Capítulo 98: O Pequeno Urso
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Lu Ran não esperava ouvir aquela resposta.
Ele ergueu o olhar e encontrou os olhos de Ji Min, que pareciam ainda mais escuros sob a luz quente e amarelada do quarto. Aquele olhar não exibia o habitual desconforto ou embaraço de Ji Min ao tratar de assuntos parecidos. Em vez disso, havia uma intensidade firme, uma confiança que combinava perfeitamente com sua personalidade.
Lu Ran abaixou o olhar de repente, começando a arrancar os pelos soltos de Da Huang.
“Ah, eu… isso, eu…” Ele trocou as palavras várias vezes até finalmente encontrar as que queria. “Pode ficar tranquilo, eu sou muito profissional!”
Diante do olhar atento de Ji Min, sua voz enfraqueceu um pouco: “Então, chefe, você não precisa ficar com ciúmes.”
“Eu vou…” Lu Ran começou, sem saber ao certo o que diria em seguida. Era como se estivesse em um território desconhecido, sentindo-se desconfortável e impaciente. “Eu vou…”
“Hmm.”
A voz fria de Ji Min soou estranhamente suave. A atitude dominadora desaparecera, substituída pelo tom de quem age como um mentor paciente e compreensivo. Ele ergueu os olhos para o garoto na cama e disse com um toque de ironia:
“Tudo bem, então, meu ‘ex-namorado’ extremamente profissional, como você planeja fazer sua pergunta ao Gu Zhi?”
De uma tacada, ele trouxe a conversa de volta para algo que Lu Ran conhecia bem.
“Ah… então, pode perguntar para mim?” Lu Ran respondeu.
Ji Min, com o celular em mãos, voltou para a beira da cama.
Lu Ran lançava olhares rápidos e furtivos para ele, mas, assim que Ji Min olhava de volta, ele desviava o olhar, como um pequeno animal incerto avaliando se aquele humano era perigoso.
Fingindo não perceber os olhares discretos, Ji Min suspirou: “Se você não fizer logo a pergunta, aposto que não vai conseguir dormir essa noite.”
“Nem vem, nada tira meu apetite ou me impede de dormir,” respondeu Lu Ran.
“É mesmo? E por que não jantou, então?” retrucou Ji Min.
Lu Ran: “…”
Ji Min enviou uma mensagem para o mordomo Chen pedindo que ele trouxesse um lanche noturno. Depois, sentou-se ao lado da cama para que Lu Ran pudesse espiar a tela do celular facilmente, se quisesse.
“Vamos, o que você quer perguntar?”
Lu Ran foi se aproximando aos poucos.
Ao ver as fotos da sua infância, Lu Ran sentiu algo estranho. Mas, pensando bem, ele não sabia ao certo o que queria perguntar. Depois de hesitar, disse: “Pergunte se posso ir à casa dos Gu na próxima semana. Gostaria de ver o velho mestre Gu.”
Ji Min assentiu e começou a digitar no celular.
Lu Ran olhou para ele discretamente, mas, ao ser pego, desviou o olhar, fingindo estar ocupado com Da Huang. O cachorro, já impaciente, saltou da cama e saiu correndo, deixando Lu Ran sem ter com o que disfarçar, então ele pegou as fotos na caixa e começou a folheá-las novamente.
Depois de um tempo em silêncio, ele se virou para ver Ji Min e acabou encontrando o olhar dele.
“Por que você ainda não perguntou?” Lu Ran perguntou apressadamente.
“Como quer que eu pergunte?” Ji Min retrucou, sem tirar os olhos dele. “No seu estilo ou no meu?”
“Isso importa? Tanto faz,” disse Lu Ran.
“Então vou usar o seu.”
Ji Min colocou o celular nas mãos de Lu Ran.
