Capítulo 3
A princípio, ele não entendeu bem onde estava e quem era aquele ao seu lado, mas, após respirar um pouco e esfregar os olhos, o garoto se recompôs e se sentou, tocando aquela grama ainda molhada pelo orvalho da manhã. Ele olhou mais uma vez para o garoto ao seu lado, que estava deitado adormecido. Ryo sabia quem ele era, mas parecia tão diferente ao mesmo tempo que dava a impressão de não ter mudado muito. Ele estava claramente mais alto, seus cabelos um pouco maiores, mas ainda lindamente encaracolados. Aquele rosto que agora, enquanto dormia, parecia tão perfeitamente calmo pela primeira vez em tanto tempo, e sua boca… “Hm… isso… são aqueles piercings em cada lado da boca…? Snake alguma coisa…” O garoto sussurrou para si. Seu olhar desceu para as roupas do garoto: uma regata de tecido transparente preto e calças largas feitas de tecido cinza.
Ele não soube o porquê, mas ficou o encarando por algum tempo enquanto dormia, talvez um pouco por nostalgia ao vê-lo tão relaxado ou pelas mudanças sutis no garoto. Por fim, Ryo se levantou e finalmente notou que ele também estava um pouco diferente. Sem ligar muito para sua aparência, ele novamente dirigiu seu olhar para Leonardo dormindo e depois olhou em volta; eles estavam em uma clareira. Ele respirou fundo e se aproximou mais do garoto deitado, então levantou o pé para chutar o garoto para que ele acordasse, mas parou quando estava prestes a atingi-lo com a sola do sapato, pois se tocou naquele momento de que o sapato era um Geta e pensou: “Com a sola da sandália vai doer… melhor não.”
Ryo então andou até ficar acima da cabeça de Leonardo e se agachou, observando o rosto adormecido do outro por um tempo, parecendo querer memorizá-lo antes de acordá-lo. Em meio a seus pensamentos, um se destacava entre os outros: “Ele continua bonito…”
Somente após um longo tempo de admiração ao rosto de seu companheiro, o garoto finalmente optou por acordá-lo. Lentamente, usou o dedo para cutucar a testa de Leonardo: — Ei, acorda, você já dormiu o bastante, Leo.
Aos poucos, com a voz de Ryo o chamando e as constantes batidas em sequência em sua testa, Leonardo abriu os olhos com certa dificuldade. — Hm… o quê? — O jovem falou de maneira sonolenta enquanto finalmente abria completamente os olhos, olhando diretamente para o rosto de Ryo, que estava diferente o bastante para fazê-lo esquecer o que iria falar, deixando-o boquiaberto.
— O que foi? Por que está me olhando assim? Eu fiquei estranho?! — O garoto disse, ficando um pouco preocupado ao ver a reação do outro. Só agora parou para reparar em si mesmo: seu cabelo, que já era grande em sua antiga vida, agora parecia maior, como se cobrisse todas as suas costas. Ele usava um kimono onde a parte de cima era branca com alguns detalhes em dourado na costura, e as calças eram vermelhas. Ele não notou nada de estranho em suas roupas, então… seria seu rosto? Mas antes que ele pudesse ficar paranoico, o outro por fim voltou a falar, recuperando aos poucos sua compostura.
— Toyo… você está diferente, é só isso… por que está diferente? — Leonardo perguntou enquanto se sentava com cuidado, ficando frente a frente com Ryo e somente agora percebendo que já não estavam mais no tatame. — Por que… por que estamos no meio do nada? Eu não lembro de termos saído da sala de treinamento, minha cabeça está doendo…
— Que pergunta é essa, Leonardo? Não se lembra do que aconteceu? — Ryo perguntou com calma enquanto movia sua mão para a cabeça de Leonardo para verificar se havia algum ferimento que indicasse a queda do elevador.
— Me lembrar? Exatamente do que eu deveria me lembrar? — Leonardo pareceu confuso com a pergunta feita por Ryo e tudo o que pôde fazer foi respondê-lo com outra pergunta.
— Leo, quando o treino acabou, nós saímos da sala e acabamos discutindo no banheiro e, de lá, fomos para o elevador do prédio. — O garoto continuava a falar, parando de mexer na cabeça de Leonardo quando se deu conta de que não havia nenhum ferimento ali, e então continuou: — E enquanto discutíamos, o elevador se rompeu das cordas, e ele caiu e nós dois bem… você sabe.
Ouvindo as palavras de Ryo, a dor na cabeça de Leonardo passou aos poucos e ele pôde voltar a falar: — Então nós morremos… discutindo? E viemos parar… onde exatamente viemos parar?
