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Entre Espadas

Capítulo 35

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  4. Capítulo 35 - A Samurai de Cabelos Vermelhos
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Ao mesmo tempo em que a batalha contra Hana se iniciaria, a reunião dos treze generais se aproximava de seu fim. No momento atual, todos estavam sentados enquanto Kaoru continuava a discutir sobre um realocamento de alguns humanos em uma das vilas do décimo distrito durante a primavera. Pelo que Ryo estava entendendo, este realocamento era feito todos os anos nas pequenas vilas do décimo distrito. Durante esse meio tempo, os humanos dessas pequenas vilas nos limites do décimo distrito eram levados para as vilas mais próximas, localizadas no nono distrito, e permaneciam em pousadas feitas exclusivamente para essas pessoas até a chegada do verão. Mas, mesmo assim, para o recém-nomeado quarto general, um costume assim era um tanto estranho, e logo o jovem decidiu expor suas dúvidas:

— Com licença, se me permite perguntar, Kaoru-sama, por que exatamente essa migração é feita? — Ryo perguntou com uma expressão de confusão genuína em seu olhar. — Até onde me lembro… não deveria haver motivos para tal realocamento durante essas estações. Isso não seria mais eficiente durante a chegada do inverno?

Kaoru por sua vez, ouviu a pergunta de Ryo e sorrindo, explicou:

— Bom, em tese, sim, o ideal seria realocarmos as pessoas no inverno devido às frentes frias e às nevascas, mas no caso do  meu distrito, isso nunca foi um problema. Imagino que ainda não saiba, mas meu distrito é conhecido como o Distrito das Raposas; kitsunes habitam aquelas terras desde antes da chegada de nossos vizinhos humanos. E para uma boa convivência mesmo antes da posse de Masaru-sama, há um tratado entre as duas espécies, que se baseia nos humanos deixarem as nossas terras por um determinado período de tempo para nossas cerimônias espirituais e ritos de clã. Assim, durante o inverno, nós fornecemos comidas e um lar constantemente quente e protegido do frio para que os humanos fiquem seguros. Por isso o realocamento dessas pessoas é feito dessa maneira. Entende agora?

Quando terminou de explicar, Kaoru tomou um gole do chá que estava à sua frente na mesa e sorriu novamente para Ryo.

— Bem, sim, eu entendo, mas, general, não há casos em que alguns humanos não possam fazer essa viajem? Sabe, para os idosos, essa jornada anual é extremamente cansativa. O que fazem nesses casos, Kaoru? — Ryo perguntou com uma certa preocupação sobre tal assunto.

Kaoru, como se já esperasse tal pergunta, respondeu rapidamente:

— Nesses casos, aconselhamos os humanos a ficarem em suas casas pela maior parte do tempo e deixamos alguém encarregado para levar as provisões que essas pessoas precisam para sobreviver e para manter uma boa saúde. Afinal, eu, infelizmente, não posso controlar o que as outras raposas farão com humanos que quebram o tratado. — A general rapidamente terminou de explicar e se adiantou em perguntar. — Mais alguma dúvida, Ryo?

— Não, obrigado pelas explicações. — O jovem respondeu fazendo uma pequena reverência com a cabeça.

Após Ryo dizer que já não possuía mais dúvidas, Kaoru direcionou seu olhar diretamente para Masaru, que permanecia em silêncio observando a general.

— Certo, sobre o realocamento, Masaru-sama, normalmente eu resolveria esse assunto com o Liu Guang, mas, como ele está em uma missão oficial entregue por você, eu preciso perguntar se já posso iniciar o processo de realocamento quando voltar ao meu distrito. O tempo está apertado e preciso iniciar o processo o quanto antes. Afinal por mais que sejam pequenas, possuímos muitas vilas no décimo distrito. — Enquanto Kaoru falava, Masaru sabia que essa era uma preocupação válida sobre o momento ideal para o realocamento e estava com uma pequena dúvida sobre o que determinar.

— Bom, eu poderia liberar que começasse o processo de realocamento… mas, falando agora, não me parece uma boa ideia que eu decida isso sem saber a opinião do nono general… — Pensando mais um pouco sobre o assunto, a mulher logo se decidiu sobre como agir — Yanagi. — A Xogum chamou.

— Sim?

— Após o fim da reunião, quero que se reúna com a Kaoru e envie um de seus corvos para onde o Liu está. Mantenha  a linha de contato entre os dois até que cheguem a um acordo sobre o que irão fazer. Pode fazer isso? — Ela perguntou, enquanto abria um caderno de couro que estava fechado na sua frente e anotava o que havia decidido ali.

Yanagi, por sua vez, pareceu pensar um pouco sobre o assunto antes de enfim respondê-la.

