Capítulo 99: Estratagema
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Ao acordar naquela manhã, o sol brilhava esplendoroso.
Lu Ran esfregou o rosto no travesseiro, lembrando vagamente do ursinho da escola. Já não sabia para onde ele fora. Naquela época, por mais que se esforçasse, nunca conseguira ficar com o ursinho. Sentia-se impotente e triste, então, a única saída foi reprimir qualquer apego, fingindo não se importar nem se interessar.
Mas agora, um desejo repentino lhe invadia o coração — ele queria acariciar novamente a maciez do ursinho.
Ainda assim, não era do tipo que ficava na cama. Com um movimento ágil, pulou debaixo das cobertas, fez sua rotina de higiene e, antes de descer, parou em frente ao armário de sapatos.
Ali dentro estavam os sapatos que Ji Min preparara para ele — todos modelos modernos, do tipo que qualquer garoto de dezoito ou dezenove anos adoraria. No entanto, Lu Ran só usava aqueles pares em ocasiões em que acompanhava Ji Min.
Agachado, observou cada par de baixo para cima. Nos compartimentos superiores, estavam os primeiros pares que Ji Min havia lhe dado, logo após a celebração de aniversário. Na época, ele nunca imaginara que aqueles sapatos fossem realmente para ele. Quando Ji Min brincou dizendo que eram “uniformes de trabalho,” ele acreditou.
Mas agora, Lu Ran compreendia. Aquilo provavelmente foi a primeira vez que ele recebeu um presente de aniversário.
Animado, passou os olhos pela fileira de sapatos, sem conseguir decidir seu par favorito. Por fim, pegou o primeiro par do topo e calçou. Sentado no banco, ergueu o pé e ficou admirando o sapato por um bom tempo.
Era fim de semana, sem aulas, então ele não tinha pressa.
No entanto, Da Huang, impaciente, aproximou-se e deu uma patada em seu sapato, que balançava inquieto.
Lu Ran: “…”
Normalmente, ele não ligaria para isso, mas hoje foi diferente. Gentilmente, afastou a pata de Da Huang e, com seriedade, disse: “Não pode pisar no meu presente de aniversário, certo?”
Em seguida, desceu as escadas segurando Da Huang pela coleira.
Lá embaixo, Ji Min, como de costume, já estava acordado e sentado à mesa de jantar. Ao ouvir os passos, ergueu os olhos: “Acordou?”
Lu Ran não respondeu.
Ji Min voltou a levantar o olhar, percebendo que o garoto estava parado no topo da escada, olhando-o de forma curiosa, com uma expressão difícil de decifrar.
O olhar de Lu Ran fez o coração de Ji Min acelerar.
Antes que pudesse reagir, o garoto já descia as escadas de dois em dois degraus e se juntava a ele na mesa de jantar.
Ji Min pigarreou e começou a falar de assuntos práticos.
“Amanhã, no fim de semana, iremos à casa do velho mestre Gu.”
“Hã?” Lu Ran arregalou os olhos. “Tão rápido? Chefe, você é eficiente.”
Ji Min bufou.
Se ele não tivesse agilizado, seria preciso esperar Gu Zhi se manifestar primeiro?
Depois de uma pausa para pensar, Lu Ran fez a pergunta que não saía de sua mente: “Se foi tão fácil, por que ligamos para o Tio Gu ontem à noite, então?”
Ji Min: “…”
Pois é, por quê?
Enquanto tomava o café da manhã, Lu Ran lembrou de algo e perguntou: “O Tio Gu respondeu depois?”
“Não,” Ji Min disse, bebendo um gole de chá.
Pedir o contato não contava como “responder”.
Ji Min já havia terminado de comer, mas permaneceu à mesa, distraído com seu chá. De repente, parou o movimento e olhou para o garoto ao seu lado.
Ali estava Lu Ran, que normalmente se focava apenas na comida, mordendo metade de um pãozinho no vapor, com a outra mão apoiando o rosto enquanto o observava fixamente.
“O que foi?” Ji Min perguntou.
Lu Ran balançou a cabeça, mordendo o pão e suspirando profundamente.
Ji Min: “…”
Ele conhecia bem esse cenário.
Sabia o que o garoto diria, mesmo de olhos fechados.
Quase prendeu a respiração, esperando pela pergunta. Mas, dessa vez, Lu Ran pareceu terminar a cerimônia com um suspiro e voltou a comer em silêncio.
Ji Min, que ficou na expectativa por nada: “…”
No dia seguinte, cedo pela manhã, Lu Ran e Ji Min se prepararam para visitar o velho mestre Gu.
