Capítulo 86: Encontro Arranjado
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Shen Xingyu era oito anos mais velho que Lu Ran.
No ano em que Lu Ran nasceu, o avô de Shen Xingyu o levou para morar com ele.
Naquela época, o velho Shen já estava idoso e, para seu desgosto, não se sentia satisfeito com seu único filho, Shen Hongyuan.
Diziam que o velho Shen estava cuidando pessoalmente da criação de seu herdeiro da próxima geração.
Shen Xingyu não compreendia essas coisas.
Ele só sabia que o avô era muito severo e raramente sorria para ele.
Precisava aprender muitas e muitas coisas, e sua vida de repente ficou difícil.
Aos dez anos, Shen Xingyu enfrentou seu primeiro fracasso em um investimento.
Sentindo-se derrotado, desabafou com a mãe e pediu para voltar para casa.
Sem dizer nada, o avô deixou que Shen Xingyu voltasse, mas levou Lu Ran, que tinha apenas dois anos, e Shen Xingzhuo, de quatro anos, com ele.
Assim, Shen Xingyu só precisaria comparecer à casa do avô aos finais de semana para as aulas.
Foi nesse momento que Shen Xingyu teve a primeira noção do peso de sua posição e de sua família.
Ele ficava irritado, tudo o incomodava, e ele definitivamente não gostava de crianças.
Para o jovem Shen Xingyu, Shen Xingzhuo era apenas um bobo que sempre causava problemas. E Lu Ran, em sua visão, não era muito melhor.
O que o irritava ainda mais era o fato de que, por algum motivo, o pequeno gostava de segui-lo.
Sempre que Shen Xingyu ia ao casarão para estudar, ou quando Lu Ran voltava para a casa dos Shen, o menino parecia uma sombra, correndo atrás dele sem motivo algum.
Quando Shen Xingyu estava no escritório estudando, o garoto aparecia de repente, tirava um doce do bolso e lhe oferecia, dizendo: “Irmão, come um doce!”
Logo depois, vinha com uma xícara de água, dizendo: “Irmão, beba água!”
Às vezes, ele arregalava os olhos brilhantes e dizia: “Irmão, hoje eu aprendi uma musiquinha…”
Mas Shen Xingyu não estava com disposição para ouvir.
Quando estava calmo, dizia ao garoto: “Eu estou estudando.”
O menino, então, respondia um “ah” baixinho e saía de fininho, mas não ia muito longe. Ficava escondido na janela do escritório, espiando lá de fora.
Nem mesmo Shen Xingzhuo conseguia convencê-lo a ir brincar com ele.
Às vezes, ao levantar o olhar das pilhas de tarefas, Shen Xingyu via aquela pequena cabeça felpuda espiando pela janela.
Na primeira vez em que percebeu aquela figura lá fora, ele mesmo não sabia o que estava sentindo.
Aos onze ou doze anos, Shen Xingyu ainda não sabia distinguir claramente todas as emoções.
Ele se lembrava vagamente de que, talvez… não fosse tão ruim assim.
Mas esse sentimento logo desaparecia. Ele pensava que, se sorrisse para o garoto, ele certamente se tornaria ainda mais grudado.
Então, ele endurecia o rosto e dizia: “O que está fazendo aqui? Saia.”
Isso nos bons dias.
Nos dias ruins, era pior.
Uma vez, depois de levar uma bronca, ele viu o garoto correndo para perto dele e explodiu de raiva, gritando como Shen Hongyuan costumava fazer com ele.
Com o rosto furioso, lançou ao menino um grito:
“Já falei para não ficar no meu pé! Não pode sair daqui?”
O grito foi tão alto que o pequeno estremeceu, assustado.
Mas não chorou, nem chamou o avô ou a mãe.
Apenas olhou para ele, virou-se e saiu correndo.
Quando chegou ao corredor, Shen Xingyu deu uma espiada de relance e viu o menino colocando a mão no peito, como se fosse um adulto, murmurando para si mesmo com a voz infantil e mal articulada:
“Não tem problema, não tem problema…”
“O irmão só está de mau humor, assim como o papai fica de mau humor…”
Naquele momento, Shen Xingyu ficou paralisado.
Por alguma razão, sua raiva sumiu.
Parecia até engraçado e quase o fez sorrir.