— Sim, eu posso. Kaoru, se não se importar, após o fim da reunião vamos para fora do templo e eu chamarei um de meus corvos para isso. Tudo bem,  por você?

Antes mesmo que a general pudesse responder, Ryo interveio a falar.

— Com todo o respeito, mas não acho adequado que fique sozinho com Kaoru-sama fora do templo, principalmente à noite. Como imagino que já sabem, eu e Shihei fomos atacados dentro de um local considerado seguro, e, mesmo assim, propõem sair para um local sem nenhuma vigilância, os expondo ainda mais para espreitadores mal-intencionados. Tem certeza disso, primeiro general? — O que Ryo disse era obviamente repleto de segundas intenções com o alerta para Yanagi. Ele não estava preocupado com ataques inimigos, mas sim que Yanagi atacasse a décima general. Somente ele, Gonkuro e Yanagi entenderam a acusação disfarçada e, percebendo isso, Yanagi não pôde deixar de sorrir em deboche para Ryo.

— Já que está tão preocupado, quarto general, podemos fazer isso nesta mesma sala quando a reunião acabar, isso, claro, se a Huo não se importar com a bagunça que os corvos podem fazer entrando aqui… o que me diz, Huo Liming? — Enquanto falava, Yanagi continuava com um sorriso despreocupado no rosto, que era certamente irritante.

Huo Liming, olhou para Ryo, estranhando um pouco a feição descarada de irritação do jovem. Após isso, olhou para o primeiro general com um sorriso despreocupado no rosto.

— Eu não vejo problemas nisso. Agora, se me permitem mudar de assunto, Masaru a outro assunto ao qual quero discutir com você e o Gonkuro, e acho que esta reunião acaba sendo o melhor momento para isso.

O que ela falou, por sua vez, acabou chamando a atenção da conversa para a dupla de irmãos, que se entreolharam rapidamente e, quase ao mesmo tempo, vieram a falar:

— Claro, é realmente um momento ideal.

Com a confirmação de ambas as partes, a atenção dos presentes se voltou para Huo Liming. A general rapidamente ajeitou sua postura em seu assento, mantendo um olhar firme para a Xogum e o terceiro general.

— Quatro anos atrás, uma vila do terceiro distrito, foi atacada por um dos soldados do Gonkuro e por Seiryuu-sama. Até onde investiguei, esse ataque aconteceu sobre o pretexto do início de uma possível rebelião da parte dos moradores dessa vila. Mas, após abrigar os sobreviventes desse ataque durante os últimos anos, pude concluir que esse pretexto é puramente inventado. Imagino que o que ocasionou o ataque, que levou não só a morte de diversos civis, mas também do discípulo do General Gonkuro Katsura, tenha acontecido por outro motivo. E, como uma dos treze e representante dessas pessoas, eu gostaria de saber neste momento o verdadeiro motivo por trás desse massacre.

Após ouvir tudo o que Huo tinha para dizer, Masaru olhou para Gonkuro antes de respondê-la, talvez buscando um apoio ao qual sabia que não teria, mas mesmo assim, a Xogum se manteve séria. Olhando então para a segunda general, a Xogum se moveu para o centro da sala, sentando-se em frente a todos os generais, e somente então falou:

— A verdade, é que não tenho uma boa justificativa para o ataque ocorrido. Naquele dia, foi relatado a mim sobre uma presença com um poder extremo que havia aparecido repentinamente no terceiro distrito e, após isso, desaparecido por meses, antes de voltar a chamar atenção de alguns youkais. Eu não me lembro exatamente do que se tratava tal presença, mas mesmo assim, lembro-me de que ele não havia demonstrado hostilidade para ninguém, muito menos a intenção de se opor a qualquer um de nós. Mas, por algum motivo, senti uma necessidade quase gritante de intervir sobre a criatura e acabei optando pelo caminho desonroso, ferindo inocentes e levando à morte de alguém precioso para meu irmão. Não posso reverter o que fiz, mas estou disposta a aceitar uma punição por tomar tal atitude. Realmente, agora que vejo claramente, não entendo o que me levou a tomar o mesmo tipo de atitude que prometi não repetir quando estabeleci o xogunato com o fim das guerras.

Quando Masaru se calou, Huo Liming suspirou profundamente enquanto se levantava e, pulando a mesa, parou bem na frente de Masaru ainda ajoelhada.