Lu Ran pegou o aparelho, que era um pouco pesado, e começou a digitar. Mas, assim que começou a escrever, percebeu algo estranho. Ele estava usando o celular de Ji Min, o perfil de Ji Min, o tom de Ji Min.
Algo parecia… inadequado.
“Por que usar meu jeito para perguntar?” Lu Ran perguntou.
“Sem razão,” Ji Min respondeu. Só porque assim parece mais íntimo, e quem sabe Gu Zhi leve isso mais a sério. Mas Ji Min não diria isso em voz alta.
Lu Ran apertou os lábios, sentindo-se um pouco desconfortável pela primeira vez.
De repente, ele olhou para a tela do celular e percebeu o que fizera.
“Ah, droga…”
“Hmm?” Ji Min ergueu as sobrancelhas.
Lu Ran mostrou-lhe a tela da conversa. Ele havia esbarrado sem querer nos emojis e enviado uns quinze de uma vez só.
“Isso… conta como ‘no meu estilo’?”
Mal terminara a frase, o celular vibrou com uma chamada de vídeo de Gu Zhi.
Lu Ran estava prestes a recusar, mas Ji Min disse:
“Atenda.”
Para ver melhor a tela, Ji Min se aproximou um pouco mais, e sua respiração tocou o ouvido de Lu Ran, que recuou, sentindo um arrepio.
“Mais perto, não consigo ver,” disse Ji Min em um tom baixo.
“Oh, sim,” respondeu Lu Ran, se aproximando com o celular.
Do outro lado da chamada, Gu Zhi viu os dois juntos, bem próximos, parecendo “intimamente próximos”.
No silêncio da madrugada, um golpe inesperado.
Do outro lado da tela, Gu Zhi, solteiro convicto, teve a primeira reação de quase desligar a chamada. Mas ainda assim comentou: “Você me mandou tanto emoji de uma vez que eu pensei que fosse algum tipo de pedido de socorro.”
Ji Min soltou um leve resmungo de desdém: “Se fosse um pedido de socorro, não seria pra você.”
Gu Zhi: “…”
Para falar a verdade, ao ver tantos emojis vindo do número de Ji Min, Gu Zhi quase teve um infarto. Mas, ao reconhecer Lu Ran no vídeo, sentiu-se um pouco tolo pela pergunta.
Claro, Ji Min logo apontou para Lu Ran com o queixo: “Foi ele quem mandou.”
Ao ver Gu Zhi, o desconforto inicial de Lu Ran dissipou-se. Lembrou-se da razão da chamada e segurou a foto em mãos: “Tio Gu…”
Assim que ouviu o apelido, Ji Min deixou escapar um discreto “tch”.
Lu Ran, sem notar, continuou: “A pessoa na foto é meu avô?”
Quando Gu Zhi viu a foto, pareceu animado: “Ah, então você já recebeu! Sim, esse é o seu avô, e esse pequenino aí é você!”
“Foi eu quem tirou essa foto. Pedi para você sorrir, e você quase sorriu, mas olhou para o seu avô e decidiu manter a expressão séria.”
Gu Zhi continuou, detalhando a cena, claramente se divertindo com a lembrança da criança obediente. Mas foi interrompido por Ji Min, que murmurou: “Você está falando muito alto, está me incomodando.”
Gu Zhi: “…”
Lu Ran: “…”
Percebendo a situação, Lu Ran sugeriu: “Chefe, que tal se você sentasse um pouco mais longe?”
Ji Min: “…”
Sem mais palavras, Ji Min recostou-se na cadeira, fechando os olhos como se fosse descansar.
Lu Ran segurou uma risada. As histórias de Gu Zhi sobre sua infância não despertavam nele muitas memórias, mas eram curiosas. Depois de pensar um pouco, ele continuou:
“E a minha relação com meu avô… como era?”
Havia uma certa distância em sua voz, como se estivesse falando de alguém que ele mal conhecia. Gu Zhi hesitou um pouco antes de responder: “Você realmente não se lembra?”
