Capítulo 95: Cada Vez

Ao ver Jin com a cabeça enfiada no vaso sanitário, Lu Ran bateu as mãos, abriu a porta do banheiro e saiu.

Dois seguranças observaram Lu Ran saindo.

Com um tom que misturava respeito e hesitação, um deles perguntou: “Fazendo isso… como vamos explicar ao Sr. Ji?”

“Meu chefe?” Lu Ran fez um gesto despreocupado com a mão. “Hah, ele já está acostumado.”

Os dois seguranças se entreolharam, perplexos.

Lu Ran, por sua vez, parecia satisfeito ao vê-los. Instruindo-os, disse: “Eu preciso resolver uma coisa, então vocês dois entrem e vigiem aquele lá dentro. Não deixem ele escapar!”

Assim que terminou de falar, Lu Ran se foi.

Os dois seguranças observaram a silhueta dele se afastando e depois olharam para dentro do banheiro, onde Jin ainda estava naquela posição embaraçosa.

Involuntariamente, estenderam a mão em sua direção em um gesto frustrado, mas em um piscar de olhos, Lu Ran já havia desaparecido no corredor.

Um dos seguranças, sem conseguir conter a reação, esfregou o rosto e perguntou: “O que a gente faz agora, irmão?”

O outro, igualmente hesitante, suspirou. “O que mais podemos fazer? Vamos entrar.”

Enquanto isso, Lu Ran deu uma volta pelos corredores.

De longe, ele viu Shen Hongyuan conversando com o velho Lino. O segundo filho da família Lino, Yan, não estava lá.

Lu Ran não se aproximou, preferindo continuar caminhando pelo corredor. Em pouco tempo, ele encontrou Yan Lino, que estava sozinho.

Após refletir por um momento, Lu Ran bagunçou o próprio cabelo, assumindo uma expressão de aparente desespero, e caminhou em direção a Yan.

“Se-segundo Jovem Mestre, posso pedir sua ajuda?”

Yan olhou para Lu Ran com certa surpresa. Estava de mau humor, pois ainda se ressentia das palavras de seu pai. Para o velho Lino, o casamento com Lu Ran parecia uma grande oportunidade, mas, como sempre, esse tipo de boa sorte estava destinado ao irmão mais velho de Yan, como se ele, o segundo filho, nem existisse.

Ao ver Lu Ran se aproximando, Yan, ainda descontente, perguntou: “Meu irmão não estava com você?”

“Mas é justamente sobre ele. Ele está agindo de um jeito muito estranho. Eu queria pedir sua ajuda, Segundo Jovem Mestre…”

Lu Ran falou em um tom baixo.

Ouvindo isso, Yan de repente se animou. Desde pequeno, sempre ficava atrás do irmão, então ver alguém que desconfiava das atitudes do irmão e preferia procurá-lo fez com que se sentisse importante.

“Vou dar uma olhada, então”, respondeu Yan.

“Isso é ótimo!” Lu Ran sorriu para ele, virando-se para guiá-lo pelo caminho.

Yan observava o jovem à sua frente com atenção.

Para ser sincero, ele não tinha uma impressão inicial muito boa de Lu Ran. Na primeira vez que se encontraram, tudo o que recordava era que ele era um seguidor malvestido de Ji Min.

Ainda menos impressionado ao saber que Lu Ran tinha algum vínculo com a família Shen, Yan não hesitou em usar Lu Ran como alvo, jogando bebida nele sem pensar duas vezes.

Agora, vendo o interesse que Jin demonstrava por Lu Ran, Yan deu mais uma boa olhada no garoto.

Chegou até a imaginar, com certo ar de vaidade, que talvez Lu Ran realmente não gostasse do irmão, mas tivesse algum interesse por ele, Yan.

Nesse caso, quem teria a chance de conquistar a “grande oportunidade” oferecida pela família Shen seria ele, não o irmão.

Com a mente ocupada com esses pensamentos, Yan mal notou quando Lu Ran o conduziu até o banheiro.

Quando finalmente percebeu onde estava, o jovem à sua frente fez um giro rápido e empurrou-o para dentro do banheiro, fechando a porta com um “clique”.

Yan e Jin, afinal, eram irmãos.

Ao ser empurrado para o banheiro, Yan também teve um momento de indecisão. Imaginou que, talvez, algo mais… interessante pudesse acontecer entre eles ali. Levantando o braço, tentou encurralar Lu Ran contra a parede.

Mas, no meio do gesto, ele parou bruscamente.

Finalmente notou a figura familiar, com a cabeça mergulhada no vaso e se debatendo, ali no cubículo ao lado.

Se não estava enganado…

A roupa que aquela pessoa usava parecia muito com a de seu irmão.

