour” pela casa…
Lu Ran, porém, continuou piscando intensamente para ele, claramente insistindo para que ele seguisse o plano.
Após um instante de hesitação, Ji Min finalmente disse à Senhora Shen: “Sim, é verdade. Gostaria de ver a disposição da casa.”
A Senhora Shen, um tanto confusa, viu nisso uma oportunidade. Ela se lembrou do pedido recente de Shen Xingran e prontamente sugeriu:
“Xingran, leve o Sr. Ji para uma visita junto com o Lu Ran.”
Sem entender muito bem o que Lu Ran estava planejando, Ji Min apenas assentiu e seguiu adiante. Shen Xingran, com um brilho de astúcia nos olhos, levou-os diretamente para o terceiro andar, em vez de começarem pelo segundo.
Recentemente, ele havia redecorado o seu quarto e sabia o quanto o ambiente de alguém podia impressionar. Ao chegar ao terceiro andar, abriu a porta, revelando um espaço cuidadosamente planejado.
Ji Min, no entanto, mal prestou atenção. Shen Xingran começou a falar animadamente sobre o design do quarto, a escolha da mobília, tentando exibir toda a sua elegância.
Enquanto isso, Ji Min percebeu algo incomum acontecendo ao seu lado.
Lu Ran, que estava escondido atrás da cadeira de rodas, movimentava-se sorrateiramente. Ele abriu discretamente o zíper de sua mochila e retirou um frasco de vidro.
Shen Xingran continuava a falar, sua voz projetada com um tom refinado, quando Lu Ran, em voz baixa e carinhosa, murmurou para o frasco:
“Podem ir, meus queridos. Vocês estão livres agora!”
Ji Min: “…”
Dentro do frasco estavam os “ingredientes de laboratório” restantes de Lu Ran, que ele agora liberava com o maior cuidado.