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Entre Espadas

Capítulo 34

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🟡 Em breve

Já havia se passado muito tempo desde que Byakuya e Leonardo haviam se separado de Oliver e Kaede. Durante todo esse tempo tudo, tudo o que Leonardo estava fazendo era seguir Byakuya, que continuava à sua frente em uma velocidade constante, rápida o bastante para guiar o caminho, mas não rápida demais ao ponto de deixá-lo para trás. Assim se mantiveram até que o cheiro de fumaça os atingiu, mesmo ao longe, fazendo com que ambos parassem e olhassem para trás.

— Byakuya, isso… são eles, não é? — Leonardo perguntou com uma preocupação evidente em sua voz, prestes a dar meia volta para tentar ajudar Kaede no que quer que estivesse acontecendo.

Notando a intenção do homem, o youkai logo o respondeu:

— Provavelmente, mas devo dizer, se pretende voltar, acho que só irá atrasá-los, humano. —  Byakuya respondeu de maneira até mesmo fria.

— Certo… sabe, eu não entendo. Não se preocupa com aquele garoto? Achei que fossem próximos, tipo, vocês brigam como se soubessem tudo um sobre o outro. — Leonardo voltou a falar enquanto seguia Byakuya, que já havia retomado a caminhada.

Byakuya, por sua vez, soltou um breve riso zombeteiro ao ouvir o que o humano estava falando.

— Me preocupar? Poupe-me de tamanha tolice. Tudo o que está acontecendo não passa de uma troca de favores. Afinal, eu ainda iria atrás da Décima Terceira General mesmo se vocês não estivessem aqui. Além disso, eu nunca me tornaria próximo de um humano. Eu não confio em vocês, nenhum de vocês. — A voz de Byakuya carregava uma frieza óbvia e verdadeira. Era claro que, para ele, a situação atual não passava de um meio para um fim.

Mas para Leonardo, não era isso, pelo menos não totalmente. Para ele, por mais que tivessem passando pouco tempo juntos naquela cabana, talvez em sua cabeça estivessem aos poucos formando uma amizade que poderia ser benéfica para ambos. Mas aparentemente esse não era o caso, e tudo bem, afinal ele não sabia o que se passava na cabeça de um youkai, ou o quão diferente poderia ser a mente de um youkai para a de um humano.

— Bom, se você possui tanta convicção sobre isso, não estou aqui para discutir seus sentimentos de qualquer jeito, mas quando estávamos naquela cabana vocês pareciam próximos, ele parecia saber muito sobre você. — Leonardo o respondeu, enquanto o observava aumentar sua velocidade gradualmente.

Ouvindo as palavras ditas pelo humano, a mão de Byakuya tremeu levemente enquanto continuava a perseguir o cheiro mais intenso de onde Hana poderia estar.

— Está imaginando coisas, não somos próximos, mas a criaturinha realmente aparenta saber muito sobre mim… até demais. — O youkai ranzinza logo se calou com um suspiro cansado. À medida que continuava a se concentrar no caminho que deveria seguir, o cheiro de Hana começava a se intensificar pelo ambiente. Eles estavam cada vez mais próximos.

Leonardo então apenas riu despreocupadamente com o que foi dito por Byakuya e continuou a acompanhá-lo, aparentemente sem ter a intenção de retomar a conversa que estavam tendo anteriormente. Mas, surpreendendo-o, logo Byakuya voltou a falar:

— Se me permite perguntar, aquilo que fez com as aranhas mais cedo, consegue usar aquilo livremente? — Byakuya perguntou, gradualmente diminuindo seus passos.

Antes de respondê-lo, Leonardo pareceu pensar por um breve momento e logo falou:

— Geralmente sim, mas se eu exagerar demais, acabo perdendo o movimento dos membros por um tempo… mas isso só acontece se eu exagerar demais… por exemplo, quando matei aquelas aranhas de uma vez, não sinto meu polegar da mão esquerda… — Leonardo explicou calmamente enquanto começava a andar lado a lado com Byakuya.

— Compreendo. Não tem medo de me contar algo assim, tão despreocupadamente? Eu poderia usar isso contra você… — Byakuya sugere com um sorriso arrogante no rosto.

E em resposta a isso, Leonardo apenas riu descontraidamente e o respondeu rapidamente:

— Haha, não faria isso agora de qualquer jeito. Afinal, sou sua melhor chance de matar essa general. Sem mim… perdoe-me por dizer isso, Lorde Príncipe Youkai, mas você morreria em segundos.

Quando enfim terminou de falar, com um sorriso até mesmo presunçoso para Byakuya, eles começam a adentrar a adentrar uma trilha com teias postas como paredes, dificultando a saída e levando a seguir um único caminho. Assim que adentraram esse caminho, duas Katanas totalmente azuladas surgiram nas mãos de Leonardo.

— Acho que sua personalidade também muda um pouco quando usa demais essa sua… habilidade, humano insolente. — Com uma expressão realmente nada amigável para Leonardo, Byakuya, ainda andando ao seu lado, tirou sua katana da bainha. Ao mesmo tempo, marcas avermelhadas surgiram em seu rosto, juntamente com uma cauda.

E assim, se aproximando cada vez mais de onde a Décima Terceira estava, o ar começava a se tornar mais rarefeito, como se a energia espiritual da general tentasse se opor aos dois rapazes. Quanto mais andavam, mais difícil se tornava para respirar. Mesmo assim, tanto o humano quanto o youkai não se deixariam intimidar por isso. Claro, isso provavelmente os atrapalharia se precisassem lutar, mas Byakuya já havia enfrentado a energia da própria Xogum e, em comparação ao calafrio que sentiu aquela vez, essa sensação não era nem ao menos digna de cócegas. Leonardo, por sua vez, muitas vezes em treinamento já apanhou para Huo Liming, que com toda certeza possuía uma energia muito superior. Isso não significava que a batalha à frente seria menos desafiadora, mas pelo menos seria menos assustadora.

Após um longo tempo de caminhada, com o cheiro da fumaça ao longe já infiltrando suas narinas, Leonardo e Byakuya se encontraram parados em frente à entrada de uma grande caverna, cuja entrada estava coberta de teias e casulos abertos. Ali, aquela energia que tentava oprimi-los com tanta firmeza se tornava ainda mais forte, agora visível e tomando uma cor alaranjada.

