II
BERLIAC
Eu não deveria ter feito isso, eu não deveria ter baixado a guarda, não deveria ter seguido o aroma que a noite permeou meu olfato e distraiu-me me fazendo esquecer da minha caminhada, me sinto fraco, aquilo foi mais forte do que eu, fui tão ingênuo que não suspeitei que aquele simples ato poderia ser a minha ruína.
Era tarde da noite quando saí do hall do hotel e adentrei a noite escura e gélida para me acalmar ,a noite vazia é silenciosa, gosto dela, porém ela é traiçoeira como uma raposa, em meio ao breu da passagem de pedras lisas e cinzentas eu pude olhar para o alto, mesmo que o céu em questão estivesse limpo havia uma ventania incomum sobre o solo, a grama dobrava, as folhas das árvores também, galhos iriam cair, tive a certeza, após uma longa caminhada da área da entrada até o restaurante afastado pensei em voltar, olhei par trás e pude ver o brilho amarelado do hotel, era lindo, com as mãos no bolso dei um passo a frente, foi quando algo aconteceu, senti um arrepio percorrendo a minha espinha.
Olhei ao redor, não vi nada, porém eu pude sentir um cheiro incomum, incomum porém não me era estranho, era peculiar, estava levemente diferente da primeira vez que eu o havia sentido, agora era um cheiro mais selvagem, terra molhada, água de rio, como se eu estivesse mergulhando minha face sobre o solo, não, não podia ser apenas isso, havia algo mais, algo mais intenso, mesmo que fosse leve e passasse quase que despercebido por mim poda sentir, levemente adocicado, misterioso, peculiar, um cheiro sútil em meio àquela mistura de aromas.
Olhei para trás, para além do restaurante, ignorei as luzes acesas, vi algo se movimentando ou ao menos tentando se movimentar na escuridão, o cheiro atravessava a corrente contraria a ventania, havia passado por lá, eu não sei o que se passou pela minha cabeça naquele momento, a curiosidade tomou conta de mim, logo me vi como um tolo obstinado, vagando pela noite sendo guiado por um cheiro que em mim despertava pavor e aversão.
Caminhei por um bom tempo, logo pude ver a estrada de pedras lisas e cinzentas novamente, o meu olhar percorreu a escuridão, me dei conta de que já não estava sendo afetado pela ventania, o sentido da corrente havia mudado ,pude então explorar o aroma com mais facilidade, notei a sua intensidade, estava chegando mais perto, a medida que ima me aproximando ia também sentindo uma sensação estranha percorrendo a minha pele, tocava meus ossos, me fazia pisar em falso, era o medo, ansiedade, a curiosidade, talvez fosse tudo isso, talvez não fosse nada disso, talvez fosse apenas o frio, naquele momento não pensei muito sobre isso, tudo que pude pensar foi naquele cheiro, precisava me lembrar aonde havia o sentido, ele me era familiar, precisava me lembrar de onde vinha, precisava descobrir do que se tratava aquele aroma que para mim parecia ser fatal.
Não muito tempo depois de tanto buscar eu parei, na realidade o meu corpo parou, minha mente continuou vagando, foi quando eu avistei os portões do celeiro, ambos estavam abertos, escancarados, com as fortes rajadas de vento eles batiam um contra o ouro com brutalidade, eles vão se quebrar, pensei, olhei novamente, uma figura escurecida se aproximou, segurou o portão direito e adentrou o local, tudo indicava que era de lá que o cheiro vinha, feito uma besta noturna me enfiei em meio as poucas árvore que rodeavam o local e sub a pequena colina, olhei bem para todos os lados, quando me certifiquei de que não havia ninguém olhando silenciosamente adentrei o celeiro passando pelos portões.
Lá dentro era escuro, o cheiro era mais forte, não literalmente é claro, continuava leve e sútil porém no momento em que cheguei tive a certeza de que ele vinha de lá, respirei fundo sentindo o meu coração batendo fortemente contra o meu peito, senti minhas pernas tão leves como duas penas, uma luz se acende inesperadamente, eu recuo, penso em sair porém permaneço, vejo a sua sombra, a luz da lanterna bate contra a parede de madeira e volta para ele, ele está ajoelhado sobre a terra arada e úmida por conta da chuva, veste botas pretas de borracha, a calça e marrom escura, o casaco é escuro também porém não consigo identificar a cor, vejo seus cabelos, pretos e enrolados, crespos, formam pequenos cachinhos que não chegam a tocar o capuz do casaco porém passam perto disso, ele paralisa, sem me dar conta começo a soltar meus feromônios.
