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Entre Espadas

Capítulo 27

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🟡 Em breve

A noite finalmente caía naquele dia, e Leonardo, por sua vez, continuava a sua busca por um lugar para que ele e Akiko pudessem descansar. Aparentemente por ser uma vila pequena, esse lugar possuía uma única pousada que de maneira honesta, Leonardo não se hospedaria ali nem que sua vida estivesse dependesse disso. Por isso, mesmo sem conseguir achar outro lugar, ele andou por cada rua daquela vila à procura de uma pousada, mas, como já esperava, não havia mais onde ele poderia se hospedar. Tudo o que encontrou, foram pequenas barracas de alimentos e algumas lojas. A esse ponto ele já se encontrava consumido pela frustração e irritação.

— Hoje realmente não é meu dia de sorte… Bom, pelo menos o Toyo acordou, isso me deixa um pouco mais calmo. — Ele continuava a dizer para si mesmo, enquanto se escorava sob o muro da entrada da vila.

— Talvez eu devesse dar apenas mais uma olhada nele… Não, vou me sentir um stalker fazendo esse tipo de coisa, credo! — Leonardo apenas deu dois leves tapas em ambas as suas bochechas, afastando a ideia de olhar Ryo novamente, pelo menos por enquanto, e tentou apenas voltar a pensar sobre em que local poderiam passar a noite.

Não tendo achado nenhuma outra pousada na cidade, ele sabia que o lógico seria voltar à pousada que havia visitado no início do dia, pedir desculpas por seu comportamento e implorar por dois quarto, mas ele obviamente não faria isso. Bom, havia outra opção, claro. Cinco anos atrás, ele e Ryo haviam ficado em um templo, por cerca de dois meses inteiros. Talvez ele pudesse procurar por outro templo, mas, se bem se lembra, os moradores da vila só haviam permitido que ficassem lá por acharem que Ryo era uma sacerdotisa adoecida. Sem Ryo, ele com toda a certeza não conseguiria arquitetar um plano desses e fazer com que funcionasse, mesmo se Akiko o ajudasse… Mesmo nessa vida, ele não consegue imaginar a Kaede como uma sacerdotisa.

E enquanto estava imerso em seus pensamentos, Leonardo não notou, mas Akiko finalmente havia chegado e parado bem a sua frente: — Leonardo? — Ela perguntou encarando-o confusa, quase como se tentasse confirmar que fosse realmente ele.

Ao ouvir a voz de Akiko, ele rapidamente se desfez de seus pensamentos sobre onde poderiam passar a noite e levantou sua cabeça olhando na direção da garota, que parecia um pouco pálida — Kiko, o que houve? Você parece pálida, conseguiu descobrir algo? — Leonardo perguntou se afastando da parede colocando as costas de sua mão na testa de Akiko para certificar-se que ela não poderia estar com febre.

— Eu estou bem… só estou um pouco receosa Leonardo… eu andei por essa vila o dia todo e do nada os moradores locais começaram a ficar estranhos, fazer coisas sem sentidos, eu realmente não quero ficar aqui, será que podemos ir embora? — Akiko parecia realmente cada vez mais abalada na percepção de Leonardo, o que o deixou genuinamente preocupado, fazia muito tempo desde que ele havia visto ela com tamanho desconforto sobre algo.

— Kiko… sabe que não podemos ir agora. O Tora precisa de um descanso; estivemos viajando em suas costas durante muitos dias. Não podemos nos aproveitar assim dele… mas se não quer permanecer aqui, tudo bem, eu a entendo. Podemos acampar nas redondezas, o que acha? — A voz de Leonardo expunha sua enorme preocupação com a jovem quando perguntou sua opinião sobre o que deveriam fazer no momento. Ele realmente estava disposto a permanecer fora da cidade se isso a deixasse menos abalada.

— E-eu concordo, na verdade… Leonardo, eu ouvi dos moradores, antes deles enlouquecerem sobre um templo perto a floresta onde costumavam fazer adorações a uma Deusa… Podemos ir para lá… Assim não passaríamos frio também. — Akiko sugeriu, olhando envolta como se tentasse garantir que não houvesse mais pessoas ali.

— Um templo? Sendo sincero, era exatamente o tipo de lugar onde estava pensando para nos hospedarmos… Você tem certeza de que podemos passar a noite nesse templo? Quando estávamos na sua vila, só me deixaram ficar lá porque… você sabe. — Leonardo perguntou com certo receio, enquanto lentamente observa Akiko tomar a frente para andar e começa a caminhar atrás da garota, acompanhando-a para fora da pequena vila em direção à grande mata fechada.

