Capítulo 29
Quando Byakuya enfim o afastou, encerrando o beijo, os lábios de Oliver estavam vermelhos e até mesmo um pouco inchados. Como se não bastasse, ele nem mesmo havia realmente processado o que tinha acabado de acontecer. Somente agora seu rosto começou a tomar uma tonalidade avermelhada pela vergonha enquanto encarava os lábios de Byakuya, que se encontravam em uma situação semelhante à sua. Vendo que aquele beijo realmente não havia sido apenas um sonho criado em sua mente fantasiosa, o coração de Oliver chegou até mesmo errar uma batida. Ele não sabia quantas vezes havia fantasiado em beija-lo enquanto lia OLVDAL¹ e agora… agora isso era real.
— Ah… não foi horrível. — Byakuya falou em um suspiro longo, olhando rapidamente para Oliver, que continuava perdido em seus pensamentos. Assim, o youkai se virou para se levantar da cama onde estava, vendo à sua frente seu servo com olhos arregalados e bico aberto.
— S- Senhor Byakuya… o senhor está realmente mal, não é?! Não se force a levantar. — Mayuzu dizia enquanto gagueja entre piados e, aos poucos, saía para o lado de fora da cabana, deixando apenas Oliver e Byakuya ali.
Com a saída de seu servo, ele pareceu não entender sobre o que Mayuzu estava falando, o que acabou o deixando uma expressão confusa em seu rosto. Ele se forçou a levantar, mas logo em seguida caiu para trás, sentado, assim que se colocou de pé. Ao seu lado, Oliver soltou um riso baixo, mais muito audível para Byakuya, que o encarou com uma expressão feia no rosto.
— Ei, não precisa me olhar como se eu estivesse zombando de você. Seu servo tem razão, sabe? Você ainda precisa descansar, Byakuya. Posso ter restaurado sua energia espiritual, mas seu corpo ainda está cansado daquela batalha… Além disso, você ainda precisa recuperar totalmente seus ferimentos. Isso deve demorar só algumas horas, agora que este energizado. — Ele continuava com um sorriso tímido no rosto, enquanto falava com Byakuya sem coragem de olhá-lo nos olhos após o que havia feito anteriormente. Afinal, que tipo de pessoa beija o outro sem ao menos conhecê-lo?
Byakuya, por sua vez, continuava a olhá-lo até mesmo com certa curiosidade. Um humano havia o salvado e cuidado dele durante dias, além de aceitar restaurá-lo rapidamente e agora ainda ria de sua situação… Esse humano… Ele é louco? — Tsk… afinal, quem é você? — perguntou enfim, sem ao menos notar que realmente desejava saber.
A pergunta de Byakuya fez com que Oliver parasse por alguns segundos. Olhando para o lado onde estava a notificação do sistema ainda esperando que ele a abrisse, ele se perguntou brevemente sobre quem deveria dizer ser. O Santo Akihiro? Não… por mais que desejasse viver agora apenas como o personagem em quem tinha encarnado, não era esse quem ele era. Não havia sido Akihiro que dedicou anos de sua vida a ir para outro continente para salvar um youkai que nem ao menos sabia de sua existência… — Oliver, meu nome é Oliver… sou um estrangeiro de outras terras, um Santo para ser mais exato. — Ele respondeu enfim, estendendo sua mão aberta para Byakuya.
Em resposta, Byakuya apenas olhou para a mão aberta do garoto e voltou a se deitar na cama, mantendo seu olhar para o teto da casa. — Oliver, é um nome realmente estranho… — comentou, fechando seus olhos mais uma vez.
— Disse o homem com orelhas de cachorro… — resmungou Oliver, enquanto se virava para olhar a parede à sua frente, olhando diretamente para o aviso constante do sistema. Como se usasse os olhos para abri-la, a mensagem do sistema enfim ficou visível.
[ Uma nova missão foi vinculada ao usuário 00001
Título de missão: A queda de Kumo-rui
Detalhes da missão: Junte-se aos dois usuários presentes no décimo terceiro distrito e parta em uma caçada ao youkai maligno que continua a trazer desgraça para humanos e youkais no décimo terceiro, décimo segundo e décimo primeiro distrito.
Detalhe adicional: Caso o personagem Byakuya estiver presente, o grupo terá uma grande vantagem em combate. Além disso a localização do usuário 00001 foi compartilhada com seus parceiros de equipe como a localização de um curandeiro. Por favor, ajude-os, Oliver.
Recompensa de missão: ???]
— Mas que raios…! — Oliver sussurrou para si mesmo enquanto lia a mensagem do sistema à sua frente. De maneira sincera, ele não podia negar que achou que levaria mais do que três dias para que surgisse outra missão. Afinal, ele havia acabado de completar uma missão que o sistema havia lhe dado. Era um pouco decepcionante ser explorado a tal ponto, e, quase como se pudesse ouvir suas reclamações internas, outra mensagem do sistema logo apareceu:
[ Como uma compensação para o usuário 00001 pela distribuição sem intervalo de missões, uma quantia elevada de ienes foi colocada em seus pertences pessoais.
Agradecemos sua colaboração!]
