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Entre Espadas

Capítulo 26

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🟡 Em breve

Três dias haviam se passado desde que Ryo fora resgatado por um homem sem nome na divisa do quarto distrito com o quinto distrito. Somente agora ele estava finalmente começando a acordar.

Seu corpo doía da cabeça aos pés, uma fraqueza constante que não parecia querer cessar continuava a incomodá-lo durante todos os dias que se passaram. A dor era intensa e tornava difícil se lembrar de tudo que havia acontecido. Afinal, como ele tinha acabado em uma situação tão deplorável? Onde estava Uroborosu? Essas perguntas surgiam em sua mente à medida que ele se esforçava para abrir seus olhos, se surpreendendo quando a primeira coisa que viu foi uma pequena coruja, que mais parecia uma bola de penas, em seu colo, olhando-o profundamente. Fracamente, o garoto falou com a pequena coruja:

— Olá, pequena… você não me parece ser daqui… — Ryo disse com um sorriso fraco e sua voz rouca pelo cansaço.

A coruja, em resposta à pergunta dele, soltou um piado fraco e, por um segundo, Ryo poderia jurar ver os olhos amarelos da coruja ficarem vermelhos quando ela se aconchegou mais em seu colo. Mas provavelmente isso deveria ser apenas uma impressão causada pelo cansaço, que ele logo ignorou, enquanto olhava para os lados com um longo suspiro. Diante dele o grande pântano do distrito Jo e, atrás de si, uma floresta do quarto distrito.

— É realmente um lugar estranho para se estar, amiguinha… me impressiona que ainda esteja viva mesmo em terra. Na verdade, me encabula que eu ainda esteja vivo também — o garoto riu, usando suas mãos para ajeitar seus cabelos mais uma vez e notando um incômodo diferente do habitual em seu dedo, o que o fez instantaneamente mover sua mão esquerda para frente de seu rosto e encarar o anel de rubi em seu dedo anelar.

— Um anel? Por que eu? Oh…! — Ele parou de se perguntar assim que lentamente começou a se lembrar do que havia acontecido três dias atrás. — Eu aceitei o noivado com um desconhecido… por que ele era bonito? E ele não me disse nem o nome dele… A mestra vai me matar… — O garoto parecia descrente com o próprio comportamento, enquanto pegava a coruja que estava em seu colo e a colocava em seu ombro para se levantar.

Após se levantar, Ryo deu pequenos tapas em sua roupa para limpar da poeira, enquanto continuava pensativo, tentando se lembrar de tudo até aquele momento, repetindo para si mesmo em voz alta enquanto andava em círculos: — Certo, cinco meses atrás eu sai em uma missão de campo para o quinto distrito junto com o General Shihei. O que era exatamente? — Ele se perguntou por alguns segundos, se forçando a lembrar mais rapidamente, até finalmente conseguir. — Oh, os boatos sobre um grupo criminoso se espalhando pelo país em prol do fim do xogunato… Era isso, mas eu não achei muita coisa… Eu ainda estava com Uroborosu nesse meio-tempo, então por que ele não está aqui?

Realmente algo estava estranho. Por que ele não conseguia se lembrar onde estava Uroborosu, nem como havia sido machucado, ou quem tinha perseguido tudo isso? Era incômodo demais, um quebra-cabeças defeituoso onde suas memorias sãos peças que parecem não conseguir se encaixar. E, em meio seus pensamentos, uma voz ressoou em sua cabeça, uma voz da qual inesperadamente sentiu falta.

— Pirralho maldito!!! Como ousa me perder Toyosaki?! Venha me buscar já, seu projeto de sacerdotisa! — A voz de Uroborosu continuava exatamente como Ryo se lembrava: grave, alta e, com certeza irritante…

— Uroborosu, eu acabei de despertar. Faça-me um favor, sua cobra velha, e pare de gritar na minha cabeça! — Sem perceber, Ryo acabou respondendo em voz alta, quase gritando, o que deixou a coruja em seu ombro até mesmo um pouco assustada, piando com o grito dele.