— Está tudo bem, Leonardo. Eles não vão se importar. Pelo que escutei, das conversas desse povo, o templo não é mais usado por eles há muito tempo. Somente não o derrubaram por medo de provocar a ira da Deusa. — Quanto mais Akiko falava, mais ela começava a se acalmar, com sua voz deixando a ansiedade de lado e apenas caminhado cada vez mais em direção à mata.

Ouvindo o que Akiko estava falando, Leonardo não pôde deixar de sentir uma certa estranheza em seu coração. Um templo ao qual as pessoas não iam mais adorar a Deusa deles com toda a certeza não era algo normal, principalmente nessa época em que as pessoas costumavam ser devotas a um Deus pelo menos. Até mesmo em Tatsumaki, vez ou outra, algumas pessoas iam ao velho templo que ele estava morando com Ryo para adorar uma Deusa. Então, por que aqui seria diferente? Ele se perguntou, e quando estava prestes a perguntar se Akiko conhecerá o motivo, uma luz azulada à qual ele já estava bem acostumado brilhou diante de seus olhos.

[ Uma nova notificação foi adicionada as mensagens do sistema para o usuário. Deseja vê-la agora?]

Vendo o aviso à sua frente, Leonardo optou por ignorá-lo temporariamente e acenou um rápido “não” com sua cabeça, fazendo que a caixa de diálogo enfim se apagasse. Ele enfim voltou a falar com Akiko.

— Kiko, você não acha estranho? — Ele perguntou, mantendo seu olhar no céu estrelado acima de sua cabeça.

— O que eu deveria achar estranho exatamente Leonardo? — Ela o respondeu, sem aparentar se importar muito com o que Leonardo estava falando, e continuou andando, sempre em frente, o que fez que logo eles pudessem ver ao longe o pequeno templo já desgastado pelo tempo.

— Bem, querendo ou não, estamos indo para um templo onde um Deus costumava ser adorado, e, bem, sabe, não é comum um templo, mesmo que pequeno, estar abandonado sem a visita de fiéis… Me faz pensar que talvez possa haver um motivo mais profundo para isso, você não acha? — Enquanto Leonardo falava, mais ele e Akiko se aproximavam do templo e mais ele tinha certeza de sua opinião. Aquele templo era desgastado e parecia ter diversas telhas quebradas; até mesmo suas paredes pareciam prestes a ceder, e Leonardo começava a questionar se aquele seria realmente um bom lugar para se passar a noite.

Estranhamente, Akiko parecia não se importar tanto com a aparência do local. Quando chegaram, ela apenas seguiu para o interior do templo, quase como se estivesse acostumada a frequentar o local. Mas para Leonardo era diferente; ele não sabia exatamente o porquê, mas ver o local em tal estado o fez se sentir mal, não pelo povo que ali morava não ter mais onde expressar sua fé, mas sim pela Deusa que ali era adorada, por ter seu templo tratado de tal forma. Analisando mais a fundo a parte exterior do templo, ele pôde notar o que deveriam ser estátuas de duas raposas de pedra partidas ao meio, uma de cada lado da velha escada de madeira de carvalho. Quando Leonardo subiu os degraus, as tábuas rangeram com intensidade, quase como se estivessem prestes a ceder. Ele enfim estava percorrendo os corredores externos, admirando a maneira a qual o velho templo havia sido construído, e com grande curiosidade voltou a falar de maneira mais intensa:

— Kiko, você sabe de qual Deus ou Deusa esse templo pertencia? Eu vi duas estátuas de raposas ali na frente, quebradas ao meio. Existe algum Deus ligado a raposas nesse País? — O interesse de Leonardo era óbvio. Por mais aflito que ele estava antes de saírem daquela vila, era quase como se ele nem se lembrasse mais dos problemas em que estavam. Akiko também parecia estar de melhor humor desde que haviam saído da vila.

E quase instantaneamente Akiko o respondeu de dentro do templo:

— Se não me engano, este era um templo para a Deusa Inari Okami. Antigamente, muitos camponeses construíram templos como forma de agradecimento a ela. Sabe, ela era a Deusa da agricultura também, e os agricultores costumavam vir fazer preces por uma plantação lucrativa e saudável. Como agradecimento, traziam diversas oferendas e construíram templos como este. Os templos da Deusa Inari são abundantes em todos os distritos. — Enquanto Akiko explicava, Leonardo pôde ouvir alguns sons estranhos vindo de dentro do templo, mas provavelmente Akiko estava apenas ajeitando o local para que pudessem ficar. Então ele continuou com suas perguntas.