— Masaru, você já fez muitas coisas boas em sua vida. Desde que te conheci e lutamos juntas em um campo de batalha, nunca pensei que chegaria o dia em que teria que te ver de joelhos, minha amiga. Mesmo assim, aqui estamos nós. Se dependesse unicamente do meu bem, eu não lhe daria nenhuma punição e somente a faria pedir desculpas. Mas o que fez não afetou a mim, mas sim a você mesma e a fé do seu povo em você. Sua punição, Masaru, é se desculpar com cada um dos sobreviventes do massacre, ressarcir todos os bens perdidos por essas pessoas, ajudar pessoalmente na reconstrução da vila dessas pessoas, juntamente a um velório digno para todos os mortos para que as almas enfim descansem. Além disso, deve fazer um juramento de sangue de não empunhar Seiryuu contra ninguém até minha segunda ordem. Pode concordar com isso, Masaru?

Quando Huo Liming terminou de listar suas exigências, Masaru se manteve de cabeça baixa parecendo pensativa, antes de enfim responder:

— Posso concordar com isto.

Com a aceitação de Masaru, os generais se mantiveram em silêncio enquanto sua Xogum se levantava após admitir seus pecados. E enquanto Masaru se levantava, Huo Liming se virou para os demais.

— Uma lâmina, por favor.

 

Atendendo ao pedido da Fenghuang, Koharu jogou uma pequena adaga para a segunda general, que a pegou no ar, se virou para Masaru, se aproximando da Xogum, e, após cortar a própria palma, entregou a adaga para a Xogum. Após cortar a palma, a Xogum soltou adaga no chão e estendeu a mão ensanguentada para Huo Liming.

Huo Liming, logo apertou sua mão repleta com seu próprio sangue contra a de Masaru.

— Com nossos sangue devemos pagar. A partir desde momento, Masaru Furukawa jamais empunhará a lâmina Seiryuu contra qualquer ser vivo, até que eu enfim desfaça esse juramento com minhas palavras. Se assim concorda, Masaru, diga em alto e bom som.

— Eu aceito esse juramento. — Ao proferir as palavras de aceitação as condições impostas pelo juramento, o sangue que caía de ambas as mãos parecera correr entre os pulsos e os braços de ambas as partes, formando uma espécie de tatuagem tribal que tomava o formato de fileiras de espinhos que se completavam uma à outra.

Com o juramento enfim selado, Masaru levantou seu braço marcado pelas tatuagens ao ar, analisando o estado em que se encontrava.

— Bem… acho que agora podemos oficialmente encerrar essa reunião. Gonkuro, meu irmão, poderia levar Seiryuu para mim?

Gonkuro apenas respondeu com um breve aceno de cabeça em resposta e logo se levantou. Levando Seiryuu em suas mãos, se preparava para deixar a sala. Ao mesmo tempo em que o terceiro general se levantava, aqueles que ainda estavam sentados se levantaram juntos, com Huo Liming tomando a responsabilidade de levar Shihei em sua cadeira de rodas.

[…]

Masaru foi a primeira a deixar a sala, e, após isso, todos saíram, permanecendo apenas Sakuma e Yanagi. Mesmo que o desejo de Ryo fosse ficar ali, vigiando o corvo, atualmente sua preocupação havia sido voltada para sua mestra. Era a primeira vez em muitos os anos o qual havia com um semblante tão sério. Ele sabia que o arrependimento dela era real, mas também havia um certo receio em concordar em não empunhar a arma na qual o próprio marido estava aprisionado. Rapidamente, o garoto se apressou em passar pelos outros generais, correndo para alcançar sua mestra.

— Sensei! Espere, Masaru-sama…! — O garoto falava em voz alta, se esbarrando sem querer em alguns dos generais e virando-se para se desculpar, quase perdendo Masaru de vista nos corredores. Logo retomando a velocidade, o jovem preocupado apressou mais um pouco o passo, e se aproximando de Masaru, esticou seu braço e chamou mais uma vez.

— Okaas… — Quando estava prestes a terminar de falar, Ryo sentiu uma espécie de pontada em seu peito, fazendo-o cambalear e parar bruscamente enquanto lentamente perdia sua visão.

Com o último chamado de Ryo, Masaru pareceu ser buscada para à realidade em um turbilhão de pensamentos. Ao recobrar os sentidos, a mulher se virou rapidamente na direção do rapaz, no momento exato para ver quando ele começaria a cair para no chão. Vendo-o cair de maneira tão abrupta, em uma fração de segundos ela o segurou em seus braços quando seu rosto estava prestes a atingir o chão, o deitou de maneira adequada no piso. Ao mesmo tempo, os generais que se aproximavam rodearam a dupla, o rosto de Masaru mostrava uma preocupação genuína com a queda repentina de Ryo.