Após ler a mensagem, Oliver não pôde deixar de ficar consideravelmente nervoso. Sinceramente, como ele carregaria dinheiro na sua bagagem se mal couberam suas roupas naquela mochila de couro? E assim, em meio seu estresse, ele continuava a tentar manter-se parado, como se só estivesse descansando sentado na cama. Mas não demorou muito até que o silêncio finalmente fosse interrompido.
— Por que seus batimentos subiram de novo? — Byakuya perguntou, sem olhar na direção de Oliver.
A pergunta de Byakuya o assustou por um breve momento, fazendo-o se perguntar por apenas um segundo de como ele poderia saber a frequência dos seus batimentos cardíacos, até se lembrar que tipo de youkai ele é. — Oh… de novo? Como assim de novo?
— Sim, de novo. A primeira vez foi quando te beijei e agora, quando você estava aí parado… isso é normal para vocês humanos? Parecem sempre tão dramáticos demais… — O youkai cachorro continuou a verbalizar levianamente suas queixas sobre os humanos, parecendo até mesmo se esquecer do fato de que havia sido salvo por um.
— Não acha que está falando demais para um youkai que acabou de ser salvo por, como você mesmo disse, um “humano dramático”? E sim, Byakuya batimentos cardíacos elevados são normais em casos de estresse e cansaço, e é isso que estou sentido agora. — Ele reclamou, enfim se deitando na cama ao lado de Byakuya, que o olhou como se estivesse prestes a mandá-lo sair dali. E, mesmo antes que ele falasse, Oliver respondeu:
— Eu te salvei e te curei, estou cansado e vou ficar deitado. Tem alguma reclamação sobre isso? — O garoto continuou a expressar seu descontentamento, ficando ainda mais estressado.
— Não.
— Ótimo. Por sinal, Byakuya, o que pretende fazer quando conseguir ficar de pé? — Ele voltou a puxar assunto, se acalmando aos poucos.
— Voltar e matar aquele inseto… — Ele respondeu, sem demonstrar se importar muito com a pergunta feita.
— Sozinho? — O loiro perguntou, se virando para olhar no rosto de Byakuya, que continuava encarando o teto de maneira totalmente calma.
— Sim, aquela aranha tentou me matar primeiro, devo responder à altura… e como imagino já ter percebido, Mayuzu não é um guerreiro. — Ele explicou após um longo suspiro.
— Realmente, mas acho que se for sozinho só acabará ainda pior do que agora, Byakuya. Você pode até mesmo acabar morto. — Oliver continuou a falar tentando manter o tom calmo em sua voz, e agora aquele estresse que o cercava se tornava aos poucos uma preocupação crescente.
— De fato, isso pode ocorrer, mas é algo que devo fazer. Você não entenderia, mesmo se tentasse. — O cachorro o respondeu, finalmente o olhando nos olhos.
— Por que sou humano? — Oliver perguntou, achando já saber o que ele responderia.
— Não, é porque diferente de mim, você não precisa se provar digno do que lhe pertence. Seres como você nunca poderão entender seres como eu… assim como aqueles como eu jamais entenderão seres iguais a você. — Com essa resposta, Oliver não pôde deixar de ficar surpreso. Ele realmente não esperava por tal resposta e, por um breve instante, pôde jurar ver até mesmo um certo pesar nos olhos do youkai.
Mas, antes mesmo que pudesse dizer algo para talvez confortá-lo, Byakuya se levantou, sentando-se na cama e olhando em direção à porta. — Algo está se aproximando… tem passos pesados, fique alerta.
[…]
Momentos antes, na grande floresta de Kumo-rui.
Leonardo continuava a carregar Kaede em seus braços, adentrando cada vez mais profundamente a floresta. Ele encarava a janela do sistema, que mostrava um mapa de cor azulada à sua frente, direcionando o caminho até um ponto rosa que piscava mais intensamente a cada passo que os deixava mais próximos.
Olhando para Kaede, as veias em seu braço começavam a tomar uma coloração esverdeada, provavelmente devido à picada da aranha a qual ela enfrentou. Olhando para as condições de sua cunhada, seus olhos tremeram por um breve momento. Então ele voltou seu olhar para o mapa e o caminho à frente mais uma vez.
Kaede, por sua vez, estava tendo pequenos lapsos de consciência. Sempre que fechava os olhos, por mais que pensasse ser por um breve momento, ela sabia que muito tempo já havia se passado. Aos poucos, o veneno estava tomando conta dela e já havia se misturado ao seu sangue, o que provavelmente impedia Leonardo de curá-la. Independentemente de ele usar seu controle sobre o sangue para tentar ajudá-la, isso poderia apenas espalhar mais o veneno por suas vias sanguíneas. Mesmo assim, com dor e cansaço, ela se esforçou para falar.
— Leonardo, não fique com essa cara de culpado… uma aranhazinha não vai me matar assim… se eu morresse por isso, a Shishou iria pessoalmente ao Submundo para me repreender… — disse a menina rindo enquanto tossia.