— Mas e então, por que não fazem mais isto? Se a Deusa Inari prôve tantas bençãos a eles, por que eles não a adoram mais? Isso não seria meio contraditório? Sabe, eles a adoravam pelas bençãos que ela lhes dava e, depois que se sentiram satisfeitos, eles apenas pararam e ela continuou a ajudá-los? — Leonardo perguntou, enquanto se aproximava de uma parte das paredes onde algo que ele não conseguia ler completamente estava escrito, mas claramente era algo como uma dedicatória para a Deusa. A única frase que realmente conseguiu identificar era “Eternas benções-“

— Não exatamente, como posso explicar… Eles continuaram a adorá-la por muito tempo, mesmo depois que ela não atendia mais as suas bençãos. Eles realmente continuavam gratos a ela, mas, mesmo com a adoração diária, ela nunca mais atendeu a nenhuma bênção, não só as dos humanos, como também as das Kitsunes que possuíam uma forte ligação com ela… Era quase como se ela tivesse morrido. Aos poucos, muitos Deuses pararam de atender as preces que lhe eram feitas, até que todos pararam um dia, entende? — Leonardo suspirou quando Akiko terminou de falar e permaneceu em silêncio, observando a frase entalhada a madeira.

“Eternas benções”, até que ponto uma bênção poderia ser realmente eterna? A nova informação sobre Inari fez uma enorme dúvida surgir em sua mente. Pelo que Akiko estava falando, todos os Deuses haviam desaparecido, quase como se tivessem morrido. De maneira sincera, isso o fez se perguntar algo que talvez muitos já se perguntaram naquele mesmo local: até que ponto bênçãos são realmente eternas? Até que ponto um Deus é realmente imortal? No final, se até mesmo um Deus pode morrer, o que realmente os diferencia de todo o resto? Bom, isso era óbvio: poder. Tudo se tratava disso no final, poder. Até mesmo para ele, no fim, ele precisava de mais força, de poder o bastante para trazer Ryo de volta. E com esse pensamento em mente, Leonardo começou a ficar abatido e se direcionou para o interior do templo para ajudar Akiko.

[…]

 

Enquanto isso, na Vila Kumo no Su…

Já fazia quase duas horas que Akiko estava procurando Leonardo, com Tori ainda em seu ombro, olhando para os lados atentamente. Estranhamente, ela sentia que estava andando em círculos, quase como se estivesse presa na teia de uma aranha. Mesmo quando mudava de rua, era como se não tivesse dado nenhum passo. E não era apenas ela que tinha notado isso; Tori parecia ter começado a notar também e rapidamente começou a falar com a jovem:

— Akiko-chan, eu acho que estamos presos em algum tipo de feitiço… ou encantamento. Agora que estou notando, já passamos por essa rua quase cinco vezes. As lojas são as mesmas eu tenho certeza! — O galo fala entre cacarejos, com uma certeza evidente em sua voz.

— Sério, Tori? Você acabou de perceber isso? Eu te amo, mas às vezes eu não sei qual de nós dois é mais lerdo para perceber as coisas… — Akiko comenta entre resmungos, enquanto parava de andar, já cansada, e se sentava no chão olhando ao seu redor.

— Merda… O que a gente faz agora? Tori, você sabe como sair de um encantamento desses? Você é um espírito bem antigo, deve saber de algo, não é? — Com a pergunta de Akiko, o galo desceu de seu ombro e ficou andando em círculos à sua frente fingindo tentar se lembrar de algo, até finalmente desistir de tentar inventar uma maneira de sair dali.

— Eu… eu não sei… —  Ele admitiu, enquanto se senta de costas para Akiko. Ele obviamente se sentiu mal por não saber como ajudá-la nessa situação.

— Ei, ei, Tori, não fica assim, não precisa ficar mal pequeninho. Você já me ajudou demais mais cedo, lembra? Você não me deixou colocar aquela aranha na minha boca… Você não precisa conseguir me ajudar todas as vezes. Não vou deixar de chamá-lo só por algo tão bobo…

Ela continua a explicar enquanto o pega delicadamente, colocando-o sentado em seu colo. Quando finalmente terminou de falar, percebeu que ele estava mais calmo e havia deixado um pouco da tristeza de lado, o que a fez voltar a falar com ele em um tom mais animado.