Então, antes de entrarem a um combate certamente desafiador, Leonardo olhou para Byakuya e estendeu sua mão para o youkai em um soco parado no ar. Byakuya, por sua vez, olhou para o humano confuso e logo perguntou:

— O que… o que deveria ser isso? — Byakuya perguntou perplexo.

— Um toca aqui…oxe. — Leonardo respondeu sem graça e abaixou a mão, até mesmo um pouco envergonhado. — Esquece, isso não deve existir por aqui.

Byakuya, que raramente parece rir, soltou uma pequena risada e logo respondeu com sua voz repleta de indiferença:

— Exatamente, não há esses comportamentos… estranhos, talvez entre os humanos, mas certamente não entre os youkais. — Ele respondeu, tomando a frente e começando a adentrar na grande caverna.

A resposta de Byakuya pareceu até mesmo incomodar Leonardo levemente, que, talvez em um pequeno momento de infantilidade, tomou a frente no lugar de Byakuya, se virou para ele e, andando de costas, começou a falar:

— Que tal uma aposta? — Ele sugeriu com um sorriso arrogante no rosto.

Byakuya o olhou de cima a baixo e, bem, era inegável que ele gostaria de tirar o sorriso da cara desse humano presunçoso… ele falava demais.

— Quais os termos?

Leonardo sorriu e então voltou a falar:

— Quem desferir o último golpe que matar a aranha… fica devendo um favor para o outro, o que acha? Vai recusar, Lorde Príncipe Youkai?

— Fechado. — Byakuya respondeu sem pensar muito.

Com uma aposta feita, Leonado virou-se novamente para a frente e acelerou seu passo à medida que sua visão se ajustava à escuridão. Assim, continuaram a andar de maneira mais apressada, até finalmente chegarem a uma área amplamente aberta dentro da caverna. O chão estava coberto de grama e, ao centro do enorme gramado, uma enorme aranha alaranjada com manchas pretas rajadas, quase como um tigre, parecia estar adormecida. Olhando para essa visão, estava claro que aquela criatura era muito maior que ambos e, com certeza, aquele deveria ser o equivalente ao seu ninho. Assim que Leonardo e Byakuya pisaram na grama do local onde Hana estava, a aranha abriu todos os seus olhos rapidamente e uma voz feminina soou no ambiente:

— Eu estava me perguntando… quando vocês chegariam. Sabe, eu realmente não esperava que simples humanos conseguiriam se livrar das marionetes feitas com os corpos de minhas irmãs… mas está na hora de parar de brincar com vocês. Contudo, se eu os deixasse vivos agora, se Masaru ainda não está ciente do que fiz… com certeza vocês a informariam… afinal, ela os enviou para averiguar a situação, não foi? — À medida que a voz falava, o corpo da aranha começava a se levantar e, no alto de sua cabeça, estava a parte superior de um corpo feminino vestindo um manto dourado e com longos cabelos castanhos claros.

Leonardo, olhando para aquela coisa realmente grande se levantando na frente deles, olhou para Byakuya e depois para Hana, que havia acabado de falar:

— Não sei se você é burra ou o quê… caso ainda não tenha percebido, não temos nada a ver com a Xogum. Caso tenha se esquecido, ela provavelmente deve querer me matar por ter matado um de seus soldados. Eu só estou aqui, para matar um monstro que está machucando seres inocentes.

— E eu estou aqui para derrotá-la e ser digno para enfrentar o próximo general, até enfim ser digno de reaver as terras de meu pai. Então, com toda a certeza, não estamos trabalhando para Masaru-sama, sua aracnídea burra. — E assim, com ambos terminando de falar, quase ao mesmo, os dois rapazes partiram em disparada para cima da aranha.

E rapidamente, quase como dois raios de direções opostas, colidiram contra as patas da frente da grande aranha, mas estranhamente sendo repelidos para longe com o impacto, sem ao menos cortá-la um pouco.

— Tsk, é só isso que vocês têm? Patético. — Ela respondeu grosseiramente, observando-os cair ao longe na grama. — Certo, agora é a minha vez. — Hana, então, com uma risada alta, saltou, fazendo o chão na caverna tremer.

E na visão de Byakuya, aquela criatura aracnídea gigantesca estava prestes a atingi-lo quase perfurando-o com uma de suas grandes patas bem no rosto, logo após ele ter caído. Naquele lugar, se transformar em sua forma verdadeira só o deixaria ainda mais exposto para ser atingindo e, quase por instinto, tudo o que conseguiu fazer foi se mover rapidamente para o lado. Ao mesmo tempo, a pata daquela aranha, que mais se parecia com uma lâmina, perfurou o chão ao seu lado, cortando levemente sua bochecha, que começou a sangrar. Com um tempo de reação incrivelmente rápido, assim que a pata se levantou para direcionar outro ataque ao youkai, ele usou a ponta de sua Katana para perfurar a pata que o atacou, fazendo-a recuar com a lâmina presa em sua pata. Ali, lutando para se levantar, ouviu a voz de Leonardo ao longe:

— BYAKUYA, RELAXE SEU CORPO! — E instantaneamente, o youkai optou por confiar agora no humano e se deixou cair no chão novamente. Inexplicavelmente, seu corpo foi movido pelo chão em uma velocidade descomunal até estar ao lado de Leonardo, longe da aranha.

— Obrigado. — Ele respondeu em um suspiro, enquanto ouvia a respiração claramente ofegante de Leonardo ao seu lado, enquanto os dois se levantavam.

— Me agradeça quando matarmos essa coisa. Toma, pega uma das minhas. — O rapaz disse, entregando uma das Katanas azuladas para Byakuya, e rapidamente a mão que estava segurando a Katana parou de se mover.

Notando tal coisa, Byakuya logo perguntou:

— Quando manipula o sangue de alguém sem intenção de ferir, você se desgasta mais, não é?

Leonardo não respondeu, e seu silêncio foi o suficiente para que Byakuya tivesse sua confirmação.