“Bem… você era só uma criança, tinha quatro anos. Se lembrasse de tudo, isso já teria surgido há muito tempo. Seu avô gostava de você… eu acho.”
A voz de Gu Zhi soou um pouco incerta. Ele coçou a cabeça e explicou: “O velho Shen… ele não era exatamente próximo de ninguém, sabe?”
“Mas quando você era pequeno, parecia que passava bastante tempo com ele.” Gu Zhi deu de ombros. “Para ser sincero, é tudo meio vago agora.”
Pensando que o garoto talvez estivesse interessado na história de seus parentes, Gu Zhi sugeriu: “Por que não pergunta para o meu pai? Ele sempre fala sobre o passado e era muito amigo do seu avô.”
Lu Ran assentiu, considerando a proposta. Era claro que Shen Hongyuan não queria que ele se aproximasse da família Gu, mas ele estava curioso sobre seu avô.
Ao encerrar a chamada, Lu Ran estava prestes a largar o celular no criado-mudo, mas lembrou-se de que o aparelho era de Ji Min. Devolveu-o rapidamente.
Ji Min o pegou com calma, olhando para Lu Ran e dizendo: “Se quer mesmo ver o velho mestre Gu, Gu Zhi talvez não consiga, mas eu posso.”
“Como?” Lu Ran perguntou, intrigado.
“Mas vou precisar de uma recompensa,” respondeu Ji Min.
“Que tipo de recompensa?” Lu Ran questionou.
Ji Min lançou-lhe um olhar e, ao ver o olhar inocente do garoto, moveu ligeiramente os dedos.
Por fim, pegou uma das fotos na caixa e disse: “Quero uma dessas fotos.”
“Hã?”
Lu Ran olhou para a caixa de fotos.
“Mas… são só fotos bobas de criança. Por que você iria querer isso?”
“Porque eu quero,” Ji Min respondeu simplesmente.
“Oh.”
Lu Ran baixou os olhos, mexendo nos dedos, e finalmente empurrou a caixa na direção de Ji Min: “Escolha uma, então.”
Um sorriso surgiu nos lábios de Ji Min, que começou a examinar cada foto cuidadosamente.
Disfarçando a curiosidade, Lu Ran espiava o que Ji Min estava escolhendo. Antes, quando não tinha certeza se o menino nas fotos era ele, não sentira nada de especial. Mas agora que sabia, toda vez que via Ji Min passando os dedos por cada imagem de sua infância, ele se sentia desconfortável.
Mudou de posição várias vezes, até que não aguentou e resmungou: “Chefe, por que você demora tanto?”
“É uma recompensa única, então preciso escolher bem,” Ji Min respondeu com tranquilidade.
Lu Ran ficou sem palavras, e, sem opção, continuou olhando.
Entre as fotos, havia várias dele sentado bonitinho em uma cadeira, parecendo uma criança adorável e bem-comportada. Ele achou que Ji Min escolheria uma dessas.
Para sua surpresa, Ji Min pegou uma foto em que ele estava com as mãos sujas de lama, segurando uma minhoca.
Ji Min observou a imagem por um instante, sorrindo ao ver o rostinho pedindo colo e disse: “Escolho esta.”
Lu Ran ficou ligeiramente constrangido. Sem dizer nada, recolheu as outras fotos.
Ji Min observou as fotos restantes e comentou: “Pensando bem, acho que escolhi pouco.”
“Hã?” Lu Ran o encarou.
Ji Min propôs, casualmente: “É bem difícil ter acesso ao velho mestre Gu. Acho que deveria pedir duas fotos.”
Lu Ran: “… Não seja tão ganancioso!”
Ele rapidamente guardou as fotos restantes.
Ao lançar um último olhar para uma delas, seu movimento parou brevemente.
“O que foi?” Ji Min perguntou.
“Nada, é só que estou com sono. Chefe, você não vai embora?” disse Lu Ran.
