Capítulo 24
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- Capítulo 24 - O príncipe youkai e o santo de outra terra.
Enquanto Leonardo e Akiko continuavam sua viagem, cada vez mais se aproximando do distrito Kumo-rui, outros dois viajantes youkais acabavam de atravessar as fronteiras desse distrito.
Eram eles, Byakuya, o youkai cachorro que continuava com a mesma aparência de quatro anos atrás, com longos cabelos negros, olhos vermelhos como rubis e duas orelhas pontiagudas no alto de sua cabeça. O homem estava vestindo um kimono vermelho com detalhes em preto, com duas katanas na cintura e um hakama¹ preto. Logo atrás dele, em passos desajeitados, estava seu servo Mayuzu, um Yosuzume, um youkai com a aparência de um pardal do tamanho de uma criança, ainda em suas vestes de sacerdote, seguindo seu mestre para todos os lados.
À medida que adentravam a região do distrito Kumo-rui, a aparência do local começava a se diferenciar do décimo segundo distrito. Das árvores de troncos curtos do distrito anterior, a floresta agora começava a ter árvores maiores e com mais folhagem. No entanto, por algum motivo, Mayuzu sentia que a mata ficava cada vez mais apertada, apesar de haver bastante espaço para ambos passarem. A cada passo, Mayuzu tinha a sensação de que ele e seu mestre acabariam presos em algo. Quando estava prestes a verbalizar para Byakuya o que estava sentindo, Byakuya começou a falar.
“Ande atrás de mim. Tem um odor ruim vindo de diversos locais entre as árvores. Seguirei por onde o cheiro está suportável. Não se distancie, Mayuzu. Se for pego por algo, não me incomodarei em salvá-lo”, explicou Byakuya com uma certa indiferença na voz.
Para Byakuya, aquilo não passava de algum truque de um youkai local para caçar de maneira mais eficiente. Mas era estranho; à medida que evitava os locais de onde o odor ruim vinha, Byakuya se sentia sendo guiado em direção a algum outro lugar… mas por quê? Se era apenas um youkai caçando, por que se dar ao trabalho de espalhar tanto desse odor ruim por toda a floresta? Não era apenas isso; havia algo mais, algo que Byakuya ainda não havia percebido. Esse youkai não estava caçando como um youkai faminto, mas como se brincasse com sua presa. E, nesse momento, Byakuya estava sendo a presa. Quando finalmente se deu conta disso, Byakuya parou onde estava, o que fez Mayuzu bater contra a parte de trás de sua perna e cambalear para trás, quase caindo.
“Meu senhor, por que paramos?” Mayuzu perguntou, confuso, enquanto olhava para os lados.
Enquanto isso, Byakuya ignorou sua pergunta, tirou uma de suas katanas da bainha presa à cintura, virou-se em direção ao sul e levantou sua lâmina para cima. Lentamente, abaixou-a como se cortasse o vento à sua frente. Junto a isso, o som de algo como fios estourando se seguiu por um longo tempo. Quando finalmente o som dos cortes parou, Byakuya voltou sua lâmina à bainha e seguiu na direção onde a lâmina cortara.
Iremos por aqui, Mayuzu. Diga-me, ainda há alguém nestas terras fiel ao meu pai?” Byakuya perguntou com certa indiferença na voz.
Mayuzu, que o acompanhava de perto, ao ouvir a pergunta de seu amo, rapidamente enviou uma de suas asas para dentro de sua vestimenta, retirando de lá um grande papel já desgastado pelo tempo. Ele o abriu, conferindo uma longa lista de nomes, e só então respondeu à pergunta de Byakuya enquanto guardava o papel novamente: “Sim, Byakuya-sama, há ao todo seis famílias nessas terras que devem favores a seu pai. Entre elas estão kitsunes—”
Antes mesmo que Mayuzu pudesse terminar de falar, Byakuya o interrompeu: “Ótimo, tire o nome de todos desta lista.” Ele ordenou sem hesitar, e tais palavras até mesmo assustaram Mayuzu, que quase cambaleou para trás.
“M-mas, Byakuya-sama, devo insistir em lhe perguntar por que tomar tal decisão? Tenho certeza de que, mesmo com todo o tempo que se passou desde a morte de seu pai, eles ainda carregam grande gratidão por ele…”, argumentava Mayuzu de maneira apressada, tentando convencer seu mestre a reconsiderar sua decisão.
