Capítulo 91: Gu Zhi
O som do tapa ecoou com clareza e impacto. O movimento de Lu Ran ao bater foi tão firme e certeiro, executado com tamanha destreza, que deixou todos os presentes — executivos acostumados a manobras complexas e manipulações sutis — atônitos por um momento.
O garoto mimado também ficou paralisado. Aquela era, provavelmente, a primeira vez em sua vida que alguém ousava lhe dar um tapa. Quando finalmente assimilou o que acabara de acontecer, ele, um jovem de quatorze ou quinze anos, abriu a boca e começou a berrar, enquanto procurava a mãe, Ji Yue:
“Mãe! Ele me bateu!”
O choro incomodou Lu Ran de imediato. Ele pegou uma cesta de papel para doces que estava sobre a mesa, amassou-a e a empurrou na boca do garoto. Finalmente, o ambiente ficou silencioso.
Foi só então que Ji Yue, atônita, se deu conta do que havia acontecido. Ao ver seu precioso filho sendo agredido, ela largou tudo e avançou na direção de Lu Ran.
“Quem você pensa que é para bater no meu filho? Eu sou a tia de Ji Min, sabia? Quem te deu o direito de falar e agir assim na casa da família Ji?” Ela ergueu a mão, pronta para revidar.
Mas Lu Ran segurou seu pulso com firmeza e perguntou: “Tia? Você é aquela que fez ele adiar a festa de aniversário em um dia?”
Ji Yue ficou momentaneamente confusa com a pergunta. No instante seguinte, Lu Ran ergueu a mão e — plaf — deu-lhe um tapa também.
“Você também pode sair,” ele disse, com uma frieza surpreendente.
Esse segundo tapa deixou todos os presentes completamente boquiabertos. Afinal, Ji Yue era… a tia de Ji Min! A filha mais velha da família Ji!
Ji Yue, atordoada com o golpe, cambaleou alguns passos para trás, segurando o rosto com as mãos, sem reação. Foi então que o marido de Ji Yue, vendo a esposa e o filho agredidos, finalmente se aproximou.
“Seu moleque, o que você pensa que está fazendo?!”
O homem, corpulento e imponente, esticou a mão para agarrar Lu Ran pelo pescoço, mas Lu Ran o interceptou com outro tapa: “Você também pode sair, seu parasita inútil.”
O homem, sendo um adulto, não caiu tão facilmente, mas segurou o rosto, furioso, e partiu para cima de Lu Ran outra vez. Lu Ran então esticou o braço, agarrou-o pela cabeça e, com um movimento rápido, empurrou-o para dentro de um prato de sopa cremosa que estava na mesa.
Houve um tremor na mesa e gotas de sopa voaram para todos os lados. Após alguns segundos, Lu Ran ergueu a mão e perguntou com calma: “Agora podem sair?”
O homem levantou o rosto sujo de sopa. Atordoado, limpou o rosto e, sem dizer uma palavra, virou-se e foi embora.
Três em um!
Os outros convidados sentados à mesa de Ji Min estavam completamente estupefatos. Quando finalmente recuperaram a capacidade de raciocínio, seus olhares se voltaram para Ji Min, ansiosos para ver sua reação.
O homem, que antes exibia uma expressão de frieza, franziu levemente o cenho. Sob o olhar atento dos presentes, ele esticou a mão e segurou o pulso de Lu Ran, agora sujo de sopa, e, com um guardanapo, começou a limpar cuidadosamente os respingos de sopa no pulso e nos dedos do garoto.
Confirmando que Lu Ran não havia se queimado, Ji Min soltou lentamente o pulso do garoto e virou-se para o atendente ao lado, dizendo: “A mesa está suja. Limpe-a e retire a sopa. Traga sobremesas no lugar.”
Foi só então que Ji Yue, ainda atordoada com os tapas, soltou um grito agudo. Ela se levantou, alternando o dedo entre Lu Ran e Ji Min:
“Ele… ele me bateu! Ji Min, eu sou sua tia! E você vai deixar isso passar?”
Ji Min franziu o cenho e soltou um suspiro:
“Ele tem apenas dezenove anos, ainda é um garoto. Pra que causar tanto alvoroço?”
Ji Yue quase ficou sem ar. Dezenove anos? Como assim “apenas dezenove”? Desde quando dezenove anos é idade para ser tratado como criança?