Yan continuou a olhar, tentando entender a situação, e ao abaixar o olhar, viu o jovem à sua frente segurando uma escova de vaso sanitário que não sabia de onde ele tinha tirado.

Os olhos de Yan se arregalaram, e ele deu um passo para trás. “Você… você… o que pretende fazer?”

Lu Ran olhou para o segundo jovem mestre, um pouco intrigado com sua falta de perspicácia.

“Você vê seu irmão desse jeito e ainda pergunta o que eu vou fazer?”

Yan virou a cabeça para olhar o cubículo mais uma vez e depois voltou a olhar para Lu Ran e sua “arma”. Finalmente, caiu em si, percebendo como seu irmão, o sedutor e elegante Jin, havia acabado naquele estado.

“Ha! Você acha que com essa sua estrutura vai me intimidar?”

Yan soltou uma risada de escárnio. Ele não era como Jin, que era só aparência e pouca utilidade.

Erguendo a mão, tentou tomar a escova de vaso sanitário de Lu Ran.

Mas após um bom tempo tentando pegar o objeto de várias formas, percebeu, incrivelmente, que não conseguia um ângulo para agir.

“Você! Você vai ver só!”

Percebendo que a situação não era favorável, Yan decidiu abrir a porta e sair.

Lu Ran suspirou.

Para alguém da constituição de Yan, seria, de fato, um desafio. Um pouco frustrado, ele falou: “Podem sair.”

Yan estava prestes a responder com mais alguma ameaça quando ergueu o olhar e viu dois homens enormes saindo do cubículo ao lado e segurando-o firmemente pelos ombros.

Apenas um som abafado de grito ecoou pelo corredor.

Pouco depois, Lu Ran saiu do banheiro.

Ele lavou as mãos com cuidado e usou um pedaço de papel para secar cada gota de água dos dedos.

Então, voltou a caminhar pelo corredor, com uma expressão de desespero, em direção ao lugar onde Shen Hongyuan e o velho Lino conversavam.

No meio do caminho, ele parou por um instante, olhando para Shen Hongyuan com um lampejo de desdém nos olhos.

Em seguida, bagunçou um pouco mais suas roupas.

Shen Hongyuan e o velho Lino continuavam conversando, quando perceberam Lu Ran se aproximando, com as roupas um pouco desarrumadas. Ao se deter diante deles, parecia conter uma raiva crescente, lançando um olhar duro em direção a Shen Hongyuan.

Diante da expressão de Lu Ran, ficou claro que ele havia se metido em alguma situação complicada.

Shen Hongyuan, fingindo não perceber nada, sorriu gentilmente e perguntou: “O que houve, por que está tão agitado?”

Lu Ran lançou-lhe um olhar, mas não reclamou diretamente, dirigindo-se ao velho Lino:

“Tio, Jin e Yan… começaram a brigar por minha causa!”

Essas palavras deixaram Shen Hongyuan e o velho Lino surpresos.

Lu Ran, com uma expressão de ansiedade, continuou: “Eu estava com Jin, e de repente Yan apareceu e deu um soco nele, reclamando por que sempre era ele…”

Lu Ran falou de forma ambígua.

Mas o velho Lino conhecia bem seus dois filhos e logo entendeu a situação.

Com o jeito de Jin, era bem provável que estivesse tentando se aproveitar do rapaz. E Yan, impulsivo e sem a astúcia do irmão, certamente interrompeu o momento.

E agora estavam na casa da família Shen!

Com uma rixa antiga entre os Lino e os Shen, os dois irmãos Lino brigando por um membro da família Shen dentro da própria casa dos Shen era a maior vergonha possível.

O velho Lino quase teve um colapso de tanta raiva.

Ele se levantou abruptamente, gritando: “Esses dois idiotas, como ousam fazer uma coisa dessas! Onde eles estão?”

“Estão… no banheiro, no primeiro andar”, respondeu Lu Ran em voz baixa.

O velho Lino foi imediatamente em direção ao banheiro.

Testemunhando a confusão causada pelos outros, Shen Hongyuan, como anfitrião, também seguiu em frente.

Lu Ran os acompanhava, um pouco mais atrás.

“Você fez isso de propósito para que Jin…” Lu Ran murmurou entre os dentes.

Shen Hongyuan olhou surpreso, fingindo completa inocência, como se não tivesse tramado nada contra o próprio filho. Em tom teatral, perguntou: “O que aconteceu? Você e o jovem Jin tiveram algum problema?”

No entanto, ao ver a expressão raivosa de Lu Ran, Shen Hongyuan relaxou, acreditando que realmente algo grave havia acontecido.

Tomado pela fúria, o velho Lino empurrou a porta do banheiro sem pensar duas vezes.

Vendo a movimentação lá dentro, com os filhos em plena confusão, Shen Hongyuan também entrou por impulso.