“Mayuzu, seu cérebro é realmente como o de um pássaro normal, não é? Não percebeu ainda?” O jovem suspirou ao ouvir seu servo falar de maneira constante, o que fez Byakuya se perguntar como um ser tão pequeno como Mayuzu podia ser tão irritante.
“O que quer dizer com isso, senhor?” O pássaro perguntou, confuso e um pouco ofendido com o comentário de seu mestre. Afinal de contas, o que ele deveria ter percebido? Que a floresta em que estavam era estranha demais? Era isso? Ele havia percebido isso. Não, não era isso. Ele realmente não havia entendido.
“Mayuzu.” Byakuya chamou, virando-se e agachando para olhar nos olhos de seu servo.
“Sim, meu senhor?” O pássaro perguntou ingenuamente.
E assim que perguntou, sentiu a mão de Byakuya segurando sua cabeça. Ele se viu sendo levantado do chão e, antes que pudesse falar algo em protesto, foi arremessado para o lado por seu mestre, soltando um alto piado. Pensando que aquele seria seu último momento de vida, ele imaginou que voaria por quilômetros com um arremesso de Byakuya. Pelo menos foi isso que pensou enquanto mantinha os olhos fortemente fechados. Estranhamente, quando abriu os olhos, não estava voando como alguém que acabara de ser arremessado. Ele estava suspenso no ar, mas não estava batendo suas asas, e também não conseguia mexer seu corpo por mais que tentasse. Ele estava preso? Não só isso, quando olhou para Byakuya, ele estava de cabeça para baixo…
“Argh!! Meu senhor, é uma teia de aranha, rápido, me tire daqui! Eu não quero ser o lanche da tarde de nenhuma aranha. Eu sou muito novo para virar comida!!” O pardal gritava enquanto se contorcia, enquanto Byakuya o encarava sem esboçar nenhuma expressão no rosto.
Para Byakuya, aquela era uma visão realmente estranha. Olhando normalmente, sem prestar muita atenção, pareceria que Mayuzu estava preso em algo invisível. Mas, quando se aproximou e reparou de perto, havia pequenos fios transparentes entre as árvores, que provavelmente foram o motivo de Mayuzu ter se fixado ali e parecer suspenso no ar. Seja lá quem fosse o youkai que fez esses fios, era realmente bem habilidoso para conseguir disfarçar tão bem suas teias. Ele o parabenizaria se o encontrasse e depois o mataria por tentar fazer dele sua presa fácil.
E enquanto refletia sobre que ação iria tomar, a voz de Mayuzu implorando por ajuda rapidamente começou a atrapalhar seus pensamentos. Então, ele o agarrou pelo colarinho da blusa e o colocou no chão com cuidado. “Agora fique calado, Mayuzu, ou realmente pensarei em deixá-lo para ser usado como lanche para youkais.”
Mayuzu rapidamente entendeu que havia o irritado e se prontificou a fazer pequenas reverências. “Eu sinto muito, senhor!” O pardal sussurrou de maneira quase silenciosa, mas ele sabia que seu mestre tinha escutado e também sabia que ele tinha razão em estar irritado. A audição de Byakuya era sensível, por mais que o próprio não admitisse. Era por isso que muitas vezes preferia ficar sozinho. Quando há muitos youkais, por mais que saibam dialogar, muitos gritam demais, o que o incomoda profundamente. Esse também era um dos motivos pelo qual Byakuya dificilmente visitava cidades. Claro, isso e o fato de que ele simplesmente detesta a presença de humanos ao seu redor, e Mayuzu sabia disso.
Na verdade, Mayuzu é quem melhor conhece Byakuya. Ele é o último dos servos de sua família, acompanhando seu jovem mestre desde o início de sua adolescência, quando perdeu seu título de príncipe. Havia tanto tempo desde o incidente, mas Mayuzu sabia quanta mágoa e ressentimento Byakuya acumulou ao longo dos anos. Ele nunca considerou correta a tomada das terras de seu pai para colocar seres inferiores, como os humanos, para morar junto a youkais como ele.
“Mayuzu, mexa-se. Não vou esperar por puro capricho.” A voz de Byakuya ressoou muito à frente, o que fez o pardal voltar a si rapidamente e ver seu amo muito à frente de onde ele estava.
“Senhor Byakuya, por favor, vá mais devagar.” O pardal dizia, correndo para alcançar seu senhor. Ele corria de maneira desajeitada, quase caindo, mas notou seu mestre diminuindo o ritmo em que estava andando, o que permitiu que Mayuzu o alcançasse mais rapidamente.