— Ryo! Ei, acorda! — Masaru chamava enquanto balançava os ombros do rapas sem resposta. Talvez apenas por preocupação, a ruiva levou seus dedos para perto do nariz do rapaz, mas não sentiu nem ao menos um suspiro de ar, deixando a expressão da mulher até mesmo sombria de certo modo. Ao não notar a respiração do jovem, Masaru colocou sua cabeça sob o peito de Ryo e, após um breve momento enquanto tentava se concentrar para escutar algo, percebeu que os outros amontados em volta dela começavam a conversar entre si, tentando chamar a atenção sobre o que estava acontecendo.

Mas naquele momento, para ela nada do que diziam era sequer audível. Após um breve momento em que não estava sentindo o coração de Ryo batendo, Masaru levantou seu olhar e, com seu punho fechado, bateu na parede atrás de si e gritou aos generais:

— FAÇAM ALGO ÚTIL, ONDE ESTÁ HUO, ELE NÃO ESTÁ RESPIRANDO!

Quase ao mesmo tempo ao grito da Xogum, Gonkuro, que estava carregando Seiryuu, o largou abruptamente no chão e se sentou ao lado do corpo de Ryo, iniciando uma massagem cardíaca. Enquanto isso, a Xogum ficava atônica, com sua mão ainda afundada na parede, encarando o discípulo desacordado sem conseguir expressar reações.

E em meio ao caos, Huo Liming saiu de trás dos outros generais e, após os colocar para sair do local, tomou o lugar de Gonkuro na massagem cardíaca.

— Há algo de errado… eu não consigo sentir a alma dele… tsk.

— Como você não consegue sentir a alma dele, Liming?! — O terceiro general exclamou rapidamente, enquanto ia até sua irmã, que ainda não conseguia se mover. Tirando sua mão da parede com cuidado, ele segurou ambas as mãos de sua irmã em forma de apoio.

— EU, EU NÃO SEI, GONKURO, É A PRIMEIRA QUE VEJO ALGO ASSIM… POR MAIS QUE EU CONTINUE BOMBEANDO SEU CORAÇÃO E MANTENDO O CORPO VIVO… SEM A ALMA DELE, É INÚTIL…. — A segunda general continua a massagem em um ritmo controlado e até mesmo desesperado, enquanto, em meios espirituais, continuava a busca pela alma desaparecida do jovem.

E ali, quando Gonkuro estava prestes a gritar e exclamar suas dúvidas mais uma vez, algo estranho aconteceu. De uma forma inexplicável, uma presença absurdamente pesada caiu sobre seus ombros, o levando diretamente ao chão, soltando as mãos de sua irmã. Ao mesmo tempo, a mesma força caía sobre Huo Liming, que caiu em cima ao corpo do jovem, mas se forçando a resistir sobre tamanha pressão. O corpo da Fenghuang pesava como se carregasse uma montanha em suas costas, mas mesmo com a dor, ela se forçou a voltar a ficar sentada e retomar a massagem cardíaca.

E ali, observando o corpo de seu discípulo enquanto Huo Liming continuava a tentar uma reanimação e seu irmão caía no chão, Masaru se viu perdendo o ar. Seus pulmões pareciam se fechar, seu peito doía, e mesmo não sentindo a força que havia derrubado seu irmão, ela sabia que era real. Porém, naquele momento, sua única dor era interna, mas não havia tempo para sofrer. Masaru se levantou com certa dificuldade e, assim que se levantou, ouviu ao longe o som de estrondos, um após o outros, se aproximando ao templo.

— Masaru! — Huo Liming chamou em alerta, sem levantar os olhos para olhar para a Xogum.

Masaru, por sua vez, sentiu um gosto amargo na boca, quase como o gosto do sangue, e logo respondeu Huo com sua voz fraquejando brevemente.

— E…eu sei… eu vou ver o que…, mas preciso deixar vocês seguros… todos vocês.

Quando terminou de falar, as explosões sessaram e Masaru tocou a parede de madeira ao seu lado. Sussurrando, ela disse:

— Cai… caixões de madeira.

Com as palavras da Xogum, rapidamente todos no templo, desde os generais que sentiram a presença até o mais novo dos civis e soldados, foram cercados por uma cúpula de madeira estranhamente grossa. Ao mesmo tempo que a última pessoa foi protegida, uma enorme explosão de chamas caiu sobre cada parte do templo, destruindo cada local conhecido: a sala onde os generais haviam se reunidos, o pátio onde um dia Leonardo havia sido tratado, os quartos em que as pessoas um dia residiram. Tudo foi destruído em explosões de chamas. Tudo o que sobrou em meio ao escombros eram cúpulas e cúpulas de madeira estranhamente intactas ao contato com as chamas. E para Masaru, que se recuperava lentamente, tudo o que via ao olhar para cima era um estranho luar vermelho, seguido pelo som de correntes se aproximando dela. Das sombras da lua carmesim, uma voz irreconhecível soou para a Xogum.

