Capítulo 75 - Viagem - 03

24 de agosto, terça-feira, 12h45

O avião pousou no Aeroporto de Chiang Mai dez minutos antes do previsto.

Ye Huairui levou quase quarenta minutos para concluir os procedimentos de imigração para o visto na chegada. Em seguida, saiu do aeroporto pela área reservada para turistas estrangeiros, onde o motorista que ele havia reservado com antecedência já o aguardava, segurando uma placa com seu nome.

Ye Huairui seguiu o falante motorista chinês até o estacionamento.

O motorista, falando fluentemente no dialeto de Jincheng, perguntou se eles deveriam ir diretamente para a fazenda no endereço que ele havia fornecido.

Inicialmente, Ye Huairui queria concordar, mas era a hora mais quente do dia e ele estava com sede e fome depois de sua jornada matinal. Então, ele decidiu pedir ao motorista que o levasse a um lugar onde pudesse comer primeiro.

O motorista entusiasmado não se importou nem um pouco com a demora. Em vez disso, recomendou com entusiasmo vários restaurantes que considerou excelentes, abordando tudo, desde especialidades a sabores e preços, falando tão rápido e fluentemente que lembrava a clássica recitação rápida do cardápio.

“Certo, então vamos comer arroz frito tailandês.”

Ye Huairui não prestou muita atenção ao que o motorista dizia e não estava com vontade de saborear uma culinária exótica. Ele apenas escolheu algo prático e rápido para comer.

O motorista então levou Ye Huairui até a entrada do restaurante, concordou em o encontrar lá em uma hora e foi fazer algumas compras sozinho.

Enquanto esperava que sua refeição fosse servida, Ye Huairui ligou para o Policial Pob para o informar sobre sua identidade e o propósito de sua visita.

Pelo som de sua voz, o Policial Pob parecia ser um siamês nativo, provavelmente na faixa dos quarenta e poucos anos, com uma voz alta e áspera.

O mandarim do Policial Pob era bem ruim; além de “olá” e “bem-vindo”, ele não conseguia dizer muito mais.

Entretanto, o Policial Pob falava inglês com um sotaque forte, e Ye Huairui, que havia estudado na Pensilvânia, falava inglês americano fluente e padrão, tornando a comunicação deles relativamente tranquila.

O Policial Pob estava muito entusiasmado e não se importava que Ye Huairui causasse problemas em sua jurisdição.

Depois de algumas trocas educadas, o Policial Pob disse a Ye Huairui que o poderia chamar a qualquer momento se precisasse de ajuda.

Naquele momento, o arroz frito de Ye Huairui foi servido.

Ele encerrou a ligação e, imerso em pensamentos, terminou sua primeira refeição no Sião. Depois de pagar a conta, saiu para encontrar o motorista, que acabara de voltar de seu passeio, e pediu que o levasse até a fazenda.

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A fazenda que a ex-mulher de Xie Taiping, Du Juan, havia comprado ficava nos arredores de Chiang Mai. Após o trajeto, o motorista levou cerca de uma hora para chegar lá.

Finalmente, o carro passou por uma longa cerca e parou em frente a um portão de ferro.

“Fazenda Bangte.”

O motorista se virou e sorriu: “Sr. Ye, o senhor chegou ao seu destino.”

Ye Huairui pagou a corrida e deu uma gorjeta generosa ao motorista por seu serviço entusiasmado e paciente.

De acordo com a etiqueta social, Ye Huairui deveria ter ligado para a fazenda primeiro para agendar uma visita.

Entretanto, com base nas informações fornecidas pelo Policial Pob, Ye Huairui ligou para a fazenda duas vezes, mas não obteve resposta, então ele não teve escolha a não ser a visitar diretamente.

Ele parou em frente ao portão de ferro e tocou a campainha. Depois de uma longa espera, uma mulher de quarenta e poucos anos, que parecia uma empregada doméstica, atendeu.

Ye Huairui explicou seu propósito em inglês.

