Capítulo 6: O Duelo de Vida ou Morte

Na arena, a garota de azul ficou de frente para o jovem de azul. Após um breve silêncio, foi o rapaz quem tomou a iniciativa, avançando com sua espada.

Mesmo ao enfrentar um coelho, um leão precisa usar toda sua força; ele podia subestimar a oponente, mas jamais seria descuidado num combate real.

Ming He manteve os olhos bem abertos e usou seu jogo de pés para desviar com facilidade do golpe de sondagem, contra-atacando com um golpe direto na direção do ombro direito dele.

A garota de azul se movia com uma agilidade quase absurda, a espada longa firmemente empunhada, a expressão resoluta.

— Clang —

As duas espadas colidiram no ar, faíscas voaram e o ar suspirou suavemente ao redor delas.

Ming He franziu a testa, canalizando sua energia espiritual até a ponta da lâmina, apertando os lábios ao sentir a pressão do outro lado.

Li Si era mais forte do que ela havia imaginado.

Ele parecia calmo, como se tudo estivesse sob controle — mas, por dentro, não era tão sereno quanto Ming He acreditava.

Aquele havia sido apenas o primeiro embate, um golpe de sondagem, e ele não havia conseguido vantagem alguma.

A garota à sua frente, que ousara revidar contra Wang Feihu, superava todas as suas expectativas.

O jovem soltou um leve grunhido e, num instante decisivo, invocou a energia de espada que vinha cultivando há anos, reunindo-a na ponta da lâmina. Recuou o pé direito, concentrando a força.

No momento seguinte, impulsionou-se no ar, recuando a espada antes de lançá-la para frente a uma velocidade invisível a olho nu. A lâmina brilhava, carregando uma aura gélida.

Era seu golpe mais poderoso: Espada Fria!

Aquilo demonstrava o quão a sério ele levava a oponente. Mesmo que não a derrotasse completamente com aquele ataque, no mínimo a faria sofrer.

Gastar metade de sua energia espiritual para feri-la lhe parecia um preço justo.

A expressão de Ming He se tornou grave; a velocidade daquele golpe era absurda, não lhe dando tempo para pensar. Ela só podia reagir com os instintos cultivados nos quatro meses de prática com espada.

— Boom —

A energia da espada explodiu no ar, envolvendo as duas figuras no palco com uma névoa densa que ocultou suas silhuetas. Lá embaixo, os espectadores murmuravam, cheios de curiosidade.

— Li Si venceu?

— Não sei, não consigo ver! Mas deve ter vencido!

— Como assim “deve ter”? É claro que o Irmão Li Si venceu, ninguém jamais sobreviveu à Espada Fria dele.

— Ai, pobre discípula… provavelmente nem restaram os ossos dela!

Os espectadores abaixo declaravam com confiança a vitória de Li Si, mas a Mulher de Branco no pavilhão conseguia enxergar além da poeira levantada pela explosão — e viu a condição da garota de azul.

Diante do perigo iminente, sua reação não foi de autopreservação, mas de contra-ataque — surpreendentemente engenhoso —, mas o desfecho a surpreendeu ainda mais.

Um brilho reluziu nos olhos da Mulher de Branco enquanto continuava a observar a figura na arena de vida ou morte.

Conforme a fumaça se dissipava, alguns discípulos, sem conter a curiosidade, forçaram o olhar para a cena. No instante seguinte, exclamações de surpresa, confusão e choque ecoaram pelo local.

— Como isso é possível?

— O Irmão Li está ferido?

— Aquela discípula…

— Continue — sussurrou Ming He, avançando no ataque enquanto a ponta de sua espada cortava o ar.

— Você não se feriu? — A reação de Li Si não foi diferente da dos discípulos abaixo; também estava chocado e confuso por ver a garota de azul completamente ilesa.

Suas roupas estavam empoeiradas, um pouco acinzentadas, mas só. Não havia ferimentos graves, nem mesmo uma gota de sangue.

Como isso é possível? — perguntas inundaram a mente do rapaz, acompanhadas por uma onda de pânico semelhante à dos outros.

— Não viu? — respondeu Ming He, sua espada já estocando em direção a ele, ainda surpresa consigo mesma.

Achara que, mesmo sobrevivendo, estaria ferida. Se eu me machucasse, talvez até conseguisse conversar com a antiga dona deste corpo sobre essa batalha…

Não esperava que a Técnica Básica da Espada Liu Yun fosse tão eficaz!

Com sua espada posicionada, cada movimento era instintivo — e era justamente essa técnica que mais havia praticado nos últimos quatro meses nesse mundo, especialmente os golpes básicos.

Técnica da Espada Liu Yun, Terceiro Golpe: Corte da Nuvem Retornante!