— Não faça mais isso, a não ser se estivermos para morrer. Enquanto isso, utilize essa habilidade para tentar ferir essa desgraçada. — Ordenou, partindo para cima da aranha com a Katana recém-obtida.

Em questão de segundos, Byakuya estava no ar em um pulo, tentando subir para as costas da aranha. No entanto, mesmo sendo grande, aquela coisa era estranhamente rápida. Ela se virou para Byakuya em um piscar de olhos, e o corpo acima da cabeça desferiu um soco no Príncipe que estava prestes a subir em sua cabeça, o jogando para longe fazendo-o colidir com a parede da grande caverna com um estrondo alto. Ele com certeza teve alguns ossos quebrados naquele momento.

Ao mesmo, Leonardo estava indo por terra, em uma rápida corrida. Usando o máximo de força que possuía em seu braço esquerdo, o homem usou a lâmina da katana para causar pequenos cortes no máximo possível de patas da aranha, antes de ser arremessado para longe por uma pata. Ele conseguiu deixar pequenos cortes em apenas cinco das oito patas, quando foi jogado longe na grama, com sua máscara quebrando ao atingir o chão.

Enquanto isso, Hana parecia se divertir com os dois. Os cortes de Leonardo realmente não a faziam sentir nem ao menos um mísero sinal de dor. Pelo contrário, a cada tentativa de atacá-la que os dois faziam, ela parecia se divertir genuinamente à custa do sofrimento que causava aos dois.

— Isso é realmente divertido, mas sabe, ver vocês se esforçarem tanto assim…realmente me faz querer lutar como se vocês fossem inimigos à altura de sentir a verdadeira força de uma general… então, se preparem, meninos. — disse Hana, o pelo em suas costas pareceu aos poucos se soltar no ar quase de maneira invisível, e ao ver tal cena, Leonardo pareceu se lembrar de algo.

Aquele tipo de reação, onde uma aranha soltava pelos… uma aranha nativa de seu país de origem fazia a mesma coisa, podendo até mesmo cegar alguém. Ao se lembrar disso, Leonardo rapidamente gritou enquanto fechava seus olhos:

— BYAKUYA, FECHE OS OLHOS, ESSA COISA ESTÁ TENTANDO NOS CEGAR!!

Byakuya, logo após ouvir a voz de Leonardo, rapidamente fechou seus olhos e respondeu:

— DEIXE ISSO COMIGO! Aquele tipo de reação, onde uma aranha soltava pelos…, uma aranha nativa de seu país de origem fazia a mesma coisa, podendo até mesmo cegar alguém, e ao se lembrar disso, Leonardo rapidamente gritou enquanto fechava seus olhos. — BYAKUYA FECHE OS OLHOS, ESSA COISA ESTÁ TENTANDO NOS CEGAR.

Byakuya logo após ouvir a voz de Leonardo, rapidamente fechou seus olhos e o respondeu:

— DEIXE ISSO COMIGO! — Ele cuspiu um bocado de sangue e escorregou pela parede da caverna. Então, usando a katana entregue por Leonardo, rapidamente uma forte brisa de vento pareceu envolver a lâmina, quase como um ciclone controlado. Em segundos ele cortou o próprio ar, soltando uma forte rajada de vento, a qual juntou rapidamente cada pelo solto pela aranha e os carregou caverna afora.

Byakuya, então, voltando a abrir seus olhos, riu enquanto o sangue escorria dos lábios, e perguntou:

— ISSO É O MELHOR QUE PODE FAZER, GENERAL?! — enquanto preparava outra rajada de vento para expulsar mais dos pelos da aranha — LEONARDO, ABRA OS OLHOS! ESSA COISA NÃO VAI FUNCIONAR ENQUANTO EU ESTIVER VIVO!

Obedecendo Byakuya, Leonardo logo voltou a abrir seus olhos após sentir a forte rajada de vento que havia passado. Saindo do chão, estendeu sua mão que empunhava a katana para Hana.

— Minha vez. — Ele disse com um sorriso em seu rosto, quando seus olhos brilharam em vermelho.

Hana, por sua vez, estranhando a fala do garoto, sentiu uma pontada de dor em suas patas e, ao olhar atentamente, viu que cinco de suas patas estavam totalmente presas ao chão pelo que parecia ser… o seu próprio sangue endurecido.

Aproveitando a oportunidade que havia criado, Leonardo usou isso para tentar pular para cima da aranha com sua katana. Mesmo com apenas uma de suas mãos funcionando adequadamente, o garoto conseguiu perfurar parte de seu corpo da aranha com a katana antes de começar a cair de volta ao chão. No meio da queda, ele se assustou quando viu a pata de Hana se soltando e se direcionando para perfurá-lo! Se aquilo o atingisse ele certamente morreria. Mas estranhamente, um forte vendo pareceu atingi-lo, jogando-o para o lado, fazendo que somente seu braço, que já não estava se movendo, fosse atingido, o fazendo gritar de dor.

— LEONARDO, VOCÊ ESTÁ BEM? — Byakuya gritou do outro lado preocupado.

Ao cair no chão, Leonardo continuava a sentir uma dor agonizante no braço que havia sido atingido. Ao olhar para ele, entendeu rapidamente de onde vinha a dor. Aquele golpe… havia decepado seu braço, fazendo o fluxo de sangue do membro perdido fluir constantemente, ensopando-o com seu próprio sangue e o fazendo gritar de dor mais uma vez.

— ESSA COISA… ESSA COISA ARRANCOU MEU BRAÇO! — Leonardo gritou em meio a uivos de dor constante, com lágrimas de dor em seu rosto.

— PARE DE CHORAR E FAÇA OUTRO! — Byakuya respondeu, quase como se estivesse brigando com ele por estar chorando.

E em meio à dor, Leonardo também pareceu se irritar com o que Byakuya falou e respondeu rispidamente:

— COMO INFERNOS EU DEVERIA FAZER UM BRAÇO NOVO?!?!

— DA MESMA MANEIRA QUE FAZ KATANAS COM SANGUE, SEU ANIMAL!! — retrucou irritado.