Ele percebeu a minha presença, no mesmo segundo eu paraliso, sinto meu pulmão enfraquecendo, o ar sai de minha circulação porém não consigo trazer ele de volta, logo me dou conta de que não consigo respirar, ele quase se levanta, se vira lentamente para mim, junto a ele a luz, logo sou iluminado, em meio a isso posso ter uma visão mais aprimorada dele, sua pele é negra, escura, seus cabelos enrolados ainda úmidos brilham, vejo seus olhos, são grandes, redondos até certo ponto, na lateral descem feito um rio, afinam perfeitamente, a cor é preta, profundamente escura, porém ao reflexo do brilho da luz da lanterna noto que não se tratam de olhos castanhos, sim de olhos cinzentos e escurecidos, sua pupila se comprimi, vai diminuindo aos pouquinhos, eu sei quem ele é, é o mesmo ômega na colina envolta em névoas, o cheiro, a sensação, percebo então que caí em uma cilada ao ser atraído por aqueles feromônios, já não tenho controle sobre minhas ações;
“Eu sei que é você.” Digo em meio a um sussurro desesperado de quem luta para ter ar, a luz caí, o ômega se levanta e em poucos segundos atravessa a porta correndo, sinto seu cheiro se afastando, era como se eu estivesse saindo do transe, aos poucos começo a me sentir tonto como se tivesse sido atingido com uma pancada bem forte na cabeça, caio de joelhos sobre a terra, sinto minha respiração voltando aos poucos, com ela a minha consciência, olho para a noite lá fora, sinto o vento batendo contra meu rosto, ele levanta meus cabelos; “Eu sei…” Sussurro para mim mesmo; “Eu sei o que você fez.” Talvez esteja delirando. “Você não vai escapar impune disto.” Essa foi a última coisa que eu disse antes de cair de lado sobre a terra.
Às vezes pensava no corpo, pensava no homem que havia ido dormir tranquilo sem imaginar que iria acordar morto, estraçalhado, de fato uma forma cruel de morrer, ficava enojado, talvez aquele homem não fosse um homem bom, talvez tivesse inimigos, talvez tivesse sangrado pela ponta de um facão, talvez não, não poderia saber, estaria pecando contra minha própria moral se ousasse ao menos supor, aquele homem era um alfa dominante, um alfa dominante assim como eu, e ele havia sido brutalmente assassinato, morreu em agonia, e eu poderia ter sido ele, Petrus Koch poderia ter sido ele, o melhor Bogart e os outros homens poderiam ser os corpos estendidos na colina, não me sentia mais seguro, nunca havia me sentido tão inseguro em toda a minha vida.
–
Antes que pudesse me dar conta dois dias de martírio haviam se passado, me isolei em meu quarto, mal cumpria com os horários das refeições, tudo que conseguia fazer era ficar espiando pela janela, me arrepiava constantemente quando sentia a brisa batendo contra minha pele, fechei as janelas, liguei a televisão para não me sentir tão sozinho, dormia com dificuldade, acordava suando, queria gritar porém me faltava a força, atordoado aceitei que aquele fosse meu fim, dois dias inteiros se passaram sem que eu ao menos me desse conta.
Esta noite me encontro-me no restaurante interno do hotel Âmbar, sentado diante de uma mesa coberta por um forro branco, na mesa há duas taças de vidro vazias, no centro o vinho, a cadeira está vazia, observo o brilho da noite sobre o lugar, ele não está lotado, os outros hóspedes parecem ter ido se divertir no bar interno, vejo apenas um casal e em outra mesa alguns homens conversando, os ignoro, não me são importantes no momento.
Mantenho meu olhar fixo sobre a janela, lá fora vejo o anoitecer silencioso e lento, o sol já se foi, posso ver alguns empregados se locomovendo para servir os pratos, estremeço, olho ao redor, olho para o meu relógio de ouro que brilha sobre a luz amarelada do lugar, o relógio marca seis horas em ponto, suspiro, é então que noto o cheiro familiar de feromônios no ar, logo os reconheço, não preciso forçar a vista para ver Yoon Ba-ram se aproximando.
Veste um terno escuro, seus cabelos estão muito bem penteados, ele se senta à minha frente; “Boa noite.” Diz com sua voz calma; “Imagino que tenha um bom motivo para me convidar para este jantar.” Ele diz. Olho em seus olhos claros e azulados, tento não 0 . nenhuma reação que possa entregar minha real preocupação.
“É sobre o corpo. “Respondo.” Estou curioso quanto a seu paradeiro.” Ele me olha “Não de preocupe.” Ajeita a sua gravata e se apruma sobre a cadeira; “O corpo foi identificado e exumado.” Afirma, noto um tom distante em sua voz; “Se me permite perguntar.”; “Quem era?” Ele abre um leve sorriso, como se já soubesse que eu iria lhe questionar “Walker Siobhan.”; Ele me responde, olha para a janela; “Não era muito amigável, tinha inimigos.” Diz.
É quando olho no fundo de seus olhos; “Me chamou aqui apenas para isso Senhor Berliac?” Questiona o alfa, eu me aprumo; “Não.” Respondo; “Eu te chamei aqui pois sei que você não acredita nisso.”