Ji Min: “…”
Que despedida sem rodeios. Mas, ao ver a foto em sua mão, ele ainda se sentia satisfeito.
“Não esqueça de comer o lanche, ou vai acordar com fome no meio da noite.”
Depois desse aviso, ele deixou o quarto.
Assim que Ji Min saiu, Lu Ran fechou a porta, respirando aliviado.
De volta à cama, pegou a foto que havia chamado sua atenção antes.
À primeira vista, parecia uma foto comum, mas ao olhar mais atentamente, viu que o babador no pescoço da criança tinha um “Feliz Aniversário” estampado.
Abaixo da imagem, havia a data em que a foto fora tirada.
Ele encarou a foto por um longo tempo, antes de abrir o calendário no celular para verificar a data.
Era o dia em que ele fora oficialmente reconhecido pela família Shen.
Aquela mesma noite, Ji Min o levara para uma comemoração antecipada de aniversário para “Da Huang”. Uma festa com luzes bonitas, doces e balões espalhados pelo chão, além de um enorme bolo de três camadas e várias pessoas cantando “Parabéns”.
Lu Ran ficou sentado em silêncio, contemplando a lembrança.
Quando o lanche ao lado já estava quase frio, ele pegou Da Huang no colo e disse:
“Estamos em apuros, Da Huang. Fomos enganados.”
Naquela noite, Lu Ran teve um sonho.
Apesar de ter visto tantas fotos de sua infância, o sonho não trazia nenhuma memória de antes de ter se perdido. Em vez disso, ele sonhou com o orfanato.
Um dia, o orfanato recebeu uma doação de bichos de pelúcia, e entre os brinquedos doados ao seu grupo, havia um ursinho encantador.
O ursinho era preto, com uma pelagem macia e olhos azuis como safiras.
Lu Ran adorava aquele ursinho. Mas os brinquedos eram compartilhados, então eles só podiam brincar em horários específicos, e cada criança precisava esperar a sua vez.
Lu Ran só conseguia abraçar e acariciar o ursinho quando era a sua vez. Mas logo chegava o momento de passá-lo para o próximo colega.
Ele não queria deixar o ursinho ir. Procurou a professora e disse que poderia fazer todas as tarefas da turma, por um mês, um ano, ou pelo tempo que fosse necessário, em troca de poder ficar só com aquele ursinho.
Mas a professora sorriu e recusou: as tarefas eram cansativas, e ele não daria conta sozinho.
Naquela noite, Lu Ran limpou toda a sala, sozinho, para provar seu ponto. Com o rostinho sujo, disse à professora: “Eu posso fazer tudo. Posso ficar com o ursinho?”
Mas ela, mesmo assim, recusou, pois o ursinho era de todos.
Sem ter o que fazer, Lu Ran só podia aproveitar o pouco tempo que tinha com o ursinho, esfregando de leve o rosto contra a pelagem macia.
Quando o tempo acabava, ele entregava o ursinho ao próximo, observando enquanto outra criança o abraçava.
Com o tempo, mesmo aqueles momentos breves e preciosos ao lado do ursinho começaram a pesar. Ele se via contando os minutos, e no instante final, ele próprio passava o ursinho para o próximo.
Gostar de algo começou a parecer uma coisa dolorosa.
Ao longo do tempo, essa sensação de perda se repetiu tanto que ele esqueceu como era sentir carinho. O que restava eram memórias de dar o que mais gostava, misturadas a uma frustração impotente, a uma distância intransponível.
Mas, neste sonho, o ursinho corria na direção dele.
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A BUCHA DE CANHÃO DA FAMÍLIA RICA ENLOUQUECEU
Lu Ran é o filho biológico negligenciado de uma família rica.
Quando ele tinha quatro anos, se perdeu. Ao retornar para casa, sua família favoreceu o filho adotivo, Shen Xingran,...