Capítulo 22
Quando, por fim, começaram a sua viagem em cima do grande tigre em direção ao décimo terceiro distrito, inicialmente, sua capacidade de locomoção estava exatamente como o esperado. Conseguiram viajar durante três dias seguidos a uma velocidade descomunal, passando do segundo distrito para o quarto em apenas três dias e três noites.
E somente quando estavam na divisa do terceiro distrito com o quarto, os dois pararam para descansar e se alimentar com algumas das rações que Huo Liming havia preparado para eles. Dividiam-se em turnos para descansar nas árvores, nunca deixando que ambos dormissem ao mesmo tempo, afinal, uma floresta ao anoitecer era o local ideal para youkais malignos se espreitarem e atacarem viajantes desavisados.
Mas, estranhamente, por mais que estivessem cansados, nenhum dos dois conseguia sentir sono para enfim decidirem quem adormeceria primeiro. Devido a isso, apenas o silêncio se instalou ao redor da fogueira que haviam acendido no chão, mais longe das árvores, para poderem comer e se aquecer minimamente. Em meio a todo o silêncio, Akiko decidiu enfim quebrá-lo.
— Leonardo — Ela chamou por ele enquanto olhava para as chamas queimando à sua frente.
— Sim, Akiko? Se quiser ir dormir, pode ir. Estou sem sono. — Leonardo respondeu quase de forma automática, enquanto se distraía escrevendo em um caderno de couro que havia ganhado de Huo Liming logo antes de sair. Afinal, o que ele usava anteriormente havia acabado suas folhas, e ele o havia deixado para trás.
— Não é isso. Na verdade, eu gostaria de te perguntar: o que você tanto escreve nesses cadernos? Logo após começarmos o treinamento para fazer o que estamos indo fazer… você está sempre escrevendo. A mestra me disse que você acabou com pelo menos cinco cadernos. — Akiko perguntou, enquanto continua olhando para o fogo a queimar à sua frente, como se estivesse cada vez mais envolvida na dança das chamas.
— Ah, isso é vergonhoso, esqueça. — O garoto respondeu rapidamente, ficando até meio corado após receber essa pergunta. Ele não poderia simplesmente falar que estava escrevendo diários sobre sua vida para Ryo; isso seria constrangedor. Ele pareceria uma menininha do quarto ano escrevendo sobre seu namoradinho da escola, embora, atualmente, ele não estivesse muito longe disso.
— O quê? Leonardo, eu estou viajando com você para trair meu país pelo seu namorado. Acho que eu deveria pelo menos saber algo que o envergonhe em compensação, não? — Ouvindo o argumento de Akiko, Leonardo não podia negar que era um bom argumento, e isso era até mesmo um pouco frustrante, levando-o a pensar:
“Fácil demais falar, o que eu deveria dizer? Estou escrevendo sobre meu namorado, que além disso é seu irmão de outro mundo e o nome dele também não é Akiko, é Kaede. Se eu dissesse isso, você me chamaria de louco.”
Mas, em vez de falar o que realmente estava pensando, ele apenas sorriu e respondeu calmamente — Claro, Kiko. Se deseja saber, é apenas uma espécie de diário. Coloco alguns pensamentos meus dos quais não costumo falar. Se quiser ver, fique à vontade. Você não vai entender mesmo.
— Por que não vou entender? — Akiko perguntou com certa curiosidade.
“Porque você não sabe português.” Leonardo enfim sorriu para a garota e então se levantou, guardando o caderno. “Vá dormir, Akiko. Eu vou dar uma olhada em volta, devo voltar em… meia hora.”
“Tá bom, se você diz. Aproveite o passeio, mas sabe, você deveria me ensinar sua língua materna algum dia.” Akiko disse enquanto se levantava e apagava o fogo com uma garrafa de água.
“Quem sabe um dia.” Leonardo disse rindo e então adentrou a floresta, deixando a garota para trás para que descansasse.