Quando finalmente estavam saindo daquela extensa floresta para uma planície, Byakuya parou repentinamente e falou: “Sairemos da floresta, mas andaremos perto das árvores. Evite ficar totalmente exposto ao céu aberto; ficará mais fácil para o youkai que está por aqui nos ver.”
E assim se fez. Os dois andaram por um bom tempo, perto das árvores, mas sem adentrar a floresta. Estranhamente, por mais que andassem, o odor ruim parecia não diminuir nem um pouco, o que impossibilitava que Byakuya reentrasse na floresta. Ele já havia exposto sua posição mais de duas vezes naquela floresta: primeiro quando partiu os fios e depois quando soltou Mayuzu. Se estivesse certo e o youkai que ronda aquela floresta fosse realmente uma espécie de youkai aranha, ela deve ter sentido cada alteração feita na sua teia. Se ele cortasse mais alguma logo após esse alvoroço, seria como se estivesse a chamando para brigar.
Mas, mesmo assim, por algum motivo que nem mesmo Byakuya conseguiu entender, ele parou de andar e olhou de volta para a floresta. Havia dois cheiros novos entre as flores. Um deles se assemelhava ao cheiro de flores de pêssego, o que era estranho, pois ele não havia visto nenhum pessegueiro em horas de caminhada. Ao se concentrar mais para diferenciar o outro aroma, misturado entre o pêssego e o odor ruim das teias de aranha, Byakuya sentiu sua mão tremer e, aos poucos, a expressão em seu rosto ficou sombria.
Mayuzu rapidamente sentiu seu mestre expondo sua presença de maneira ameaçadora enquanto olhava para dentro da floresta. Ele rapidamente perguntou: “J-Jovem Mestre… o que está acontecendo? O que o senhor viu?!”
Byakuya, por sua vez, ignorou a pergunta feita por Mayuzu e perguntou com a raiva evidente em sua voz: “Mayuzu, diga-me… estamos na época de florescimento de ajisai?”
Ao ouvir a pergunta, Mayuzu rapidamente entendeu o que estava havendo e, com certo pesar misturado à sua voz, respondeu calmamente: “N-não, meu senhor… estamos atualmente no início do outono… e essa floresta não parece ser adequada para o crescimento de tais flores…”
Ouvindo a resposta de Mayuzu, a expressão de Byakuya pareceu lentamente ficar cada vez mais mortal. O youkai dentro daquela floresta o conhecia. Esse aroma, isso não é por acaso, não poderia ser. São poucos aqueles que sabem sobre o incidente e, para se utilizar disso contra Byakuya, essa maldita aranha não tinha medo da morte. “Fique aqui, Mayuzu. Se me seguir, não posso garantir conseguir poupá-lo.”
“Jovem Mestre, por favor, não se deixe levar por tais provocações. Viemos para cá para que possa ter a chance de recuperar as terras de seu pai. Não deixe o ódio guiá-lo, Jovem Mestre!” Por mais que Mayuzu estivesse falando de maneira sensata, pela primeira vez em muito tempo, Byakuya não conseguia ouvir nada ao seu redor. Ele lentamente se aproximou da floresta e parou à beira da teia.
Em questão de segundos, seu corpo, outrora como o de um humano, começou a se contorcer e seus ossos pareceram quebrar. Mayuzu ouvia enquanto assistia seu mestre ao longe. À medida que seus ossos se quebravam, uma pelagem preta começava a surgir de suas mãos, que lentamente se transformavam em grandes patas até os pés. Era um processo doloroso. Byakuya conseguia sentir seus ossos se quebrarem e se remontarem em uma estrutura maior. Sua pele, outrora como a de um humano, se rasgava, dando lugar à pele e aos pelos de um grande cão preto, quase tão grande quanto as árvores daquele local. Aquela era a verdadeira forma de Byakuya. Por mais jovem que fosse, ainda era assustadoramente grande. Em questão de segundos, Byakuya adentrou a floresta com um alto latido que mais se assemelhava ao rugido de uma besta milenar.
Quando Mayuzu se deu conta do que estava acontecendo, seu coração doeu por seu mestre. “Meu Jovem Mestre… achei que tivesse finalmente superado o suicídio de minha senhora.” Mayuzu disse para si mesmo enquanto relembrava da adolescência de Byakuya. Dois anos após a morte de seu pai e a perda das terras, a mãe de Byakuya havia cometido suicídio em uma das montanhas mais bonitas do segundo distrito, onde a flor de ajisai crescia no verão… E quem encontrou seu corpo foi ninguém menos que o jovem Byakuya, que estava procurando por sua mãe. Quando a encontrou, ela estava imersa nas flores, misturando o cheiro floral com o cheiro do sangue.