Os jovens da família Gu, como Gu Ningqi, estavam todos alocados nas filiais do exterior ou em outras cidades para ganhar experiência. A geração de Gu Zhi geria as empresas locais, vivendo perto da sede da empresa.
Já o velho mestre Gu, nos últimos anos, havia se mudado para uma casa afastada, nos subúrbios, para desfrutar de uma vida mais tranquila.
Ao se aproximarem da propriedade da família Gu, Lu Ran espiava pela janela. Era um lugar espaçoso, com uma área de cultivo bem cuidada de um lado, onde se viam fileiras de hortaliças, e do outro, um jardim ornamentado.
Porém, nada daquilo lhe parecia familiar.
Depois de um tempo, voltou-se para Ji Min: “Será que o Tio Gu estará por aqui? Se estiver, ele poderia ser nosso guia.”
Ji Min lançou-lhe um olhar e disse: “Eu também conheço muito bem a casa dos Gu.”
Um “Tio Gu” tão informal, hein?, pensou Ji Min, sentindo que Gu Zhi não era confiável.
Sendo o caçula, Gu Zhi tinha irmãos mais velhos para assumir as responsabilidades, então ele passava a maior parte do tempo se divertindo. Se ele começasse a pensar em Lu Ran de outra forma…
Com uma leve carranca, Ji Min decidiu compartilhar algumas observações concretas: “Certa vez, no refeitório da empresa, Gu Zhi me fez perguntas absurdas e inapropriadas. Ele leva tudo na brincadeira e não é muito sério. Melhor manter distância.”
“Hm?” Lu Ran ergueu as sobrancelhas, intrigado. “Que tipo de perguntas ele fez?”
Lembrando das perguntas, Ji Min hesitou. “Coisas… pessoais.” Ele tossiu levemente, tentando despistar.
Lu Ran lançou-lhe um olhar desconfiado e abaixou a cabeça, murmurando: “Entendo… então vocês discutem assuntos pessoais?”
Ji Min: “…”
De repente, a atmosfera parecia ligeiramente desconfortável.
Explicar isso só o faria parecer que estava criticando Gu Zhi por nada, mas não explicar parecia ainda mais arriscado.
Depois de uma pausa, Ji Min decidiu ser honesto: “Ele disse que estava com dificuldades e queria algumas… dicas minhas.”
Ao dizer isso, Ji Min manteve um tom neutro, sem o típico orgulho masculino associado ao assunto, apenas relatando um fato.
Mas, ao levantar o olhar, notou que a expressão de Lu Ran mudara de algo levemente desconfiado para uma combinação de choque e uma estranha compaixão.
Ji Min franziu o cenho, sem entender de onde vinha aquela “pena” no olhar de Lu Ran.
Então, para seu espanto, Lu Ran disse, indignado:
“Ele perguntou isso só para te provocar, não foi? Está zombando de você?”
Ji Min: “?”
Quando compreendeu o que Lu Ran quis dizer, ficou sem palavras.
Então, o garoto achava que Gu Zhi sabia que Ji Min não “funcionava” e estava debochando dele?
Lu Ran continuava, ainda revoltado:
“Que desrespeito! Agora entendo por que você não gosta dele.”
Ji Min: “…”
Olhando para o rosto preocupado de Lu Ran, Ji Min sentiu-se tomado por uma súbita inspiração.
Aproveitando o momento, ele abaixou o olhar com uma expressão ligeiramente triste e disse: “Pois é.”
A expressão de Lu Ran se encheu de pena, e ele prometeu: “Não se preocupe, chefe. Da próxima vez que eu o encontrar, vou xingá-lo por você.”
Ji Min sorriu levemente: “Ótimo.”
Quando o carro parou próximo ao jardim dos Gu, Lu Ran e Ji Min desceram e notaram vários carros estacionados.
Lu Ran espiou e reconheceu um dos veículos da família Shen.
Havia bastante gente na casa dos Gu, vários rostos conhecidos.
Ao sair do carro, Ji Min também franziu o cenho.
Um dos empregados se aproximou, apressado em explicar:
“Quando o senhor contou ao velho mestre que o jovem mestre Shen viria, ele achou que ficaria mais animado se houvesse mais pessoas, então convidou alguns jovens da família.”
Ji Min manteve o cenho franzido.
Se ele estivesse sozinho ali para uma reunião, teria virado as costas ao ver aquilo. Mas, considerando que Lu Ran viera para encontrar o velho mestre, ele olhou para o garoto, esperando sua opinião.
“Vamos lá ver,” disse Lu Ran.
Ji Min assentiu e pediu ao mordomo dos Gu que os guiasse.
