Capítulo 94
O coração de Jiang Suizhou parou por um instante ao ouvir aquelas palavras, e então sua mente ficou completamente em branco.
Por um momento, ele entrou em pânico. Abriu a boca, mas não conseguiu emitir som algum.
Depois de um longo silêncio, explicou, um tanto atrapalhado:
—Não, eu só estava…
Ele percebeu que Huo Wujiu estava sorrindo, olhando diretamente para ele.
—Entendo, —disse Huo Wujiu. —Então foi apenas em um momento de desespero que você disse a verdade.
—Eu…
Jiang Suizhou estava prestes a falar quando Huo Wujiu o interrompeu.
Ele estendeu a mão por baixo do cobertor de Jiang Suizhou e segurou a dele ali dentro.
Huo Wujiu certamente já havia segurado seus pulsos muitas vezes antes, mas sempre por cima da manga. Desta vez, porém, ele cobriu diretamente o dorso da mão de Jiang Suizhou, entrelaçando-a completamente na sua palma.
Jiang Suizhou ficou um tanto atordoado.
Aos poucos, sua consciência voltou, e só então ele percebeu o verdadeiro significado do gesto de Huo Wujiu.
A palma da mão de Huo Wujiu era bastante áspera. À primeira vista, dava para perceber que eram marcas deixadas por anos de prática em artes marciais. Aquela mão não era tão calma quanto a expressão de seu dono — pelo contrário, estava fortemente cerrada, como se ele não encontrasse uma forma de conter as emoções que fervilhavam dentro dele. O aperto fazia os ossos dos dedos de Jiang Suizhou doerem.
Depois disso, Huo Wujiu pareceu achar que aquilo ainda não era suficiente. Ele puxou a mão de Jiang Suizhou para fora do cobertor, envolveu-a com a outra e a segurou firmemente entre as suas.
Jiang Suizhou o fitou, atônito.
Pela reação dele… seria possível que ele também…?
Naquele instante, o olhar de Huo Wujiu, o seu sorriso e até mesmo aquelas inexplicáveis demonstrações de desagrado que ele às vezes tinha finalmente encontraram uma explicação.
Jiang Suizhou sentiu como se estivesse alucinando.
Não podia ser… de jeito nenhum… como alguém como ele poderia também gostar dele em silêncio daquela forma…?
O impacto daquela resposta foi tão forte que Jiang Suizhou esqueceu até de se alegrar por um instante.
Enquanto isso, Huo Wujiu, ainda ajoelhado ao lado da cama, puxou a mão dele para a frente e a pressionou contra o próprio rosto.
— Por que você não ficou desesperado antes? — sua voz era baixa, como se falasse consigo mesmo. De repente, um toque de tolice atravessou o tom. Assim que disse isso, ele se corrigiu depressa, murmurando: — Não… a culpa é minha por querer que você dissesse primeiro.
Ao dizer isso, ele franziu o cenho de repente e acrescentou:
— Mas eu não percebi nada.
Jiang Suizhou respondeu num sussurro:
— … Eu também não percebi nada.
Huo Wujiu nem precisou pensar para retrucar, com toda a razão:
— É claro, eu não podia deixar que você notasse. Você me disse que não era um corta manga. E se tivesse percebido e se assustado? Eu não teria como amarrar você de volta depois.
— É claro que não sou —, Jiang Suizhou soltou sem pensar. —Eu só…
Mas, ao chegar a esse ponto, percebeu o que estava dizendo. Calou-se a tempo e engoliu todas as palavras que viriam depois.
Era realmente estranho. Antes, para despistar as suspeitas de Pang Shao, que tipo de palavras desagradáveis ele já não havia dito diante dos outros? Sempre conseguira manter a calma, até mesmo fingir com naturalidade. Mas agora, diante dele, não conseguia dizer nem as palavras mais sinceras e simples.
Embora a mão que Huo Wujiu segurava estivesse quente, o coração de Jiang Suizhou ardia ainda mais.
Mas Huo Wujiu, à sua frente, parecia já ter compreendido.
Ele olhou para Jiang Suizhou com um olhar abrasador — e riu suavemente.
O riso dele era tão agradável aos ouvidos que provocou um leve tremor no peito de Jiang Suizhou, espalhando-se pouco a pouco até sua mão.
Então, Huo Wujiu pareceu achar que aquilo ainda não bastava. Apertou a mão que segurava algumas vezes, depois a puxou do lado do rosto até os lábios. Beijou profundamente os dedos de Jiang Suizhou e os pressionou firmemente contra os próprios lábios.
Seu suspiro, misturado a um leve sorriso, envolveu os nós dos dedos com um sopro quente.
Esse calor fez as orelhas de Jiang Suizhou queimarem de imediato.