— Tsk! Me perde e, em vez de me procurar, vai tirar uma soneca? Que ótimo pactuado o meu humano, incompetente. — Uroborosu continuava a resmungar na cabeça de Ryo agora mais baixo.

— Mas, ei, cobra velha, me diga: se eu o perdi, por que consigo escutá-lo? Você não está comigo… E, se não está comigo, está por perto… Uroborosu, o que aconteceu antes de eu o perder? — Ryo perguntou, enquanto lentamente pegava a coruja em seu ombro e a colocava no interior de seu quimono com cuidado.

Com a pergunta de Ryo, Uroborosu ficou em silencio por alguns segundos: — Bem, eu me lembro que você estava em uma sala de reuniões com Shihei e, do nada, a porta explodiu. Uma fumaça subiu pela sala, Shihei foi ferido, mas fugiu. Eram muitos humanos e youkais vestindo vestes estranhas… Eles injetaram algo em você e eu senti como se sua energia espiritual estivesse deixando seu corpo. Então eu apaguei. A última coisa que me lembro é de pularmos na água e você sangrando… — O tom de Uroborosu estava mais sério. Ele não estava ofendendo Ryo como o de costume, mas parecia preocupado. Em momentos como esse, eram raros, por algum motivo, Ryo sentiu que Uroborosu ainda possuía perguntas que não conseguiria verbalizar, e por isso respondeu sem que ele precisasse ferir seu orgulho para perguntar:

— Eu estou bem, não estou ferido, fui salvo… — Ryo disse calmamente, em voz baixa. Ele sentia a presença de Uroborosu se afastando aos poucos.

— Isso… é realmente bom, pirralho. Não é como se eu me preocupasse, conheço sua força, mas ei, Ryo, acho que estamos perdendo contato. Conto com você para me buscar, infelizmente não consigo me soltar sozinho. — Uroborosu terminou de falar com uma última risada típica, como se não precisasse temer a nada.

— Não se preocupe, chegarei logo. — Por fim, Ryo não conseguia mais senti-lo em sua mente, mas sabia que não estava muito longe. Seja quem for que havia o roubado estava adentrado a floresta à sua frente e Ryo logo a alcançaria. Assim, Ryo deu seus primeiros passos para adentrar a floresta.

Em resposta, quase como se estivessem nas sombras esperando durante todo esse tempo, dois seres mascarados e cobertos de vestes como as de ninjas pularam na direção de Ryo, cortando-o de cima para baixo pela esquerda e a direita. Logo após isso, um deles, com uma voz mais grossa, pareceu comemorar e, se vangloriando, se virou para seu comparsa:

— Hahaha, viu, foi muito fácil. Esse garoto, a tal flor de lótus do xogunato, afinal era só balela. Desde quatro dias atrás, feri-lo foi tão fácil. Quem diria que matá-lo ser— — Antes que pudesse terminar sua fala, o homem pareceu engasgar, e a imagem de Ryo, cortado em partes, se desfez em névoa, assustando o outro capanga, que quase vomitou ao ver o coração de seu parceiro pulsando fora de seu peito, agarrado por uma mão humana. A voz de Ryo veio de trás do homem morto.

— Deixe-me ver se entendi corretamente. Então foram vocês que me perseguiram e feriram o quinto general, certo? Imagino que não sejam os únicos… estou certo? — Ryo perguntou, retirando sua mão de dentro do peito do homem que havia acabado de atravessar e o deixou cair no chão, jogando o coração ainda pulsante ao lado do corpo.

O comparsa sobrevivente tremeu ao ver seu colega caído no chão e recuou para trás. — O- O que você fez?! Você matou ele! Isso não está certo, nos disseram que você não conseguia matar!! SAI DE PERTO DE MIM — O homem gritou, empunhando a katana partida em direção de Ryo, que mantinha um sorriso de incredulidade no rosto. Quando a katana o cortou, ele desapareceu mais uma vez, reaparecendo em cima dos ombros do homem, usando suas pernas para sufocá-lo enquanto ele parecia se contorcer para respirar enquanto tentava implorar por ajuda.