Naquele instante, ela se sentia como se estivesse entre nuvens, com a energia da espada tentando perfurá-las, mas sendo suavemente detida pela maciez das nuvens — desgastando-se pouco a pouco.

Aproveitar o impulso? Ming He ergueu a espada e executou o Corte da Nuvem Retornante da mesma forma, mirando diretamente no jovem, sua mente fervilhando.

— Humph — Li Si resmungou com frieza, engolindo o choque e o pânico enquanto firmava o punho na espada, colidindo novamente com a lâmina dela, as pontas reluzindo em frio num confronto feroz de energia espiritual.

Mesmo tendo perdido metade de sua energia espiritual, ele ainda acreditava ter chance de vencer. Afinal, Su Ming He era só uma garota pobre, não era?

Li Si olhou para a espada dela, afiada e pressionando contra a sua, o orgulho estampado no olhar.

Ming He notou o olhar dele e logo entendeu sua intenção, sentindo um calafrio de apreensão.

Franziu o cenho e estendeu a mão esquerda, os dedos em forma de espada apontando para Li Si.

Dedos Quebranuvens — ela havia memorizado durante os treinos; já tinha visto, mas nunca testado.

Agora, diante da vida ou da morte, Ming He não tinha escolha senão arriscar.

— Desprezível! — Li Si gritou, incapaz de conter a raiva por vê-la ainda representar ameaça com a mão esquerda. — Num duelo de espada, ousa usar outro método?

O jovem gritou alto, então puxou de má vontade parte de sua energia espiritual para se defender do golpe com os dedos.

— Ha! Quem disse que estava competindo com você em esgrima? — zombou Ming He, o sorriso se curvando com sarcasmo.

A energia espiritual que reunira no dedo dissipou-se no ar por falta de habilidade, tornando a tensão de Li Si totalmente inútil.

No instante seguinte, um “crec” soou no ar — para espanto geral, todos viram a espada de Ming He rachar diante dos olhos, partindo-se em vários pedaços que caíram no chão com um som metálico.

Ao ver a espada se quebrar, a garota de azul recuou, ainda afetada, sua respiração ligeiramente irregular.

Ming He abaixou a cabeça e cuspiu uma golfada de sangue, sentindo que aquela batalha era extremamente difícil. Nada se parecia com a exibição esmagadora de poder do Herói Dragão. Queria pedir pra trocarem o roteiro!

Sua espada era uma lâmina comum, distribuída gratuitamente no salão de tarefas. Já a de Li Si, embora não fosse de grau inato, era forjada com aço refinado. Como poderia competir? Um leve sentimento de inveja tomou conta dela.

— Su Ming He, sua espada quebrou; você perdeu — disse Li Si, sorrindo ao encarar os fragmentos metálicos no chão, finalmente se sentindo completamente aliviado.

Um cultivador da espada sem espada… era como alguém sem utilidade.

— Quem disse isso? — disse Ming He calmamente, fechando os olhos devagar e relembrando, em silêncio, a sensação que teve ao agir por puro instinto.

Corte da Nuvem Retornante. Dedos Quebranuvens. A espada quebrada…

— Sua espada quebrou; você perdeu — a voz de Li Si parecia ecoar mais uma vez.

Agindo por instinto — seus instintos… os instintos da espada? Liu Yun?

A garota de azul permanecia em silêncio com os olhos fechados, o ar ao seu redor girando sutilmente, como se fosse atraído por ela, enquanto uma brisa suave bagunçava os fios soltos de cabelo próximos às orelhas.

Aquilo era…

A Mulher de Branco no pavilhão franziu o cenho, os olhos cintilando com curiosidade.

Talvez essa viagem até Liu Yun não fosse em vão, afinal.

— Hahaha, Su Ming He, você desistiu! Espere só até eu tirar sua vida! — Li Si gargalhou. — Muito bem, eu vou lhe conceder esse desejo… deixe-me mandá-la para fora deste mundo!

O jovem avançou passo a passo, espada em punho, até ficar bem diante de Ming He.

Assumiu uma postura defensiva, cauteloso diante de qualquer movimento repentino, e então desferiu com força um golpe letal mirando diretamente o coração da garota.

— Whoosh —

Uma onda de energia de espada explodiu, cortando o ar e perfurando a garganta do rapaz à queima-roupa. A força residual pairou por um breve instante sobre o pilar atrás de Li Si na arena de vida ou morte, deixando uma marca tênue antes de desaparecer no nada.

— Impossível! — O choque reverberou não apenas entre os discípulos da seita externa e os espectadores, mas também em Yun Zhao Feng, o jovem de amarelo no pavilhão.

Aquela sensação agora há pouco… poderia ter sido intenção de espada? — O olhar de Yun Zhao Feng cravou-se na origem daquela energia cortante.