Ouvindo o que Byakuya disse, Leonardo pareceu até mesmo se esquecer da dor. Diferente de antes, quando seus olhos apenas ficavam vermelhos ao controlar o sangue, agora, ao formar todo um novo braço feito com seu próprio sangue, todo o interior de seus olhos foi preenchido pela cor vermelha, voltando ao normal assim que o braço foi feito.

Notando o desespero dos jovens, Hana riu se divertindo. Havia passado muito tempo desde que havia escutado um humano gritar de dor, e isso certamente havia deixado seu humor ainda melhor, com um sorriso estampado em sua face humana.

— Aaah, isso é tão bom, mais… quero que gritem mais! — A youkai maligna exigia, enquanto tanto sua face humana quanto a face aracnídea abriam suas bocas. Da face aracnídea, diversas aranhas de diversos tamanhos e cores saiam em direção a Leonardo e Byakuya, e cada vez mais se amontoavam em volta de ambos.

E aos poucos, toda a área gramada se transformava em um mar infestado por aranhas, enquanto a risada demoníaca de Hana soava ao fundo. Eles já haviam perdido muito até aqui, seja o braço de Leonardo, os ferimentos sofridos por Byakuya ou a crescente sensação que morreriam nessa caverna.

Quanto mais aranhas surgiam, mais eles brandiam suas katanas para mantê-las longe, o que claramente não estava funcionando. Por mais que conseguissem se defender pela frente, as costas de ambos estavam muito expostas, tornando-os alvos fáceis. Não demorou muito para que as aranhas tentassem atacar suas costas. As primeiras que tentaram se agarrar a Leonardo foram rapidamente jogadas longe por uma rajada de vento feita por Byakuya, e as que tentavam atacar Byakuya eram explodidas em pedaços assim que saíam do chão para agarrá-lo. Assim, ajudando um ao outro, Byakuya e Leonardo continuavam a persistir na batalha. Por mais feridos que fossem, sabiam que não poderiam recuar. Aos poucos, os dois jovens começaram lentamente a encurtar a distância de onde estavam, atacando e ao mesmo tempo defendendo um ao outro.

Até que, enfim, chegarem um ao outro e rapidamente se posicionarem de costas um para o outro, extinguindo rapidamente a brecha que possuíam para que aquelas aranhas não continuassem a tocá-los.

— Leonardo, como está o braço novo? — Ele perguntou enquanto utilizava sua katana para continuar a criar suas fortes rajadas de vento para atacar aranhas, mantendo-as levemente distantes.

— Arg… Eu realmente… não acho que seja o momento para perguntar isso, Bya… — disse Leonardo no momento em que diversas aranhas pularam na direção de sua cabeça. Rapidamente, utilizando o braço feito de sangue solidificado, ele o moldou ao formato de uma foice, cortando as aranhas que partiam para cima dele rapidamente.

— Bem… na verdade, por mais que doa como se minha alma estivesse deixando meu corpo de novo, ele é… bem útil. — Leonardo disse com um sorriso sutil no rosto sujo de sangue, enquanto o braço feito de sangue era moldado de novo e de novo em diferentes formas, matando o máximo de aranhas possível, mesmo que elas não parassem de vir.

Olhando de relance e notando o sorriso de Leonardo enquanto continuava a lutar, Byakuya, mesmo sem perceber, voltou a rir mais uma vez. Aquele maldito humano, por mais acabado que estivesse, continuava a lutar com uma determinação realmente impressionante. Talvez movido pelo desejo de seu companheiro realmente peculiar de continuar lutando, Byakuya decidiu parar de se importar com o resultado da batalha e simplesmente aproveitá-la entregando tudo de si.

— Já cansei de me conter, Leonardo. Vamos com tudo o que temos agora. Mesmo se morrermos aqui, pelo menos lutamos o máximo que conseguimos. — Byakuya continuou om um sorriso nos lábios, rapidamente jogando a Katana para longe e tirando a proteção de seu peitoral. Com isso sua energia espiritual voltou a se expandir.

— AGORA, PRESENCIEM A REAL GLORIA DE UM PRÍNCIPE!! —  E com seu último grito, as roupas Byakuya começaram a se rasgar à medida que seus ossos se quebravam e se estendiam, com sua forma humana aos poucos se desmanchando por completo, dando lugar À pelagem preta de uma besta canina enorme, quase ao ponto de atingir o teto da caverna onde estava. Agora em sua real forma, Byakuya uivou, gerando um enorme vento cortante, cortando todas as aranhas que tentavam se aproximar tanto dele quanto de Leonardo.

E, observando a transformação de Byakuya, Leonardo não pôde deixar de se animar ver tamanha criatura, se igualando até mesmo em tamanho à Décima Terceira General. Rapidamente sem ao menos pedir permissão, Leonardo utilizou as últimas forças que possuía em suas pernas para saltar para cima das costas de Byakuya.

— Isso… isso é realmente incrível, Byakuya, mas não pense que deixarei que me deixe para trás cachorro! — Leonardo exclamou. Estendendo seu braço remanescente, canalizou o máximo de sua energia que ainda conseguia sentir, deixando seus olhos completamente vermelhos e fazendo com que, lentamente, seu cabelo castanho tomasse a cor platinada. Com isso, uma grande quantidade de sangue derramado por ele, Byakuya e as aranhas mortas se moveram no ar, envolvendo a forma canina de Byakuya e as pernas de Leonardo, solidificando-se em uma grande armadura canina de cor mista entre o azul das aranhas e o vermelho do sangue deles.

Hana, por sua vez, finalmente parava de tirar aranhas de sua enorme boca e observou com interesse a ação tomada por eles, rapidamente se movendo para colidir contra o cão negro. Assim, colidiram em uma batalha de força: Hana, a aranha dos treze generais, e Byakuya, o príncipe de lugar nenhum.

— HAHAHAHAHA, ISSO, AGORA SIM PAREÇEM SER ADVERSÁRIOS DIGNOS DE UMA LUTA CONTRA MIM!! — Hana continuou a gritar e rir histericamente, usando suas patas e suas presas para continuar a tentar perfurar a armadura criada por Leonardo.

A esse ponto, com dois seres de tamanho colossal se enfrentando em um ritmo constante dentro daquela caverna, aos poucos o teto parecia tremer, como se fosse ceder se o confronto se estendesse por mais tempo.