O mordomo, cuidadoso, os acompanhou até o saguão.
A decoração do saguão era antiquada, com móveis que revelavam o carinho do velho mestre pelos objetos antigos. As marcas de uso estavam evidentes, mas nada fora trocado.
O mordomo olhou para Lu Ran e, sorrindo, apontou para uma cadeira de balanço:
“Será que o jovem mestre Shen se lembra? Quando era pequeno, adorava brincar nessa cadeira, como se fosse um balanço.”
Ji Min ergueu os olhos para Lu Ran, surpreso: “Mesmo sendo visita, aprontava assim?”
Lu Ran: “…” Não me lembro de nada disso.
O mordomo se retirou para verificar o paradeiro do velho mestre. Logo voltou, parecendo um pouco sem jeito.
“Parece que o mestre acordou cedo e foi perturbado por Gu Ningqi. Acabou voltando para um cochilo,” desculpou-se ele a Ji Min. “Ele está mais velho, sabe como é, os cochilos vêm e vão.”
Ji Min assentiu, compreensivo, e disse que entendia.
Quando o mordomo se afastou, ele percebeu que Lu Ran o observava fixamente.
“O que foi?” perguntou Ji Min.
Lu Ran aproximou-se com um sorriso malicioso: “Que curioso… até o chefe fica do lado de fora esperando?”
“Divertindo-se com a situação?” Ji Min ergueu as sobrancelhas.
Ao encontrar o olhar de Lu Ran, Ji Min suspirou levemente: “O velho mestre Gu já está idoso, e, além disso, é um ancião da família. O que mais podemos fazer?”
Enquanto falava, havia uma expressão de resignação em seu rosto, algo que raramente se via.
Lu Ran achou essa expressão inusitada. Observou Ji Min por um momento e, de repente, levantou a mão como se quisesse dar um tapinha em sua cabeça.
“O que está fazendo? Quer perder a mão?” Ji Min segurou o pulso dele com firmeza.
Lu Ran se inclinou sobre o encosto da cadeira de rodas e, com a maior naturalidade, soltou uma desculpa esfarrapada: “Chefe, tem uma folha de grama no seu cabelo!”
“E você acha que vou acreditar?” Ji Min apertou ainda mais o pulso dele, sem soltar.
Os dois estavam distraídos na conversa quando, de repente, uma voz impaciente soou ao lado deles: “Vocês vão continuar brincando como se ninguém mais estivesse aqui até quando?”
Lu Ran se virou e viu que Shen Xingzhuo e Shen Xingyu haviam entrado juntos.
A expressão de Shen Xingzhuo estava quase distorcida de irritação: “Eu já estou aqui há uns três ou cinco minutos. Será que eu poderia receber ao menos um olhar?”
Shen Xingyu, por outro lado, permanecia impassível, apenas lançando um olhar rápido para o pulso de Lu Ran, ainda segurado por Ji Min.
Ji Min arqueou uma sobrancelha, mas não soltou a mão de Lu Ran.
Shen Xingzhuo resmungou e falou de forma nada educada: “Senhor Ji, agora que nós dois, os irmãos mais velhos, estamos aqui, você não acha que deveria nos devolver o garoto? Meu irmão não pode ficar grudado em você o tempo todo como se fosse um assistente pessoal!”
Ji Min riu e soltou o pulso de Lu Ran sem mais delongas.
Shen Xingzhuo estava prestes a chamar Lu Ran para junto dele, mas o garoto franziu as sobrancelhas, olhando-o com uma expressão séria: “Por que você está tratando meu chefe assim?”
Shen Xingzhuo: “… Você acha que eu fui rude?”
Que absurdo! Isso é ultrajante! pensou ele, sentindo a raiva ferver.
Ao lado, Shen Xingyu parecia já prever a situação embaraçosa de seu irmão. Sem dar muita atenção à troca de olhares, caminhou tranquilamente até a sala para observar a decoração.
Foi nesse momento que o mordomo apareceu e, percebendo a tensão no ambiente, sugeriu de maneira gentil: “O velho mestre ainda levará algum tempo para acordar. Que tal todos irem até o pavilhão de tiro com arco para se entreter um pouco?”
“O quê? Tem um pavilhão de tiro com arco aqui?” Lu Ran parecia interessado.
Shen Xingzhuo bufou, indo à frente: “Sim, mas nós já estamos entediados de brincar lá.”
Ji Min lançou um olhar para Lu Ran e explicou: “O velho mestre Gu adorava tiro com arco quando era jovem. Ele até ganhou campeonatos estaduais, então construiu o pavilhão para praticar.”
