Capítulo 30: Por Que Praticar Espada

— Arte da Espada Nebulosa? — Qin Chu Yi, ao entender a intenção de Ming He, não recusou. Pegou o pergaminho de jade, concentrou-se por um momento e logo o devolveu a Ming He. — Nunca pratiquei essa arte da espada antes; hoje é minha primeira vez a vendo. Em termos de talento para a espada, você está muito além de mim.

A Mulher de Branco falou com suavidade, deixando claro o que queria dizer. Ela não recusou o pedido de orientação de Ming He, mas também não podia oferecer nenhum ensinamento concreto.

No entanto, se Qin Chu Yi não podia dar nenhuma ideia ou orientação, por que o Mestre da Seita sugeriu que ela buscasse conselho justamente com ela?

A espada que ela pratica é diferente da nossa. Ming He se lembrou da expressão sutil e complexa do Mestre da Seita e não conseguiu esconder a confusão, que transpareceu nitidamente em seu rosto.

Qin Chu Yi lançou-lhe um olhar e, como se pensasse em algo, seus olhos brilharam com um leve traço de divertimento.

— Foi o Mestre da Seita que te mandou aqui, não foi?

Embora perguntasse diretamente, seu tom era de total certeza.

— Na verdade, eu ainda posso te ajudar de alguma forma.

Ming He: …… Eu realmente não entendi o que você quis dizer.

— Ha! — Qin Chu Yi não pôde conter uma risada ao ver a expressão meio perdida de Ming He. Quando o riso cessou, deu lugar a uma postura séria e austera. Sua voz se tornou afiada, cortante, como se perfurasse a alma.

— Ming He, por que você pratica a espada?

Por que eu pratico a espada…?

Era a primeira vez que alguém lhe fazia essa pergunta. Seus dedos, ocultos sob as mangas largas, se moveram instintivamente, mas ela permaneceu em silêncio.

Ela não sabia.

Praticava a espada simplesmente porque a hospedeira original do corpo o fazia. Para ela, a espada era apenas uma ferramenta para se tornar mais forte. Contanto que pudesse derrotar os outros, não importava o que usasse.

Espada serve. Faca serve. Qualquer coisa servia.

Esse era seu pensamento mais genuíno, mas ao encarar a expressão séria da Mulher de Branco, instintivamente soube que sua ideia estava profundamente equivocada — um erro grave dentro do mundo da cultivação.

Isso porque a cultivação valoriza o entendimento. Cada ato tem causa e consequência.

— Eu não sei — disse Ming He, encarando os olhos frios e límpidos de Qin Chu Yi com honestidade. Ela realmente não sabia — não naquele momento.

— Está tudo bem não saber — Qin Chu Yi não demonstrou surpresa alguma. — Um dia, quando souber, acredito que caminhará mais longe e mais rápido pelo caminho da espada.

— Você está apenas no sexto nível de Guiagem Espiritual, ainda tem muito tempo para encontrar um motivo — um motivo que a leve a perseguir o caminho da espada.

— Quando encontrar esse motivo de verdade, tudo o que hoje parece confuso será resolvido com facilidade, como se rompesse as nuvens e visse a luz. Estou realmente ansiosa por esse dia.

Um brilho oculto surgiu no olhar de Qin Chu Yi — e ela de fato esperava por isso.

Quando esse dia chegar… que mudanças o mundo enfrentará quando ela descobrir o verdadeiro significado de empunhar uma espada?

Um motivo que exija a espada…?

Os olhos de Ming He se estreitaram, pensativa.

— Já que a Irmã Qin me pergunta por que eu pratico a espada… e você, Irmã? — perguntou ela, fixando o olhar em Qin Chu Yi, que ficou levemente atordoada por um instante.

— Meu motivo para praticar a espada…? — Qin Chu Yi repetiu, incerta, e um pensamento passou por sua mente, mudando sua expressão. Ela virou o rosto, como se quisesse esconder algo. — Eu pratico a espada para matar.

— Desejo brandir minha espada nos campos de batalha dos céus, para matar todas as tribos estrangeiras e seus líderes.

Quando Qin Chu Yi voltou a encarar Ming He, seu semblante estava sereno, mas seu rosto belo exalava uma intenção assassina feroz e uma determinação inabalável.

Ming He a fitava. Qin Chu Yi era absurdamente bela, seus traços impressionantes, os olhos reluzentes — mas naquele instante, ao falar sobre exterminar tribos estrangeiras, sua presença marcava muito mais do que sua aparência. Era avassaladora.

— É mesmo?

Se for isso, então quem é a mulher da história original que insistia em se casar com Su Cheng Feng, recusando o noivado da família, e acabou presa por mais de vinte anos?

Ming He murmurou consigo mesma, percebendo pela primeira vez que talvez a história original não fosse tão precisa assim. A narrativa está morta, mas a Qin Chu Yi diante dela, viva e decidida a eliminar tribos estrangeiras, é real.