Quando, por fim, parou de andar, Leonardo olhou para trás para ter certeza de que já estava longe do local onde ele e Akiko estavam descansando. Somente quando teve essa certeza, ele se sentou no chão e moveu sua mão para frente. “Acessar sistema.”
Assim que pronunciou tais palavras, uma janela azulada meio transparente apareceu à sua frente. Na verdade, não era a primeira vez que Leonardo fazia isso nesses cinco anos; ele havia aprendido a acessar o sistema há cerca de dois anos, em uma de suas tentativas de descobrir mais sobre este mundo.
Foi por causa deste auxílio do sistema que o jovem conseguiu algumas informações, por exemplo, de que ele e Ryo haviam sido levados para uma espécie de universo literário de uma história chamada “O Lírio Vermelho e o Dragão Azul do Leste”, a qual ele tem certeza de que já viu na estante de Ryo entre as novels do garoto.
Além disso, ele também conseguiu acessar um painel de missões que lhe foram dadas, e entre elas estava a que mais chamava a atenção de Leonardo: a missão que o juntaria a Ryo e recuperaria as memórias de Akiko. Ele possuía apenas mais onze meses para conseguir concluir tal missão e, de maneira sincera, ele tinha medo de que mesmo assim não fosse suficiente.
Mas ele não poderia se deixar abalar por isso, não agora que havia treinado por tanto tempo e aprendido tanto sobre este mundo. Ele tinha que conseguir, e ele iria. Com isso em mente, Leonardo continuou a olhar para a janela aberta do sistema, onde uma notificação, à qual já estava acostumado a encarar, parecia perfurá-lo até a alma.
[O usuário 000075 deseja repetir o Quiz de conhecimentos gerais da obra “O Lírio e o Dragão do Leste”?
Tentativas restantes: 01/10
Quantidade de perguntas: 25
Quantidade de erros aceitados: 05
Recompensa escolhida pelo usuário: Acesso a localização do usuário 000060, intitulado como Toyosaki Ryo, e a reativação rápida do sistema do usuário, passando a ser reativado em três meses!
Iniciar Quiz?
(Sim) (Não)]
Leonardo, após um certo tempo encarando a tela, moveu seu dedo lentamente e pressionou o ‘sim’ à sua frente. No mesmo instante, uma nova janela apareceu.
[1° Pergunta: Quem é a personagem protagonista do romance O Lírio de o Dragão do Leste?
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- A- Furukawa Masaru
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- B- Sakuma Kaoru
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- C- Katsura Gonkuro
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- D- Jo Shihei]
De maneira quase automática, Leonardo moveu sua mão para a primeira opção, como se aos poucos tivesse decorado as respostas de cada teste. E assim seguiu durante diversas perguntas.
[15° Pergunta: Onde a protagonista se encontrou com seu par romântico pela primeira vez na história?
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- A – No Palácio Imperial
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- B – No Templo da Família Furukawa
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- C – No caminho para o além
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- D – Acorrentado sobre um lago subterrâneo com seu peito perfurado por uma lança.]
E mais uma vez, Leonardo respondia rapidamente, mas agora com um pouco de hesitação. Ele já havia errado essa mesma pergunta duas vezes antes.
“Vejamos, não havia sido no palácio… nem no templo… e com o par romântico sendo um dragão, talvez ele estivesse preso. É isso, letra D”, ele disse, marcando com um sorriso no rosto. Das quinze perguntas que havia respondido até o momento, todas estavam certas.
E assim ele continuou, em uma sequência de acertos que nem mesmo ele conseguia acreditar. Até agora, ele havia respondido vinte e quatro das vinte e cinco questões e havia errado um total de três perguntas. Ele havia conseguido passar, mas, mesmo sabendo disso, ele não iria responder qualquer coisa na última pergunta. Então, logo olhou para a pergunta de número vinte e cinco para lê-la.
[25° Pergunta: Quem é o vilão da obra “O Lírio e o Dragão do Leste?”