A governanta parecia ser malaia. Ela entendia inglês, mas falava mal. Ao ouvir que Ye Huairui queria visitar Jaa, fez um gesto para indicar que a Srta. Jaa tinha um convidado, mas que ela poderia a levar para dentro para esperar.

Então, Ye Huairui seguiu a governanta até a fazenda.

Eles caminharam por uma estrada de terra misturada com concreto e cascalho por cinco minutos inteiros antes de verem um prédio de madeira de dois andares com um toque distinto de casa de fazenda.

A casa de madeira ocupava uma área considerável, mas sua aparência simples e cor opaca não transmitiam nenhuma impressão de ‘luxo’. Parecia bastante antiga, com manchas visíveis no telhado e nas paredes.

A governanta não bateu. Ela simplesmente empurrou a porta de madeira.

Antes que ela pudesse falar, Ye Huairui ouviu o som de uma discussão vindo de dentro.

As pessoas que discutiam falavam chinês, ou mais especificamente, um dialeto da Província G.

Como a pronúncia era muito parecida com o dialeto de Jincheng, Ye Huairui conseguia entender se ouvisse com atenção.

“Eu já disse, esta fazenda não está à venda!”

A voz de uma jovem garota gritava, e seu tom era tão agudo que até falhou.

“Não importa o que você diga, não está à venda! Esta é a propriedade da nossa família!”

“Não fique tão nervoso, Jia’er.”

Uma voz de homem de meia-idade disse:

“Não estamos fazendo isso para o seu próprio bem?”

Então várias pessoas intervieram.

“Isso mesmo, podemos discutir isso mais a fundo!”

“Exatamente, não precisa ter pressa!”

Ye Huairui não ouviu mais nada.

Ele deu um passo largo, cruzou a soleira e entrou na casa de madeira.

A governanta o seguiu para dentro.

O sofá da sala estava lotado de pessoas. Ao ouvir os passos de Ye Huairui e da governanta, todos viraram a cabeça.

Embora a governanta não entendesse o dialeto da Província G, ela sabia claramente o propósito daqueles convidados e entendia que eles não eram bem-vindos pela jovem.

Então, ela falou primeiro, dirigindo-se em voz alta à única jovem na sala de estar, em inglês:

“Jaa.”

A garota chamada Jaa se levantou imediatamente.

“Meu amigo está aqui!”

A garota correu até Ye Huairui, sem nem mesmo perguntar sua identidade, e colocou o braço em volta dele.

“Temos outras coisas para fazer, então, tios, por favor, saiam agora!”

Ela emitiu, sem cerimônia, uma ordem de despejo para os outros.

Os homens de meia idade ficaram todos surpresos com essa reviravolta repentina.

Todos encararam o jovem que aparecera de repente com uma mala, com expressões que misturavam espanto, confusão, choque e dúvida. Cada um parecia querer abrir um buraco em Ye Huairui com o olhar.

“Quem… quem exatamente é você?”

Um homem de meia idade expressou a pergunta que estava na mente de todos.

Ye Huairui: “…”

Ele tinha uma noção aproximada da situação atual.

Independentemente de quem fossem esses supostos ‘tios’, estava claro que eram pessoas de quem Jaa ansiava por se livrar. Portanto, ele deveria ajudar a garota e mandar embora rapidamente aqueles hóspedes indesejados.

“Sim, sou amigo de Jia’er.”

Ye Huairui falava em mandarim perfeitamente enunciado, exalando um ar de confiança e profissionalismo. Ele parecia um cavalheiro distinto, mesmo com a camisa branca mais simples e calças casuais, fazendo com que a sala cheia de homens de meia-idade, baixos, acima do peso e, em sua maioria, calvos, parecesse bastante comum em comparação.

“É isso mesmo, ele é meu amigo!”

Ao ver como Ye Huairui tocava bem, Jaa ficou radiante. Ela imediatamente o abraçou com força, usando a linguagem corporal para enfatizar a relação ‘próxima’ entre eles, e enfatizou a palavra ‘amigo’ com mais peso e intensidade. “Nós realmente temos outras coisas para fazer, então, por favor, vão embora!”