— Oh, o que foi?! Eu não entendo o que está tentando dizer, precisa de ajuda? Sinto muito, você parece estar se engasgando, está sem ar? — Ryo perguntava em tom de ironia enquanto movia suas mãos para quebrar o pescoço do homem, segurando-o com firmeza. — Só uma coisa, sabe… não acredite em tudo que vocês leem por aí… tem razão, geralmente não mato, mas isso não me torna mais fraco que os outros do Exército Imperial, talvez mais piedoso… então me diga, quem são vocês e para onde levaram minha katana ou eu quebro cada osso do seu corpo, ou curo e continuo quebrando até que enlouqueça. O que acha?

O homem chorava com cada palavra de Ryo, desesperado para se soltar, mas sem sucesso algum. As pernas de Ryo pareciam que iriam quebrar seu pescoço junto as ameaças. Dominado pelo medo, o homem finalmente começou a tentar falar, o que fez Ryo afrouxar o enforcamento e disser com um sorriso calmo no rosto: — Diga o que eu perguntei. Se tentar alguma gracinha, a morte será sua última preocupação.

— Nos… nós somos o Exército da Liberdade e nós iremos acabar com vocês, cachorros do império por uma na… — Antes que o homem pudesse terminar de falar, Ryo torceu seu pescoço em 360° graus sem hesitar, matando-o instantaneamente. Em seguida, soltou o homem e ficou de pé a frente dos dois cadáveres, com o braço manchado de sangue esverdeado.

— Exército da Liberdade? Se todos forem como esses dois, vocês são mais uma grande piada. O que me leva à grande questão: o que eles querem com Uroborosu? E como conseguiram bloquear minha energia espiritual? — Por fim, ele partiu em passos rápidos para dentro da mata. A coruja dentro de seu quimono piou mais uma vez, saindo para fora e escalando sua roupa até o ombro. Vendo tal comportamento, Ryo sorriu.

— Então você quer mesmo me acompanhar, não é, corujinha ? — Ryo perguntou rindo, e em resposta à sua pergunta, a coruja piou diversas vezes, como se estivesse tentando se afirmar constantemente.

Ryo sorriu, entendendo aqueles piados em sequência como uma resposta da coruja. Enquanto caminhava, ele pareceu pensativo por alguns segundos, olhando-a de canto de olho enquanto continuava a seguir os rastros espirituais emanados por Uroborosu.

— Observando sua plumagem… você deve ser um filhote de coruja-das-neves… então que tal seu nome ser Fuyu? Você gosta? — Fuyu piou mais algumas vezes em concordância, mantendo-se firmemente sentada no ombro de Ryo. — Certo, Fuyu, segure-se firme. Sinto que teremos mais inimigos por perto, mas logo te apresentarei a um grande amigo meu. — Ryo riu enquanto acelerava sua velocidade, mudando de passos rápidos para uma corrida em ritmo constante.

Quase como se tivesse adivinhando a posição em que se encontraria, não demorou muito para que mais youkais vestidos como ninjas aparecerem diante de Ryo para atacá-lo. Eles eram rápidos e, se fosse outras pessoas, aqueles golpes seriam certeiros. Certamente esses três eram superiores em combate aos dois deixados para trás para lidar com Ryo. A troca de golpes entre eles era constante e, mesmo armados, eles não conseguiam cortar nem ao menos um fio de cabelo de Ryo. Ele desviava como se dançasse, usando os golpes dos ninjas contra eles mesmos. Em questão de segundos, Ryo desacordou dois dos três homens que o atacavam e derrubou o terceiro, pisando em seu peito para mantê-lo no chão.

— Vou fazer algumas perguntas. Me responda e viva mais um pouco. Se responder algo além ou se recusar a responder, primeiro eu quebro sua coluna e você fica paraplégico, e depois mato os outros dois na sua frente… o que prefere? — Ryo perguntou, pressionando cada vez mais seu sapato contra o homem.

Em resposta, o homem grunhiu e rapidamente veio a falar: — E- Eu falo! Por favor, não me machuque, eu falo!!