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- A – X30DAANDPO3 ERRO.
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- B – X30DAANDPO3 ERRO.
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- C – X30DAANDPO3 ERRO.
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- D – X30DAANDPO3 ERRO.]
Vendo a maneira como a pergunta parecia bugar em sua resposta, Leonardo hesitou por um momento, olhando para a tela do sistema ainda brilhando diante de si. Mesmo assim, ele não poderia simplesmente parar agora, e, tendo noção disso, ele apenas clicou na primeira opção que seus olhos encontraram. Instantaneamente, uma nova notificação do sistema surgiu à sua frente.
[Parabéns ao Usuário 000075 por completar o Quiz sobre a novel. Suas recompensas estão sendo carregadas. O sistema do usuário 000060 está iniciando a aceleração do religamento. A autorização para obter a localização constante do usuário 000060 foi concedida. Agora, sempre que quiser, o sistema lhe fornecerá um mapa indicando onde Toyosaki Ryo está e a quantos quilômetros ele se encontra. Além disso, um bônus lhe foi concedido por uma moderadora. Além da localização, o usuário poderá saber…
Deseja ver o mapa neste momento, Usuário 000075?]
Vendo que finalmente havia conseguido completar o quiz que vinha lhe tirando noites de sono, Leonardo não pôde deixar de comemorar em silêncio para si mesmo por ter conseguido em sua última tentativa. Ao ver a notificação dada pelo sistema, ele automaticamente disse: “Sim.”
Instantaneamente após falar, o coração de Leonardo pareceu parar. Mesmo que não fosse vê-lo, ele pelo menos poderia saber onde Ryo estava e se estava bem. Isso era… isso era bom.
Quando o mapa finalmente se abriu, os olhos de Leonardo se fixaram em um ponto azul que estava exatamente onde ele estava e em um ponto vermelho, que deveria ser Ryo. Era lá onde ele estava, ao sul, na direção do quinto distrito, para onde estavam indo. Era tão estranho, por que ele parecia tão perto? Ele se perguntou, prestes a olhar a quantos quilômetros ele estava de distância. Seus olhos foram inundados com um alerta em amarelo enviado pelo sistema acima do mapa.
[O usuário 000060 se encontra gravemente ferido!]
Ao ver a notificação, Leonardo levantou-se de maneira desajeitada, como se estivesse quase desesperado. Em meio ao silêncio da floresta, o garoto ouviu ao longe um estrondo, como de uma explosão, seguido pelo som da água caindo.
“Ryo?!”
O garoto gritou quando começou a correr de maneira desenfreada na direção de onde havia ouvido a explosão. Ele não sabia o quão longe poderia ser, mas sabia que estava nas redondezas; afinal, ele havia conseguido ouvir a explosão. Talvez, só talvez, pudesse ser ele, e se fosse… seja o que for que o machucou, se arrependeria.
À medida que corria, os olhos de Leonardo ficaram vermelhos. Ele mordeu seu braço, infringindo um ferimento em si próprio, e o sangue que de lá saía começava a se solidificar em sua mão esquerda no formato de uma katana. Fazia muito tempo que ele não via Ryo, mas se fosse ele ali, dessa vez, pelo menos dessa vez, ele teria força o bastante para defendê-lo.
Quando Leonardo finalmente chegou à localização onde o ponto vermelho estava apontando no mapa, ele se encontrou na beira de um enorme rio. Não, a água se estendia muito mais longe que isso, talvez um pântano. Chegando ao local, ele olhou para todos os lados tentando avistar quem estava procurando, mas sem sucesso, o que fez parecer que tudo estava perdido. Mas, antes que pudesse perder completamente suas esperanças, as explosões na água voltaram a acontecer.
Uma explosão seguida da outra em direção à margem, mas estava escuro demais para que ele conseguisse ver alguém lá dentro. O que ele deveria fazer? Ele se perguntou, mas antes mesmo que tivesse uma resposta para essa pergunta, mais uma explosão veio, dessa vez muito maior, levantando mais água. E, em meio à água, havia um homem de cabelos pretos longos, kimono azul escuro com nuvens desenhadas. Ele estava um pouco diferente, mas isso era o suficiente para reconhecê-lo: era Ryo.