Chamo a sua atenção, o homem outrora relaxado e calmo fica tenso, ele se apruma olhando nos meus olhos, vejo um brilho em seu olhar, isso me agrada; “O que quer dizer com isso?”; Questiona ele, sorriso levemente “Ora veja.” Suspiro, “Um alfa real é encontrado estraçalhado e querem que acreditemos que se trata de um simples assassinato.” ;”Quem dera ele tivesse sido perfurado à balas.” Digo. “Talvez eu até acreditasse que ele tinha inimigos.”
“Falei mais.”; Diz Yoon Ba-ram, noto seu entusiasmo ao dobrar suas pernas.
“Me diga você.” ;Falo,” O que acha deste caso?” Questiono; “Você viu o estado daquele corpo, nem mesmo um fuzil poderia fazer um estrago daqueles.”
“Tem razão.”; Responde ele, “Eu estive pensando muito naquilo.” Sua voz foi ficando mais baixa, era como se contasse um segredo, “Eu não acho que tenha sido algo comum.” Diz ele, “Não acho que tenha sido um ataque de animal selvagem.” Suspira, arruma o terno mais um vez, noto a tensão em seu olhar, ele olha para todos os lados, como se verificasse que não havia ninguém olhando.
“Vamos para um lugar mais seguro.”; Ele diz se levantando, me levanto também deixando o vinho sobre a mesa, não ouso olhar para trás em nenhum segundo.
Seguimos caminhando pela área externa do hotel, surpreendentemente o clima exterior é morno, a noite, polida, bela como apenas ela poderia ser, Yoon Ba-ram para de andar, estamos de frente para o jardim, há cadeiras brancas detalhadas ao redor de mesas de vidro, ele se senta, eu o acompanho, ambos olhamos ao redor, por fim ele tira do bolso do terno um maço de cigarros, me oferece, educadamente eu recuso; “Sabe, eu já vi muitos corpos nesta vida, porém assumo que nenhum me causou tantos calafrios quanto o corpo do senhor Siobhan.” Diz o homem.
“Quanto a minha opinião.” Ele diz pausadamente. “É algo sobre Nikolai Pavel e seus afiliados que me dá arrepios.” Olho nos seus olhos. “Nikolai Pavel?” Questiono. “Não seria ele um…” Não ouso terminar, Nikolai Pavel não era um nome desconhecido por mim e por outros milhares, Nikolai Pavel e seus afiliados faziam parte de um misterioso grupo que consistia em 15% da nossa sociedade, isso anteriormente pois agora somam 30%, são estes os vampiros.
“Pense no estado da carne.” Diz o homem. “Apenas alguém grande o suficiente e que tivesse força poderia fazer aquilo.” Disse. “Mas enquanto ao sangue?” Levanto a questão. “Um vampiro talvez tivesse bebido.” O homem me encara. “Eu sei, eu sei.” Diz ele “Há alguns furos nesta teoria.” A fumaça começou a subir pelo ar. “Porém não me saí da cabeça que possa acontecer novamente.” Sinto o seu olhar. “Mas foi você quem me chamou.” Disse Yoon Ba-ram. “Qual é a sua opinião sobre o caso?” Questionou-me, olhei para ele. “Eu simplesmente não faço ideia.” Respondi. “Porém eu sinto que é algo além da nossa própria compreensão.”
“Algo que deve ser investigado.” Digo. “Para que não se repita.” Ele me olha. “Há poucos vampiros hospedados no hotel.” Diz. “Não deve ser tão difícil encontrar o culpado.” Diz Yoon, fingi concordar com tudo que ele dissera, mesmo tendo certa inclinação sobre a alternativa dos vampiros assim que me dei conta de que ele não havia sentido o mesmo que eu resolvi disfarçar, haviam sangue-sugas, de fato, não podia ignorar as suas existências, porém quando tornava a falar sobre o corpo minha intuição era outra, aquele ômega não saía da minha cabeça, tive então a certeza de que precisava descobrir quem ele era.
Quero saber quem você é, quero ouvir o que você ouve, quero ver o que você vê, quero sentir o que você sente.
Da minha virtude estou justamente orgulhoso, sou superior a multidão comum, vulgar e fraca, mas por que vejo em meus sonhos a profanação? Por que para mim o diabo dança nu perante a fogueira? Por que tentas me seduzir com a tua pele brilhante e olorosa? Por que chamas meu nome em meio a sussurros libidinosos? Por que me instigas a pecar? Por que me condenas com tua heresia se sou eu um homem justo? Por que me faz sentir fogo do inferno? Tal fogo quente que queima minha pele, a tentação permeia minha alma e esse desejo ardente de possuir aquele corpo herege me torna um pecador.
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II
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A Noite Em Questão
* Os erros ortográficos estão passando por revisão.*
Aviso: Este é um rascunho da obra original, obra esta que pretendo postar futuramente.
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