Ryo então diminuiu  a força sobre a força do homem. — Ótimo, então primeiro me diga, o que querem com minha katana e como bloquearam minha energia espiritual? E, acima de tudo, por que só estão me atacando e se movimentando agora, depois de tantos dias?

— Nós… nós, a katana… ele disse que ela tem poder para matar os generais e a Xogum… e o bloqueio foi feito com uma dr-droga. Nós apenas recebemos ordens. Quando acordasse… deveríamos incapacitá-lo e levá-lo até nosso mestre!! — O homem continuava a dizer entre grunhidos e sons de engasgamento. — EU JURO QUE DISSE TUDO!!

Ryo suspirou quando o homem terminou de falar e tirou o pé de seu peito. O homem então se virou e começou a se levantar, e Ryo então voltou a falar: — Uroborosu capaz de matar minha mestra? Isso é ridículo. E uma droga capaz de bloquear a energia espiritual em um ser? Isso seria letal para um youkai como… — Ryo pareceu perceber algo que fez uma expressão feia surgir em seu rosto. Ele então se virou, vendo o homem de quatro, esforçando-se para se levantar, e, ao vê-lo assim, desferiu um chute com uma força extrema em sua coluna. Ao fundo, o som de vários ossos se quebrando soou juntamente ao grito desesperado do homem, que se contorcia de dor enquanto chorava. Ignorando as súplicas do homem, Ryo o atacou até que suas pernas não se mexessem mais.

Quando enfim parou, Ryo se abaixou em frente o rosto do youkai e, com uma expressão fria, voltou a falar com o youkai, que agora só conseguia chorar pesadamente enquanto babava: — Vocês utilizaram essa droga em mim e no quinto general, não foi? Porco. — Ele perguntou, agarrando o pescoço do homem e se levando com o homem suspenso por sua mão.

O homem agonizando entre lágrimas, tentou arranhar o pulso de Ryo, mas sem sucesso. Apenas balançou a cabeça assentindo, o que fez Ryo jogá-lo longe. Em questão de segundos, Ryo desmembrou os outros capangas, agarrando um coração e jogando-o para cima. — Corvo de três olhos, apareça.

Assim que Ryo terminou sua fala, um enorme corvo apareceu voando, agarrando o coração e engolindo-o de uma só vez antes de pousar diante de Ryo e, com um grasnado horrível, respondeu: — O que… O que deseja, lótus?

— Contate a Xogum. — O garoto disse, com lágrimas ameaçando sair de seus olhos. O corvo, por sua vez, permaneceu em silêncio por alguns minutos, até que finalmente a voz de Masaru soou do pico do grande corvo youkai.

— Ryo?! É você, Ryo?! Você está bem? Não recebi nenhum novo relatório e boatos de um alvoroço no quinto distritos estão se espalhando. O que está acontecendo? Onde está Shihei? —  A voz de Masaru soava com uma enorme preocupação, repleta de ansiedade. Em resposta Ryo respirou profundamente e calmamente começou a falar.

— Mestra… Eu e o quinto general fomos atacados. Eles utilizaram uma droga que impede o uso e a canalização da energia espiritual, e isso, para um youkai, pode ser letal na minha percepção… Eles me atingiram, mas fui resgatado. Mas o quinto general… Eu não sei onde ele está… Se ele foi ferido com essa droga… O quinto general… O Shihei… Ele pode estar morrendo, mestra. — Após ouvir tudo que Ryo havia falado, o corvo se manteve em silencio por alguns minutos. Antes que Ryo pudesse notar, os olhos do corvo começaram a sangrar lentamente e a voz de Masaru soou mais uma vez.

— Ryo, onde você está? Seja onde for, se ainda estiver sendo perseguido e já tiver se recuperado, mate todos aqueles que tramaram contra você e o quinto. Isto é uma ordem. Eu mesma irei achar o quinto general enquanto isso. — A voz então se silenciou e o corvo pareceu voltar a ser somente um youkai corvo e partiu.

