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A Noite Em Questão

IV

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🟡 Em breve

BERLIAC

No fim a maldita raposa havia sido mais rápida do que nós, nem mesmo todos os cães foram capazes de sentir seu cheiro, se escondeu em um buraco, penso eu, afinal, raposas são ágeis e espertas, com certeza não seria encontrada tão cedo, neste momento vejo o céu caindo sobre nós, ele nos mergulha em seu tom mais intenso, a terra já foi consumida e logo as luzes começam a se acender, aos poucos o gramado vai adquirindo uma coloração peculiar, caminho ao lado de meu companheiro de negócios, Petrus Koch, o mesmo parece ocupado, ele conversa com os outros jogadores, eles sorriem, dizem algumas coisas, continuam caminhando em direção ao hotel para a reunião, reunião esta da qual não tenho o mínimo interesse em participar, em determinado momento quando chegamos ao hotel eu dou alguns passos para trás, felizmente nenhum deles me nota, me esgueiro até a porta e saio em total silêncio olho para o céu, passo a mão em meus cabelos os empurrando para trás, suspiro, e então sigo caminhando.

Eu estou com fome, não tomei café da manhã e muito menos almocei, a todo momento senti uma sensação estranha percorrendo o meu estomago, sobre o cavalo sentia que iria cair, era como se a qualquer momento algo fosse surgir e me atacar pelas costas, sentia uma vontade estranha de me jogar do cavalo, pensando que assim de certa forma me sentiria mais vivo, de toda forma eu hesitei, como sempre faço, neste instante me vejo indo em direção ao restaurante externo, depois de muita caminhada paro diante da escadaria, eu nunca havia visto aquele restaurante antes, era como se ele tivesse aparecido ali de repente, só fiquei ciente de sua existência após o ver do alto da colina durante a caçada, era um alívio um lugar como aquele existir bem distante do hotel, não hesitei em começar a subir aquelas escadas, podia ver a iluminação, se desse sorte não teriam muitas pessoas ali, dito que o hotel em questão estava oferecendo um jantar especial.

Foi quando eu passei pela porta que pude finalmente suspirar de alívio e gratidão, haviam pessoas ali de fato, porém não eram muitas, haviam mesas com duas ou três pessoas porém a sua maioria estava completamente vazia, eu me aproximei de uma dessas mesas e me sentei, quando o garçom se aproximou pedi um prato do dia, teria carne, pão, batatas e bastante molho, pedi um vinho para acompanhar e esperei sentado, naquela altura já poderia sentir a felicidade e a sensação de conforto e bem-estar voltando para o meu corpo, após uma manhã turbulenta aquilo era exatamente o que eu precisava, para a minha sorte não demorou muito para o meu pedido chegar, a comida era boa, a carne era macia e pesada, as batatas tinham uma crosta dourada e crocante, por dentro eram totalmente macias e recheadas de queijo, o molho contia pimenta e outros condimentos que tornavam tudo muito mais saboroso, era bom porém não o suficiente, mal terminara o primeiro prato pedi por outro, desta vez um que viesse com uma porção maior de batatas e uma carne bem mais cheia.

Enquanto esperava pelo meu pedido olhei pela grande janela, já era quase noite, neste momento penso nos outros, talvez ainda estejam presos naquela reunião tediosa, espero que não tenham notado meu sumiço, aqui vejo a paz que nunca tive durante muitos dias que fiquei hospedado neste hotel, aos poucos vou notando a movimentação ao meu redor, pessoas começam a entrar e a sair, é quando sinto um cheiro pungente, fraco, porém notável, sangue, ferrugem, rosas, uma mistura um pouco desagradável dependendo da ocasião, é quando meu olhar alcança o balcão de bebidas, é quando eu o vejo, alto, pele pálida, olhos claros e azulados, quase tão cinzentos quanto os meus, seus cabelos são lisos, escuro anoite traiçoeira, não é preciso muita para saber que se trata de um vampiro, e não um vampiro comum, sim Dmitry Vernon.