Assim que atravessou a porta, ouviu o som de um “clique”.

Virando-se, viu Lu Ran trancando a porta do lado de fora.

A confusão no banheiro finalmente ficou clara.

Jin estava amarrado de cabeça para baixo no vaso, lutando para se libertar. Yan, por sua vez, era segurado por dois seguranças, com uma escova de banheiro imunda encostada no rosto.

Naquele instante, até o velho Lino ficou atônito.

Mesmo Shen Hongyuan, que já tinha sido alvo de um “ataque especial” de Lu Ran antes, ficou em choque. Mas o que estava acontecendo ali? Ele ainda pensava em Lu Ran como um garoto inofensivo. Nunca imaginou que o filho teria levado suas ações para um banheiro, e contra pessoas de verdade.

A cena o deixou tão espantado que até esqueceu de sair. Afinal, nem mesmo as vítimas anteriores de Lu Ran, como Zhang Lin e Gu Ningqi, haviam ousado descrever suas experiências em detalhes. Aquilo era algo totalmente fora do escopo de Shen Hongyuan.

Movido por uma curiosidade estranha, ele deu dois passos em direção ao cubículo, só para confirmar que realmente havia uma pessoa amarrada ali e que aquilo não era algum tipo de performance.

Depois, deu mais dois passos para trás, observando a escova de banheiro pressionada contra o rosto de Yan. Ao investigar o objeto por alguns momentos, ele concluiu:

A escova era real, e claramente havia sido usada antes.

A expressão de Shen Hongyuan se transformou em puro espanto.

Ele parou no meio do caminho, tentando lembrar o motivo pelo qual tinham entrado ali.

O velho Lino estava ainda mais confuso.

Ao ver o próprio filho amarrado com a cabeça enfiada no vaso, nem passou por sua cabeça que isso poderia ser obra do “inofensivo” Lu Ran. Afinal, Lu Ran parecia tão inofensivo que ele nunca o considerou uma ameaça.

O velho Lino, ponderando, ergueu uma expressão de raiva e perguntou a Yan: “Vocês dois brigarem é uma coisa, mas como pôde enfiar seu irmão no vaso?”

Yan, com a escova ainda encostada no rosto, ficou completamente atordoado.

Antes da chegada do pai, ele estava convencido de que o pai viria resgatá-lo. Por isso, mesmo quando a escova quase o forçou a abrir a boca, ele manteve os dentes cerrados, aguentando.

Mas o pai chegou, e sua primeira reação foi questioná-lo? Se fosse ele que tivesse feito isso, ainda estaria sendo ameaçado com uma escova de banheiro?

Yan ficou tão indignado que quase saltou.

“Mm! Mmm!” Ele tentou explicar.

Mas, para isso, teria que abrir a boca.

Ao relaxar a mandíbula, o segurança que o segurava apertou involuntariamente a escova contra seu rosto.

A cena foi horrível.

O segurança segurando a escova olhou para o objeto em sua mão e sua expressão desmoronou. Estava tão constrangido quanto Yan.

Meu Deus. O que ele estava fazendo? Seria esse o início de uma vida decadente?

Apesar de tudo, tinha que admitir que era uma maneira eficiente de ensinar uma lição…

Quando viu o filho sendo ameaçado desse jeito, o velho Lino finalmente percebeu que estavam sendo feitos de bobos.

Ele abriu a boca para falar.

Mas Lu Ran, ao lado, tirou um desentupidor do armário de ferramentas e o lançou para o outro segurança: “Pega!”

O segurança, ainda mantendo a compostura, ficou apavorado quando viu o desentupidor voando em sua direção e quase chorou ao segurá-lo: “Jovem Mestre! Isso não é coisa que se jogue por aí!”

“Relaxa, eu joguei com o lado certo para baixo!”

Lu Ran apontou para o velho Lino: “Pode cuidar daquele velhote cheio de segundas intenções!”

Com isso, ele se virou e segurou Shen Hongyuan, que tentava escapar.

Com um sorriso, disse: “Patriarca Shen, esta não é sua casa? Pra que fugir?”

Shen Hongyuan olhou ao redor: Jin ainda amarrado ao vaso, Yan com a escova na boca e o velho Lino em um impasse com o desentupidor. Observou também os cubículos vazios e os mictórios à sua esquerda.

A expressão de Shen Hongyuan mudou várias vezes, alternando entre terror, simpatia e frieza.

Por fim, percebendo que Lu Ran não cairia em qualquer atuação, deixou transparecer sua raiva, e, tremendo, exclamou: “Aqui é a casa da família Shen! O que você pretende, Lu Ran?”

Lu Ran sorriu para ele:

“Perguntando o que eu pretendo? Quando você planejou vender seu próprio filho junto com um estranho, por que não se perguntou o que estava fazendo?”