Os convidados que testemunharam a cena disfarçaram suas reações, abaixando os olhos em silêncio, tentando absorver o choque da situação sem encarar mais Lu Ran.
Por dentro, Ji Min também estava surpreso. A princípio, ficara receoso de que Lu Ran simpatizasse com a família Li, temendo que suas próprias atitudes chocassem o garoto. Agora, depois de ver Lu Ran lidar com tudo à sua maneira, ele já quase havia esquecido o que planejara originalmente.
Ainda mais porque, ao se acomodar e dar algumas mordidas na comida, Lu Ran pareceu de repente lembrar-se de onde estava.
“Pera aí! Quanta gente! Sua festa de aniversário já começou?”
“E o que mais seria?” Ji Min lançou-lhe um olhar exasperado.
Lu Ran imediatamente se aproximou, murmurando: “Mas eu nem tive tempo de fazer uma marquinha nova, e agora?”
Ji Min: “…”
“Dispenso. Uma vez só já foi mais do que suficiente, obrigado.”
Lu Ran voltou a se concentrar na comida, e, depois de alguns momentos, levantou a cabeça, olhando ao redor, até que perguntou em tom hesitante:
“Er… chefe, eu por acaso acabei de bater em alguém importante?”
“Por acaso?” Ji Min ergueu a sobrancelha.
Lu Ran cutucou a carne no prato, murmurando: “Por acaso bati de propósito…”
Ji Min reprimiu um sorriso que ameaçava surgir e perguntou: “E se eu disser que sim?”
Lu Ran ficou em silêncio por um instante. Depois, largou os hashis e juntou as mãos em sinal de desculpas, dizendo: “Perdão, chefe. Seja compreensivo e não desconte do meu salário!”
Após uma pausa, acrescentou: “Mas, se o senhor precisar, posso pedir desculpas a eles.”
Por alguma razão, ao ouvir isso, Ji Min sentiu uma pontada de tristeza. O garoto, que parecia sempre agir impulsivamente e sem medo das consequências, agora estava disposto a pedir desculpas se necessário.
“Continue comendo,” Ji Min respondeu, pegando uma fatia de bolo e a colocando na boca de Lu Ran. Ele observou enquanto o garoto mastigava, com as bochechas cheias como um hamster, e murmurou baixinho: “Ninguém precisa de suas desculpas.”
A festa, que havia se tornado um caos momentâneo, voltou aos poucos ao normal. Os convidados, todos experientes, evitaram mencionar o incidente com a família Li, embora ocasionalmente lançassem olhares furtivos para Lu Ran, como se quisessem memorizar seu rosto e garantir que não cometiam o erro de ofender alguém que não deveriam.
Já passava das quatro da tarde quando os convidados começaram a ir embora.
Gu Zhi fez questão de passar pela mesa antes de sair. Lu Ran, que não o conhecia, olhou para Ji Min.
Ji Min franziu o cenho ao olhar para Gu Zhi e disse a Lu Ran: “Ele é da família Gu. Pela tradição, deveria chamá-lo de ‘tio’. Mas, francamente, não é alguém que você precise lembrar.”
Gu Zhi: “…”
“Ei! Eu ainda estou aqui! Precisa falar assim na minha cara?”
“Então, por que não se afasta?” Ji Min retrucou.
Gu Zhi resmungou, mas ergueu dois polegares para Lu Ran, elogiando em voz baixa: “Você deu uma boa surra agora há pouco.”
Surpreso por alguém elogiá-lo por isso, Lu Ran levantou a cabeça e olhou para Gu Zhi.
Gu Zhi ficou boquiaberto enquanto o observava, e, de repente, estalou os dedos em compreensão: “Pera aí… você é aquele da família Shen?”
Lu Ran não respondeu, apenas continuou encarando-o.
Gu Zhi reconheceu o olhar familiar e exclamou, animado: “É você, Ranran! Ranran, sou seu tio Gu, lembra de mim?”
Neste momento, ele se esqueceu até de Ji Min e aproximou-se ainda mais.
“Agora ele se chama Lu Ran,” Ji Min interveio.
“Isso não importa,” Gu Zhi respondeu, agitando as mãos animadamente. “Você se lembra? Quando você era pequeno, eu te levava para pegar cigarras! Você era quieto, mas muito corajoso, adorava brincar com insetos!”