— Há muitos anos, é passada a lenda sobre a lua carmesim, capaz de incapacitar até o mais poderoso dos youkais, reduzindo-os praticamente a insetos… Quem diria que isso aconteceria em um momento tão conveniente para nós… Desista, Masaru, essa é uma batalha que você não pode vencer sem sua lâmina e, pelo que ouvi… você não pode mais empunhá-la.

Masaru, se afastou do restante da parede que ainda havia naquele local, observando as chamas ao seu redor enquanto se certificava de que todos estavam devidamente protegidos. Só então ela se moveu para fora do prédio em chamas, procurando em meio às chamas de onde vinha tal voz.

— Desistir? Poupe-me… Acha que pode vir até mim, destruir a morada de um de meus amigos, quase ferir meu povo e exigir tal coisa… Com quem você pensa que está falando? — A voz de Masaru aparentava estar cansada de certa maneira enquanto falava. Esperando por uma resposta, ouvia atentamente procurando por  qualquer som que pudesse indicar de onde vinha aquela voz.

— Ha ha, quem penso ser? Eu sou alguém com vantagem, Masaru, é isso que sou… Sabe, se me entregasse seu discípulo de maneira pacífica, talvez eu possa considerar deixá-los em paz temporariamente, claro… o que me diz?

Ouvindo uma proposta um tanto quanto absurda quanto essa, Masaru nem mesmo considerou tal coisa quando gritou em resposta:

— SE TENTAR TOCAR EM UM FIO DE CABELO DELE, VAI SOFRER UMA DOR PIOR QUE A MORTE! QUANTA OUSADIA PEDIR QUE ENTREGUE MEU FI… MEU DISCÍPULO!!

Com o grito obviamente irritado de Masaru, a pessoa que continuava a falar não pode deixar de rir com tamanha reação, que para ele era no mínimo exagerada.

— Imaginei que diria isso…, então deixe-me entregar a si uma surpresa… Furukawa Masaru, você ainda se lembra do rosto de seus pais?

Com a pergunta da criatura misteriosa, Masaru estava prestes a responder em outro grito para exigir que ele parasse de dizer tamanhas afrontas à sua pessoa. Contudo, mesmo prestes a responder, quando ouviu som de correntes se arrastando atrás de si. Ela rapidamente, se viu partindo em direção ao som das correntes com seus punhos prontos para um golpe, mas parou abruptamente perto do rosto de uma das figuras com correntes nas pernas.

O que estava diante de seus olhos era quase inacreditável para ela: um homem de cabelos curtos avermelhados, em um tom mais claro que o de Masaru, aparentando ter por volta de seus quarenta anos, em um estado de mumificação. Sua boca costurada com linhas pretas, e seus olhos estavam completamente escurecidos, com um rosto sem expressão. Ao ao lado dele, uma mulher aparentando estar na mesma faixa etária, com cabelos em uma mistura de loiro e um leve tom avermelhado, estava igualmente mumificada. Ambos vestiam roupas com o símbolo de lírio vermelho estampado, e o restante da roupa era completamente negro.

Ao ver as duas figuras diante de si, o punho de Masaru se enfraqueceu e seu braço caiu, parando seu soco. Por mais forte que tentasse ser, ela se viu chorando em meio a lágrimas de todo o estresse que estava acontecendo ao mesmo tempo: Seiryuu, Ryo… e agora os pais que perdeu ainda quando criança, bem na sua frente, de uma maneira distorcida e até mesmo macabra.

— Otōsan… o que… o que fizeram com o senhor… não… não… — Encarar os cadáveres de seu pai e de sua mãe em tal estado era perturbador até mesmo para Masaru, que pela primeira vez em muito tempo se via vulnerável perante alguma situação.

E em meio ao sofrimento da Xogum, a voz na escuridão soou mais uma vez: — Por que está chorando, Masaru? Não foi isso que você sempre quis? Se reencontrar com sua família, poder viver em sua casa com seus pais e seu irmão, poxa… achei que ficaria feliz em vê-los! — A voz continuava a falar animadamente enquanto observava o desespero consumi-la.

Ali, ao mesmo tempo em que ela se via se rendendo à dor emocional e ao cansaço, não havia nem ao menos um tempo para que pudesse respirar. Assim que as lágrimas caíram, uma dor física surgiu para Masaru e, sem tempo para raciocinar, tudo o que viu foi o sangue saiu de sua boca. Ao olhar lentamente para baixo, uma lâmina negra havia sido atravessada em seu abdômen por ninguém menos que o cadáver de seu pai.

