Capítulo 20: A Um Fio da Morte
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“Tap, tap, tap.”
O som de passos pesados e caóticos ecoava cada vez mais alto enquanto se aproximavam do vale. A besta, tão colossal quanto uma pequena montanha, avançava lentamente em direção ao palácio, exalando um aroma antigo e gélido de sangue.
“Bang, bang, bang!”
Ming He arregalou os olhos, prendeu a respiração e ficou imóvel, o coração disparado no peito.
Cinquenta passos!
Quarenta passos!
Dez passos!
Cinco passos!
Um passo!
A besta marchou direto para dentro do palácio, completamente alheia à presença de Ming He. Assim como Qin Chu Yi havia dito, o pingente de jade era capaz de ocultar a percepção espiritual.
Ming He arfou, tentando recuperar o fôlego. Suas vestes azuis estavam encharcadas de suor frio, coladas ao corpo. Uma dor leve em sua mão direita lhe lembrava que o perigo ainda não havia passado.
Ela lançou um olhar para o palácio e, no instante seguinte, sua energia espiritual irrompeu em seu auge, impulsionando-a como uma flecha veloz em direção à saída do vale.
Mal havia se movido, e um rugido ensurdecedor ecoou dentro do palácio — cheio de ódio, fúria, intenção assassina e selvageria. Era um som familiar, mas dessa vez, uma outra besta era o foco da raiva.
A figura azul cortava a floresta como o vento, movendo-se com agilidade enquanto a criatura gigantesca a perseguia. Árvores se partiam e o chão tremia a cada passo da besta, cujos rugidos ressoavam em harmonia com sons distantes, formando uma sinfonia caótica e aterradora.
— Ming He, suba! — chamou uma voz fria, com um leve toque de urgência, vinda do alto.
Ming He ergueu o olhar rapidamente e viu Qin Chu Yi de pé sobre uma pedra íngreme e partida, o rosto marcado por preocupação. Ela estendeu levemente a mão, o gesto claro e direto.
Ming He limpou o suor do rosto e impulsionou-se com leveza, os pés tocando o chão antes de saltar em direção a Qin Chu Yi. Quando se aproximou, estendeu a mão esquerda e agarrou a mão direita estendida da cultivadora. Com a força recebida, escalou rapidamente até a pedra.
A besta colossal chegou logo atrás. Ao avistar o artefato espiritual na mão de Ming He, começou a pisotear o chão, soltando rugidos de irritação. Ao perceber que seus gritos eram inúteis, lançou-se contra elas.
“Boom—”
O impacto foi tão violento que quase derrubou Ming He, fazendo pedras soltas despencarem do penhasco. Os rochedos caíam em meio aos rugidos da criatura e aos estrondos pesados, produzindo uma longa ressonância ecoante.
— Cuidado! — Qin Chu Yi puxou Ming He para trás de si e, com um leve movimento do dedo, fez a besta recuar um pouco. — Precisamos ir!
Ming He assentiu, lançou um olhar rápido à mão que Qin Chu Yi segurava e se firmou. Então, as duas saltaram da rocha, fugindo na direção oposta à da fera.
Atrás delas, a criatura destruiu o rochedo com uma investida violenta, avançando com o corpo massivo sem se importar com as pedras que caíam sobre suas costas. Seu rugido era puro ódio.
A cena era igual à de antes, mas agora havia mais uma pessoa fugindo. O que antes era uma corrida solitária pela sobrevivência, tornava-se agora uma fuga desesperada em conjunto.
— Irmã Qin… — Ming He chamou suavemente, querendo perguntar qual seria o próximo passo. Correr daquela forma era inútil — a besta estava além de suas capacidades, e logo a energia espiritual acabaria, sem chance de escaparem da caverna.
Sua energia se esvaía rápido. Ela lançou um olhar à mulher ao seu lado. O manto branco de Qin Chu Yi continuava imaculado como neve, sua beleza gélida ainda deslumbrante. Se Ming He não estivesse perto o bastante para ouvir sua respiração leve, poderia jurar que ela ainda estava completamente calma.