Mayuzu ainda lembra de como o encontrou, juntamente com alguns dos empregados que ainda haviam ficado com eles: o pequeno Byakuya no sol poente, segurando as vestes de sua mãe, enquanto Mayuzu via a poeira subir. Ela já havia virado pó, e o pequeno Byakuya, em lágrimas, o olhou e perguntou: “Yuzu… por que a mamãe me deixou também? Ela não me queria mais? Eu fui um bom menino, Yuzu… eu não fui?”
Tudo que ele pôde fazer naquela época foi correr até seu Jovem Mestre, abraçá-lo e tentar confortá-lo. Desde então, Byakuya, que costumava ser um garoto doce e animado, se fechou em um casulo pessoal, até mesmo para Mayuzu. Sempre que alguém comentava sobre o suicídio de sua mãe, Byakuya perdia a razão, e essa era uma dessas vezes. Infelizmente, ele sabia que não conseguiria acalmar seu mestre neste estado.
Enquanto Mayuzu ficou para trás, afundado em suas lembranças, Byakuya adentrou cada vez mais a floresta, rompendo todos os fios de seda que atrapalhavam seu caminho, seguindo o cheiro das flores. Mas, quanto mais ele se afundava na mata, o aroma das flores parecia se espalhar para todas as direções em que olhava. Aquele youkai, seja lá quem fosse, estava brincando com ele.
À medida que ele se perdia com seu olfato, sem saber para que direção ir, para onde procurar, para onde atacar, Byakuya começou a atacar para todos os lados, mordendo e arremessando árvores, mas nunca encontrando o local de onde vinham os cheiros das flores. Em meio à sua raiva, uma risada veio de um local que ele não conseguiu identificar. Era como uma criança rindo, e então uma voz surgiu.
“Nossa, você ficou mais estressado do que eu pensei que ficaria, cachorrinho… então esse é realmente seu ponto fraco? Sua querida mamãe?” A voz disse, tentando provocar o grande cachorro youkai.
O que estava dando essencialmente certo. Quando a voz por fim falou e ainda citou sua mãe, a raiva no coração de Byakuya pareceu se acender ainda mais. Quando finalmente detectou de onde vinha a voz, o cachorro saltou, atravessando parte da grande floresta, e caiu abocanhando uma grande árvore e levantando-a em sua boca, revelando, de trás dela, uma criança humana?
Lá estava uma garota de cabelos curtos, aparentando ter por volta de onze ou doze anos de idade, usando um kimono azul com diversas ajisais desenhadas. Byakuya então jogou a árvore longe e encarou a criança, e sua voz, tão alta quanto o estrondo de um trovão, finalmente soou.
“Criatura insolente, quem pensa ser para profanar a memória de minha mãe?!” Byakuya perguntou, pisando na criança com ambas as patas. Estranhamente, ele não viu sangue surgir do local onde havia pisado; pelo contrário, a criança havia desaparecido.
“Que cachorrinho malvado você é… tentando machucar uma pobre garotinha… não se envergonha disso?” A menina debochava, e agora sua voz vinha de trás de onde Byakuya estava.
Byakuya riu ao ouvir tal coisa e respondeu, virando-se para atacá-la novamente: “Criança?! Tentará realmente manter esta farsa diante de mim?! Inseto asqueroso.” E logo que se calou, Byakuya pulou para cima e mergulhou com as duas patas para trás, o que fez grande parte do solo se quebrar e pedras e árvores serem jogadas para longe, só para mais uma vez ter seu objetivo frustrado.
“Tsk, você é realmente persistente pra um vira-lata sarnento, sabia?” A garotinha riu enquanto falava. “Um pai morto, uma mãe que se matou… Sinceramente, vendo o quão ruim você é para matar apenas um ‘inseto’, começo a entender por que sua mãe se matou. Ter um cachorro tão inútil na família deve realmente encher o coração de alguém com desgosto.” A menina riu enquanto falava, aparecendo agora bem à frente dos olhos de Byakuya, pendurada por um fio de seda.
“Cale-se!” Byakuya disse, desferindo outra mordida, mas agora certeira no corpo da menina, partindo-a em duas. Quando atingiu a garota, partida ao meio, ela começou a rir quase como um demônio.