Vampiros são conhecidos pelas suas peles pálidas e olhos brilhantes, alguns os chamam de carniceiros, atualmente existem bancos de sangue que servem de alimentação para eles, porém eu sei que Dmitry não é um vampiro comum, ele é o pior dos vampiros, é um mestiço, um filho da vergonha, mestiços são aqueles vampiros gerados por ômegas, estes que muitos consideram traidores da própria raça, não tenho problemas com vampiros, não me importo se neste mundo moderno muitos ômegas tenham filhos mestiços, porém há algo sobre os vampiros que me dá calafrios, eles são como serpentes, e não são nem um pouco confiáveis.

Eles ás vezes viajam, e quando viajam vão em busca de companheiros, ômegas, gostam deles, os encaram, mesmo sendo assustadores eles tem uma boa lábia, a primeira vez em toda a minha vida que eu vi um vampiro foi quando era uma criança, tinha pouco mais de cinco anos, meu pai ômega, Kenai, estava grávido do meu irmão, ocorria um jantar de negócios no salão de casa, estávamos nos fundos, meu pai e eu, comíamos biscoitos no chão da cozinha, foi quando pela primeira vez senti o cheiro, tudo que vi foi um homem assustadoramente alto e pálido, muito sorridente, de cabelos loiros e olhos amarelados, eu senti medo, corri para os braços de meu pai e me escondi entre ele, meu pai, ele sorriu, foi educado, diferente de mim não teve medo, o homem se aproximou e pôs a mão sobre a sua barriga redonda, ele olhou para o meu pai, sorridente anunciou; “Meus parabéns, é um menino saudável.” Dizem que os vampiros tem dons, de certa forma um mês depois Kenai deu a luz ao meu irmão, nasceu saudável, pesando quase quatro quilos e meio e diferente de mim cujo os cabelos pareciam ser da cor de um limão da Sicília ele nasceu com cabelos pretos, assim como o meu pai.

O meu prato chegou, a fome voltou a mim imediatamente, comecei a comer, mal pude perceber que estava ignorando a existência do vinho, a comida estava quente, saborosa na medida certa, comi com gosto assim como havia feito da primeira vez.

Era tarde quando aquela sensação de paz foi tirada de mim, olhei para o meu relógio de pulso, teu ouro brilhava perante a luz, posicionei o meu braço a poucos centímetros de distância da taça de vinho, o horário; Sete e cinquenta e dois, tomei um susto, havia se passado muito tempo desde que chegara ao estabelecimento, de toda forma precisava voltar para o hotel pois estava cansado e sujo após um dia inteiro montado em um cavalo.

De repente, tudo parecia ter se apagado, um aroma inusitado chegou ao meu olfato, terra molhava, água de chuva, um toque adocicado, meus olhos buscaram por todo o local mas eu só pude vê-lo quando olhei pela janela, estava na varanda acima da escadaria, se preparava para entrar, guardei a minha inquietação, mesmo que não pudesse vê-lo muito bem eu sabia que ele estava lá, então eu aguardei, aos poucos foi como se as pessoas ao redor estivessem desaparecendo, suas vozes iam ficando mais baixas e suas existências cada vez mais insignificantes, aquele cheiro selvagem começou a tomar conta de mim, foi quando ele passou pela porta, vestia uma camisa de tecido de algodão, uma cor meio morta, um suspensório marrom escuro e uma calça da mesma cor, trazia com sigo uma caixa de madeira cheia de batatas, parecia um entregador de jornais do início do século vinte, sua pele negra brilhava levemente alaranjada perante a luz amarela do estabelecimento, ele brilhava feito ouro, brilhava mais do que o ouro de muitos colares e relógios daquele local.