Ele deu um leve puxão na mão, mas não a retirou. Pelo contrário, o aperto de Huo Wujiu se tornou ainda mais firme.
O olhar ardente, cheio de um riso contido, era tão intenso que Jiang Suizhou não pôde evitar desviar os olhos, abaixando a cabeça às pressas — como um avestruz enterrando o rosto na areia.
Esse gesto evasivo e autoenganoso, no entanto, apenas deixou o agressor ainda mais animado.
O riso abafado dele deslizou pelos lábios quentes, percorreu os nós dos dedos, desceu pelo braço e fez com que todos os meridianos do corpo de Jiang Suizhou vibrassem em formigamento.
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Os soldados de Huo Wujiu eram extremamente eficientes.
Isso também se devia aos arranjos de Huo Yuyan. Desde o início, ele havia se voltado contra Wu Qianfan, que estava sob o comando de Huo Wujiu, deixando-o isolado. Depois, matou Wu Qianfan para silenciá-lo. O número de homens de Huo Wujiu era várias vezes maior que o de Huo Yuyan. Além disso, as tropas de Huo Yuyan estavam em sua maioria posicionadas nos arredores da Cidade de Ye, por isso ele não conseguiu deslocar soldados para substituir os das forças em Jiang do Norte.
Assim, exceto pelos mortos Li Sheng e seus comparsas, os 200 mil soldados que Huo Wujiu trouxera para a cidade naquele dia eram todos de seu exército direto.
Em um único dia, eles haviam tomado firmemente o controle do palácio imperial e de Lin’an. Soldados pesadamente armados também vigiavam todas as residências dos oficiais da capital. Após a morte de Pang Wei, Huo Wujiu dividiu o exército fora da cidade em várias unidades e as enviou para controlar os condados de Jing do Sul.
Tarde da noite, a paz já havia se estabelecido em todas as direções.
Li Changning preparou o remédio e o enviou para Jiang Suizhou, instruindo-o a descansar mais nos dias seguintes e a não se esforçar demais. Caso contrário, isso seria prejudicial à recuperação de seus ferimentos.
Assim, pouco depois de beber o remédio, Huo Wujiu o fez dormir à força. Ele mesmo esperou até que Jiang Suizhou adormecesse antes de sair diretamente do palácio.
Atualmente, o quarto do imperador ao lado já era uma ruína escura e deserta. Esperando à porta estavam Wei Kai e Meng Qianshan, com os olhos vermelhos e expressão ansiosa.
Ao ver Huo Wujiu sair, Meng Qianshan o saudou.
— General…
Huo Wujiu acenou com a mão e disse:
— Sua Alteza está bem. Entrem e cuidem dele. Movam-se com cuidado. Ele já está dormindo.
Meng Qianshan respondeu afirmativamente, fazendo uma reverência agradecida. Em seguida, virou-se e entrou silenciosamente no salão do palácio.
Wei Kai também deu um passo à frente para cumprimentá-lo.
— General, já preparei sua acomodação. Não fica longe daqui. Permita-me levá-lo até lá.
Huo Wujiu apenas murmurou em resposta e seguiu-o.
Por algum motivo, Wei Kai sentiu que os passos de seu General estavam surpreendentemente leves.
Seria porque ele estava feliz por Sua Alteza Jingwang não ter se ferido gravemente e tudo não ter passado de um susto? Talvez… não, ele provavelmente estava enganado…
No entanto, assim que entrou no palácio, Wei Kai percebeu que sua impressão não era apenas uma ilusão.
As pessoas que serviam no palácio eram todos empregados trazidos da família real e soldados sob o comando de Huo Wujiu. Wei Kai conduziu-o para dentro, explicando onde ficava o salão principal, o quarto e como a Cidade Imperial estava organizada por dentro e por fora, quando notou que seu General estava distraído.
O General caminhava casualmente pelo cômodo e, como se não tivesse ouvido nada, sentou-se no sofá próximo, levantou a mão e serviu-se de uma xícara de chá.
Ao ver isso, Wei Kai acenou com a mão, orientando todos os servos ao redor a se retirarem.
Quando se virou novamente, viu que o General segurava a xícara de chá em uma mão, mas não bebia. Ele ficou imóvel naquela postura, olhando fixamente para a superfície da água, como se estivesse em transe.
Wei Kai franziu a testa.
Será que alguém adulterou o chá e o General percebeu?
Ele se aproximou rapidamente: — General?
Ia perguntar, mas Huo Wujiu ergueu os olhos para ele. Não havia como esconder o sorriso que brilhava em seus olhos; parecia até que toda a sua aura se iluminava. Embora não se movesse nem risse, havia uma alegria inexplicável emanando dele.
Wei Kai ficou boquiaberto.
— General…?
Ele observou enquanto o General colocava a xícara de chá sobre a mesa. Em seguida, ergueu uma perna longa e apoiou-a na borda do sofá. Depois, levantou o braço e curvou os cantos dos lábios.