E, instantaneamente, quando o viu sendo jogado, o garoto pulou em sua direção e o pegou em seus braços ainda no ar. Com um sorriso e lágrimas no rosto, Leonardo disse: “Enfim te encontrei. Eu demorei muito, meu amor. Me perdoe.”
O garoto em seus braços, por sua vez, estava confuso, com a visão embaçada e dor por todo o seu corpo. Ele apenas falou de maneira fraca enquanto tossia: “Q-quem é você?”
Leonardo, por sua vez, pareceu não se importar muito com a pergunta enquanto caía juntamente com Ryo na água novamente. Ele pulou mais uma vez em direção à terra firme, sem se importar com o que estivesse na água, e então respondeu: “Não consegue me reconhecer? Não o julgo, está machucado, mas caso mesmo assim não me reconheça posteriormente, pode se dizer que sou seu noivo.”
Ryo, ainda sem forças para se mexer, apenas apoiou sua cabeça contra o peito de Leonardo, buscando ar em seus pulmões, e falou devagar: “Noivo…? Eu não estou noivo, nem possuo um…”
Leonardo apenas riu enquanto continuava a chorar e a mantê-lo em seus braços, caminhando até se sentar embaixo de uma árvore sem soltá-lo. “Claro que possui, meu Ryo. Eu sou seu noivo, você apenas não se lembra… Mas não fale tanto, meu amor. Deixe-me cuidar de seus ferimentos.”
“Mas… como… como posso estar noivo e não reconhecer meu noivo? Além disso, noivos usam anéis, eu não uso um.” Ryo continuava a falar fracamente. Por mais que não reconhecesse a voz do homem com quem falava, ele, por algum motivo, queria acreditar naquelas palavras. Ele estava com dor demais para pensar logicamente.
“Então você quer um anel? Posso lhe dar um agora, mas deve me prometer que não vai tirá-lo e que, quando nos vermos, vai se lembrar de quem sou e me aceitar como seu noivo… certo, Toyo?” Leonardo falou de maneira carinhosa, passando sua mão na bochecha de Ryo e, enfim, descendo-a até seu peito, sentindo o sangue se acumulando em sua mão.
Ryo grunhiu de dor com o toque e segurou o braço de Leonardo. “Eu… eu quero…, mas deve pedir a minha mão à minha mestra…” Ryo continuava a falar, até com certa timidez em sua voz. Ele estava realmente aceitando um noivado com alguém que nem sequer conseguia ver. Era tão errado, mas seu coração parecia lhe dizer que ele deveria fazer isso.
“Certo… farei isso. Agora irei curar suas feridas. Fique acordado e me conte, como se machucou assim?” Leonardo disse enquanto uma luz prateada surgia de sua mão sobre o peito de Ryo, parando o sangramento aos poucos e lentamente fechando o ferimento.
“Eu estava… a caminho do segundo distrito, quando um grupo de youkais malignos me interceptou… Eram muitos, até para mim. Eu consegui me livrar da maioria e despistá-los ao longo dos dias, mas, por algum motivo… eles conseguiram me incapacitar de usar minha energia espiritual e utilizar o Uroborosu… Eles me feriram e então fugi até… até aqui.” Ryo continuava a falar entre gemidos de dor, sentindo sua carne e sua pele se reconstituírem aos poucos. Era um processo lento e doloroso, mas ele continuou a falar: “Qual… qual o seu nome?”
“Realmente não se lembra?” Leonardo perguntou com certo pesar em sua voz.
“Eu… sinto muito, não me lembro… mas sinto que deveria… eu sinto que quero me lembrar”, o jovem falava ainda se agarrando ao braço de Leonardo, como se aquele breve contato fosse livrá-lo da dor.