Com a recepção calorosa de Gu Zhi, Lu Ran ficou curioso. Ele inclinou-se para frente para ver melhor o rosto de Gu Zhi e ver se se lembrava dele.
No entanto, antes que pudesse se aproximar, Ji Min segurou seu pulso. Lu Ran virou-se, perguntando:
“O que foi, chefe?”
“Deixe isso para lá, ele está com ciúmes,” Gu Zhi interveio, puxando Lu Ran para o lado.
Lu Ran olhou para Gu Zhi, mas logo voltou-se para Ji Min, esperando sua resposta.
Ji Min franziu os lábios e, encarando Gu Zhi, perguntou: “Por que ainda está aqui?”
“Estou só enrolando. Não tenho nada para fazer,” Gu Zhi respondeu despreocupado.
“Seu avô me ligou ontem perguntando sobre sua situação na empresa,” Ji Min avisou.
Gu Zhi: “…”
Sem ter como rebater, Gu Zhi fez uma reverência para Ji Min em sinal de despedida e, depois, acenou para Lu Ran: “Nos vemos outro dia!”
Antes de sair, voltou e perguntou a Lu Ran: “Aliás, no dia que você voltou para a família Shen, meu pai enviou um presente para você e disse que queria que fosse nos visitar, mas nunca recebeu uma resposta.”
“Presente?” Lu Ran ergueu a sobrancelha, logo entendendo que o item provavelmente fora interceptado por Shen Hongyuan.
Ele sorriu para Gu Zhi e disse: “Vou perguntar sobre isso quando voltar para casa.”
Ao ver o sorriso, Gu Zhi estremeceu. Era o mesmo garoto de antes, mas agora, seu sorriso tinha algo de inquietante.
Acenando novamente, Gu Zhi partiu de vez.
Quando ele já não estava mais à vista, Ji Min percebeu que ainda segurava o pulso de Lu Ran. Soltou-o de repente, desviando o olhar e tossindo levemente.
Pensando nos olhares que Lu Ran lançara a Gu Zhi, ele contraiu os lábios e sugeriu: “Eu tenho o contato de Gu Zhi. Posso te passar depois. E também posso levá-lo para visitar o velho Gu.”
Lu Ran o observou por um momento e balançou a cabeça: “Não precisa, não me lembro de nada disso. Mas, sobre o velho Gu, acho que seria bom conhecê-lo.”
Ji Min percebeu que Lu Ran havia recusado apenas o contato de Gu Zhi.
Com quase todos os convidados já fora, Ji Min e Lu Ran caminharam juntos em direção ao pátio interno. Dahuang veio correndo ao encontro de Lu Ran, circulando ao redor de suas pernas, e ele se abaixou para pegá-lo no colo.
“Chefe, pode ficar tranquilo,” Lu Ran disse de repente. “Eu sei que sou seu ‘ex-namorado’, então não vou sair adicionando qualquer pessoa no WeChat.”
Ao dizer isso, sua voz parecia alegre como sempre, quase como um funcionário dedicado ao trabalho. No entanto, ele não olhava para Ji Min, concentrando-se em retirar pequenas folhas de grama do pelo de Dahuang.
Ji Min desviou o olhar.
“Certo. Bom,” ele respondeu baixinho.
Era como se, de fato, a intervenção anterior tivesse sido apenas uma questão de “trabalho”.
Quando entraram na sala de estar, perceberam que ainda havia alguém ali. Embora o pai e o filho da família Li tivessem saído aos gritos, Ji Yue, sendo parte da família Ji, permanecia sentada no sofá, com o rosto sombrio.
Assim que viu Lu Ran, Ji Yue estreitou os olhos e, sem hesitar, começou a protestar novamente.
“Ele me bateu! Bateu em mim e no seu primo, e você ainda vai protegê-lo?”
Lu Ran, não resistindo, replicou: “Mas eu já me segurei bastante.”
“Segurou?” Ji Yue quase riu de raiva. “Depois de me dar um tapa, isso é segurar?”
Curiosamente, Ji Min ficou calado por um instante, refletindo sobre as palavras de Lu Ran. Então, concordou com um aceno de cabeça:
“É verdade. Ele já foi bastante contido.”