Ele então agarrou Shen Hongyuan pela gola, arrastando-o até um dos cubículos e empurrando a porta.

Como se estivessem em uma conversa casual, suspirou:

“Aquele Jin tentou me agarrar várias vezes, mas mesmo quando lidei com ele, não tive coragem de usar isso.”

“Você sabe por quê?” perguntou Lu Ran.

Shen Hongyuan ficou paralisado, incapaz de responder.

Temendo dizer qualquer coisa que pudesse enfurecer ainda mais o rapaz, permaneceu em silêncio.

Lu Ran não parecia se importar e revelou um sorriso de satisfação:

“Porque esse aqui foi usado recentemente pelo seu segundo filho, então é claro que guardei especialmente para o pai dele.”

Ao ouvir isso, Shen Hongyuan ficou pálido.

Num gesto brusco, Lu Ran forçou Shen Hongyuan a se inclinar para o vaso.

Desesperado, Shen Hongyuan apoiou as mãos na beira, fitando o vaso à sua frente, aterrorizado. Com os lábios tremendo, implorou: “Filho ingrato! Eu sou seu pai, seu próprio pai!”

Lu Ran ergueu as sobrancelhas, surpreso: “Então você lembra disso?”

Sem hesitar, ele pressionou ainda mais Shen Hongyuan em direção ao vaso.

Shen Hongyuan, sem força para resistir, sentiu-se cada vez mais próximo de mergulhar de cabeça.

Em um ato de desespero, ele exclamou: “Você não queria saber onde estava o presente que a família Gu mandou? Eu vou te contar!”

Mas tudo o que ouviu foi a voz calma e fria do jovem atrás dele:

“Mas agora não estou mais interessado. Tudo o que eu quero é te empurrar para dentro.”

“Não, não!”

Shen Hongyuan se recusava a acreditar que algum problema no mundo não pudesse ser resolvido com a oferta de uma vantagem.

Desesperado, ele gritou: “Está no meu escritório, no armário ao leste da parede. A chave… a chave está comigo!”

Mesmo assim, Lu Ran não diminuiu a pressão.

Mais um grito ecoou pelo banheiro, seguido pelo som de um mergulho.

Lu Ran olhou tranquilamente para Shen Hongyuan, que estava com a cabeça enfiada no vaso.

Seu pai, em termos biológicos.

Ao final, ele pegou um molho de chaves preso ao cinto de Shen Hongyuan e as balançou com desdém.

Endireitando-se, deu uma olhada em volta do banheiro.

A cena era realmente desoladora.

Shen Hongyuan, gritando, conseguiu tirar a cabeça do vaso. O velho Lino, com o rosto pressionado pelo desentupidor, e Yan, com a escova na boca, pareciam em um estado de transe, questionando se aquilo não era um pesadelo.

Jin, após lutar muito, conseguiu se soltar das amarras e caiu no chão. Parecia estar tão abalado que mal conseguia se mover, com uma expressão vazia.

Lu Ran balançou a cabeça, visivelmente confuso, e perguntou aos três membros da família Lino: “Por que essa reação toda?”

Por que essa reação toda?

Ele realmente estava perguntando por que estavam reagindo assim?!

Ao ouvir isso, Jin quase saltou do chão.

Apontando para o vaso, ele exclamou, descontrolado: “Troca de lugar comigo e vê se você não fica abalado depois de beber água de privada!”

Lu Ran, o responsável por toda aquela cena, inclinou a cabeça e, com olhos inocentes e uma expressão genuína, perguntou:

“Mas vocês já não tinham bebido antes?”

Jin ficou perplexo com essa resposta.

Relembrando, seu rosto assumiu uma expressão de horror.

Logo, ele gritou: “Nós não bebemos nada do que seu irmão serviu! Cuspi tudo fora!”

Após o desabafo, tudo o que viu foi o jovem à pia, lavando as mãos meticulosamente, que olhou para ele, ainda sem entender, e disse:

“Mas o que eu servi para vocês, vocês beberam tudinho, e até gostaram, não foi?”

Jin ficou completamente paralisado.

Ao compreender o significado das palavras de Lu Ran, começou a tremer visivelmente.

“Vo-você quer dizer que…”

“Não, não pode ser!”

Lutando para processar a situação, Jin, furioso, olhou para Lu Ran e perguntou: “Quantas vezes?”

O rapaz à sua frente lançou-lhe um sorriso tímido, com uma expressão familiar de constrangimento, e respondeu:

“Cada vez.”

Cada vez…

“Eu sempre senti saudade dos drinques que você me preparava…”

“Era um sabor único e especial…”

Ao lembrar das próprias palavras, Jin não pôde mais conter-se, e um jato de água escapou da sua garganta.