— Não brinca com isso Kaede. Você já morreu uma vez, não posso deixar isso acontecer de novo. Eu não me perdoaria, e o Ryo também não… — respondeu Leonardo, sem parecer ter alguma pretensão de rir, continuando estranhamente sério.
— Eu tinha me esquecido disso… morrer. Leo, como eu morri? — perguntou ela, o que fez Leonardo hesitar por um segundo antes de continuar a andar.
Inicialmente, ele parecia não ter a intenção de responder à pergunta feita por Kaede, mas então, logo ele voltou a falar:
— Foi um acidente de carro. Você tinha ido viajar junto com o Ryo e o Daniel para a casa de praia de vocês. Eu tinha ido na frente junto com as malas, mas vocês nunca chegaram. No dia seguinte, a polícia procurou a mim e aos seus pais por causa do carro caído da estrada. Por ser um ambiente montanhoso, inicialmente pensaram que vocês três tinham morrido, mas… eu não consegui aceitar que… você sabe. Então, depois de dois meses procurando sem parar, eu achei o Ryo, cheio de machucados, coberto de sangue e totalmente apagado na beira de um rio. E então, quando ele se recuperou, ele me disse que você e o Daniel morreram devido às feridas e aos animais selvagens…
Ouvindo atentamente o que Leonardo estava falando, ela virou sua cabeça para frente e sussurrou para si mesma:
— Animais então…
Somente então, ela voltou a falar em um tom que Leonardo a pudesse ouvir bem:
— Então você o achou, isso é bom… claro, é péssimo por eu ter morrido, mas fico feliz que pôde salvar meu irmão. — Ela disse sorrindo, enquanto adormecia mais uma vez.
Quando ela enfim adormeceu, Leonardo suspirou e parou, olhando para frente em direção ao mapa, que agora apontava que estavam a poucos passos de onde a pessoa que deveriam encontrar estava. Por trás do mapa, uma pequena cabana de madeira era vista, com uma espécie de pardal sentado ao lado da porta. Aos poucos, Leonardo se aproximou, alertando o pardal, que correu para dentro da casa antes que ele pudesse falar algo. No instante seguinte, um garoto de cabelos loiros curtos, na altura dos ombros e ondulados, com olhos rosados e vestes brancas como as de um santo, saiu pela porta, seguido por trás por um youkai com orelhas de cachorro e vestido como um jovem guerreiro, que se apoiava na porta para olhar para Leonardo e Kaede.
— E-eu estou procurando um curandeiro… me mandaram para cá, minha amiga… ela foi envenenada — disse Leonardo, mantendo uma certa distância das figuras à porta da cabana.
— Sou eu a quem você está procurando. — O rapaz de cabelos loiros disse, aproximando-se de Leonardo até estar próximo o bastante. Tocando o machucado de Kaede e analisado a coloração de suas veias sanguíneas, o rapaz então fez um gesto estranho com sua mão, e uma janela do sistema apareceu diante de Leonardo. Algo se escreveu sozinho naquela janela vazia, assustando-o:
“Meu nome é Oliver, o sistema mandou vocês para mim para que trabalhemos juntos. Vou curá-la, não se preocupe, ninguém aqui lhe fará mal.”
Oliver então se virou e direcionou a palavra para Byakuya:
— Você se importa se eu os ajudar na cabana? — perguntou com um sorriso no rosto.
O youkai, por outro lado, mesmo mal-humorado com a ideia de dividir o local com ainda mais humanos, não se via em condições para discutir. Então, se virou e adentrou a cabana novamente.
Oliver riu com a reação de Byakuya e se virou para Leonardo:
— Não se preocupe com ele, vocês podem entrar. Oh, é mesmo, qual o nome de vocês? — continuou a falar enquanto caminhava juntamente com Leonardo em direção entrada da cabana.
— Meu nome é Leonardo, e ela é a Kaede… e obrigado por se disponibilizar a nos ajudar, Oliver… — Leonardo suspirou, enfim entrando na cabana.
No canto, estava Byakuya sentado no chão com Mayuzu ao seu lado, e mais à frente, uma cama vazia, onde Leonardo gentilmente colocou Kaede, ainda desacordada, e se afastou, sentando-se no chão.
Enfim, Oliver entrou, fechando a porta atrás de si e se sentando em frente à cama, observando com mais atenção os ferimentos de Kaede. Percebendo algo, ele se virou para Leonardo:
— Isso no ombro dela é uma picada de aranha, não é? Foi aquela coisa que fez isso? — perguntou seriamente curioso.
Leonardo então suspirou:
— Foi a décima terceira general, ou ao que parece um corpo falso dela. Pelo que a Kaede falou, a verdadeira está escondida na floresta e, sinceramente, não sei por onde começar a procurar. — O garoto terminou de falar, escorando a cabeça contra a parede para descansar ao menos um pouco.
— Ela de novo… certo, não se preocupe, vou ajudar sua amiga e depois eu e o Byakuya ajudaremos com essa aranha maldita… — disse Oliver, se virando para Kaede mais uma vez, agora com seus olhos brilhando, destacando o rosa de suas íris, enquanto suas mãos começavam a emitir uma luz prateada como a lua.
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Capítulo 29
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Entre Espadas
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