Com as duas perguntas feitas por Leonardo, vendo que ele realmente aparentava não se lembrar do acidente, um gosto amargo como sangue veio rapidamente à boca de Ryo: — Não se preocupe em saber sobre o que discutimos, sabe como somos, brigamos muito. E, respondendo sua outra pergunta, até onde sei, isto é uma segunda chance, dada, pode-se dizer, por uma Deusa?
— Então… a gente veio parar em um isekai? Isso explicaria por que você está vestido como uma sacerdotisa. — Leonardo disse, provocando Ryo com uma risada descontraída enquanto se levantava.
— Nem pense nisso. — Ryo se levantou logo após Leonardo e deu um tapa no ombro do outro rapaz. — Não ouse me chamar de sacerdotisa… idiota. Além disso, você não está em posição de ficar reparando em mim. — Ele disse com um leve riso no rosto após olhar para os olhos de Leonardo e para sua cintura.
Ouvindo o que Ryo disse, Leonardo não pôde deixar de olhar rapidamente para seu próprio corpo em busca de algo estranho, mas não conseguiu identificar exatamente o que Ryo achou tão engraçado. — Como assim? Eu estou normal.
—Leonardo, seus olhos são violetas e você tem uma tatuagem na cintura… se eu sou uma sacerdotisa, você é um esquisitão. — Ryo dizia com um sorriso presunçoso no rosto.
— Pelo menos eu estou estiloso, senhor puritano. — Leonardo disse, zombando de Ryo enquanto o observava dos pés à cabeça. Estranhamente, os dois pareciam competir entre si para ver quem se estressaria primeiro.
E após um longo tempo de discussão um com o outro, em uma competição mesquinha para tirar o outro do sério, os dois finalmente se aquietaram e olharam em volta, tomando ciência do local onde estavam. Aparentemente, estavam em uma clareira no meio da floresta, sem saber para onde exatamente deveriam ir.
— Então, Ryo, além de o rolê de estarmos em um tipo de isekai, tem algo mais que eu deveria saber? Por exemplo, esse mundo é igual ao nosso? — Leonardo perguntou, quebrando os minutos de silêncio que haviam se instaurado enquanto olhavam ao redor.
— Bem, até onde sei, esse é um mundo onde magia e coisas desse tipo existem, então a probabilidade de existir monstros é bem grande, sim. — Ele respondeu com sinceridade, enquanto se lembrava de que estavam no meio da imensidão de uma floresta, sem saber por quantos quilômetros ela se estenderia.
— Se é assim, talvez seja melhor decidirmos um lado e partir floresta adentro. Se estivermos em movimento, as chances de algo nos encontrar podem ser mais baixas do que se ficarmos em um local aberto…— Leonardo dizia com calma enquanto andava em círculos, tentando decidir para que lado poderiam seguir.
Ryo então respondeu, procurando ficar calmo: — Bem, isso é, de fato, verdade. Além disso, aparentemente não temos comida nem água com a gente. Deveríamos procurar civilização, o que acha?
— Você tem razão. Então, o que acha de seguirmos naquela direção? — Leonardo apontava para trás de Ryo enquanto falava.
— Claro, vamos. — Ryo disse, tomando a frente para seguir o caminho indicado por Leonardo. Mas antes mesmo que pudesse entrar mata adentro, o garoto sentiu seu braço sendo puxado por Leonardo: — Ei, olha a mão boba.
— Não começa, Toyo. Vem aqui, fica de costas. — À medida que Leonardo falava, estranhamente o garoto obedecia, como se estivesse acostumado com tal comportamento. — Vou fazer uma trança no seu cabelo. Ele está bem grande, e não sei por quanto tempo vamos andar. Com o cabelo solto, você vai sentir mais calor. — Leonardo continuava a dizer enquanto tirava uma corda dourada que estava em seu pulso e a colocava na boca.
Após isso, Leonardo arrumou o cabelo de Ryo em uma trança bem-feita, como se estivesse acostumado a fazer isso. Finalmente, terminou amarrando a ponta da trança com o cordão dourado que estava em sua boca. — Pronto, vamos, Toyo.
O garoto enfim tomou a frente e seguiu na direção da mata juntamente com Ryo. Aos poucos, os dois jovens se aprofundavam mata adentro, sem ao menos imaginar as surpresas que encontrariam naquele local ainda desconhecido para ambos. Por algum motivo, quanto mais andavam, mais calafrios o jovem Ryo sentia.
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Entre Espadas
Um relacionamento que acabou de maneira conturbada e um acidente que causa a morte de ambos, foi assim assim que Ryo e Leonardo se viram em um mundo feudal durante um xogunato, onde aparentemente...