E de alguma maneira que nem ela mesma conseguiu entender, a dor de ter sua barriga perfurada por uma lâmina pareceu trazê-la de volta à consciência sobre o que estava acontecendo. Ali, encarando de perto o rosto frio do cadáver do antigo chefe do caído Clã Furukawa, o rosto de Masaru, que antes continha uma expressão desesperada, voltou a tomar um semblante sério, mesmo em meio ao constante fluxo de lágrimas que continuavam a cair. Fechando seu punho em volta da lâmina, segurando-a em seu corpo mesmo com tentativas falhas de seu pai de retirá-la, a mulher utilizou sua mão livre para quebrar a lâmina com um soco e rapidamente se afastou para longe do cadáver, permanecendo em alerta.

Com Masaru se afastando, o cadáver do chefe olhou confuso para a lâmina quebrada enquanto a jogava no chão. Sem que Masaru percebesse, o cadáver de sua mãe havia desaparecido de seu campo de visão. Ao mesmo tempo, uma estranha sensação de perigo veio de suas costas e, virando-se rapidamente, a Xogum levantou seu braços em defesa ao seu rosto, vendo um forte chute vindo em direção ao seu rosto. Ao ter os braços atingidos, ela se viu sendo empurrada lentamente para trás.

E assim começou um confronto entre dois pais e sua filha mais nova. Seu pai continuava a reaparecer com lâminas escuras para atacá-la, mirando sempre em pontos vitais. Qualquer deslize de Masaru em um confronto como esse poderia ser letal, mas era estranho: sempre que um de seus pais a atacava, tudo o que ela fazia era desviar ou se defender.

Das diferentes formas que seu pai tentou atingi-la com a lâmina, ela continuava a apenas se defender ou se esquivar para quebrar a lâmina que havia ressurgido, enquanto continuava a defender com seu corpo cada chute ou soco dado pelo cadáver de sua mãe. Até certo ponto, ela estava conseguindo com destreza se defender de cada ataque, mas apenas uma estratégia defensiva estava custando caro para ela. O sangramento de sua barriga continuava e, juntando aos cortes e hematomas aos quais estava sendo condicionada, se ela não revidar, isso poderá ser seu fim.

E mesmo que não fosse capaz de sentir ou ver no momento, de outro plano, de outra forma, ainda havia alguém se preocupando e torcendo por ela. Ali, em meio ao campo de batalha, ao lado do túmulo de madeira em que Huo Liming continuava a manter o corpo de Ryo vivo, duas formas quase etéreas observavam a batalha travada por Masaru.

[…]

Uma delas continha correntes e algemas em seus braços, pés e pescoço sem ninguém menos que a alma de Ryo permanecendo fora de seu corpo por livre e espontânea vontade e ao seu lado a Deusa conhecida como Hoshi agora com um quimono com leves desenhos de flores de sakura e seu cabelo preso em um alto coque enquanto usava uma coroa prateada em sua cabeça.

— As coisas se animaram por aqui pelo rápido tempo em que te peguei emprestado Ryo… — A Deusa destacou enquanto ambos caminhavam em meio ao campo de batalha observando a constante batalha de uma Masaru desesperada.

Ryo, parecia estranhamente calmo em meio a situação, observando Masaru de cima a baixo. — Não, as coisas ainda não se animaram, ela está se segurando demais.

— Como sabe disso? Nem eu posso dizer se ela está se segurando ou não… Sabe, Ryo, a Masaru está bem machucada, você vai deixar que ela continue lutando sozinha? — perguntou Hoshi com uma curiosidade genuína, observando os ferimentos sofridos pela Xogum antes de finalmente se virar para Ryo. — Você por acaso a odeia por ter o manipulado apagando suas memórias e deseja deixá-la morrer? Você é mais cruel do que eu pensei.

Ryo olhou para a Deusa com confusão, se aproximou dela e deu um leve peteleco em sua testa. — Não diga essas idiotices, eu não a odeio. Sendo sincero, por mais que ela tenha feito tudo o que fez, eu preciso colocar na balança o tempo em que Masaru esteve cuidando de mim. Então, minha cara Deusa, confie no que digo: minha mestra está se segurando.

A Deusa, cambaleando para trás em tom brincalhona, voltou a falar enquanto Masaru continuava em sua estratégia de defesa logo atrás deles. — Tá bom, tá bom, então ao menos me diga por que tem tanta certeza, ok?