Passou em silêncio, caminhou colado a parede, deslizou até a saída dos funcionários, o recepcionista o chamou, o garoto deixou a caixa atrás da porta aonde ela sumiu de vista, logo ele se apressou e foi até o homem, o recepcionista parece preocupado, ele olha para baixo e acena, parecem estar conversando, é então que o vejo tocar no braço do garoto e o levantar, há sangue manchando a camisa, esta no seu antebraço, não tão grande para ser preocupante, não tão pequeno para ser ignorado, o homem parece lhe questionar sobre isso e pelas suas expressões parece que ele tenta arranjar uma desculpa, o homem levanta a sua camisa pela borda do pulso, é uma ferida, um arranhão, no mesmo instante vejo o olhar de Vernon, ele observa a cena em total silêncio, mantém seus olhos fixados sobre aquele rapaz, acho que o recepcionista acabou percebendo, nisto o menino ajeita a borda da camisa e vai até a caixa de batatas, ele diz algumas palavras para o homem de frente ao balcão, logo se despedem e ele some perante o corredor.

Já não me sentia tão bem quanto antes, em mim surgira uma sensação, um calor interno, um impulso, assim que terminei de comer pedi a conta ao garçom, me aproximei do balcão para pagar, o cheiro de sangue ainda estava lá, encarei por um momento aquela porta, depois saí, olhei para a escadaria, eu deveria ir para o hotel, deveria ir dormir em meu quarto, afinal, já é tarde da noite, mas o cheiro dele esta tão forte, olho para o horizonte, me vejo diante da varanda, não há luzes, olho para a lua, tento me concentrar porém o aroma toma posse de meu corpo, o cheiro vai dançando em volta de meu corpo, sinto como se estivesse diante de uma fogueira, uma fogueira invisível que não brilha mas queima.

Caminho em meio a escuridão, era como voar, meus passos são calmos e cautelosos, não quero que mais ninguém saiba que estive aqui, continuo avançando sobre a varanda até chegar a passagem dos funcionários, olho ao redor, silenciosamente me esgueiro entre o corredor externo, desço as escadas, meus sapatos tocam o piso de pedras lisas, eu respiro fundo, estou cada vez mais perto, posso sentir seu cheiro, temia escorregar ou acabar pisando em algum legume por conta da escuridão mas a noite estava muito clara, com uma formosa lua que brilhava mandando a sua luz prateada iluminar os becos e as janelas, quando parei finalmente me senti inteiro, olhei para frente, naquele beco fechado quase abaixo da pequena escadaria dos fundos estava ele, pele negra azulada perante a noite, cabelos crespos, escuros e enrolados, suspensórios abaixados, caídos a altura de seus sapatos, a camisa estava de lado, peito nu ao vento, num recanto da paisagem, entre grandes pedras cinzentas iluminadas pela luz da Lua, eu o vi tão perto que quase podia toca-lo.

Estava de pé diante de uma torneira enferrujada sobre a parede de pedras sem saída, a água descia limpa, ele jogou seu antebraço sobre a corrente e deixou que o sangue e as impurezas deslizassem até o chão aonde iam sendo sugadas por um ralo, lavou o rosto e deixou que a água escorresse sobre seus cabelos, a todo momento ele olhava para o céu, parecia um deus, a sua presença ali era irreal, sua aura, tudo parecia ser um sonho, uma pintura, uma divina visão que eu temia só poder consagrar uma vez em toda a minha vida.

Acho que foi o vento, ele passou por trás de mim, senti meus cabelos voando, batendo contra minha face gélida e petrificada, foi quando ele se virou, olhou para mim, pude ver seus olhos negros e profundos, naquele momento fui me aproximando cada vez mais, era como se estivesse hipnotizado, ele com toda a sua graça, corpo e alma poderia ter corrido porém permaneceu lá, eu senti medo, muito medo, quando estava a menos de três passos de distância tomei coragem; “Como se chama?” Perguntei, a minha voz saiu fraca, como um sussurro, ele olhou para mim, a lua brilhava em meio aos seus olhos; “Eu me chamo Odon.” Ele responde, pela primeira vez ouvi a sua voz e ela era tão leve e tão graciosa quanto uma melodia.

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A Noite Em Questão

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* Os erros ortográficos estão passando por revisão.*

Aviso: Este é um rascunho da obra original, obra esta que pretendo postar futuramente.

(Esta Novel contém...

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