— Já se sente melhor, não é? Não precisa admitir se estiver com vergon- — Estranhamente, enquanto estava falando, Akiko sentiu uma forte dor de cabeça surgir do nada, o que a fez se calar e soltar um pequeno gemido de dor. Quase instantaneamente, ela conseguiu ouvir perfeitamente o som agudo constante mais baixo surgindo em sua cabeça.

— Tori, você está ouvindo isso? — Ela perguntou ao galo, colocando as duas mãos apoiando sua cabeça enquanto a abaixa institivamente.

Vendo a reação de Akiko, o galo ficou confuso e a respondeu rapidamente:

— Akiko-chan, você está bem?! Eu não estou ouvindo nada… O que está acontecendo…? — Tori perguntou, extremamente preocupado com o bem-estar da garota. Ele se aproximou colocando sua pequena cabeça contra a dela, mais estranhamente estava aparentemente normal, não estava quente nem nada do tipo.

Por outro lado, Akiko parecia sentir cada vez mais seu corpo ferver, como se estivesse em uma panela de água fervente. Aquele som, o que era aquele som? Cada vez mais alto, cada vez mais agudo, cada vez mais incômodo. Em algum ponto, ela havia começado a gritar caindo de costas no chão enquanto se contorcia de maneira quase sobre-humana. Tal reação assustou não só Tori, que tentava conter os movimentos da garota para que ela não se machucasse nesse surto, mas também o tigre Tora e a cobra verde Mi, que surgiram em um brilho dourado dos céus para restringir os movimentos de Akiko, que continuava a tentar se contorcer e gritar caída no chão.

Assustados com o estado de Akiko, Tora e Mi simultaneamente gritaram a pergunta para Tori:

— O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM A AKIKO TORI? O QUE HOUVE?! — Mesmo sendo animais, a preocupação e aflição no rosto dos três era evidente. Afinal, desde que haviam feito o contrato com Akiko, essa era a primeira vez que a viam sentir dor de maneira tão intensa. E, mesmo sem que esperassem, todos estavam com medo de que algo acontecesse com ela. Afinal, nos últimos anos, não só eles, mas todos os espíritos dos zodíaco com os quais Akiko tinha feito o pacto já haviam se afeiçoado de maneira intensa à criança humana que os tratava com tanto carinho.

Demorou cerca de cinco minutos até que os movimentos de Akiko finalmente cessassem, e eles enfim puderam soltá-la. Ao mesmo tempo, se prestaram a olhar no rosto de Akiko, que havia ficado desacordada, e, ao vê-la dessa maneira, os três se entreolharam.

— Eu… eu não sei o que aconteceu. Alguém nos prendeu nesse local. Estamos tentando sair e achar o Leonardo a algum tempo, mas… eu não sei como nos livrar de um encantamento de prisão… E então, do nadam a Akiko disse que estava ouvindo um som e vocês apareceram… Tora, por favor nos ajude. — A voz de Tori parecia começar a fraquejar entre cacarejos fracos e uma voz rouca quase chorosa, enquanto se aproximava do grande tigre branco.

Tora, por sua vez, apenas olhou ao redor e suspirou antes de olhar para Akiko.

— Garota boba… Assim que descanso, você e o Leonardo entram em uma ilusão dessa magnitude… — Tora parece realmente ter ficado de mal humor. Ele olhou mais uma vez para Tori e Mi, que ainda estavam ali, e logo eles entenderam o recado: eles deveriam ir embora e ele cuidaria do resto.

Com isso em mente, relutantemente, os dois espíritos desapareceram rapidamente dali, enquanto Tora se movia para frente de Akiko e a olhava desacordada, preocupado se ela conseguiria acordar rapidamente. No entanto, ele não poderia se preocupar com isso agora, então se esforçou para não pensar muito. Inalou o máximo de ar que conseguiu em seus pulmões e se abaixando para Akiko, soltou um rugido quase estrondoso, seguido por um forte vento. Com a luz da lua ele viu partículas estranhas e brilhantes sendo levadas por essa forte lufada de vento. Devido ao barulho, quase instantaneamente, Akiko abriu seus olhos e se sentou apressadamente e ofegante. Ainda olhando para o chão, ela pôde ouvir a voz de Tora.

­— Precisarei descansar por alguns dias, Akiko. O Inu irá te acompanhar até onde você precisa ir. Ache o Leonardo. Se ele está nessa ilusão, ele não terá ouvido meu rugido por não estar aqui… Até logo, criança. — Por fim, Tora desapareceu em uma luz brilhante amarelada, e Akiko, por sua vez, se levantou ainda confusa, olhando ao redor.