A batalha continuava a ficar cada vez mais árdua. A cada tentativa de contra-atacar de Byakuya, Hana o atacava com ainda mais ferocidade. Por mais protegido que estivesse pela armadura criada por Leonardo, as pancadas realmente estavam a fazer efeito. O sangue escorria entre os dentes afiados do grande cão, enquanto a aranha continuava praticamente intocada, mesmo com ele entregando tudo de si para tentar feri-la.

A esse ponto, os dois rapazes sabiam que não demoraria muito até que perdessem essa batalha. Mas se fossem realmente morrer ali, deveriam ao menos tentar levar essa criatura junto com eles.

— Byakuya. — Leonardo chamou enquanto cuspia um bocado de sangue. — Está na hora de admitir, não somos páreos para essa coisa… então… devemos ao menos… fazer de nosso túmulo a prisão dessa maldita aranha… — Ele propôs enquanto continuava a tossir sangue.

O cachorro, por sua vez, se manteve em silêncio após ouvir a sugestão de Leonardo, enquanto o sangue continuava a escorrer entre seus dentes raivosos. Observando a aranha que o encarava de volta em meio a risadas, após um breve momento, ele então respondeu:

— Está certo… então se prepare para morrer humano. Eu criarei nosso túmulo.

Com suas últimas palavras enfim ditas, o cão começou a correr em volta de toda a área onde estavam lutando, tomando cada vez mais velocidade e mantendo Hana no meio. Aos poucos, utilizando sua velocidade crescente, estava formando um ciclone controlado a partir de sua própria corrida, mantendo Hana no olho do furacão, sem conseguir se mexer para fora do local. Com a forte força dos ventos contra ele e Leonardo, os dois já não podiam mais ouvir a voz da general quando o teto começava a ceder em cima de suas cabeças. As primeiras pedras a cair, caíram longe, sem acertá-los, dando-lhes a liberdade para intensificar ainda mais a força do ciclone que estava sendo formado. Mas com o aumento da força do vento, que se tornava até mesmo cortante para eles, mais rápido tudo vinha a desabar.

Até que, enfim, com a força do ciclone, o teto da caverna começou a desabar completamente acima deles, de forma ainda mais caótica, movido pelos fortes ventos. Quando um enorme pedaço de pedra acertou a cabeça de Byakuya, aquilo foi o que faltava para enfim derrubá-lo! Ele caiu e, junto a ele, Leonardo também estava caindo. Ao atingirem o chão, já estavam fatalmente feridos. Mesmo com Byakuya retornando à sua forma humana, aquilo era claramente o fim deles. Em meio à morte eminente, Byakuya falou, usando suas últimas forças:

— Sabe… em toda a minha vida… eu nunca tive alguém que lutasse ao meu lado… eu… eu nunca tive um amigo… e agora que estou prestes a morrer… —  Byakuya continuou enquanto ofegava e lágrimas manchadas ao sangue caíam de seus olhos. — Agora que estou prestes a morrer… eu entendo o quão bom é ter alguém para lutar ao meu lado… Leonardo, você está acordado? Eu gostaria de lhe pedir algo…

Leonardo, por sua vez, se esforçava para manter-se ouvindo as palavras ditas por Byakuya e respondeu com dificuldade:

— S-sim…eu estou… d-diga.

— Leonardo… v-você, poderia ser meu amigo…? — O youkai perguntoi enquanto fechava os olhos lentamente, tomado pelo cansaço e a dor.

— M-mas que pergunta… é claro que… é claro que eu quero ser seu amigo… — Leonardo respondeu enquanto seus olhos se fechavam em meio à dor excruciante. Com seus olhos prestes a se fechar, um balão de notificação surgiu à sua frente, levando apenas mais uma mensagem:

[ Hoshi: Ainda não chegou sua hora de partir.]

E com essa última mensagem, os olhos de Leonardo enfim cederam ao cansaço e à dor da batalha, enquanto ele ainda ouvia o desabamento ao redor deles. Pouco a pouco, sua consciência parecia se esvair. Com a escuridão, tudo o que restou foi o som e a dor. Os sons logo desapareceram, restando apenas a dor e, após um tempo, a dor desapareceu, dando lugar ao vazio.

Mas ali, em meio a escuridão e ao vazio, aos poucos, bem ao longe, sons voltaram a soar. Havia vozes e o estranho som de um piano e um violino em completa harmonia. Esse som parecia buscá-lo lentamente e, aos poucos, quando enfim ouvia tudo claramente, sentiu uma brisa em seus cabelos, que sentia estarem estranhamente curtos. Logo, o som de batidas soou de suas costas, fazendo-o abrir os olhos abruptamente.

Com seus olhos abertos, a visão de Leonardo era quase nauseante para ele. Era como se tudo o que havia vivido até o combate contra a Décima Terceira General não tivesse passado de um sonho ruim. Ele estava igual a antes de transmigrar: seu cabelo estava volumoso, mas não ondulado, seus olhos tinham cor de duas grandes jabuticabas, e a única coisa diferente era o anel prateado em seu dedo e o fato de estar no que aparentemente era um quarto de hotel relativamente caro. Ali, se observando em um espelho que estava bem à frente de onde estava sentado, era como se tudo o que tivesse passado tivesse sido apenas fruto de sua imaginação.

Em meio ao seu devaneio momentâneo, as batidas na porta voltaram a soar, seguido de uma voz feminina consideravelmente cansada:

— Leo, está tudo bem aí? Nós precisamos ir, você vai mesmo querer se atrasar para o seu próprio casamento?

Ouvir aquela voz, depois de tanto tempo, fez Leonardo esquecer completamente da confusão que estava tendo em sua mente. Aquela voz, ele a conhecia tão bem, mas mesmo assim ouvi-la agora parecia irreal demais até para ele, fazendo-o caminhar até a porta com pressa em seus passos. Dando de cara com uma Miyu Toyosaki de cabelos levemente grisalhos e bem arrumados em um penteado deveras formoso, Leonardo não conseguiu disfarçar seu olhar de incredibilidade.