No dia seguinte, o menino voltou como se nada tivesse acontecido.
Ainda trazia doces para ele durante as aulas e continuava espiando pela janela, apenas com os olhos e o topo felpudo da cabeça aparecendo.
Mas uma vez que se inicia, o ciclo não termina.
Outro dia, Shen Xingyu não conseguiu conter-se.
Ele abriu a janela e gritou para o garoto:
“Já falei para não se aproximar do meu escritório! Será que você não entende?”
Desta vez, o menino se assustou de verdade.
Shen Xingyu viu claramente a cabeça do garoto estremecer duas vezes.
Então, ele olhou para ele com aqueles olhos negros e obedientes, virou-se e correu.
Depois disso, sua sombra desapareceu.
O menino parou de segui-lo.
Não vinha mais lhe trazer doces enquanto ele estudava.
Não corria mais até ele para contar sobre as canções que aprendera.
Quando Shen Xingyu terminava suas tarefas e olhava, por hábito, para a janela, já não via mais aquele pequeno topo de cabeça.
Ele ia até a janela e espiava o gramado, mas o jardim estava vazio.
Não havia mais nenhuma criança agachada e sorrindo para ele.
De vez em quando, ao sair da escola, Shen Xingyu olhava de longe para o jardim.
O menino e Shen Xingzhuo brincavam de fazer castelinhos de areia.
Shen Xingzhuo, ao perceber seu olhar, fazia caretas para ele.
Mas o menino permanecia em silêncio, enfiando areia no balde com sua pazinha.
Às vezes, quando Shen Xingzhuo saía para brincar longe, o menino ficava sozinho ao lado do tanque de areia.
Com o tempo, Shen Xingyu percebeu que o garoto parecia ter começado a temê-lo.
Quando notava o olhar dele, escondia-se atrás do sofá ou atrás de algum adulto.
Isso era exatamente o que Shen Xingyu queria.
No entanto, ao vê-lo brincar de esconde-esconde no jardim com Shen Xingzhuo, sentia uma estranha irritação.
Pensava que, brincando tanto com aquele bobo do Shen Xingzhuo, acabaria se tornando bobo também.
Mais tarde, houve outro incidente.
Shen Hongyuan o levou para conhecer um cliente importante.
Esse cliente tinha um paladar apurado, então Shen Hongyuan marcou o encontro em um restaurante de comida apimentada.
E levou Shen Xingyu com ele.
No começo, tudo estava indo bem.
Enquanto comiam, Shen Xingyu demonstrava uma cultura e experiência incomuns para sua idade.
De vez em quando, fazia um comentário que arrancava elogios do cliente.
Shen Hongyuan também parecia satisfeito, embora tenha se apressado em depreciar o próprio filho, dizendo que ele “não sabia se comportar”.
A refeição prosseguiu até que o garçom trouxe outro prato: cabeças de coelho picantes. No prato, quatro cabeças de coelho estavam arrumadas sobre uma camada de vegetais decorativos. Shen Xingyu não percebeu de imediato que tipo de animal era, mas, ao provar uma, sentiu-se curioso e perguntou o que estava comendo.
O cliente à sua frente respondeu que era cabeça de coelho.
O detalhe é que Shen Xingyu adorava coelhos. Ele criava dois coelhos de orelhas caídas, que recentemente haviam tido filhotes. Cuidava deles com muito zelo e, às vezes, até os levava para a escola, mantendo-os sempre longe dos irmãos. Naquele tempo, Shen Xingyu não conseguia compreender, muito menos aceitar, que algo de que gostava pudesse ser transformado em comida.
Sentiu-se enojado e largou os hashis, dizendo em voz alta: “Como alguém pode comer isso?” Inclinou-se sobre a mesa, nauseado.
Ele não se lembra da reação dos outros à mesa, apenas que o cliente o olhou com um misto de reprovação e disse: “Garoto, um homem que tem medo dessas coisas não vai longe.”
Shen Xingyu nunca soube o resultado daquela negociação. Só se lembra que, ao voltar para casa, Shen Hongyuan explodiu de raiva. Como punição, obrigou-o a se ajoelhar e o insultou, chamando-o de fraco e inútil. Em seguida, mandou trazer os coelhos que Shen Xingyu criava.