“Se não se lembra, não vou te dizer. Você deve se lembrar sozinho, mas mantenha em mente que aceitou se casar comigo. Não vá beijar ou amar outro homem, entendeu?!” Leonardo disse, ainda tentando manter o ar descontraído, mas ao mesmo tempo sério em sua voz.
“Você fala como se fosse desaparecer assim que eu dormir… não vá…” Ryo dizia com a visão ainda embaçada, mas estendendo a mão que estava no braço de Leonardo até seu rosto, tocando-o e acariciando-o. “Por que está chorando? Eu o fiz chorar?”
“Fez, então assuma sua responsabilidade e cuide de mim quando eu estiver chorando,” Leonardo disse com um sorriso no rosto, utilizando a mão livre para colocar a cabeça de Ryo em seu ombro e segurar a mão dele que estava em seu rosto.
“Eu vou assumir… então não vá embora quando eu adormecer… por favor.” Ryo disse cada vez mais baixo. Ele estava prestes a dormir, mas queria ficar acordado. Ele queria ver o rosto daquele homem que o segurava com tanta delicadeza. Ele queria se lembrar daquele que prometeu se casar.
“Sinto muito, meu amado, ainda não é nossa hora de ficarmos juntos, mas eu irei procurá-lo e, como prometido…” Leonardo parou de falar e tirou o anel entalhado com prata e rubi vermelho vibrante que estava em seu dedo com a boca. Ele o pegou com a mão livre e o colocou no dedo anelar da mão esquerda de Ryo, sorrindo. “Agora possui um anel de noivado. Está satisfeito, querido?”
Ryo apenas riu uma última vez, sabendo que estava completamente curado agora, e fechou os olhos quando o sono começou a buscá-lo. “Sim… obrigado, meu noivo.”
Quando Ryo enfim adormeceu, Leonardo continuou a mantê-lo envolvido em seus braços enquanto acariciava seus cabelos com ternura. “Abrir sistema.”
A janela do sistema então se abriu, iluminando o rosto dos dois, e Leonardo continuou a falar: “Quero converter meus pontos em algo que me permita vê-lo sempre que desejar. Isso é possível?”
[O que o usuário 000075 deseja pode ser comprado utilizando todos os pontos acumulados pelo usuário desde que acordou. Deseja ver as informações do item que o usuário pode utilizar para seu objetivo?]
“Sim.”
[O item em questão é chamado de homúnculo animal. O animal para a formação do homúnculo pode ser decidido pelo usuário. Com este item, o usuário poderá ver e escutar tudo que seu homúnculo vê. Além disso, uma própria alma animal será colocada dentro do homúnculo, tornando-o assim um ser vivo consciente. O usuário pode decidir até dois donos para este homúnculo, e ele os obedecerá sem distinção.
O homúnculo animal só pode ser comprado uma única vez. Deseja comprá-lo?]
“Sim, use meus pontos acumulados.”
[Que forma o usuário deseja dar ao homúnculo?]
“Uma coruja, ele ama corujas.” Leonardo disse olhando diretamente para os olhos fechados de Ryo.
[Ótima escolha! Seu homúnculo será formado em aproximadamente 20 minutos. Quais serão os usuários proprietários?]
“Usuários 000075 e 000060.”
[Certo! O tempo estimado para o envio de seu homúnculo é de 20 minutos]
“Certo… ficarei com você até que nossa corujinha chegue… se estiver em perigo, saberei…” Leonardo dizia, colocando sua cabeça contra a de Ryo e deixando um leve beijo em seus lábios.
“Me desculpe por deixá-lo e não esperar que acorde… mas eu não posso te dar tudo que quero agora… tudo o que posso te dar neste momento é solidão, meu Ryo… mas eu prometo que irei buscá-lo, farei você se lembrar de mim… mas antes, eu preciso vingar o que fizeram com você. Você ainda vai estar disposto a se casar comigo depois disso?” Ele sussurrava com os lábios ainda próximos aos de Ryo. Ele queria beijá-lo, mas sabia que não deveria beijar alguém assim, então só manteve seu rosto próximo ao dele.
