Capítulo 5: Oitavo Nível do Refinamento de Qi

Um mês depois, a garota de azul empurrou a porta da sala de treinamento e saiu com passos firmes, seu porte afiado e refinado, incorporando plenamente a essência do oitavo nível do Refinamento de Qi.

Oitavo nível do Refinamento de Qi! Em apenas um mês, Ming He havia rompido mais dois níveis.

Ela se sentia bastante satisfeita com esse resultado.

A princípio, achara que, mesmo com a energia espiritual abundante da torre de treinamento, alcançaria no máximo o ápice do sétimo nível de Refinamento de Qi naquele mês. No entanto, a torre lhe proporcionara uma surpresa imensa.

E isso tudo numa seita comum de uma cidade fronteiriça!

Olhando de volta para a torre de treinamento, Ming He compreendeu mais uma vez o que significava ser filho de uma família poderosa.

Discípulos verdadeiramente aristocráticos já nascem no topo da cadeia de cultivo.

E quantas pessoas como o Herói Dragão, que começam humildes e galgam posição aos poucos até alcançar os olhos do público, realmente existem?

Só poderia haver algumas poucas.

Mas, entre esses poucos, Ming He acreditava que seu nome deveria estar incluído.

A garota de azul ergueu o olhar para as nuvens brancas que flutuavam no céu, seus olhos de flor de pessegueiro brilhando com vivacidade, repletos de espírito combativo.

Chegar ao oitavo nível de Refinamento de Qi… ela sabia que romper esse estágio em apenas um mês seria extremamente difícil.

O caminho da cultivação possui como divisor menor a transição do terceiro para o quarto nível — onde a antiga dona de seu corpo ficou presa e acabou se desviando. Já o salto do oitavo para o nono nível era um divisor maior. Entre os três mil discípulos externos da Seita Liu Yun, inúmeros paravam nesse obstáculo, sem jamais adentrar o setor interno, sendo eventualmente expulsos por ultrapassarem o limite de idade.

Ming He certamente não acreditava que seria expulsa — ela possuía plena consciência de si.

Nestes dois meses que restavam, não planejava exigir de si mesma um avanço até o nono nível.

Já que não poderia progredir mais no cultivo por ora, era hora de focar na força.

Na sala de treinamento, já havia memorizado o conteúdo geral dos Passos da Nuvem Giratória e dos Dedos Quebranuvens; o próximo passo era compreender e aplicar na prática.

Compreensão e aplicação prática? Ming He lembrou-se de um lugar bastante adequado para aprimorar suas habilidades — a Travessa dos Bonecos de Madeira.

Era um dos campos de prova da Seita Liu Yun, muito utilizado por discípulos que desejavam treinar o combate.

Como o nome indicava, a Travessa dos Bonecos de Madeira era um longo corredor formado por figuras de madeira, com cerca de um quilômetro de extensão, cujos bonecos se fortaleciam proporcionalmente à força do oponente; também era possível ajustar os modos de dificuldade.

Decidida quanto ao destino, Ming He girou nos calcanhares e seguiu com tranquilidade.

— Su Ming He.

Uma voz suave a chamou, interrompendo seus passos.

Ming He não parou, continuou em direção à Travessa dos Bonecos de Madeira; quer fosse ela ou a dona original daquele corpo, ambas eram solitárias na Seita Liu Yun. A antiga havia sido reclusa e fria, mas ela não precisava disso.

Então por que tantas pessoas vinham chamá-la? Só mais fofoca?

Ming He não se interessava nem um pouco — e apressou o passo.

— Su Ming He, pare! — A voz se irritou.

Ming He, que caminhava direto em direção à Travessa dos Bonecos de Madeira, subitamente parou — não por causa da voz, mas por causa da sombra que se projetou à sua frente.

Ergueu o rosto com frieza. Bloqueando seu caminho, havia um jovem alto, aparência comum, espada à cintura, também no oitavo nível do Refinamento de Qi. O olhar dele era frio — e cheio de desejo.

— Foi Wang Feihu quem te mandou? — Ming He compreendia bem esse tipo de manobra.

Desde que ofendera o rapaz de cinza nas Montanhas Liu Yun, sabia que alguém com baixa cultivação mas certa influência certamente não a deixaria em paz.