— Não entre em pânico. Duan Wu preparou uma armadilha mais à frente. Isso deve segurá-la por um tempo. Vai nos dar uma chance de sair da caverna. — A voz de Qin Chu Yi era firme e serena. Ela ergueu os olhos para o teto da caverna, escuro e imóvel, sem qualquer indício da hora lá fora. Mas deveria estar próximo de uma hora.
Se tudo corresse conforme o plano, tudo se encaixaria perfeitamente.
— Jovem Mestre*, por aqui! — Duan Wu acenou à frente. Quando Qin Chu Yi e Ming He passaram correndo por ele, ele formou um selo com a mão. No mesmo instante, a energia espiritual ao redor se concentrou, os ventos se ergueram e as nuvens começaram a se reunir e girar no ar.
* Se refere sempre a Qin Chu Yi, já que está assim no original vou deixar.
O rio distante, as árvores mortas próximas e as pedras estranhas ao redor se tornaram, naquele momento, os pontos-chave da formação de Duan Wu.
— Convergam! — Duan Wu sorriu de leve, certo de que havia canalizado com sucesso a energia ao seu redor.
— Conseguimos! Vamos! — Ele não conseguiu conter a alegria ao recolher sua energia espiritual, correndo ao lado de Qin Chu Yi. Seus olhos se fixaram no artefato espiritual apertado na mão direita de Ming He, um misto de excitação e alívio.
Ming He não deu atenção ao entusiasmo dele. Olhou para trás e viu a besta colidir com o ponto onde Duan Wu havia estado segundos antes. Agora, ela girava em círculos incessantes, incansáveis, parecendo ainda mais desajeitada e tola com seu corpo gigante.
Uma formação de ilusão, talvez?
Ela afastou o pensamento e entregou o artefato espiritual para Qin Chu Yi com um sorriso leve.
— Irmã Qin, missão cumprida. — E, mais importante, ela havia sobrevivido. Lançou um olhar à própria mão, ainda enegrecida e chamuscada, mas não parecia grave. Afinal, era sua mão da espada.
— Trava Estelar! — Qin Chu Yi mal percebeu o ferimento de Ming He. Quando pegou o artefato, sua expressão se enrijeceu, as emoções borbulhando como um mar revolto.
Naquele instante, toda sua habitual compostura e contenção desapareceram, substituídas pela esperança palpável que ela agora segurava. Ela realmente havia conseguido!
— Vamos. Agora. — Ming He sabia que não era hora de hesitar. Ela odiava a ideia de perder tudo no último momento. A empolgação podia esperar até que estivessem em segurança.
— Você tem razão, Ming He. Este lugar é perigoso demais. Precisamos sair. — A rara concordância de Duan Wu foi surpreendente.
— Sim, vamos. — Qin Chu Yi reprimiu a euforia e se virou para a caverna.
À medida que avançavam, a paisagem ao redor tornava-se borrada. As três figuras — Qin Chu Yi de branco como neve fresca, Duan Wu de preto como tinta e Ming He de azul como nuvens flutuantes — seguiam o mesmo caminho, seus rastros distintos se sobrepondo e entrelaçando, colocando a roda do destino em movimento.
— Esperem! — O coração de Ming He deu um salto quando um pressentimento inquietante a invadiu, abalando-a até o âmago.
— O que foi? — Qin Chu Yi estreitou o olhar, mas não diminuiu o ritmo. Ninguém podia ordenar que ela parasse.
— Tem algo errado à frente.
Ming He não sabia de onde vinha aquela sensação, mas era impossível ignorar — perigo, morte, algo terrível se aproximava.
— Ming He, eu não estou ouvindo nada. Você… — Duan Wu começou a dizer que ela estava exagerando, mas suas palavras morreram ao ver a mão direita dela, chamuscada. Ele não concluiu o pensamento, mas a expressão cética em seu rosto disse tudo.
Ming He virou-se para Qin Chu Yi, que parou por um instante, o olhar pensativo. Mas Ming He percebeu a dúvida em seus olhos. Ela também não acreditava.
Claro. Ela vem de uma família importante.
Ming He soltou uma risada amarga e diminuiu o passo, sem dizer nada. Instantes depois, quando os rostos de Qin Chu Yi e Duan Wu ficaram sérios, ela sentiu uma sombria satisfação.
— Acreditam em mim agora?