Aquela cena ficou gravada em sua memória. Shen Hongyuan ergueu a gaiola com as duas mãos e a arremessou violentamente no gramado do quintal, despedaçando-a. O gramado ficou revirado, e as quatro criaturinhas de orelhas caídas correram apavoradas para longe. Shen Hongyuan agarrou os dois coelhos adultos e, diante de Shen Xingyu, que assistia em choque, quebrou o pescoço deles com as próprias mãos.
As duas crias, porém, desapareceram, enquanto Shen Hongyuan gritava e praticamente revirava o quintal em busca delas.
Após aquela tempestade, a paz voltou à mansão dos Shen.
Shen Xingyu continuou com suas aulas de finanças, aguardando seu próximo professor em seu pequeno escritório.
A espera era angustiante, e a mente dele estava tomada pelas imagens dos coelhos mortos.
Quando levantou o olhar, notou uma pequena figura parada na porta.
Seu humor estava péssimo; qualquer um que se aproximasse naquele momento só poderia estar zombando dele. Mas, ao mesmo tempo, uma parte de si ansiava que alguém viesse até ele.
Shen Xingyu encarou o garoto do lado de fora e disse, frio: “O que veio fazer aqui? Saia!”
O menino, ainda apavorado dele, deu dois passos para trás, mas hesitou e voltou a se aproximar.
Ele parou diante da porta, tomando o cuidado de não cruzar o limite do escritório. Vestia um macacão xadrez azul claro. Então, com certa dificuldade, começou a puxar as alças do macacão para baixo.
Shen Xingyu, confuso, não entendia o que o menino estava fazendo.
Viu-o soltar as alças do macacão e enrolar um pouco o suéter branco por baixo, até que, do meio da barriga, tirou duas bolinhas peludas.
Curvando-se com cuidado, colocou as duas bolinhas no chão e apontou para elas, dizendo apenas: “Coelhinhos!”
Sem esperar resposta, o garoto virou-se e saiu correndo, as alças do macacão soltas, balançando nos braços.
Depois disso, a relação entre Shen Xingyu e o menino não melhorou; ele continuava o evitando sempre que podia.
Shen Xingyu tinha uma vaga lembrança de que, em outra ocasião, o garoto veio procurá-lo novamente, mas ele, irritado com algum problema, mandou-o embora com mais um grito.
Foi nesse dia que, quando finalmente se deu conta, foi informado de que o menino havia desaparecido.
…
Nos anos seguintes, nos raros momentos de pausa entre estudos e trabalho, Shen Xingyu se pegava pensando.
Aquele menino o temia muito. Naquele dia, provavelmente foi procurá-lo só porque não encontrou mais ninguém.
Se ao menos ele não o tivesse espantado…
Com o tempo, o jovem impulsivo que se irritava por uma cabeça de coelho picante e gritava com as pessoas desapareceu. Shen Xingyu acreditava que acabaria se tornando alguém parecido com seu pai.
Mas, ao longo de todos aqueles anos, transformou-se na pessoa que é hoje: frio e racional, sem deixar que as emoções o dominem, sempre calculando vantagens e desvantagens.
Shen Xingyu fixou o olhar nos pedaços do balão de coelho em suas mãos. Era um coelho de desenho animado, com orelhas longas e olhos grandes, nada parecido com os coelhos que ele costumava criar.
Mas, depois de alguns segundos, começou a se questionar. Na verdade, já não lembrava direito como eram os coelhos de sua infância.
Então, devia ser apenas uma coincidência.
Ele já havia esquecido de tantos detalhes… como aquele garoto poderia se lembrar?
Nos dias seguintes, Shen Xingyu evitou entrar em contato com Ji Min sobre Lu Ran. Foi Shen Hongyuan quem ligou, admitindo que sabia que Ji Min não permitiria que Lu Ran voltasse para a mansão dos Shen tão cedo, mas explicando que precisava da presença de um “membro da família Shen” em um evento de negócios. Forneceu até o local e o horário, cuidadosamente organizados.
Quando Ji Min recebeu a notícia, ficou surpreso, mas não pretendia impedir totalmente que Lu Ran tivesse contato com a família. Afinal, aparecer publicamente como membro da família Shen poderia ser vantajoso para ele. Claro, tudo dependeria de Lu Ran querer ir.
Ao saber, Lu Ran aceitou sem pensar duas vezes.