“Que divertido, isso é realmente divertido! Você realmente achou que me mataria agora, não é?” A criança perguntou em tom irônico enquanto ria. “Mas sabe, acho que já te deixei brincar o bastante, é a minha vez!” A garota disse enquanto seu corpo se juntava.
Quando seu corpo finalmente se juntou, a menina se levantou e tocou a pata de Byakuya, fazendo com que diversas teias aparecessem, envolvendo a pata de Byakuya e forçando-o contra o chão. Ele forçava para puxar seu pé para cima, tentando se soltar dos fios, mas sem sucesso.
“O que foi? Não está se divertindo, pulguento?” A menina perguntava enquanto mais e mais fios de seda envolviam toda a pata esquerda de Byakuya, forçando-a quase ao ponto de quebrá-la.
Byakuya soltou um berro em meio a uivos, com a dor em sua pata, e se viu obrigado a voltar para a forma humana, o que lhe permitiu se libertar e se afastar da garota. A transformação para sua forma humana foi rápida e dolorosa. Seu corpo diminuiu, seus ossos se quebrando e voltando ao normal para um humano. Era mais doloroso ainda devido ao ferimento em seu braço esquerdo. Quando caiu no chão, olhou para seu braço esquerdo, percebendo que ele ainda estava quebrado. O jovem fez uma careta de dor. Ele estava em desvantagem sem suas katanas; ele só poderia utilizar sua energia espiritual, mas ainda acreditava que podia ganhar.
A reação da menina ao vê-lo voltar à forma humana foi inesperada; ela parecia decepcionada. “Poxa, eu pretendia matá-lo enquanto era um cachorro grande… haveria mais carne… mas posso me contentar com isso!” A menina disse, partindo em direção a Byakuya.
Dessa vez, ele mirou na garota com sua mão direita, deixando sua palma aberta, e uma forte lufada de vento cortante a repicou em diversos pedaços. Por um segundo, tudo pareceu finalmente acabar. Ele havia matado aquela coisa? Era isso que ele tinha que fazer desde o início para matá-la? Estava tudo fácil demais, acabou rápido demais, mas ele não poderia reclamar disso. Quanto antes matasse essa coisa, melhor seria. Com isso em mente, ele se virou, prestes a ir embora.
Mas assim que se virou, prestes a caminhar em direção de onde havia vindo, a voz da garota surgiu novamente, mas dessa vez debaixo dele. “Onde pensa que está indo? Não quer rever sua mamãe? Sabe, isso teria acabado mais rápido se tivesse só ido para a minha toca.”
Assim que escutou a voz, Byakuya pulou para cima e olhou para baixo, vendo diversas pequenas aranhas se juntarem, como se escalassem umas às outras para alcançá-lo. Vendo tal cena, mais uma vez Byakuya utilizou outra lufada de vento para dispersá-las e poder pisar no chão.
Mas, quase como se previssem as ações que Byakuya iria fazer, sempre que ele as dispersava, ainda mais aranhas apareciam para tentar escalar seu corpo, o que era um problema. A batalha parecia cada vez mais difícil. Esse com certeza não era o corpo verdadeiro dessa criatura, mas, mesmo assim, ela tinha uma força grande o suficiente para fazer uma onda de aranhas menores o perseguirem. Em uma batalha onde sabia que teria a desvantagem, o caminho, a saída, a provocação, esse tempo todo, sem que percebesse, ele estava sendo caçado. Um inseto estava o caçando, e isso era o que mais o irritava. Como ele pôde ser ingênuo para cair em tal armadilha? Nem mesmo ele poderia entender.
Cada vez mais ele se desgastava. Aquele jogo de aranha e cão estava o cansando além de seu limite. Ele estava utilizando muito de sua energia espiritual, mas, mesmo tentando dispersar e procurar pelo corpo principal desse maldito youkai, as aranhas que o caçavam o faziam recuar, de novo e de novo. Aquela coisa estava somente brincando com ele, o cansando, e estava conseguindo de maneira exemplar.