— O que foi, rapaz? Está me olhando como se tivesse visto um fantasma… não venha me dizer que vai desistir de se casar com meu filho? Se disser isso, eu mesma vou bater em você! Posso estar velha, mas ainda sou forte. — A mulher dizia enquanto ria levemente, abaixando a cabeça de Leonardo e arrumando seu cabelo que estava levemente bagunçado.

O olhar de Leonardo ainda era confuso ao ouvir tudo o que sua sogra estava falando para ele. Casamento…? Ele e Ryo iam se casar? Bom… isso é realmente bom… Isso tudo era tão estranho tão real, mas ao mesmo tempo, ele sentia em seu coração que tudo isso não passava de um doce sonho. Mas se era realmente um sonho, ele aproveitaria o tempo que lhe foi dado e assim ele abraçou Miyu antes de respondê-la:

— Não diga essas coisas, sabe que eu nunca abandonaria o Ryo no altar, minha sogra… seu filho me tem laçado entre os dedos desde o dia que nos conhecemos. — Ele disse rindo para Miyu enquanto começava a acompanhá-la pelo corredor.

— Na verdade, eu gostaria de vê-lo… agora, antes da cerimônia, se a senhora estiver de acordo… claro. — Leonardo sugeriu enquanto ria, andando pelo longo corredor, escutando ao longe o som dos instrumentos ainda tocando.

Miyu então riu, dando leve tapinhas no ombro de Leonardo antes de respondê-lo:

— Imaginei que diria isso. Sabe, não é aconselhável que os noivos se vejam antes do dia do casamento… mas imaginei que ficariam com saudades da companhia um do outro rapidamente mesmo… então, se quer vê-lo, nesse momento ele deve estar terminando de se vestir no salão perto a praia, se não me engano. —  A mulher continuou a falar enquanto conferia exatamente o que estava falando em seu celular.

— É, acabei de perguntar e ele passou a localização. Vou te enviar, Leo. Não demorem muito e, de preferência… mantenham-se vestidos por ora. — Miyu disse rindo, o que acabou deixando Leonardo vermelho de vergonha. Ele buscou o celular no bolso de seu terno e, ao ver a localização enviada, saiu para fora do hotel, pegando uma chave de carro com o frentista do local e indo para o seu suposto carro com pressa.

Ao entrar no carro e colocar seu destino no GPS, o coração de Leonardo estava a mil. Mesmo sendo um sonho, tudo o que ele ansiava era ver seu amado uma última vez antes que o doce sonho acabasse e a morte o alcançasse. Estranhamente, quando deu partida no carro, uma música que há muito tempo não escutava, começou a tocar. A música em questão era “Aliança” do grupo Tribalistas, que juntava três cantores que Leonardo realmente gostava. Ao ouvir a música, talvez movido mais ainda mais por uma sensação de déjà-vu em meio ao medo e à vontade de ver Ryo, ele começou a acelerar cada vez mais, sem se importar com os faróis vermelhos. Afinal aquelas ruas estavam estranhamente desertas, ele parecia ser a única pessoa a dirigir nesse dia, o que o fez não se importar tanto em respeitar as leis de trânsito.

Então, em alta velocidade, não demorou muito para Leonardo chegar ao dito salão onde Ryo deveria estar. Ele estacionou bem à frente da entrada e entrou com passos desajeitados e uma corrida quase desesperada. Ao entrar no estabelecimento, o som do sino da porta tocando surgiu em meio ao silêncio do local. Um Leonardo ansioso olhava em volta sem ver Ryo em lugar nenhum e, prestes a pegar seu celular, teve sua atenção tomada por uma voz feminina desconhecida e calma, mas ao mesmo tempo estranhamente familiar:

— Você demorou muito, Leo. — Uma jovem dizia, vindo de outra sala, com cabelos castanhos ondulados entre mechas platinadas e algumas mechas pretas, presos em um alto rabo de cavalo. Ela possuía olhos roxos e vestia um simples vestido com lindas rosas, por baixo de um avental onde diferentes agulhas estavam colocadas alinhadamente. A jovem em questão parecia ter certa descendência japonesa, com a pele mais morena. Era realmente uma jovem muito bonita, mas Leonardo realmente não conseguia se lembrar dela.

— Desculpe… quem… quem é você? — Leonardo perguntou, um pouco confuso. Ouvindo a pergunta, a garota riu enquanto continuava a organizar seus materiais de costura.

— Não precisa se desculpar, é totalmente compreensível que não me reconheça… por enquanto. Mas  devo dizer, vocês dois estão me dando mais trabalho do que pensei que dariam. — Ela diz em meio a risadas brincalhonas, enquanto se virava para olhar para Leonardo com mais atenção.

— Espera… você, essa voz… eu já a ouvi antes… você é… você é a Deusa que nos trouxe para o outro mundo, não é?! —  Leonardo perguntou, levemente confuso. Se aquela era realmente a tal Deusa… o que ela queria trazendo-o para esse sonho?

A mulher, por sua vez, sorriu ao ouvir a pergunta de Leonardo:

— Você entendeu rápido, isso é bom, mas por favor, pode me chamar apenas de Hoshi. Não precisa de tanta formalidade entre nós. — Hoshi sugeriu calmamente enquanto se sentava em uma mesa que estava em meio ao salão.

— C-certo, Hoshi, eu agradeço… por, sabe, essa segunda vida e tal… mas agora… eu estou morrendo e eu realmente queria poder ver o Ryo agora… eu preciso me despedir, mesmo que não seja realmente ele e só uma figura projetada por mim nos meus sonhos… por favor. — Leonardo continuou a falar de maneira até mesmo tímida em sem jeito. Afinal, mesmo que estivesse morrendo, ele ainda estava falando com uma divindade… ele deveria medir suas palavras e não pedir demais. Mas, estranhamente, a Deusa não parecia nem minimamente irritada. Na verdade, parecia até mesmo estar envolvida ao mesmo sentimento de nostalgia que Leonardo estava sentido.

— Eu sei que quer vê-lo, o ele de verdade… e eu decidi lhe dar esse presente. Tudo o que precisa fazer, Leonardo, é ir até onde tudo começou… onde se encontraram pela primeira vez. — A mulher disse com calma e com um sorriso realmente amigável.