Anteriormente, havia permanecido na casa dos Shen para observar as intenções deles e, agora, claro, queria ir.
Shen Hongyuan ficou surpreso com a facilidade com que Ji Min permitiu que ele fosse.
Até vê-lo no restaurante combinado, acompanhado por dois seguranças que mais pareciam montanhas humanas.
Shen Hongyuan: “…”
Até Lu Ran ficou um pouco desconcertado. Ele virou-se para os seguranças e perguntou: “Vocês vão ficar me seguindo assim o tempo todo?”
Os seguranças, previamente orientados por Ji Min, responderam com naturalidade: “O chefe disse que este é o tratamento digno para o ex dele.”
Lu Ran teve um momento de clareza.
“Ah… então é assim que os magnatas se comportam.”
Naquele dia, Shen Hongyuan parecia mais contido, e o encontro foi marcado em um local público, com Shen Xingzhuo ao lado, impecavelmente vestido, como se houvesse se preparado especialmente para a ocasião.
Ao entrar no salão reservado, Lu Ran viu três rostos familiares.
Um deles ergueu uma taça para ele e, com um sorriso tentador, disse: “Querido, há quanto tempo.”
Lu Ran: “…”
Era a família Lino.
A família Lino agora era uma rival da família Shen e, nas gerações passadas, até mesmo inimigos. No entanto, ali estavam eles, reunidos.
Shen Hongyuan pareceu indiferente ao ver o filho mais velho da família Lino cumprimentar Lu Ran.
Shen Xingzhuo, por outro lado, olhou para Lu Ran com uma expressão sutil de rivalidade, mas manteve a postura.
Quando o jantar começou, a família Lino foi bastante cortês.
Shen Hongyuan, então, apresentou seus filhos.
“Meu caçula, acredito que já conheçam, não é necessário dizer mais nada,” disse Shen Hongyuan com um sorriso. Ele apontou para Shen Xingzhuo e continuou: “Este é meu filho adotivo, também estudante na Universidade Y…”
Lu Ran lançou um olhar a Shen Hongyuan, achando a situação estranhamente desconfortável.
Logo, o velho Lino apresentou os filhos:
“Estes são os meus dois meninos. O mais velho parece despreocupado, mas é fiel quando encontra alguém especial. O mais novo é atencioso e carinhoso…”
Lu Ran sentiu a situação ainda mais estranha.
Arranjou uma desculpa para ir ao banheiro e ligou para Ji Min.
Antes do telefonema, Ji Min estava examinando alguns documentos sobre as novas gerações das famílias influentes. Quando clicou na seção da família Gu, viu o rosto arrogante de Gu Ningqi, franzindo a testa.
Folheando mais uma página, deparou-se com Gu Zhi, que, apesar de mais velho, era igualmente desagradável.
O mordomo Chen, atrás dele, observava enquanto Ji Min, com uma expressão de desagrado, percorria as páginas com um olhar extremamente crítico, até concluir: “Nenhum deles vale a pena.”
Ele jogou o mouse de lado e ficou olhando pela janela, perdido em pensamentos, até o telefone tocar.
A voz de Lu Ran, animada como sempre, soou na linha: “Chefe, acho que o Shen Hongyuan me trouxe para um encontro arranjado!”
Ji Min: “?”
Ji Min: “!”
Demorou um segundo para processar a informação, mas, em seguida, franziu o cenho, levantando o tom como raramente fazia: “Encontro? Você é muito jovem para isso!”
Lu Ran estava preocupado com outra coisa: “Será que isso vai prejudicar meu trabalho? Quero dizer, podem acabar espalhando que o ex-namorado de Ji Min, na verdade, enquanto finge perseguir ele, está escondido procurando um encontro! Vão achar que o Ji Min é quem não presta.”
Imitando perfeitamente o tom de fofoca alheia, Lu Ran repetiu as palavras.
Mas Ji Min, ignorando tudo isso, respondeu: “Espera, isso não importa agora.”
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A BUCHA DE CANHÃO DA FAMÍLIA RICA ENLOUQUECEU
Lu Ran é o filho biológico negligenciado de uma família rica.
Quando ele tinha quatro anos, se perdeu. Ao retornar para casa, sua família favoreceu o filho adotivo, Shen Xingran,...