Assim que voltou para a seita, tirou um tempo para entender melhor quem era aquele rapaz de cinza e a rede de relacionamentos ao redor dele.

A garota de azul estreitou os olhos. Se eu fosse a protagonista de uma história, essas pessoas seriam o tipo de bucha de canhão dos primeiros capítulos — que causam confusão só pra me dar pontos de experiência, não seriam?

Em sua mente, rotulou o jovem à sua frente como um NPC descartável, e seus lábios se curvaram num sorriso divertido.

— Su Ming He, eu te desafio — disse Li Si, a voz baixa e carregada de irritação ao notar aquele sorriso que, por algum motivo, o incomodava profundamente.

— Me desafiar? — Ming He pensou consigo mesma. Como esperado. — Competição marcial ou duelo de vida ou morte? — Sua voz era leve, quase brincalhona, sem o pânico que Li Si esperava. Pelo contrário, havia um leve traço de… empolgação?

Li Si se surpreendeu por um momento com a tranquilidade dela — uma pontada de desconforto surgiu em sua mente.

Pelo que sabia, Su Ming He era mesquinha e fraca. O confronto anterior com Wang Feihu parecera mais um último suspiro de alguém condenado.

Mas agora… parecia que a tinha julgado mal?

E aquela pergunta — competição marcial ou duelo de vida ou morte? — só de ser feita já sugeria que ela estava inclinada para a segunda opção.

Duelo de vida ou morte, como o nome dizia, era um combate até a morte. O perdedor perdia a vida, e o vencedor levava todos os seus pertences.

— Muito bem, duelo de vida ou morte! — declarou Li Si, com a audácia de um apostador prestes a arriscar tudo. Toda a arrogância anterior desapareceu naquele momento.

Aquela era sua última aposta!

Não havia outra escolha. Prometera a Wang Feihu que daria fim à vida de Su Ming He. Se Wang Feihu retornasse e descobrisse que ela ainda estava viva, o destino de Li Si seria miserável.

Eliminar Su Ming He o aproximaria do limiar da Intenção da Espada de Meia-etapa. Se pudesse usar isso como trampolim para entrar no setor interno, um futuro brilhante o aguardava.

Ele tinha que vencer.

— Oh — murmurou Ming He, sem se mover.

— Su Ming He, por aqui — disse Li Si, apontando para a arena de duelo de vida ou morte.

— Ah, eu não vou — respondeu a garota de azul, recostando-se casualmente numa coluna atrás de si.

— Como assim? Você acabou de dizer— — Li Si protestou, a voz elevando-se.

— Só perguntei se era competição marcial ou duelo de vida ou morte. Em momento algum concordei em subir no palco. Hmm, estava apenas curiosa — disse Ming He, o sorriso se ampliando enquanto via o rosto dele empalidecer num instante.

— Você… — O jovem sentiu um pico de exasperação.

— Se não subir naquela arena hoje, não terá paz. Você sabe bem as consequências de ter desafiado Wang Feihu — disse Li Si, forçando-se a manter a calma apesar da irritação crescente.

— Hoje é apenas um duelo de vida ou morte, mas amanhã? Quem sabe — assassinatos, armadilhas, emboscadas… o que não faltaria — continuou, o tom sombrio. Ele conhecia bem os métodos de Wang Feihu. Embora os desprezasse, como simples discípulo externo sem apoio, não tinha escolha a não ser obedecer em troca de recursos.

— Tudo bem, quinhentas pedras espirituais — disse Ming He, com um tom despreocupado. Ela não tinha a menor intenção de recusar. Afinal, entendia bem o orgulho peculiar desses privilegiados ineficazes.

— Além dos seus pertences, quero as quinhentas pedras espirituais de Wang Feihu — acrescentou, o sorriso afiado. Já que haviam batido à sua porta, que tirasse o máximo proveito disso.

Se vencesse, seria uma vitória dupla. Se perdesse… bem, se encontrariam no submundo. Já estava vivendo por um fio — o que mais tinha a perder?

— Fechado — concordou Li Si. Todos no setor externo sabiam que ele era o cão de Wang Feihu, então uma dívida no nome dele teria peso.