Quando os vinte minutos finalmente se passaram, Leonardo ainda estava com seu rosto extremamente próximo ao de Ryo, olhando-o fixamente enquanto suas lágrimas caíam sobre ele. Naquele momento, tudo o que Leonardo queria era decorar cada feição do rosto de Ryo para nunca o esquecer. Em meio a toda a sua admiração, um pequeno grasnado veio de cima de sua cabeça, o que o fez levantar a cabeça com cuidado e usar a mão para pegar o que estava acima dela.
Ao olhar a corujinha em sua mão, vendo a penugem preta e felpuda e os grandes olhos amarelos, ele reconheceu de imediato a espécie a que pertencia aquela coruja. “Uma coruja do ártico filhote… como você voou até aqui, amiguinha? Você não me parece estar na época em que deveria aprender a voar…”
A corujinha, parecendo entender o que Leonardo disse, bicou sua mão e bateu suas pequenas asinhas, voando baixo como se quisesse frustrá-lo.
Leonardo riu ao ver o comportamento da corujinha e acariciou sua cabeça com o dedo. “Tá bom, tá bom, já entendi que pode voltar, pequenina.”
“Mas ei, preste atenção em mim.” Leonardo disse, virando a corujinha para olhar em direção a Ryo, que ainda estava apagado.
“Está vendo esse rapaz? Ele é a pessoa mais importante da minha vida, mas infelizmente não posso ficar com ele neste momento. Você poderia cuidar dele para mim?” Ouvindo as palavras do homem, a corujinha olhou atentamente para Ryo e depois para Leonardo, grasnando mais uma vez como uma afirmação, e então saltou para se aconchegar na cabeça de Ryo.
“Ótimo, obrigado, amiguinha. Cuide dele por mim e deixe que ele lhe dê um nome, e lembre-se de sempre me mostrar onde ele está.” Leonardo então acariciou a corujinha uma última vez e, após isso, beijou a bochecha de Ryo e o ajeitou encostado na árvore onde estavam.
Somente então Leonardo se preparou para partir de volta para a floresta, virando-se uma última vez. “Nos veremos em breve, amiguinha. Cuide bem do meu noivo.” Ele disse com um sorriso no rosto e, por fim, desapareceu floresta adentro.
Quando enfim retornou para onde ele e Akiko estavam acampando, o sol já estava começando a nascer e Akiko já estava de pé arrumando a bagagem dos dois. Quando o ouviu voltando, a garota apenas se virou e falou com um bocejo: “Bom dia, Leo. Você não voltou em meia hora, então pensei que poderia ter encontrado algo interessante… ouvi umas explosões, foi você?”
Leonardo apenas sorriu para Akiko e respondeu rindo: “Foi mal, Kiko. Eu achei um ótimo lugar para treinar e acabei me divertindo a noite toda, perdi a noção do tempo. E então, vamos?”
“Claro, nosso caminho ainda é longo até o décimo terceiro distrito, mas agora não faremos paradas. Vamos nos alternar em quem vai dormir nas costas do Tora, ok?” A menina dizia enquanto subia nas costas do grande tigre branco que estava sentado para que ambos pudessem subir.
“Certo! Se não se incomoda, vou dormir primeiro!” Leonardo então subiu nas costas do grande tigre e, quando partiram para continuar sua jornada, ele fez com que Akiko pegasse um caminho diferente de onde havia deixado Ryo. Afinal, ele estava com medo de levar uma bronca por sumir assim.
“Eu irei voltar para você, Ryo, eu prometo. Então lembre-se de mim…”
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Capítulo 22
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Entre Espadas
Um relacionamento que acabou de maneira conturbada e um acidente que causa a morte de ambos, foi assim assim que Ryo e Leonardo se viram em um mundo feudal durante um xogunato, onde aparentemente...