— Uma praia? — Leonardo perguntou rapidamente, confuso.

Hoshi, por sua vez, acenou que não com sua cabeça, levantando-se da mesa onde estava sentada e se movendo para longe, até os fundos do salão, até uma velha porta de madeira. Abrindo-a com delicadeza, ela se virou para Leonardo.

— Por aqui, tudo o que precisa fazer é passar pela porta.

Leonardo então seguiu o que ela estava falando e, antes de enfim passar pela velha porta, se virou, agradecendo-a por lhe dar isso. Após fechar a porta, se deparou com uma paisagem um tanto desconhecida para ele.

Era uma espécie de lago, envolto a árvores grandes e com folhas que mais se pareciam uma cortina, escondendo tudo o que tentasse ver o que estava naquele grande lago. Ao passar pelas folhas e começar a adentrar tal lago, molhando o terno que estava usando, ele finalmente viu um homem com mantos completamente brancos boiando sobre a água. O homem estava de pé, parado de costas para Leonardo, com curtos cabelos pretos, enquanto seus mantos eram levados levemente ao ar pela brisa do vento.

— Ryo, é você? — Leonardo perguntou esperançoso, levando sua mão para tocar o rapaz.

Em resposta, Ryo se virou para ele, com um sorriso dolorido em seus lábios. Agora, olhando-o de frente, Leonardo podia ver o que os mantos tão grandes estavam escondendo: havia correntes brancas presas tanto nos braços quanto no pescoço de Ryo. Mesmo com um sorriso dolorido, ele levou sua mão ao rosto de Leonardo.

— Sim… sou eu, meu garoto chorão. — Ryo disse com uma voz um tanto rouca, enquanto acariciava o rosto de Leonardo, que se empalidecia ao ver seu amante em tal estado.

— O que… o que é isso… quem fez isso com você?! — Leonardo perguntou com certo desespero na voz, enquanto rapidamente se aconchegava a Ryo em um forte abraço, repleto de carinho e saudade evidente de ambas as partes.

— Shh… não se preocupe tanto, ninguém fez isso comigo… bem, na verdade sim… mas não em meu corpo… é complicado Leo. Eu ahh… senti tanto a sua falta… é tão bom te encontrar sabendo quem você é… ainda não acredito que me pediu em casamento sem ao menos eu me lembrar de você, meu amor… — Ryo falava em meio a pequenos risos brincalhões

— Ryo… por favor, não mude de assunto. — Leonardo dizia enquanto afastava o abraço e segurava o rapaz pelos ombros com delicadeza.

Sorrindo, então, Ryo disse:

— Tudo bem… preste atenção, o que está vendo aqui, Leo, é a manifestação física da minha alma… completa com todas as minhas memórias… de todas as minhas vidas… de todas as minhas dores… as correntes que vê são…coisas que se alojaram na minha alma há muito tempo… — Ele explicou calmamente e sem rodeios, enquanto observa a expressão confusa de Leonardo.

— O que quer dizer com isso?

— Falando de uma maneira que você compreenda, meu amor… essas correntes são as memórias das quais meu eu vivo não se recorda… e o fato de não me lembrar é o que mantém minha alma rachada, incapaz de quebrar. — O jovem diz, tirando o manto superior de sua roupa, deixando evidente diversos ferimentos como rachaduras por todo o seu corpo, até onde a corrente estava presa por seu pescoço.

— Que… Ryo… não… isso não faz sentindo… que memórias são essas… por que sua alma está rachando? Quem o machucou? Se me disser… talvez eu… eu… eu tenho que poder fazer algo, meu amor… — Leonardo exclamava, enquanto passava suas mãos pelas rachaduras no corpo de Ryo, se ajoelhando, com lágrimas evidentes em seu rosto, enquanto beijava cada rachadura no corpo de seu amado…

Ryo, por sua vez, riu relaxadamente, acariciando os cabelos de Leonardo enquanto dizia:

— Me desculpe, meu amor, não posso falar tudo o que deseja… eu só estou aqui como um favor feito por Hoshi… eu vou aguentar… o máximo que puder… mas, eventualmente  eu inevitavelmente terei minhas memórias novamente e talvez seja você que as devolva para mim… mas, mesmo se esse for o caso, eu não quero que se culpe pelo o que acontecer… você já me salvou tantas vezes, Leonardo… mais vezes do que se lembra, meu lorde… — O garoto disse com a voz repleta de carinho, enquanto se ajoelhava diante de Leonardo.

— Agora… é minha vez de salvá-lo, meu amor. Vou fazer com que se lembre… de quem realmente é… mas só até fazer o que precisa fazer… depois disso, ela o fará adormecer até que seja a hora novamente… por favor, não fique bravo comigo… mas quando dormir novamente… você se esquecerá dessa conversa… — O rapaz respondeu enquanto sorria.

E Leonardo, confuso com o que Ryo estava falando, estava prestes a expressar dúvidas e indignações, até ser silenciado por um beijo quente e prolongado. Enquanto sentia a mão de Ryo adentrando o seu paletó, molhando-o ainda mais na água, Leonardo se viu rendido aos beijos de seu amado, um beijo carinhoso, molhado e recheado com o mais puro amor. Ao fechar seus olhos novamente, ele se viu tendo sua mente inundada com diferentes lembranças desconhecidas e uma sensação de calafrio por todo o seu corpo, o fazendo lembrar, que ele e Byakuya estavam sendo soterrados por Hana. Em meio a esse conhecimento, algo havia mudado.

[…]

Enquanto isso, Hana desviou de todos os escombros da caverna onde Byakuya e Leonardo estavam tentando soterrá-la, mas sem nenhum sucesso. Não demorou muito para que a aranha saísse dos escombros ilesa, observando a destruição causada pela batalha ocorridas por todo o local.

Ela estava prestes a cantar vitória. Havia conseguido sair completamente ilesa do ataque daquelas duas criaturas irritantes e destruí-los completamente no processo. Mas algo estava estranho, chamando sua atenção. Ao olhar para o céu noturno, a aranha rapidamente teve uma expressão feia em seu rosto humano acima da cabeça aracnídea.