À frente, o silêncio se rompeu em puro caos. O som de asas batendo se intensificou até se tornar um rugido ensurdecedor que atingia suas almas com brutalidade.
Ming He tapou os ouvidos, mas não adiantou — o som estridente e agudo atravessava tudo. Um líquido quente escorreu de seus ouvidos, tingindo seu rosto de vermelho sob a escuridão, fazendo-a parecer um espírito vingativo.
Mesmo com a dor, ela manteve o foco no enxame que se aproximava. Estavam por toda parte — corpos negros, ferrões afiados, asas vermelhas e olhos vermelhos brilhantes. Abelhas sugadoras de sangue.
Ela já tinha lido sobre elas na biblioteca da Seita Liu Yun. Abelhas sugadoras de sangue, nomeadas por sua sede por sangue, de corpos negros e olhos vermelhos, diziam habitar as terras geladas do oeste. Acreditava-se que tinham desaparecido há eras.
Mas se estavam extintas, por que eram descritas na biblioteca da Seita Liu Yun, ao alcance de todos os discípulos?
A pergunta passou por sua mente, mas a sobrevivência vinha primeiro. Ming He sacou sua espada e a brandiu com uma careta, a lâmina cortando o ar com o fedor de sangue.
Sua energia espiritual explodiu, e a técnica esculpiu um caminho entre o enxame. Mas no momento seguinte, mais abelhas preenchiam o espaço, implacáveis e sem mente em sua perseguição.
“Clang—”
A espada de Qin Chu Yi brilhou ao cortar, sua técnica muito mais poderosa que a de Ming He. Ainda assim, o número de abelhas caídas era decepcionante.
Sua espada não surtia efeito contra elas.
Qin Chu Yi baixou o olhar. Seria porque sua técnica não era pura o bastante? Na escuridão, a Mulher de Branco hesitou — um lampejo de decepção passou por seus olhos.
— Por aqui! — gritou Ming He, apontando para um caminho alternativo.
Ming He observou Duan Wu sacar algo do anel de armazenamento e lançá-lo contra as abelhas. Elas se dispersaram em pânico, mas ela sabia que aquele alívio era temporário — assim que o efeito da pílula passasse, elas retornariam com fúria.
O caminho à frente estava bloqueado pelo enxame, e atrás deles, a temível besta de uma perna só. Restavam poucas opções de fuga.
Ming He permaneceu próxima a Qin Chu Yi, enquanto Duan Wu, ficando para trás para cobrir a retaguarda, tornava a marcha do trio cada vez mais exausta. Já faz uma hora inteira…, pensou Ming He.
“Hiss—” O que foi isso?
O coração de Ming He disparou ao sentir algo apertar sua cintura, dificultando a respiração. Ao olhar para baixo, viu vinhas vermelho-sangue subindo do chão, enrolando-se em sua cintura e apertando com mais força a cada segundo, ameaçando sufocá-la.
Ela tentou sacar a espada para cortar as vinhas, mas a dor em sua mão direita a impedia. As vinhas continuavam a se contrair, arrastando-a lentamente em direção ao abismo.
“Chh—”
Um lampejo de luz cortou o ar — afiado, preciso. Qin Chu Yi cortou as vinhas e puxou Ming He de volta para os próprios pés.
— Você está bem? — perguntou ela, com a voz suave.
Ming He encarou Qin Chu Yi, os sentimentos embaralhados. Estava prestes a responder quando seus olhos se arregalaram em puro terror.
— Cuidado!
Ela puxou Qin Chu Yi para o lado, exatamente quando uma nova onda de vinhas vermelho-sangue, espinhosas e ameaçadoras, avançava contra elas. As vinhas ignoraram completamente Ming He — seu alvo era Qin Chu Yi.
Ming He desembainhou a espada e golpeou com toda a força. Faíscas voaram, mas as vinhas não se partiram, ao contrário daquelas que a haviam capturado antes. Nem mesmo um fio foi cortado — se é que tinham fios.
Como isso é possível? Por que são tão fortes?
Ela olhou para Qin Chu Yi, que também enfrentava as mesmas vinhas impenetráveis. O problema não era fraqueza — as vinhas eram fortes demais.
Recuar era a única saída.
Ming He e Qin Chu Yi trocaram olhares — a decisão silenciosa, instantânea.
Corram!