Com as palavras de Masaru, Ryo se virou para a direção onde sentiu a essência de Uroborosu. Quanto uma forte lufada de vento passou por ele e a chuva torrencial começou a cair, Ryo partiu em uma corrida silenciosa. Ele deveria achar Uroborosu e matar aqueles que feriram seu superior. Não, não era isso. Ele deveria matar aqueles que ousaram tentar matá-lo e matar seu amigo. Shihei é um bom youkai, amado por seu povo e por todos os youkais de seu distrito, que o tratavam como um Jovem Mestre, brincando com ele, presenteando-o e tratando-o realmente como uma criança. Por mais velho que fosse, ainda tinha a aparência e o comportamento de uma criança humana: gentil, caridoso, brincalhão. Quem o machucou… esses cretinos seriam todos mortos.

Em questão de segundos, uma neblina começou a sair das vestes de Ryo de maneira constante, inundando toda a floresta. Isso, com toda a certeza, prejudicaria extramamente a visão daqueles que ali estavam. Vendo a névoa, Fuyu, ainda nos ombros de Ryo, soltou um pequeno “uuh uuh”, parecendo gostar do ambiente que estava sendo criado. Em resposta, Ryo sorriu enquanto desaparecia na névoa, sendo visíveis apenas seus olhos violetas azulados que pareciam brilhar nesse ambiente.

Mais à frente de onde Ryo estava, um grupo de youkais lobos com vestes de samurais estavam correndo pela floresta em uma linha reta. O que estava mais à frente deles parecia levar nas costas algo que se assemelhava a uma bainha acorrentada com uma Katana  de cabo branco, com um pingente de uma serpente comendo a própria calda em sua kashira¹. A katana tentava se soltar constantemente das correntes, tentando voltar para seu verdadeiro dono, mas sem nunca conseguir. O youkai que a carregava riu e falou com sua matilha.

— Essa coisa realmente pensa que vai se soltar! Vejam isso pessoal. Desista logo, sua arma idiota. Com a chuva e a neblina, seu dono nunca vai resgatá-la, nem que consiga fugir dos nossos irmãos. Vocês estão perdidos. — Em resposta, o que parecia a risada de quarenta youkais lobos surgiu envolta do youkai que carregava Uroborosu.

E em meio às risadas, sem que percebessem, o som de algumas delas desapareceu ao fundo e gritos surgiram no lugar, o que fez a matilha cessar seus passos e olhar para trás quando os gritos começaram a se aproximar. Forçando seus olhos, o youkai que levava Uroborosu, viu apenas dois olhos de tom violeta azulado brilhando em meio à névoa. Cada vez que se aproximava, o grito de um de seus parceiros surgia e se perdurava em meio à escuridão da névoa. Pouco a pouco, aqueles olhos pareciam se aproximar, fazendo a katana em suas costas se agitar cada vez mais.

O youkai então se virou e começou a correr para longe, gritando a sua matilha para correr. Seja o que for que estava ali, estava os caçando como se  fossem apenas gado esperando para o abate. Não, era pior que isso, era como se fossem míseros ratos indo direto para a boca de uma grande serpente que estava dedicada a matá-los. Quanto mais corriam, mais essa sensação se instaurava no coração desse misero youkai. Aos poucos, os gritos começavam a se aproximar, seus companheiros o chamavam enquanto imploravam para serem salvos e, logo em seguida, eram silenciados pelo som de seus ossos se quebrando.

Cada vez mais, ele ouvia gritos e mais gritos sem parar, até que finalmente, quando olhou para os lados, estava completamente sozinho. O que matou seus companheiros havia se aquietado depois de matar todos eles? Até mesmo a katana agora estava quieta. Ele conseguiria fugir finalmente? Ele sorriu enquanto lágrimas escorriam de seus olhos, correndo incansavelmente dentro dessa floresta repleta de um vasto nevoeiro. Ele correu até se cansar, até não aguentar mais, e finalmente, quando achou que estava seguro, parou e se encostou sobre uma árvore, respirando pesadamente.

— Mas… mas que merda foi essa?! Meus irmãos… eles… estão todos mortos?! — O youkai disse roucamente, chorando baixinho. Ele não conseguia entender como apenas um único ser foi capaz de matar quarenta lobos de toda a sua matilha. Era impossível, tinha que ser… Como predadores como eles haviam sido caçados por um único misero ser?