Byakuya sabia que já não tinha muito mais força sobrando. A dor da transformação ainda o perseguia e, com o desgaste de sua energia espiritual, ele não poderia curar seu braço machucado. Ele sabia que o máximo que conseguiria fazer agora era dar mais um ataque, e assim ele fez. Usou o restante de energia que podia e concentrou em sua mão, formando um vazio de ar em um vento tão forte que parecia puxar tudo para dentro, como um buraco negro. Enfim, em um grito, arremessou-o em direção às aranhas que continuavam a surgir. Com a forte atração dos ventos daquela orbe, os pequenos insetos foram todos comprimidos uns contra os outros, explodindo em um sangue verde e ácido. Aquelas coisas estavam mortas. Acabou, ele havia conseguido? Ele não sabia. Assim que terminou seu ataque, a consciência de Byakuya se perdeu, e ele foi arremessado ao ar. Ele havia feito o máximo que podia e, por um momento, jurou poder ouvir sua mãe o chamando.
Mas, infelizmente para ele, aquele ataque não havia sido o suficiente. Assim que as aranhas que o perseguiam morreram, mas surgiram das árvores e voaram em sua direção. Mas, contradizendo tudo o que parecia que aconteceria, não seria aqui que a história de Hokori Byakuya se encerraria. Quando as aranhas estavam prestes a alcançá-lo, a voz de um garoto se sobrepôs ao cenário.
“A Deusa trouxe três pedidos àqueles que enviou para seu mundo. O primeiro pedido: proteja aqueles puros de coração!” E, quase como se a própria Deusa estivesse ali, um feixe de luz prateada apareceu, circulando toda a área onde Byakuya estava caindo, carbonizando as aranhas assim que tentavam adentrar. Quando Byakuya estava prestes a atingir o chão com força, alguém o segurou nos braços e, com uma voz gentil e calorosa, disse calmamente: “Peguei você.”
“Agora descanse. Vou me certificar de que estejam seguros, vocês dois. Obrigado por me mostrar o caminho, senhor Mayuzu.” Um garoto de cabelos loiros curtos e ondulados, olhos rosados, disse com um sorriso no rosto.
Mayuzu então surgiu das costas do garoto, se agarrando no kimono dourado que ele utilizava, e subiu até seu ombro, vendo seu mestre, que aparentava ter o dobro do tamanho e dos músculos do jovem que o segurava com certa dificuldade. Mas isso não era o que mais o surpreendeu.
Horas antes, quando a batalha começou na floresta, este garoto surgiu de dentro dela, se apresentando como um santo, e perguntou o que estava acontecendo. Quando Mayuzu disse que seu mestre havia adentrado a floresta, esse garoto reagiu como se o conhecesse. Ele agarrou Mayuzu e o jogou para cima, exigindo que o guiasse até onde seu mestre estava.
E, surpreendendo Mayuzu, o garoto não havia mentido. Ele era realmente um santo. Aquele poder, ele invocou o próprio poder da Deusa, com uma facilidade que amedrontaria qualquer youkai maligno. Mas isso não era tudo. Mayuzu olhou bem para ele e depois para seu mestre desacordado. Por que… por que os olhos do garoto tinham tanto carinho por alguém que nem conhecia? Não, não era isso. Por que um humano estava preocupado com um youkai?
“Você… salvou o meu mestre… você realmente o salvou.” Mayuzu disse, quase incrédulo com isso, e se desequilibrou, pois o garoto caiu sentado no chão, apoiando a cabeça de Byakuya contra seu peito.
“É claro que o salvei, esse era meu único desejo.” O garoto disse com um sorriso no rosto, o que deixou Mayuzu de bico aberto. As aranhas continuavam a tentar entrar, mas sequer conseguiam tocar a luz. O garoto então olhou para frente, como se visse algo, e sorriu.
[Parabéns, usuário 00001/Oliver Wallace. Seu desejo principal foi concluído, alterando assim o destino do personagem Hokori Byakuya. O usuário deseja retornar ao mundo de origem ou deseja permanecer neste mundo como o primeiro a ser trazido pela Deusa?]
Oliver então sorriu e respondeu em sua mente: “Eu levei cinco anos para viajar de um continente para outro e ainda entrei escondido neste país e fiquei escondido por quatro anos, só para esse momento. Óbvio que desejo ficar, Niren.”
[O sistema Niren compreende sua escolha. A administradora fica feliz com sua decisão, e uma nova missão será lhe atribuída em alguns dias. A administradora lhe deseja deixar algumas palavras: “Obrigada por aceitar ser o primeiro a ser trazido para este mundo. Espero que continue me ajudando, Oli!”]
O sorriso no rosto do garoto pareceu aumentar. “A partir de agora, vamos apenas usar o nome dado a esse corpo, já que viverei como ele. Minha senhora, a partir de agora pode apenas me chamar de Kinoshita Akihiro.”
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Entre Espadas
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