— Não sei o que esse motivo representa em relação à espada em si, mas essa é a resposta mais verdadeira do meu coração. Eu empunho a espada porque há vidas esperando para serem ceifadas por ela.

Qin Chu Yi repetiu, seu olhar profundo e carregado, contendo um peso que Ming He ainda não podia compreender.

— Já basta disso — Qin Chu Yi mudou de assunto. — Quanto à Arte da Espada Nebulosa, não posso te oferecer muita orientação. Mas, já que você veio me procurar pessoalmente, Júnior Ming He, não posso deixar que saia de mãos vazias.

Esse deve ser o plano do Mestre da Seita, aquele velho raposo.

— Os segredos da arte da espada do nosso clã não podem ser revelados — disse Qin Chu Yi. — Ming He, vou te ensinar uma técnica chamada Estilo do Desembainhar.

Ela retirou uma longa espada branca da manga, segurando-a nas mãos. A espada era inteiramente branca, semelhante à de Ming He, mas sua qualidade e afiação estavam em outro nível.

Naquele momento, a espada repousava nas mãos delicadas de Qin Chu Yi. Mesmo embainhada, exalava fios de energia cortante — seu gume oculto não havia perdido o poder. Era claramente uma lâmina extraordinária.

— Preste atenção — disse Qin Chu Yi suavemente, posicionando-se ereta diante de Ming He.

No instante seguinte, ela desembainhou a espada sem som algum — a lâmina apareceu diante dela.

Apontou a espada para a frente, os olhos refletindo frieza cortante. A ponta da lâmina emitia um brilho gelado.

Ming He, observando ao lado, sentiu o coração estremecer naquele instante.

“Whoosh—”

Uma folha do pinheiro próximo caiu, girando no ar — e de repente, rompeu-se em diversos pedaços no chão, que o vento ergueu novamente, fazendo-os dançar. Sob a agitação da energia da espada, os fragmentos continuaram se despedaçando, sumindo um a um.

Se houvesse um inimigo onde a espada apontava, desde que a diferença de cultivo não fosse imensa, ele com certeza seria dilacerado como as folhas do pinheiro — e desapareceria deste mundo.

Estilo do Desembainhar.

Ming He repetiu silenciosamente essas três palavras, fechando os olhos devagar e revivendo a sensação daquele instante em sua mente. Um arrepio percorreu sua espinha — como se estivesse sendo visada por uma antiga besta feroz.

Desembainhar, reunir impulso.

Extremo, repentino.

Ela apertou o punho ao redor de sua espada branca. Ao abrir os olhos, um brilho de espírito combativo surgiu em seu olhar — uma força que queria romper todos os obstáculos à sua frente, como uma fera enjaulada sentindo o amanhecer na escuridão, explodindo de uma vez, rasgando o breu para liberar a aurora — e além dela, uma luz sem fim.

“Clang—”

O som límpido da lâmina sendo desembainhada acompanhava o canto das cigarras de verão. A energia da espada se espalhou pelo pequeno pátio, colidindo e ressoando. O pinheiro próximo foi inesperadamente cortado, balançando antes de tombar no chão, galhos e folhas se espalhando por todos os lados.

Ming He abriu os olhos, a ponta da espada apontada à frente. Naquele breve instante, parecia ter compreendido algo, e seu olhar se iluminou, revelando a graça elegante de uma cultivadora da espada.

Luz Cintilante.

A espada dançava para fora da bainha, um brilho semelhante ao das estrelas se espalhando pelo céu. Não era apenas um clarão na escuridão, mas uma espada que iluminava todos os céus e a terra.

— Essa espada é bastante impressionante — Qin Chu Yi interrompeu a contemplação de Ming He, seu tom repleto de admiração não disfarçada.

Apenas com uma demonstração, Ming He conseguiu replicá-la perfeitamente, revelando um poder considerável. Qin Chu Yi viu nela uma leve semelhança com a descrição que seu pai fazia dos cultivadores da espada da antiguidade.

— Mas ainda não é o suficiente.

— O Estilo do Desembainhar vem de um certo reino secreto. Diz-se que era a técnica que os antigos cultivadores da espada praticavam primeiro — explicou Qin Chu Yi de forma simples, então retirou uma página de pedra quebrada, esculpida em rocha, e a mostrou a ela. A página gasta era antiga e cheia de marcas, muito semelhante ao pergaminho de jade da técnica Luz Cintilante que Ming He havia obtido.

Cultivadores da espada da antiguidade…

Ming He já tinha visto registros sobre os antigos cultivadores na biblioteca. Sabia que, nos tempos antigos, as técnicas de cultivo ainda estavam em seus estágios iniciais. Naquela época, a energia espiritual era abundante, assim como os tesouros naturais, mas as técnicas ainda não eram valorizadas, e, por isso, não existiam pergaminhos de jade.