O espírito do rapaz então riu e concordou com um aceno de cabeça. — Bom, é bem simples, na verdade. Por mais que Masaru não esteja em contato com Seiryuu-sama no momento, suas habilidades não vêm apenas do velhote; muito pelo contrário, ela tem muito mais a oferecer. Masaru-sama, possui um poder herdado de geração em geração de sua família, tudo devido aos seus cabelos vermelhos. Imagino que já saiba disso, mas a cor vermelha dos cabelos de um Furukawa só aparece após a primeira morte causada pelo próprio, e vai se intensificando a cada morte que causam, quase como uma maldição. Foi um dos motivos que gerou uma espécie de divisão dentro do clã, fazendo que o sobrenome Furukawa só fosse herdado quando um membro do clã possuísse a primeira morte em suas mãos. Antes disso, seus cabelos eram loiros e o sobrenome dado era Katsura, como o do senhor Gonkuro. Mas o que eu acho que você está se esquecendo, minha Deusa, é que o sangue derramado é o que dava forças para um Furukawa continuar lutando. E, no caso da minha mestra, o sangue que ela derramou é quase cem vezes maior que o sangue seu pai derramou em batalha.

— Oh, eu havia me esquecido dessa peculiaridade realmente… Então você está dizendo que ela poderia se utilizar da força desses guerreiros para essa luta, é isso? — Hoshi perguntou, quase como se estivesse afirmando sua própria pergunta.

— Também. Claro, ela poderia se utilizar disso, mas duvido que ela o faça — Ryo falou com certeza, enquanto observava sua mestra continuar a lutar para se defender dos ataques, começando a cambalear.

— Por que diz isso? — Hoshi perguntou, confusa.

— Porque… bem, minha mestra acha desonroso se utilizar da força daqueles que morreram para vencer uma batalha dos vivos. Ela nunca utilizou a força dos guerreiros que matou para vencer suas batalhas, e não fará isso agora. Esse é o código de honra da Samurai de cabelos vermelhos… Furukawa Masaru, a Xogum dessa nação para os humanos e… —  O rapaz olhou para a lua antes de falar e sorriu.

— E? Ande, fale, Ryo. — A Deusa o apressou, batendo em seu ombro.

— Shh, apenas olhe para cima. — Fazendo então o que o rapaz pediu, Hoshi olhou para cima, notando algo um tanto estranho, o que a fez até mesmo rir. Aquilo que estava vendo… pássaros, não, não eram só pássaros. Diferentes animais alados estavam ordenadamente se colocando à frente da luz da lua no Templo Huo, tentando fazer algo que Hoshi não estava entendendo a princípio. Antes mesmo que tivesse uma chance de perguntar, o chão abaixo deles tremeu.

Masaru havia caído em meio ao sangue enquanto suspirava profundamente, puxando o ar para seus pulmões, enquanto os cadáveres de seus pais se preparavam para atacá-la novamente, o que provavelmente finalizaria uma Xogum que se recusava a ferir seus amados pais. Até perceberem algo estranho: ao sumiço da luz do luar carmesim, a terra tremeu e Masaru, ainda caída, sorriu, e Ryo sorriu junto a ela.

— Aí está, a Imperatriz que os youkais escolheram seguir para governar essas terras, Masaru Furukawa, a Imperatriz youkai, a esposa do Imperador Celestial e a samurai humana de cabelos vermelhos. — Ao mesmo tempo que Ryo terminou de falar, uma enxurrada de espíritos saía do chão abaixo deles, direcionando um ataque aos pais de Masaru.

[…]

Estavam matando sua Imperatriz e eles sabiam o que deveriam fazer: protegê-la. Os espíritos que saíam possuíam diversas formas, indo de coletores de almas ao espírito dos mortos humanos. Enquanto isso, o solo abaixo de Masaru se moveu, formando abaixo dela uma espécie de trono de pedras. Vinhas vindas do chão cobriram os ferimentos em seu abdômen, estancando o sangramento. O próprio espírito da terra da nação estava ajudando, até mesmo com o surgimento de uma espécie de coroa em sua cabeça. A ferida Masaru agora assistia enquanto os mais diversos youkais, em suas formas mais primitivas, lutavam em seu nome.

Fracamente, ainda sem forças, a mulher falou:

— Eu… posso não saber quem você é… mas tenha certeza de que eu o matarei por profanar o descanso de meus pais… Seu plano foi bom, eu admito… mais se esqueceu quem está enfrentando e onde está… Este é o meu país, essas pessoas… esses youkais, eles são o meu povo. Seu ataque poderia tê-los ferido… e você ainda ousou querer tomar minha criança…— Quando Masaru terminou de falar, os corpos mortos de seus pais foram carregados pelos espíritos, que eram protegidos da luz do luar pelos animais alados, para a distância noturna.

E com a volta da luz do luar carmesim, os cabelos de Masaru pareciam brilhar em contraste com a luz da lua. Enquanto o espírito de Ryo se aproximava dela, estendeu sua mão aberta diante de Masaru, e por um segundo, os dois pareciam até mesmo conseguir se ver.

