Prólogo
Ardor de Cedric,
De alguma forma seu silêncio me afetou, e eu me recusei a quebrá-lo.
Tão delicado e sutil, deitou-se sobre o meu peito, e, atordoado, acabei por cobrir seu corpo frágil com meu paletó. Ele ficou tão próximo de meu coração, que corei só de pensar que poderia estar ouvindo as batidas aceleradas de meu coração.
Eu não devia, era mal visto tocar em um ômega adormecido, mas ele estava sozinho, tão vulnerável, tremendo de frio. Por isso eu o trouxe para mim. Ele precisava de mim.
Se eu fechasse os olhos, ainda podia sentir o aroma pungente de seu corpo. O cheiro de baunilha me despertou, morno, como leite. E o ardor da maresia recheando os feromônios como uma melodia encantadora. Tal aroma, peculiar que só poderia pertencer a um ômega de condor.
Fiquei com o bendito na memória, sempre que fechava os olhos, via os seus. Olhos raros, pouco vistos nesta sociedade, escuros, densos. O brilho das lágrimas marcou-me o tecido. Pela manhã já havia secado, mas eu comecei a trazer aquele paletó para perto, apenas para poder sentir o seu cheiro.