Capítulo 2
Em algum lugar na imensidão do vazio, uma tela azul apareceu à frente de uma grande sombra feminina, que se mantinha em silêncio, observando as mensagens enviadas à sua frente.
[Devido a reencarnação prematura, gostaríamos de saber se a administradora deseja introduzir o mundo aos usuários 000060 e 000075 a Iwasakiyama]
Após ler a mensagem que aparecia diante de si, a sombra enfim falou com uma voz calma e suave, refletindo até mesmo uma certa pontada de felicidade ao ler as palavras enviadas pelo sistema: — Certo, diga-me, Niren, entre o usuário 000060 e o 000075, qual deles está mais apto para um diálogo no momento? Afinal, a morte de ambos ocorreu de uma forma certamente traumática.
O sistema, então nomeado como Niren, pareceu processar as perguntas enviadas pela voz feminina em meio ao vazio.
[…Segundo uma sequência de análises, o usuário mais apto para um diálogo neste momento seria o usuário 000060, nomeado nesta encarnação como Toyosaki Ryo. Segundo as pesquisas feitas pelo sistema Niren, o usuário 000060 tem uma experiência maior em lidar com eventos de extremo trauma.]
Ouvindo então a resposta dada pelo sistema, a sombra pensativa pareceu se animar: — Então ele… certo. — A sombra então tocou a tela à sua frente, mudando-a para uma espécie de ficha de identidade, com foto e informações sobre o garoto. — Niren, envie primeiro o usuário 000075 a Iwasakiyama e mande o usuário 000060 para mim.
[O usuário 000075 está sendo realocado em seu corpo pré-preparado… enviando o usuário 000060 para a presença da administradora.]
Quando o sistema enfim se fechou, a sombra e a voz da mulher desapareceram em conjunto, como se tivessem se misturado com o vazio que seguia naquele local. Em poucos segundos, o local foi rapidamente iluminado por um clarão vindo de cima, que se fechou logo após Ryo cair desajeitadamente, batendo contra o chão que soou como se ele tivesse caído na água de um rio, espalhando diversas gotas em diferentes direções.
Ryo então se apoiou no chão após cair, levantando-se aos poucos. Ele ofegava enquanto sentia lágrimas percorrerem seu rosto. Ele havia morrido, não era um sonho; ele e Leonardo haviam morrido, e ele havia dito palavras tão cruéis para ele. Olhando em volta, o jovem não viu nada além do escuro do vazio e o som da água se movendo contra sua pele, que continuava estranhamente seca. Esse cenário fez com que ele pensasse consigo mesmo: Seria esta sua penitência por ter dito palavras tão cruéis para quem ama e logo depois morrer em seus braços como um hipócrita? Bem, provavelmente seria. Afinal, ele olhou para todos os lados sem ver ao menos um sinal de Leonardo.
— Bom, então essa é a punição que os deuses escolheram para mim? O vazio solitário? — O garoto perguntou em alto e bom som, sem saber se receberia uma resposta de alguém. A única coisa que sabia era que seu corpo doía, e que Leonardo não estava ali, e para ele, isso já era doloroso o bastante. — Se ao menos… eu pudesse apenas vê-lo.
— Punição? Ah, não, não entenda mal o que é este local. Você não está sendo punido, Ryo. Eu apenas o trouxe aqui pois desejo conhecê-lo um pouco mais. — A voz feminina voltou a falar após ouvir tudo que Ryo tinha dito, o que fez o jovem se assustar enquanto a ouvia. Antes que pudesse dizer algo, a voz continuou a falar: — Além disso, não se preocupe, logo você vai ver aquele que sua alma tanto deseja.
A cada fala, aquela voz parecia se aproximar mais e mais, até que, na perspectiva de Ryo, já estivesse basicamente ao seu lado, o que o fez reagir instintivamente e se virar, socando o vazio que o rodeava. A voz ao fundo riu, e em resposta, o garoto disse: — Quem está aí?!
O garoto olhou ao redor sem conseguir ver nada; havia só mais do mesmo vazio inexplicável que o cercava. Mas, então, a voz voltou a falar: — Ai! Isso teria doído se tivesse me acertado. Então, eu deveria me apresentar? Talvez sim, mas seria tão sem graça se eu facilitasse tudo para vocês dois. Bem, bem, vam…— a voz estava prestes a continuar a falar quando Ryo a cortou.