Seus olhos, anteriormente castanhos, haviam tomado uma nova tonalidade de verde e, por alguns segundos, ela parecia até mesmo ter se esquecido de onde estava enquanto tentava se manter equilibrada de pé. Enquanto mantinha seus esforços se mantinham para ficar de pé, outra luz surgiu dos céus e um cachorro de pelo marrom, aparentemente sem raça, apareceu à frente da menina e, repleto de preocupação, começou a falar com ela, ainda tentando se equilibrar.

— Kiko-chan, o que está havendo?! Há um alvoroço entre os outros. Me disseram que você está mal. EU VOU TE AJUDAR NO QUE PRECISAR!! — O cachorro falava tão rápido que era quase difícil de acompanhar. Ele estava preocupado, mas também animado para ajudar Akiko, e tudo isso se mesclava à velocidade em que falava cada coisa.

A jovem, por sua vez, pareceu demorar a conseguir enxergar bem e quando finalmente se estabilizou, suspirou pesadamente. Colocando a mão na garganta, abriu e fechou a boca algumas vezes, quase como se não bebesse água há muito tempo. Ela finalmente voltou a falar:

— Inu… ainda… ainda se lembra do cheiro do Leo?

O cachorro pensou por alguns segundos antes de correr em círculos duas vezes e latir alto para Akiko como uma afirmação. Vendo isso, Akiko suspirou e voltou a falar:

— Precisamos chegar até ele… Consegue rastreá-lo? — Ela parecia cansada, quase sobrecarregada em meio às suas palavras, mas continuava calmamente a falar e se estabilizar.

— SIM, EU CONSIGO! — O cachorro farejou o ar por alguns segundos e, devido ao grande aroma de flores por todos os lados, ele demorou um pouco mais, logo conseguiu identificar naturalmente o cheiro de Leonardo entre todos os outros. — ACHEI, VEM, VEM POR AQUI, AKIKO!! — O cachorro disse, se virando em direção à saída da Vila Kumo no Su e começou a correr até a saída.

Vendo-o partir em disparada, ela respirou fundo, olhando mais uma vez ao redor enquanto começava a correr atrás dele. Para seu espanto, o ambiente da vila havia mudado totalmente. À medida que corria, ela percebia melhor: as casas e vendas, anteriormente bem arrumadas até mesmo com fluxo constante de pessoas, estava totalmente desertas. As casas estavam com tábuas quebradas e totalmente cobertas por enormes teias de aranha, e as pessoas, anteriormente só estranhas, estavam em um estado quase de mumificação, com moscas as rodeando por todos os lados e o cheiro de carne podre começando a surgir no ar. Em suas cabeças, grandes aranhas de diferentes tons pareciam controlá-las ao mesmo tempo que consumiam lentamente. Enquanto corria, ela pôde ver uma dessas aranhas fincando sua boca dentro do crânio de uma dessas pessoas, mas sozinha sabia que não conseguiria fazer nada… Ela precisava encontra-lo.

Quando enfim saíram da vila, a jovem tirou da parte traseira de sua roupa seu kusarigama¹, mantendo-o cuidadosamente em sua mão enquanto seguia Inu na direção de um templo velho. Enquanto se aproximavam, Inu simplesmente parou, o que a fez parar junto a ele.

— O que houve Inu?! — Ela perguntou apressadamente.

— Tem outro cheiro… Akiko, além de o Leo, tem outra pessoa ali com o seu cheiro… — A informação que Inu a passou a fez ficar estática por um breve momento. Quem quer que tivesse levado Leonardo até ali esteve se passando por ela de maneira tão perfeita que o convenceu a sair da vila para que ficasse sozinho. Ela precisava correr.

— Inu, volte aos céus. A partir daqui, irei sozinha. Obrigada por me ajudar, você é um bom garoto. —  Com as palavras de Akiko, Inu não pôde deixar de abanar rapidamente o rabo com uma alegria evidente antes de desaparecer em uma luz dourada.

Finalmente sozinha, ela se virou em direção ao templo e lentamente caminhou até as escadas, ficando parada abaixo delas, sem subir os degraus, apenas encarando o interior do templo. Ela sabia que Leonardo estava ali, mas não tinha ideia de como o encontraria. E depois de tantos anos, o medo de que o encontraria machucado ali dentro surgiu em seu coração. Ela não conseguiria se perdoar se falhasse com eles.