Em meio às lágrimas, o youkai apenas conseguia ouvir o chirriar de uma coruja que parecia estar o envolvendo de todos os lados, mas isso não era o suficiente para tirá-lo de seu transe. Seus irmãos estavam mortos, tudo isso por uma katana e um humano… Do que isso valia a pena a final? Isso era realmente o suficiente para destruir o xogunato? O homem se perguntou.

Mas antes que enfim chegasse em uma conclusão sobre suas dúvidas internas o som de algo caindo sob seus pés o distraiu *plaft*, ouvindo o som o homem moveu seu olhar para o que estava no chão e quando viu, apenas conseguiu se virar e vomitar tudo o que tinha em seu estomago incessantemente, o que estava sob seus pés era a cabeça decepada de um lobo cinzento manchada de sangue e com cortes para todos os lados, aquele lobo… aquele lobo com toda certeza era a cabeça de seu irmão e percebendo isso ele apenas conseguiu vomitar e chorar, a cabeça de seu irmão havia sido decepada e alguém havia a jogado para ele.

— POR QUE, POR QUE ESTÁ FAZENDO ISSO?! — Ele gritou enquanto limpava o vomito em sua boca e continuava a chorar enquanto procurava por todos os lados a pessoa que havia matado seu irmão.

Em resposta, um riso quase sádico surgiu à sua frente e a voz de Ryo soou enquanto o som de passos lentos se aproximava. — Por quê? Vocês são realmente engraçados… Isso é simples, vocês roubaram o que é meu e feriram alguém importante para mim… e ainda ousam implorar por suas vidas patéticas? — Enquanto terminava de falar, Ryo finalmente começava a aparecer diante do youkai lobo, com seu quimono banhado com o sangue de todos os lobos que havia matado, com os braços e unhas totalmente banhados em um vermelho carmesim envolto ao verde dos primeiros youkais. As unhas de Ryo nem ao menos pareciam humanas de tão afiadas. Ao vê-lo, o youkai caiu para trás e ouviu mais uma vez o chirriar da coruja, agora finalmente a vendo no ombro de Ryo.

— ISSO NÃO É JUSTO, MONSTRO! VOCÊ MATOU TODOS ELES!! SEU LIXO, COMO UM LIXO COMO VOCÊ PODE CARREGAR O TÍTULO DE LÓTUS?! — O youkai gritava enquanto Ryo apenas o olhava com um sorriso no rosto e estendia sua mão totalmente aberta para o homem.

— Que piada, está tentando apelar para meu emocional pelo título que me deram para que eu não o mate? Sabe o que dirão se eu disser que o matei? Que um porco ousou manchar a preciosa lótus com sangue, sem nunca saber que estou banhado ao sangue de todos vocês. E mesmo que soubessem… vocês são criminosos que tentaram me sequestrar e matar o quinto general. —  As palavras de Ryo deixaram o youkai sem nenhuma reação. Ele estava certo, ele não teria nenhum apoio do povo. Ele era apenas um criminoso, um traidor da nação, e nada que dissesse poderia ser levado em consideração. — Uroborosu, já consegue se soltar? Volte para mim.

Com as palavras de Ryo, a katana finalmente conseguiu quebrar as correntes que a prendiam e voou de sua bainha, atravessando o pescoço do último lobo e voltando para a mão de Ryo ao mesmo tempo que o corpo do youkai caía. Na mente de Ryo, a voz de Uroborosu soou: — Uma lótus banhada a sangue… você leva mesmo jeito, pirralho.

— Sua cobra velha, pare de fazer piadas… Eu estou cansado, meu corpo ainda está doendo. Se quiser, deixarei que assuma o controle, mas me prometa que não comerá a coruja que está conosco. Ela é nossa companheira. Você concorda com isso? — Ryo perguntou cansadamente.

— Você sempre arrumando novos amiguinhos… Certo, eu concordo. Mas me diga para onde devemos ir agora? — Uroborosu perguntou calmamente para Ryo, sem nenhuma piada.