— Teimosa como sempre, sensei… Espero que o Gonkuro ou o Seiryuu coloquem juízo na sua cabeça depois disso, somente se defender… Que plano louco… — Sorrindo, uma luz em meio ao lilás e prateado surgiu no punho de Ryo, curando os ferimentos de Masaru. O som de vidro se rachando veio de seu pescoço, mas ele escolheu ignorá-lo até curá-la.

[…]

Após isso, o rapaz sorriu para a Deusa e caminhou em direção ao seu corpo.

— Melhor eu ir antes que eu me estilhace por estar lembrando de tudo. — O rapaz, então, parando bem à frente da cúpula em que seu corpo estava, se virou para a Deusa e sorriu. — Foi bom te ver de novo, Hoshi, você realmente se tornou uma grande Deusa!

O rapaz então desapareceu em meio a uma luz dourada, e Hoshi sorriu para ele de volta enquanto lentamente desaparecia também, voltando aos céus.

— Ainda nós veremos de novo, muito em breve, mais agora não poderei mais ajudar tanto. Sejam espertos e não morram.

E assim, em meio ao luar carmesim e às chamas que continuavam a queimar nos restos do que um dia foi o Templo Huo, a presença maligna em meio à escuridão também havia se dissipado. Lentamente, uma noite de horror estava passando, com alguns atrasos sendo gerados para Kaoru. Mas, felizmente, nenhuma vida inocente havia sido perdida, tudo graças aos esforços de uma samurai agora adormecida em um trono de pedra, rodeada pelos mais diversos animais lhe fazendo companhia na noite em completa alerta, até enfim o sol da manhã surgir mais uma vez.

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Entre Espadas

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Um relacionamento que acabou de maneira conturbada e um acidente que causa a morte de ambos, foi assim assim que Ryo e Leonardo se viram em um mundo feudal durante um xogunato, onde aparentemente...

Chapters

  • Volume 1
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        Capítulo 45 Um Conto de Dois Irmãos (4): Sobre suas asas.
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        Capítulo 44 Um Conto de Dois Irmãos (3): Nasce o Lírio.
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        Capítulo 43 Um Conto de Dois Irmãos (2)
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        Capítulo 42 Um Conto de Dois Irmãos (1)
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        Capítulo 41 Você e Eu, Até o Fim.
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        Capítulo 40 Treze Soldados, Quatorze Corações que Batem em um Único Som.
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        Capítulo 39 O Doce Som da Biwa
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        Capítulo 38 Histórias de um Velho Tanuki.
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        Capítulo 37 Camélias Vermelhas
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        Capítulo 36 O imperador selado
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        Capítulo 35 A Samurai de Cabelos Vermelhos
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        Capítulo 34 Bons sonhos, Tsukuyomi.
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        Capítulo 33 A teia da aranha
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        Capítulo 32 O quarto general.
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        Capítulo 31 Antidoto & Veneno
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        Capítulo 30 A prova de seu amor.
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        Capítulo 29 A queda de Kumo-rui Parte 2
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        Capítulo 28 A queda de Kumo-rui Parte 1
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        Capítulo 27 Lembre-se do meu nome
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        Capítulo 26 Um lótus banhado a sangue
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        Capítulo 25 Kumo no Su, uma vila de tecelãs
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        Capítulo 24 O príncipe youkai e o santo de outra terra.
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        Capítulo 23 Em direção a Kumo-rui.
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        Capítulo 22 Um noivado inusitado.
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        Capítulo 21 Quem devo ser nesta história?
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        Capítulo 20 As noites em Iwasakiyama
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        Capítulo 19 O príncipe de lugar nenhum
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        Capítulo 18 A flor de lotus que desabrocha entre os treze
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        Capítulo 17 O treinamento se inicia, dias chuvosos chegam à capital.
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        Capítulo 16 Toyosaki Kaede
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        Capítulo 15 A lua e seu pecador
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        Capítulo 14 Lírios Aranha
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        Capítulo 13 Esquecer
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        Capítulo 12 Deixe os queimar.
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        Capítulo 11 Enunciação de morte
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        Capítulo 10 Entardecer
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        Capítulo 9 Toyosaki Ryo
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        Capítulo 8 Sacerdotisa...
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        Capítulo 7 Xogum
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        Capítulo 6 A cobra, a espada e o salgueiro
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        Capítulo 5 O habitante desta floresta
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        Capítulo 4 Um caminho de ossos a nossa frente
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        Capítulo 3 gosto amargo para Ryo
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        Capítulo 2 O vazio perante um novo começo
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        Capítulo 1 Um novo mundo, com você?!
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        Capítulo 0 Notas iniciais

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