Os homens de meia idade trocaram olhares.

Com um estranho de identidade e origem desconhecidas presente, eles não puderam dizer muito mais e tiveram que ir embora irritados.

“De qualquer forma, Jia’er, pense bem nisso.”

Pouco antes de partir, um homem, ainda não disposto a desistir, virou-se para Jaa e disse:

“Afinal, você é apenas uma garota…”

“Chega, eu sei o que estou fazendo!”

Jaa, extremamente impaciente, interrompeu rudemente o homem.

Ela então olhou para Ye Huairui e acrescentou deliberadamente: “Além disso, eu não estou mais ‘sozinha’!”

Os homens de meia-idade ficaram com o rosto preto ao ouvir isso, olhando para Ye Huairui como se ele fosse um inimigo que lhes devia oito milhões e se recusava a pagar.

Mas não havia mais nada que pudessem fazer. Só restavam lançar alguns olhares ferozes para Ye Huairui antes de, relutantemente, seguirem a governanta porta afora.

Jaa fechou com força a porta da frente da casa de madeira atrás deles.

“Ufa…”

A menina soltou um longo suspiro de alívio.

Então ela olhou para cima, com os olhos cautelosos enquanto encarava Ye Huairui, e perguntou ferozmente:

“Então, quem exatamente é você!?”

Ye Huairui: “…”

Agora ele tinha experimentado o que significava mudar de atitude tão rapidamente quanto virar uma página.

Há pouco, ela naturalmente se agarrava ao braço dele quando precisava. Agora que não estava mais ali, imediatamente se tornou hostil e lhe lançou uma pergunta.

“Ahem.”

Ye Huairui pigarreou e disse a Jaa:

“Meu nome é Ye Huairui. Sou patologista forense de Jincheng, na China.”

Enquanto falava, ele abriu sua maleta, tirou um cartão de visita e o entregou à moça:

“Estou aqui para lhe fazer algumas perguntas.”

Os olhos de Jaa se arregalaram.

Como descendente de chineses de Jincheng, Jaa tinha seu próprio nome chinês, Xie Jia’er. Ela falava mandarim e o dialeto local, embora com um sotaque marcante. Além disso, reconhecia cerca de dois mil caracteres chineses tradicionais, embora os escrever fosse bastante difícil para ela.

No geral, Jia’er conseguia entender basicamente o cartão de visitas de Ye Huairui.

“Você é um patologista forense? Um patologista forense de Jincheng, na China?”

Seus olhos se arregalaram e seu olhar se alternava entre o cartão de visita e o rosto de Ye Huairui. “Este é o patologista forense que eu conheço?”

Ye Huairui assentiu.

A expressão de Jia’er mudou de surpresa para choque, seu rosto cheio de descrença.

A jovem ainda não tinha dezoito anos, era esbelta, tinha membros longos e pele bronzeada até um tom saudável de trigo pelo sol tropical. Tinha uma aparência delicada, exalando a vitalidade e o brilho únicos de uma garota da sua idade.

Nesse momento, seus olhos redondos e amendoados estavam bem abertos, e lágrimas de repente brotaram em seus olhos.

“Você… você está aqui para investigar o assunto da minha família?”

O mandarim de Jia’er era bem fraco, e ela tropeçava nas palavras, então mudou para o dialeto de Jincheng, que ela falava com mais fluência.

“Quer dizer, você está aqui para investigar as mortes na minha família, certo?”

Ye Huairui ficou secretamente surpreso.

Ele não esperava que Jia’er tocasse nesse assunto tão diretamente.

Mas como ela era tão direta, Ye Huairui não precisava se preocupar em como abordar o assunto.

Ele acenou com a cabeça para a garota: “Sim, quero lhe perguntar sobre as circunstâncias que cercam a morte de seus familiares.”

Os lábios de Jia’er tremeram, e as lágrimas que brotavam em seus olhos começaram a cair.

“Pode… ainda pode ser investigado?”

Ela perguntou com a voz trêmula:

“Isso ainda pode ser investigado?”