Quando por fim conseguiu reunir suas forças e coragem para subir, ela se esforçou para que as tábuas não rangessem muito, para parecer que era apenas o vento se movimentando em volta da região causando os sons. Escorando-se contra a entrada do local, ela conseguiu enfim ouvir a voz de Leonardo.

— Sabe, Kiko, eu não achava que você sabia tanto sobre essas coisas. A maneira como você fala é quase como se morasse aqui há tempos. Às vezes me esqueço que aquela garotinha pequena ficou tão grande e inteligente — A voz de Leonardo parecia como sempre, alegre e acolhedora. Afinal, ele sempre foi assim, calmo e acolhedor com todos. Esse foi um dos grandes motivos de terem virado melhores amigos, e era exatamente por isso que ela não o deixaria ser enganado por um maldito youkai.

E antes mesmo que a voz da farsante pudesse soar no ar noturno, ela abriu a porta de uma vez, arremessando a parte que se equiparava a uma foice de sua arma, que atingiu diretamente as costas da farsante, que gritou de dor, assustando Leonardo. Sem ao menos dar chance algum deles reagir, ela puxou a outra pessoa para fora, se deparando com uma figura exata de si mesma.

Assustado com a situação, Leonardo correu para fora, onde viu… a Akiko atacando ela mesma? Ele não conseguiu entender bem, mas sabia que tinha visto ela ser machucada e instantaneamente se moveu em alta velocidade, usando o sangue da ferida da Akiko que havia caído para formar uma katana de sangue e colocá-la em direção do pescoço da que havia a atacado.

— Mas que… Quem… Quem de vocês… Que merda é essa, por que tem duas de vocês?! — Ele perguntou, tentando conter um grito, mas ainda elevando sua voz enquanto a mão que segurava a katana continuava a tremer.

Sem ao menos der chance para que ela começasse a falar, a farsante caída no chão começou a gritar:

— LEONARDO, EU… SOU EU… ESSA COISA É UM YOUKAI… MATE ELA… ARGH, ISSO TÁ DOENDO! — Ela continuava a gritar em desespero enquanto o olhar de Leonardo tremia entre ela e a verdadeira. — O QUE ESTÁ ESPERANDO?! LEONARDO, NÃO CONSEGUE ME RECONHECER MESMO DEPOIS DE QUATRO ANOS ME CONHECENDO?! — A farsante continuava para tentar convencê-lo a atacá-la, mas mesmo assim ele ainda não conseguia se mover.

— EU PRECISO PENSAR, DROGA, POR QUE TEM DUAS?! — Ele olhou para a que estava caída e depois para a que segurava a arma, que ainda permanecia em silêncio, e notou algo que ainda não havia percebido: os olhos dessa Akiko estavam verdes… Mas os olhos dela eram castanhos. — VOCÊ, FALE ALGO, POR QUE NÃO FALA NADA?! POR QUE SEUS OLHOS ESTÃO DE OUTRA COR?!

Com a pergunta de Leonardo, a garota riu enquanto lágrimas começavam a cair de seu rosto, e ela por fim veio a falar:

— Eu posso explicar… — E antes que terminasse de falar, ela apenas puxou a foice para trás, trazendo a farsante presa a ela junto, fazendo-a ficar de joelhos. — Mas que piada… Você cometeu um erro crucial nessa farsa, garota… Eu não conheço o Leo há quatro anos… Eu o conheço desde que ele tinha cinco anos.

Ao ouvir aquilo, o olhar de Leonardo estremeceu. Aquela maneira de falar, os olhos, não…

— Não… não pode ser….— Ele falava, gaguejando entre suas palavras e desmanchando sua katana. E antes mesmo que ele pudesse continuar a falar, ela voltou a falar.

— Além disso, se vai se passar por mim, certifique-se de usar meu nome, sua coisa imunda! — Ela disse, arrancando a foice das costas da falsa Akiko e enrolando a corrente da arma no pescoço da farsante. Então voltou a falar em alto e bom som: — MEU NOME É TOYOSAKI KAEDE. LEMBRE-SE DISSO, POIS EU IREI MATÁ-LA  POR MATAR TODA ESSA VILA E TENTAR FERIR MEU CUNHADO!!

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Um relacionamento que acabou de maneira conturbada e um acidente que causa a morte de ambos, foi assim assim que Ryo e Leonardo se viram em um mundo feudal durante um xogunato, onde aparentemente...

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