Quanto à fúria de Wang Feihu… até lá, provavelmente ele já estaria atravessando a Ponte da Inércia. Do que haveria de ter medo?

Arena de Duelo de Vida ou Morte

— Olhem, o Li Si de novo. Quem é aquela garota?

— Deve ser uma ninguém. Caso contrário, Wang Feihu não teria se atrevido a mexer com ela.

— O que será que ela fez pra ofender o Wang Feihu?

— Vai ver é o charme da beleza que a faz resistir até o fim?

A multidão em volta da arena assistia aos dois no palco, murmurando entre si, alguns até sugerindo algum tipo de envolvimento amoroso, arrancando risos do público.

— Os dois decidiram? Estão certos de que será um duelo de vida ou morte, onde o perdedor perderá a vida e todos os seus pertences ficarão com o vencedor? — perguntou com seriedade um discípulo responsável pela arena, seu olhar repousando sobre Ming He com certo pesar.

Aquela seria a sétima pessoa naquele mês a morrer por causa de Wang Feihu.

Por que aceitar um duelo de vida ou morte? Era claramente uma sentença de morte — mas sempre havia quem caía na armadilha.

Seguiu o procedimento padrão, mesmo sabendo que, uma vez ali, não havia volta. Ainda assim, conservava uma pequena esperança.

— Tenho certeza — respondeu Li Si, com um aceno calmo.

Ali parado, lembrou-se dos que já haviam tombado sob sua espada; tantos mais fortes que Ming He já haviam sido derrotados — como poderia ele perder?

— Tenho certeza — disse a garota de azul, a voz firme e clara.

Não era uma promessa solene; ela não tinha certeza de que sobreviveria à luta.

Mas o caminho da cultivação era uma grande aposta — e, já que tinha chegado até ali, precisava aceitar essa realidade.

Qualquer um podia morrer, inclusive ela.

Tudo o que podia fazer era se fortalecer antes que o perigo definitivo chegasse.

Lá no fundo, ela também era uma apostadora.

— Muito bem — declarou, relutante, o discípulo da arena. — O duelo começa!

Com isso, reuniu sua energia e saltou da plataforma, pronto para anunciar a vitória de Li Si assim que o resultado estivesse claro.

— Finalmente!

— Vai começar!

— Que comece logo!

Os discípulos do setor externo assistiam ao espetáculo no palco, cientes do provável desfecho, mas ainda assim entusiasmados. Afinal, não era a vida deles em jogo — era apenas diversão.

Insensíveis e frios. Tolos e lamentáveis.

— Fada Qin, esta é a arena de duelo de vida ou morte da Seita Liu Yun, onde os discípulos apostam a vida uns contra os outros.

Num pavilhão elevado com vista para a arena, um jovem de amarelo falava com seriedade à mulher de branco, a expressão concentrada, os olhos transbordando de adoração.

— Mm — a mulher de branco assentiu levemente, o olhar fixo na garota de azul sobre a arena, visivelmente intrigada.

Yun Zhao Feng, o jovem de amarelo, perdeu o interesse após um único olhar. Para ele, duelos entre discípulos externos eram triviais demais — abaixo de sua atenção.

Em circunstâncias normais, nem teria olhado naquela direção. Mas, como a Fada Qin parecia interessada, decidiu acompanhá-la.

Embora fosse obcecado por cultivação, ainda sabia uma ou duas coisas sobre como agradar uma mulher.

Mas submeter-se completamente? Yun Zhao Feng olhou para a mulher deslumbrante ao seu lado, com um brilho resoluto nos olhos.

A mulher de branco, alheia aos pensamentos dele — e mesmo que soubesse, teria apenas sorrido com desdém.

Naquele momento, toda a sua atenção estava na garota de azul, a curiosidade aguçada. Um duelo de vida ou morte, é?

Ambos estavam no oitavo nível do Refinamento de Qi, mas ela percebeu, num único olhar, que a garota de azul havia alcançado esse estágio recentemente. Apesar de estarem ambos no auge do oitavo nível, havia uma diferença entre um avanço súbito e uma ascensão gradual.

Ela presumiu que a garota teria dificuldades contra o oponente.

E esse pensamento… a deixou um tanto desinteressada.