Elas saltaram no ar, mudaram de direção ainda em voo e aterrissaram correndo para longe das vinhas.
As vinhas pareceram “observá-las” por um instante, antes de se dividir em dois grupos — a maioria perseguiu Qin Chu Yi, o restante foi atrás de Ming He.
“Chh—”
Ming He executou a técnica Dança das Nuvens de Liu Yun, dispersando as vinhas que a cercavam. Estendeu a mão esquerda e saltou para o alto, tentando romper o cerco das trepadeiras.
Seus olhos encontraram um galho seco, saindo de uma rocha acima. Se eu conseguir alcançá-lo, posso me balançar até um lugar seguro e escapar dessas malditas vinhas.
A esperança brilhou em seu olhar quando se impulsionou sobre as vinhas, disparando em direção ao galho como uma flecha.
Eu consigo!
Ming He sorriu ao fechar a mão ao redor do galho — mas uma dor aguda atravessou seu braço direito. Ela perdeu a força e soltou-se. Lágrimas inundaram seus olhos quando despencou.
“Thud—”
Ela cerrou os dentes ao se levantar, apenas para ser envolvida pelas vinhas mais uma vez. Os espinhos rasgaram suas vestes azuis já em farrapos, fazendo o sangue escorrer e manchar o tecido.
As vinhas a arrastaram para trás, prendendo-a contra uma árvore, em posição semijoelhada. Sua longa espada branca estava abandonada na lama, a alguma distância.
— Duan Wu, monte uma formação para prender as vinhas! Eu vou salvá-la! — ordenou Qin Chu Yi, a voz firme ao se virar e ver a situação de Ming He.
Duan Wu olhou para o céu que escurecia, a expressão sombria.
— Jovem Mestre, temos menos de uma hora. Não há tempo.
Aquele não era o caminho por onde tinham vindo, e perigos desconhecidos os aguardavam à frente. Não valia a pena arriscar a vida por uma mera discípula da Seita Liu Yun.
— Jovem Mestre, já conseguimos o que viemos buscar. Podemos ir agora. Quanto a Su Ming He, sua fraqueza é culpa dela mesma. Ela não tem poder, não tem influência. Se morrer, não fará diferença.
Duan Wu não queria que sua Jovem Mestre assumisse riscos desnecessários.
— A Seita Liu Yun é insignificante. Não representa ameaça para nós.
Aos seus olhos, a segurança da Jovem Mestre valia muito mais do que a vida de uma discípula fraca e irrelevante.
— Vamos! — insistiu ele, a voz carregando o sutil poder de uma formação ilusória.
Presos pelas vinhas, os olhos de Ming He acompanharam Qin Chu Yi e Duan Wu hesitarem por um instante… e então tomarem sua decisão.
A barra das vestes brancas de Qin Chu Yi flutuou quando ela se virou, desaparecendo pela curva adiante. A figura vestida de preto a seguiu, lançando um último olhar para trás.
Dessa distância, Ming He não conseguiu entender o que aquele olhar significava — mas podia adivinhar.
A Jovem Mestre de uma grande família precisava saber romper laços, ser impiedosa, tomar decisões rápidas. A escolha de Qin Chu Yi de deixá-la para trás, sob esse ponto de vista, fazia todo o sentido.
Ming He soltou uma risada baixa, tingida de amargura. As vinhas apertaram mais em sua cintura, os espinhos cravando fundo, arrancando mais sangue.
Estava coberta dele — no corpo, no rosto, nas orelhas.
A garota, quase consumida pelo vermelho, ergueu o olhar para o teto escuro da caverna e encarou uma verdade crua: sua vida por um fio, e Qin Chu Yi a havia deixado para trás.
Esse era o mundo do cultivo, afinal.
Ming He sentiu a consciência se esvair. Fechou os olhos e deixou que a escuridão — que sempre temera — a envolvesse.
Um dia, a escuridão parecera um monstro pronto para devorá-la. Agora, não a assustava mais.
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Capítulo 20: A Um Fio da Morte
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After Becoming the Aunt of the Dragon Hero
Ming He sempre acreditou que havia entrado em um mundo de cultivo, apenas para descobrir que, na verdade, tinha pisado no roteiro do imparável Herói Dragão (Long Aotian,...