— Por que… a lua… por que a lua está vermelha…? — A aranha se perguntou um pouco espantada.

E, quase como se a respondesse, uma presença opressora apareceu nesse exato momento, surgindo como um trovão. Uma presença tão aterrorizante que até mesmo aqueles no segundo distrito, do primeiro até o último general, se ajoelharam em submissão. E tamanha presença, para Hana e para todos na nação, só significaria uma única coisa.

— Kami-sama…. não… isso é impossível… não existem mais Deuses vivos… isso…  por que parece tão perto!?! — Hana se perguntou em uma pequena crise histérica.

E assim, de trás de sua cabeça, a resposta surgiu:

— Porque eu estou atrás de você, youkai. — Respondeu uma voz masculina que parecia ecoar por todo o local.

Hana olhou para trás rapidamente enquanto tremia de medo, e lá estava ele: moreno, com longos cabelos ondulados platinados, olhos vermelhos e com marcas brancas em seu rosto que levavam ao alto de sua testa, onde uma lua cheia estava entalhada detalhadamente. Suas vestes douradas misturavam-se à cor branca e, em seus braços, estava Byakuya, desacordado e repleto de ferimentos, enquanto se curava pela presença do Deus que o segurava.

— Quanta morte…. quanto sofrimento… todas essas almas… você as prende em seu estômago, youkai… as coisas não deveriam ser assim. As noites deveriam ser belas até para as mais indefesas das criaturas… mas você está profanando minha escuridão, manchando minhas noites com sangue de inocentes…! — Leonardo continuava a falar, quase como outra pessoa. Além das roupas e de tudo o que havia mudado em seu físico, seu braço perdido também havia retornado. Era como se fosse até mesmo outra pessoa.

Hana, por sua vez, não conseguia ao menos dizer algo enquanto raciocinava o que estava presenciando. Em meio uma voz fraca e gaga tentando sair, a voz de Leonardo veio novamente:

— Não me interessam suas desculpas, pequeno youkai. Você deve pagar por seus crimes, devolver as vidas inocentes que tirou… devolver a beleza que criei para a escuridão… morra! — E assim, com essas palavras, Hana, que ainda tentava voltar a conseguir falar, não teve tempo de reação quando de suas sombras uma boca completamente negra como a de um lobo a devorou, jorrando sangue para todos os lados.

Com a aranha então morta, o Deus desceu ao chão, deitando o desacordado Byakuya e observando o fogo e a destruição deixadas da Décima Terceira até as mais distantes terras do Décimo Primeiro Distrito. Ele parecia conseguir ver tudo, em qualquer lugar… e vendo tamanha destruição por toda parte, tantas almas que se perderam, uma lágrima caiu de seus olhos.

— Tanta destruição… eu consertarei isso… consertarei a morte para todos… até que eu enfim possa voltar a meu esposo. — Com sua última frase, a chuva torrencial começava a cair e, em meio à chuva, Leonardo também enviava as almas perdidas nesse distrito para seus corpos, reconstruindo-os do zero quando necessário. Em meio a isso, sua voz surgia na mente daqueles que haviam morrido ou se ferido pelas mãos da aranha enquanto eram curados:

— Digam a todos… do mais afortunado ao menos afortunado, que aquele que governa sobre a noite a escuridão há de retornar, Tsukuyomi voltará…

Com sua última frase para aqueles que despertavam, o coração de Leonardo pareceu bater mais rápido junto ao sono eminente. E, quando enfim apagou, caindo ao lado de onde estava Byakuya desacordado e completamente curado, Leonardo dormia, se esquecendo de tudo que aconteceu em seu encontro com a Deusa Hoshi e de suas memórias como Tsukuyomi.

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Capítulo 34
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Entre Espadas

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Um relacionamento que acabou de maneira conturbada e um acidente que causa a morte de ambos, foi assim assim que Ryo e Leonardo se viram em um mundo feudal durante um xogunato, onde aparentemente...

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  • Volume 1
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        Capítulo 45 Um Conto de Dois Irmãos (4): Sobre suas asas.
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        Capítulo 44 Um Conto de Dois Irmãos (3): Nasce o Lírio.
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        Capítulo 43 Um Conto de Dois Irmãos (2)
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        Capítulo 42 Um Conto de Dois Irmãos (1)
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        Capítulo 41 Você e Eu, Até o Fim.
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        Capítulo 40 Treze Soldados, Quatorze Corações que Batem em um Único Som.
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        Capítulo 39 O Doce Som da Biwa
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        Capítulo 38 Histórias de um Velho Tanuki.
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        Capítulo 37 Camélias Vermelhas
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        Capítulo 36 O imperador selado
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        Capítulo 35 A Samurai de Cabelos Vermelhos
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        Capítulo 34 Bons sonhos, Tsukuyomi.
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        Capítulo 33 A teia da aranha
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        Capítulo 32 O quarto general.
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        Capítulo 31 Antidoto & Veneno
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        Capítulo 30 A prova de seu amor.
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        Capítulo 29 A queda de Kumo-rui Parte 2
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        Capítulo 28 A queda de Kumo-rui Parte 1
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        Capítulo 26 Um lótus banhado a sangue
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        Capítulo 23 Em direção a Kumo-rui.
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        Capítulo 22 Um noivado inusitado.
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        Capítulo 21 Quem devo ser nesta história?
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        Capítulo 20 As noites em Iwasakiyama
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        Capítulo 19 O príncipe de lugar nenhum
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        Capítulo 18 A flor de lotus que desabrocha entre os treze
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        Capítulo 17 O treinamento se inicia, dias chuvosos chegam à capital.
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        Capítulo 16 Toyosaki Kaede
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        Capítulo 15 A lua e seu pecador
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        Capítulo 8 Sacerdotisa...
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        Capítulo 7 Xogum
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        Capítulo 6 A cobra, a espada e o salgueiro
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        Capítulo 5 O habitante desta floresta
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        Capítulo 4 Um caminho de ossos a nossa frente
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        Capítulo 3 gosto amargo para Ryo
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        Capítulo 2 O vazio perante um novo começo
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        Capítulo 1 Um novo mundo, com você?!
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        Capítulo 0 Notas iniciais

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