— Você disse que logo poderei vê-lo… então me mande para onde ele está! Quero vê-lo agora! — Ryo exigiu seriamente, ainda procurando ao seu redor pela dona da voz que ouvia naquele vazio, mas por mais que procurasse, ele não a encontrava.
— Se acalme. Vamos conversar primeiro, depois disso, o mandarei direto para onde ele está, tudo bem para você? — A voz respondeu de uma maneira calma e até mesmo alegre, e por mais que aquilo fosse um tanto quanto estranho, Ryo não estava em posição de opinar em nada. Naquele momento, o garoto respirou fundo e se sentou naquele chão molhado que se assemelhava à superfície de um lago que se estendia por todo o horizonte.
— Muito bem… me diga o que quer… e então vou pedir para que me deixe ir até seja lá onde tenham mandado aquele idiota, mas não demore muito.
Aquela voz riu e disse: — Pois bem, então por onde devo começar? Bem, vamos começar do fim, meu caro senhor, Toyosaki. Você e seu amigo foram vítimas de um erro… uma morte não prevista em seu mundo. — A voz suspirou antes de continuar: “Basicamente, aquela situação de morte em que vocês dois se encontraram não estava prevista, e buscando uma maneira de recompensá-los por isso, eu optei por dar uma nova chance a vocês.
Ouvindo a explicação dada pela voz, Ryo ficou um pouco confuso. Ele perguntou: —Uma nova chance, você diz… quer dizer que vai nos reviver?
— Exatamente, mas como foi algo feito às pressas, eu tive que realocar vocês de mundo. O que quero dizer é que, no momento atual, o mundo em que vocês estão não é o que conhecem.
Enquanto aquela voz falava, o ambiente que era escuro e sem vida começou a ganhar forma e cor, mostrando diante de Ryo dois planetas. Um era a própria Terra; o outro era quase igual, mas diferente em vários aspectos: uma distribuição de continentes diferente, até mesmo alguns países, antes divididos pelos mares, formando apenas um agora. Então, aquela voz voltou a falar: — Meu caro, o que você vê à sua frente são dois mundos diferentes. Um deles você já conhece bem, sua antiga casa e lar, o planeta Terra, que é o mundo 8976. Ao lado dela, está o Planeta Alpha, que leva o mesmo título de seu mundo pelos seus habitantes como Terra e atualmente é o 9555° mundo criado e o local onde suas almas residem agora.
O garoto estava prestes a falar algo quando aquela voz o interrompeu antes mesmo que ele pudesse dar algum indício de que iria dizer alguma coisa: — E, antes que me pergunte sobre o que tem demais nisso tudo, eu gostaria de dizer o óbvio. O principal ponto disso tudo, claramente, é que no mundo Alpha, diferentemente do seu antigo lar, a magia, os monstros, anjos, demônios e seja lá o que mais vocês acreditam, todos eles são reais, o que torna esse mundo muito mais complicado de se sobreviver ou, como eu prefiro dizer, as coisas aqui são mais divertidas.
A voz suspirou, recuperando um pouco do fôlego pela explicação, e continuou: — Claro que seus novos corpos também são compatíveis com a magia desse mundo, porque… bem, isso não é relevante agora. O que quero dizer é que, devido a tudo isso ocorrer antes do tempo, você e seu amigo não fazem totalmente parte deste mundo.
A voz bocejou e aparentou estar mais próxima de Ryo, quase como se estivesse sussurrando em seu ouvido, e então diz: — Acho que já deve imaginar que isso é um problema, mas não se preocupe, claro que tem um jeito de resolver isso. Para isso, vocês s—
*Ding Dong*
— Oh, parece que nosso tempo acabou. Sinto muito, senhor Toyosaki, acho que perdi a noção do tempo com a nossa conversa. Vamos, está na hora de acordar; você poderá encontrar seu companheiro agora. — Quando a voz terminou sua última frase, o rapaz sentiu seu corpo ficando dormente e pesado, como se caísse em um sono profundo.
Quando abriu os olhos novamente, com a visão meio embaçada, ele conseguiu ver alguém deitado no chão ao seu lado…
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Capítulo 2
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Entre Espadas
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