Antes de me acusar, me beija

Capítulo 12: Adeus

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🟡 Em breve

Depois de ter passado as últimas 36 horas me desidratando de tanto chorar, ao ponto de ter precisado tomar um soro intravenoso, fui ao local do velório. 

— Meus pêsames, tia, tio.

— Ó, Lian. Você sempre foi um amigo tão bom para nossa filha… — Disse segurando a minha mão.

Eu não sabia se eram apenas palavras vazias, mas no momento eu não me importava.

— Obrigado por vocês terem vindo. — Falou entre soluços se endereçando à Seville também.

Soltando a minha mão só então para limpar as lágrimas, ela fora amparada pelo marido.

— Eu não poderia deixar de vir. Se precisarem de qualquer coisa, é só falar comigo.

— Obrigada, querido. Sinta-se à vontade.

Por escolha dos Müller, o caixão fora velado fechado. 

“Queria ter tido a chance de ver o rosto dela uma última vez…”

Meus olhos estavam inchados e muito vermelhos, e eu me encontrava em um estado entorpecido provavelmente por conta do soro calmante que havia recebido. Era como se eu tivesse me tornado uma concha vazia. Apenas ficava com o olhar desfocado, sentado no fundo do salão. Tentei permanecer invisível, pois não estava no clima para falar com ninguém. O que não foi difícil já que os pais dela choravam copiosamente roubando toda a cena. 

— Acho que do jeito torto deles, eles ainda amavam muito a Trin. 

Dario permaneceu em silêncio ao meu lado.

“Eu queria que os meus pais ao menos fingissem que se importam comigo também…”

Em algum momento durante o velório, vi meus progenitores chegarem. Após prestarem suas homenagens encenando comoção, senti meu sangue ferver. 

“Quanta audácia… Eles sempre odiaram a minha amiga!”

Me obriguei a permanecer imóvel, procurando manter o controle. Logo que se sentaram ao meu lado, minha mãe já começou a destilar o seu veneno.

— Ouvi dizer que ela tava voltando da casa de um homem casado quando-

— Cala a boca. — Falei baixo.

Eu não queria causar uma cena, então cerrei os dentes e os punhos na tentativa de manter o meu tom baixo.

— O que?! — Reclamou.

Percebendo que havia se alterado, se recompôs e continuou a falar em tom mais baixo:

— Como ousa falar assim com a sua mãe?!

— Como ousa você vir fofocar no velório da minha amiga? 

— Sempre soube que essa menina era uma má influência. Olha só, você agindo com um viúvo amargurado! 

— Pelo menos, ela não me vendeu para um desconhecido sem ao menos me avisar com antecedência! 

Senti o Dario ficar tenso ao meu lado, mas o meu inconsciente fez questão de ignorá-lo.

— Tudo o que eu já fiz e faço, é pelo bem da nossa família! 

— Você ao menos me vê como sua família de fato? 

Estava abalado demais para me sentir comovido pelo horror no rosto dela. Apenas continuei.

— Estou mentindo? Algum dos seus amigos sequer sabe da minha existência? 

— Você-

Desviei o meu olhar brevemente em direção ao meu pai. Como sempre, quieto e de cabeça baixa. Era doloroso vê-lo assim. Então, voltei a falar, olhando para a mulher que me deu a luz.

— Por favor, saiam. Não vou permitir que usem o funeral dela, para criar mais conexões. E nem adianta tentar negar, afinal, vocês nem gostavam da Trin e certamente, não vieram aqui para me ver, já que estou casado há quase dois meses e nunca recebi sequer uma única mensagem de vocês, perguntando sobre o meu bem-estar.

— …

Minha mãe não era idiota, ela sabia quando se retirar após perder uma batalha.

— Criança tola… conversamos uma outra hora.

Naquele momento, as lágrimas finalmente ameaçaram cair, só que eu não daria o gostinho de deixar que eles as vissem. Suprimi como sempre havia feito no passado.

Após alguns minutos, Seville também precisou sair para trabalhar. Voltando apenas várias horas depois, à tempo para o enterro.

“Você vai fazer tanta falta…”

Meu marido havia permanecido o tempo todo em silêncio com aquela expressão neutra de costume, até o momento do caixão ser enterrado. Naquele instante ele demonstrou ter ficado intrigado com um bonequinho achatado que eu coloquei, mas não me questionou sobre.