— Shihei foi ferido. Vamos para o único lugar onde minha mestra poderia levá-lo em uma situação como essa, onde devemos ir para ajudar Gonkuro-sama  a trazer Kishin de volta… Para a casa do segundo general. Devemos chegar em menos de duas horas e alertá-lo da situação. Confio em você para isso, Uroborosu. Assuma o controle total. — Ryo disse enquanto mirava a lâmina em seu peito e, por fim, se apunhalava — Vamos para o templo Huo, encontrar o segundo general. Vamos encontrar Huo Liming, Uroborosu.

[…]

Algumas horas mais tarde, em algum lugar do quinto distrito.

Jo Shihei já não sabia quantos dias haviam se passado. Seu corpo humano estava dolorido, ele sentia sangue escorrendo de seu peito de maneira constante, sua respiração ficando cada vez mais fraca enquanto sua audição era confusa pela constante água que adentrada em seu ouvido. Vez ou outra, ele sentia como se sua consciência estivesse prestes a desaparecer, e Shihei realmente não queria isso. Ele havia começado a chorar sem ao menos perceber. Ele realmente não conseguia entender: por que está ferido? Por que não consigo me curar? Eu estou morrendo? Eu não quero morrer!

Esses pensamentos iam e viam em sua mente de maneira constante: o medo, o frio, a dor, por que doía tanto? Mas então algo diferente surgiu. Uma forte lufada de vento veio agitando a água juntamente ao som de alguém caminhando sobre ela, e então ele foi tirado de lá e envolvido em um abraço caloroso, o que fez sua visão voltar um pouco. Era Masaru, sua Xogum, sua amiga, sua primeira amiga…

— Saru-chan… é você? ­­— Shihei perguntou com sua voz cada vez mais fraca enquanto movia suas mãos para tocar o rosto da mulher.

— Sou eu Shihei… eu achei você… você está seguro agora, eu achei você — Masaru respondeu aparentemente com uma voz frágil enquanto lágrimas desciam constantemente de seus olhos enquanto abraçava fortemente Jo Shihei contra seu corpo.

— Saru-chan, eu não estou conseguindo me curar… por que não estou conseguindo? Eu vou morrer? Eu não quero morrer, eu tenho medo do escuro irmãzona… eu não quero ficar no escuro… eu não quero morrer… — Shihei falava cada vez mais roucamente misturando sua fala a lágrimas que agora eram mais visíveis fora das águas do pântano, ele estava com medo e finalmente podia admitir isso agora que Masaru estava ali.

— Shhh, não chore Shihei. Não precisa chorar, não precisa ter medo do escuro… Eu não vou deixá-lo ficar no escuro… Eu não vou te deixar morrer Shihei, eu prometo — Masaru continuava a tentar acalmá-lo, limpando suas lágrimas enquanto um brilho azulado os envolvia, curando os ferimentos de Shihei. Aquela era a luz de Seiryuu, ele estava o curando.

— Saru-chan e Seiryuu são tão bons para mim… A dor sumiu um pouco agora… Saru-chan, eu posso dormir agora? Eu ainda vou conseguir abrir meus olhos se fechá-los agora? — Shihei perguntou com sua voz ainda rouca, enquanto lentamente começava a ceder ao sono.

— Sim… você pode descansar agora, Shihei. Eu vou levá-lo para o segundo general e você ficará bem… Eu e Seiryuu prometemos — E assim quando Shihei adormeceu nos braços de Masaru, Seiryuu, ainda como uma Kamayari, se pôs a flutuar atrás de Masaru, permitindo que ela se sentasse e levasse Shihei em seus braços, partindo então para o segundo distrito.

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        Capítulo 6 A cobra, a espada e o salgueiro
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        Capítulo 5 O habitante desta floresta
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        Capítulo 4 Um caminho de ossos a nossa frente
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        Capítulo 3 gosto amargo para Ryo
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        Capítulo 2 O vazio perante um novo começo
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        Capítulo 1 Um novo mundo, com você?!
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        Capítulo 0 Notas iniciais

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Entre Espadas

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