A garota de azul havia, num único movimento, usado os Passos da Nuvem Giratória para surgir atrás de Li Si e desferir um golpe fatal com apenas um dedo.

O sangue espirrou no rosto delicado e pálido da jovem, mas sua expressão permaneceu serena, o olhar firme — quase assustador de tão calmo.

— Não pode ser intenção de espada — murmurou Yun Zhao Feng, com os olhos fixos nos fragmentos quebrados da espada ao centro da arena.

Intenção de espada, como o segundo reino da Espadachim, não era algo trivial de se compreender. Apenas os talentos mais excepcionais conseguiam tocá-la antes de alcançar o estágio de Condução Espiritual.

Ele mesmo, o presumido futuro líder da Seita Liu Yun, não era alguém de talento medíocre, e ainda assim só compreendera a intenção de espada pouco depois de romper o estágio de Condução Espiritual.

Como poderia uma mera discípula da seita externa superá-lo?

Além disso, a espada dela estava quebrada. Achar que alguém poderia compreender intenção de espada através de uma técnica que nem era de esgrima… era um completo delírio.

O jovem de amarelo zombou, o choque inicial cedendo lugar à impaciência.

— Fada Qin, o duelo terminou. Que tal seguirmos? A Seita Liu Yun tem mais a oferecer além da arena de vida ou morte. Permita-me guiá-la.

— Hmm. — A Mulher de Branco assentiu, a expressão fria e distante como sempre.

— Fada Qin, por aqui, por favor. — Yun Zhao Feng ignorou o desdém dela, confiante de que a persistência eventualmente venceria.

— Hmm. — A Mulher de Branco lançou um último olhar à garota de azul, que permanecia imóvel no palco, perdida em pensamentos. Um lampejo de expectativa cruzou seu olhar antes que ela se virasse e desaparecesse.

Aquela sensação… é tão fugidia! — Ming He continuava sobre o palco, alheia ao corpo sem vida de Li Si ou aos discípulos atônitos abaixo.

Cerrava os punhos, revivendo aquele breve momento de clareza. Sentia como se estivesse prestes a alcançar algo profundo… mas aquilo escapava por entre os dedos, como se uma barreira invisível a separasse da resposta.

O que era aquilo? — Frustração fervilhava dentro dela, deixando-a completamente perplexa.

— Irmã Sênior Su, parabéns! Você venceu! — Um discípulo auxiliar saltou para o palco, radiante de alegria apesar do olhar vidrado e sem vida de Li Si. — Não, agora devo chamá-la de Irmã Sênior Su.

Apesar de mais jovem, sua força superava a dele, e no mundo da cultivação, poder era o que definia a hierarquia. Su Ming He havia conquistado esse título.

— Irmã Sênior Su?

— Ah, certo — disse Ming He, despertando de seus devaneios, percebendo que continuar insistindo seria inútil. Se a oportunidade surgisse novamente, ela certamente capturaria aquela sensação.

— O que foi? — perguntou, a voz calma e estável como sempre.

— Irmã Sênior Su, você venceu! — O orgulho do discípulo era evidente. — O anel de armazenamento de Li Si e esta espada longa de aço refinado agora são seus.

— Ótimo. — Ming He ignorou os aplausos da multidão e caminhou até a espada longa de aço refinado de Li Si. Girou-a no ar, satisfeita, depois pegou a bainha, embainhou a lâmina e se virou para sair da arena.

Li Si havia lhe entregado a nota de dívida de quinhentas pedras espirituais antes do duelo. Se ela tivesse perdido, o papel teria sido destruído junto com seu cadáver.

Li Si.

Ming He se lembrou da expressão presunçosa do jovem ao se gabar de sua vitória iminente. Olhou para as próprias mãos, tingidas de vermelho ou queimadas de preto desde que chegou a este mundo.

Li Si não tinha nenhuma inimizade pessoal com ela. A origem de tudo era apenas uma erva espiritual.

Um sentimento de absurdo e melancolia tomou conta dela — sobrevivência do mais apto, o quanto a vida e a morte podiam ser arbitrárias!

O final trágico do romance original era construído sobre incontáveis histórias como aquela, com Li Si e Ming He — um morto, o outro vivo — vidas preciosas ceifadas num piscar de olhos.

Mas agora ela estava aqui, sem caminho de volta. Se não matasse, seria morta. Que outra escolha tinha?

A garota de azul ergueu os olhos para o céu, encontrando sua resposta entre as nuvens que vagavam.

Não invada os interesses dos outros. Não provoque. Não mate inocentes. Mas nunca deixe que tomem o que é seu — seja sua vida ou qualquer outra coisa.

Sob as nuvens brancas, ela deixaria que sua espada abrisse seu caminho!

Ela, Ming He, ficaria de pé sem arrependimentos entre o céu e a terra.