— Você vai comparecer à recepção fúnebre?

— Um buffet de falsidade regado a lágrimas de crocodilo? Dispenso. — Falei em um tom amargurado.

— …

— Só não quero ser incomodado. 

— Ok. Sei de um lugar ótimo. 

 


 

Eu não prestei atenção ao caminho. Quando chegamos, só notei que se tratava de um lugar alto e isolado. Dava para ver as luzes da cidade não muito longe dali. Definitivamente muito bonito e silencioso.

— Eu venho aqui quando preciso de ar puro. 

— É tudo o que eu precisava. Obrigado. 

Disse seriamente, mas, mesmo que a sensação tivesse sido boa. Eu não me sentia no direito de ficar feliz.

“O que eu faço com essa dor no meu peito?”

— O que era aquele negócio que você colocou no caixão? 

Demorei um pouco para responder. Eu não estava no clima para conversar, mas também não achava justo ignorá-lo.

— Um marca-páginas. Foi o primeiro presente que ganhei. 

— O primeiro que ela te deu?

— O primeiro de verdade. Não conta se seus pais pediram para o secretário comprar. 

Dario ficou sem palavras e permaneceu em silêncio por tanto tempo que eu esqueci que ele estava junto e acabei pensando alto:

— Agora eu tô sozinho de novo…

— Eu tô aqui. 

— Ah, desculpa, eu não-

— Vou repetir: Eu tô aqui. Contigo. — Afirmou sério, me fitando profundamente.

Não tinha certeza se entendia o que ele queria dizer com aquilo, então fiquei calado.

— Podemos ter começado de um jeito ruim, mas, saiba que eu tô disposto a fazer este casamento dar certo. 

Não sabia o que responder, apenas tentava assimilar tudo o que havia acontecido entre nós nos últimos dias e o que ele acabara de dizer.

“Ele parece… diferente…”

— Eu vou fazer uma ligação de trabalho, fica à vontade para apreciar a vista pelo tempo que quiser. Quando terminar, estarei no carro. 

— Tudo bem…

Sozinho, finalmente permiti que as lágrimas fluíssem. A lua estava no meio do céu quando finalmente parei de chorar.

— Adeus, Trin. 

 

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Bai Lian nasceu com ambos os sexos e por isso, sempre foi tratado como uma aberração, crescendo negligenciado pelos pais em um internato. Na noite após a sua graduação no ensino médio, ele...

Chapters

  • Volume II
      • Capítulo 25: Impacto
      • Capítulo 00 - Especial de Natal
  • Volume I
      • Capítulo 24: Até breve, caro investidor Fim do arco I (REVISADO)
      • Capítulo 23: Eu já ouvi isso antes REVISADO
      • Capítulo 22: Jantar à luz de velas (Parte NSFW) REVISADO
      • Capítulo 21: Não estava nos planos REVISADO
      • Capítulo 20: Um arco-íris após uma tempestade REVISADO
      • Capítulo 19: Trindade REVISADO
      • Capítulo 18: Mau-humor REVISADO
      • Capítulo 17: Detalhes desnecessários REVISADO
      • Capítulo 16: Meu segundo amigo REVISADO
      • Capítulo 15: MR. Sherlock Holmes REVISADO
      • Capítulo 14: Meu coração pulou uma batida (Parte NSFW) REVISADO
      • Capítulo 13: Hora de seguir em frente REVISADO
      • Capítulo 12: Adeus REVISADO
      • Capítulo 11: Vi esses poemas e pensei em você REVISADO
      • Capítulo 10: Surreal (NSFW) REVISADO
      • Capítulo 9: 1.000ºC (NSFW) REVISADO
      • Capítulo 8: Isso não é um calmante REVISADO
      • Capítulo 7: Remédio para relaxar REVISADO
      • Capítulo 6: O que eu te disse aquele dia? REVISADO
      • Capítulo 5: Agora você me pertence REVISADO
      • Capítulo 4: Tour pela propriedade REVISADO
      • Capítulo 3: Para de apertar tanto (NSFW *aviso de gatilho*) REVISADO
      • Capítulo 2: Você sabe de alguma coisa sobre...? REVISADO
      • Capítulo 1: Coloca um sorriso nessa sua cara REVISADO

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