“Quer dar uma olhada?” perguntou Ji Min.
Lu Ran assentiu discretamente, e Ji Min imediatamente pediu ao mordomo que os guiasse.
O caminho para o pavilhão era uma trilha de pedras, confortável para caminhar, mas um pouco irregular para a cadeira de rodas, causando pequenos solavancos.
Percebendo isso, Lu Ran segurou firmemente o encosto da cadeira de Ji Min, estabilizando-a.
Ji Min ficou levemente surpreso e abaixou os olhos, mas não disse nada.
A trilha não era longa, e logo eles chegaram ao pavilhão de tiro com arco, que, embora pequeno, possuía equipamentos profissionais completos.
Quando Lu Ran olhou para trás, percebeu que Shen Xingzhuo e Shen Xingyu também haviam vindo.
“Você não disse que estava entediado?” Lu Ran perguntou a Shen Xingzhuo.
O comentário o pegou de surpresa.
E deixar você aqui sozinho? Quem te ensinaria, Ji Min, que nem consegue levantar da cadeira? Shen Xingzhuo pensou, irritado, enquanto pegava seu arco habitual, mirando o alvo e soltando uma flecha.
Nove pontos.
Ele assobiou, satisfeito: “Nada mal, não perdi tanta prática.”
Depois, lançou um olhar para Lu Ran, esperando que ele demonstrasse alguma admiração.
Para sua surpresa, Lu Ran estava ao lado da cadeira de rodas, escutando Ji Min explicar sobre como usar os equipamentos de proteção, sem nem olhar em sua direção.
Incrédulo, Shen Xingzhuo disparou várias flechas seguidas, todas com notas entre oito e nove, mas Lu Ran continuou ignorando-o.
Roendo-se de frustração, ele deixou o arco de lado e se aproximou de Shen Xingyu, resmungando: “Dá uma olhada nesse garoto!”
Shen Xingyu não havia pegado nenhum arco e estava sentado, apenas observando a movimentação ao redor. Ao ouvir o irmão, ele ergueu os olhos e olhou para Lu Ran.
O garoto estava sentado em um banquinho, prestando atenção em Ji Min, com a mesma expressão de fascínio de quando costumava espiar pela janela do escritório de Shen Xingyu quando era mais novo. Na época, bastava um gesto simples de Shen Xingyu para provocar essa reação em Lu Ran.
Agora, porém, era Ji Min quem recebia aquela admiração.
Shen Xingyu desviou o olhar, voltando à indiferença habitual: “O que há de interessante nisso?”
“A gente está aqui, de pé e com experiência, e ele escolhe aprender com Ji Min!” Shen Xingzhuo protestou.
“É uma tolice,” respondeu Shen Xingyu, folheando uma revista com desinteresse.
Após um tempo, ele se levantou, alongando o corpo. Colocou os equipamentos de proteção e experimentou um arco.
A postura de Shen Xingyu ao armar o arco chamou a atenção de todos no pavilhão.
E seu tiro atingiu em cheio o centro do alvo, com dez pontos.
Ele não sentiu necessidade de atirar mais, já que havia alcançado a pontuação máxima.
Mesmo assim, ao devolver o arco, não pôde evitar lançar um olhar de soslaio para Lu Ran.
O garoto segurava o arco com um jeito meio solto, mas quando olhou para o barulho e viu Shen Xingyu, desviou o olhar rapidamente. Em vez de observá-lo, voltou-se para Ji Min, buscando conselhos sobre a postura correta.
Ji Min também olhou de relance para Shen Xingyu.
Porém, longe de se abalar com a tentativa de Shen Xingyu de impressionar, Ji Min apenas escolheu um arco com calma.
Sentado em sua cadeira de rodas e sem qualquer equipamento de proteção, ele mirou e ajustou o ângulo da flecha com tranquilidade.
A flecha cortou o ar com um zumbido suave e acertou o centro do alvo.
“Uau!” A exclamação de surpresa de Lu Ran foi pura e sincera, quase como a de uma criança.
Houve uma época em que Shen Xingyu nem precisava fazer muito para provocar reações como aquela. Com um único movimento casual, ele podia gerar a mesma admiração, e Lu Ran corria para aplaudir, os olhos brilhando enquanto dizia:
“Você é incrível, irmão!”
Mas agora, esse olhar de admiração não era mais direcionado a Shen Xingyu.
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A BUCHA DE CANHÃO DA FAMÍLIA RICA ENLOUQUECEU
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Quando ele tinha quatro anos, se perdeu. Ao retornar para casa, sua família favoreceu o filho adotivo, Shen Xingran,...