— O que há de errado com sua reação? Estou morto? — disse ele. — Sorria para mim.
Wei Kai ficou sem palavras, mas apenas respondeu obedientemente com um sorriso.
— General, aconteceu algo bom? — perguntou ele.
Huo Wujiu, no entanto, ergueu uma sobrancelha.
— Como você sabe que aconteceu algo bom?
Wei Kai: — ….
No passado, quando o General estava de bom humor, ele realmente dava umas broncas neles, mas ninguém podia fazer nada a respeito. Era natural para alguém que cresceu sem limites desde a infância.
No entanto, a aparência do General naquele dia era extraordinariamente tranquila.
Então, Wei Kai supôs que algo realmente grandioso havia acontecido.
Com essa conclusão, Wei Kai ficou profundamente surpreso e, num instante, formulou uma suposição um tanto imatura.
— General, — ele começou, —não me diga que você está em um relacionamento com Sua Alteza Jingwang…
Antes mesmo de a palavra “relacionamento” sair da sua boca, ele viu o General sorrir. A mão dele sobre o joelho não descansava honestamente; em vez disso, girava em círculos como o rabo abanando de um cachorro.
Wei Kai não esperava que essa suposição imatura fosse realmente verdadeira.
— Como eu suspeitava… é mesmo sobre Sua Alteza Jingwang…— Ele ficou radiante.
O General estalou a língua e mostrou uma expressão bastante feroz.
— Não é da sua conta,— disse ele. — Se você está tão livre, vá inspecionar o palácio antes da terceira vigília, especialmente a residência dos ministros e aquelas concubinas e eunucos detidos no palácio. Não deixe passar nenhum encrenqueiro.
Wei Kai resmungou discretamente.
— Sim. — respondeu relutante.
Huo Wujiu acenou com a mão e disse: — Saia daqui.
Wei Kai respondeu, xingando mentalmente, e se retirou.
Assim que a porta se fechou, apenas Huo Wujiu permaneceu na sala.
Ele ficou olhando para a vela tremeluzente à sua frente por um instante, e os cantos de sua boca se ergueram involuntariamente.
De repente, ele saltou do sofá e começou a caminhar de um lado para o outro algumas vezes.
O palácio de sete cômodos era tão espaçoso que mal se podia ver o outro lado a partir de onde ele estava, mas Huo Wujiu sentia que a sala era extremamente pequena. Depois de caminhar várias vezes, ele mal conseguia esticar os músculos.
Uma certa emoção percorria seus membros e ossos, fazendo seu espírito se sentir intensamente eufórico, mas ao mesmo tempo sem nenhum jeito de se descarregar.
Ele não conseguia conter a risada, mas isso ainda não resolveu nada. Parecia que ele precisava dar uma boa cavalgada à noite, mas a cidade imperial em que estava não tinha vastos campos abertos. Havia apenas uma série de torres palacianas que alcançavam o céu. Talvez ele só precisasse encontrar uma luta, de preferência com um adversário desafiador, para se sentir satisfeito e exausto. No entanto, ao vasculhar todo o Jing do Sul, parecia não haver ninguém à altura dele.
Ou talvez… o que ele mais precisasse fosse apenas olhar mais uma vez para Jiang Suizhou.
Ele não precisaria fazer mais nada. Apenas olhar para ele, tocá-lo suavemente e vigiar sua cama, e a inquietação que percorria da cabeça aos pés provavelmente desapareceria.
Mas, por outro lado… Li Changning disse que Jiang Suizhou precisava de um bom descanso neste momento.
Ele realmente precisava descansar. A aparência ferida e quase moribunda de hoje ainda permanecia vívida na mente de Huo Wujiu.
Ele também sabia que Jiang Suizhou dormia leve e não podia ser perturbado, então assumiu uma expressão séria e saiu. Mesmo girando pelo quarto como uma fera presa, ainda não ousava se aproximar do quarto dele.
De repente, parou, levantou a cabeça, bebeu o chá que acabara de servir e abriu a porta para sair.
Naquela noite, as velas iluminavam o palácio de Huo Wujiu durante toda a madrugada, mas ninguém ocupava o amplo salão.
Na noite úmida, as estrelas no céu pareciam estar cercadas pelas muralhas quadradas do palácio, e brilhavam silenciosamente durante toda a noite sobre os telhados envernizados.
Mas ninguém sabia que, durante aquela noite inteira, Huo Wujiu ficou sentado sozinho nos degraus de mármore branco em frente à porta de Jiang Suizhou até o amanhecer.
Ele nunca havia contemplado as estrelas assim, nem jamais havia ficado apenas ouvindo silenciosamente a respiração de alguém, o que preenchia seu coração com um calor imenso.
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Capítulo 94
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