Ela recebeu a página quebrada das mãos de Qin Chu Yi e abaixou a cabeça para examiná-la. Havia três entalhes na pedra: o primeiro mostrava um cultivador de pé, segurando a espada com a mão direita, sua expressão nada lembrava a frieza determinada de Qin Chu Yi ao desembainhar sua espada.

Pelo contrário, a pessoa exibia uma expressão serena, sem qualquer emoção visível. Se não fosse pelo segundo entalhe mostrando-o apontando a espada à frente com uma aura assassina emergindo, ninguém suspeitaria que aquele cultivador calmo sacaria sua espada no momento seguinte.

Ele atacou enquanto o inimigo estava desprevenido?

Ming He especulou em silêncio, voltando o olhar para o terceiro entalhe.

O terceiro mostrava um cultivador aparentemente igual ao primeiro, de pé enquanto recolhia a espada para a bainha, com a expressão ainda calma, como se fosse o espelho da primeira imagem.

No entanto… a aura ao redor dele e sua expressão… O olhar de Ming He voltou para o primeiro entalhe, e seu coração se iluminou subitamente. Um representava a espada à espera para ser sacada, firme e pronta; o outro, a serenidade do recuo após o sucesso, aguardando pacientemente o próximo movimento.

— Irmã Qin, você está me dando essa página quebrada? — perguntou Ming He suavemente, segurando o papel frágil e erguendo o olhar para ela.

— Sim — Qin Chu Yi assentiu. — Quando uso essa técnica, ela tem o poder que você viu, mas minha compreensão termina aí. Você, no entanto, é diferente.

— Talvez esta página quebrada seja mais adequada em suas mãos — disse Qin Chu Yi, com um olhar sereno enquanto fitava o pinheiro caído ao lado do pátio.

— Então, agradeço sinceramente, Irmã Qin — Ming He se curvou respeitosamente, endireitando as costas e mantendo uma postura séria.

— Não precisa de tanta formalidade. Sou eu quem deveria agradecer — Qin Chu Yi virou o rosto, um pouco envergonhada. Nunca tinha agradecido a ninguém antes; parecia que Ming He era a primeira.

— Hmm. — Ming He sorriu gentilmente, mantendo-se ereta e notando um leve rubor no rosto impecável de Qin Chu Yi, mas não disse nada.

Fora do pátio, os pinheiros verdes balançavam suavemente sob o céu azul claro e nuvens brancas, a paisagem excepcionalmente bela.

Dentro do pátio Chang Ming.

A energia da espada percorria o espaço, o som da lâmina ressoando incessantemente. A jovem de roupas azuis dançava com a espada naquele espaço não tão amplo, a grande pedra antes áspera sendo gradualmente polida pela torrente de energia, tornando-se brilhante e simples, refletindo ondas cintilantes sob o sol.

Ming He empunhava a longa espada branca, seus movimentos fluíam sem interrupções ao passar do Estilo do Desembainhar para a Arte da Espada Liu Yun, depois para a Luz Cintilante, finalizando com a Arte da Espada da Nebulosa.

Naquele dia, ela não saiu de mãos vazias da presença de Qin Chu Yi. Além do Estilo do Desembainhar e da técnica Luz Cintilante, ela também obteve um momento de clareza e deslumbramento.

O primeiro movimento da Arte da Espada da Nebulosa: Liu Yun.

Ming He balançou novamente a ponta da espada, recordando os momentos de vida ou morte da grande competição da seita externa, e as poucas palavras descritas no pergaminho de jade vieram-lhe à mente, seu olhar distante e respiração estável.

Clang—

O som claro e ressonante rompeu o silêncio do pátio. Ming He apertou o cabo da espada, emanando intenção cortante em direção ao vasto céu azul e nuvens brancas, de repente fazendo-as girar, como se sua espada se harmonizasse com o fluxo das nuvens acima, fundindo-se por um instante numa cadência extraordinária. Em seus olhos, existia apenas a espada que empunhava.

O segundo movimento da Arte da Espada da Nebulosa: Estrela Solitária.

Ming He recordou as descrições do pergaminho de jade e todas as suas percepções e experiências desde que começou a empunhar a espada, reagindo instintivamente ao desferi-la.

O céu agora estava límpido, a vastidão azul reluzente, mas ali, de pé naquele pátio, Ming He sentia como se pudesse ver o céu estrelado surgindo após o cair da noite.

Estrela Solitária.

Ao repetir essas duas palavras, Ming He continuava a empunhar sua espada e dançar, seus passos leves como o vento deslizando suavemente pelo pequeno espaço do pátio, suas roupas azuis esvoaçantes. Ela manejava a espada como uma verdadeira cultivadora, dançando incansavelmente sob o sol escaldante e a lua crescente, dia e noite.

A pedra redonda no pátio ia se tornando cada vez mais lisa sob a influência da energia da espada, transformando-se sutilmente em uma bela paisagem. O sol e a lua se revezavam, e num piscar de olhos, dois meses haviam se passado.

A caverna deve estar se abrindo agora.