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Entre Espadas

Capítulo 9

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  4. Capítulo 9 - Toyosaki Ryo
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Durante o início do yoake do dia, dentro daquele mesmo templo, tanto Ryo quanto Leonardo ainda se viam desacordados, dormindo da mesma maneira em que acabaram sua discussão na noite anterior. Quando o sol começou, por fim,  a iluminar o interior daquele templo Ryo foi o primeiro a despertar, afinal nos últimos tempos era somente isso que ele estava a fazer, enquanto o mesmo abria seus olhos aos poucos, ele começava a sentir que estava sentado e não deitado como deveria estar e então, abrindo seus olhos completamente, ele se viu com a cabeça sobre o ombro de Leonardo, o que o fez cogitar por alguns minutos se ainda estava sonhando com algum acontecimento de sua antiga vida, mas logo essa sensação de ainda estar adormecido se dissipou e o mesmo afastou o rosto do ombro de Leonardo.

 

Após afastar seu rosto do corpo do outro, ele encarou o rosto de Leo como se estivesse o contemplando por alguns míseros segundos de normalidade, os quais ele já não lembrava mais como era sentir e, com um sussurro quase inaudível, o garoto disse — Você continua irritante…talvez eu cumpra o favor que me pediu quando morremos…mesmo que eu seja o único a lembrar. — Por fim, o garoto se levantou cuidadosamente para não acordar o outro e finalmente, depois de dois meses se hospedando naquele templo, conseguiu dar uma boa olhada no mesmo.

 

— Parece limpo…deve ser por causa do Leo. — Olhando em volta o garoto reparou em um pequeno altar com uma figura de uma mulher, que outrora deveria ser a Deusa a qual estas pessoas cultuavam, uma pequena mesa de madeira com uma cadeira encostada a parede ao outro lado da sala e bem ali, ao lado da única porta de entrada e saída, estava o motivo do garoto ter ficado acamado durante dois meses, Gramr estava apoiada ali contra a parede e, por alguns minutos, Ryo a encarou em silêncio e se aproximou aos poucos até pegá-la com sua mão esquerda e ouvir uma voz familiar em sua mente.

 

— Decidiu acordar garoto? Por um segundo achei que sua vontade de viver não fosse tão forte quanto parecia desde nossa última conversa… — A voz parecia conter sarcasmo e ironia à medida que mais palavras ecoavam na cabeça do garoto.

 

— hmph…então ficou mesmo preso a espada, cobra velha? — O garoto falou em voz baixa enquanto se dirigia à saída daquele templo.

 

— Para alguém que afirma não ser deste mundo, em nossa segunda conversa você parece muito confiante… eu poderia matá-lo por isso seu insolente. — A voz era ríspida, claramente não estava contente em ser lembrado de sua situação.

 

— Posso não ser daqui, mas sei como as coisas funcionam em situações como a sua e a minha, ambos sabemos que mesmo que queira… você não pode me matar cobrinha e eu não posso me livrar de você — O garoto dizia com uma alta convicção do que falava, se baseando totalmente na sua experiência com jogos de fantasia que retratavam algo do gênero e esperava estar certo disto.

 

— Tsk, parece que você realmente não é tão tolo quanto pensei, sendo assim já que sabe que teremos que conviver, pelo menos me chame pelo meu nome… não desta forma humilhante a qual fala comigo. — A voz parecia estressada e a espada tremeu na mão de Ryo.

 

Assim que abriu o shoji de entrada do templo, se direcionando para o engawa e andando em volta ao decorrer que a luz do sol tocava sua pele, o mesmo voltou a falar com a voz — E por acaso qual seria seu nome?

 

— Meu nome… pode me chamar de “M” por enquanto, preciso lembrar-me corretamente da pronúncia de meu nome. — M parecia realmente confuso.

 

— Certo… “M” esta é certamente uma maneira peculiar de querer ser chamado… bom nossa conversa foi agradável M, mas infelizmente creio que isto seja tudo por hora. — Antes que a voz de M pudesse ecoar na cabeça de Ryo mais uma vez o garoto abriu uma das portas shoji do templo e colocou a espada no chão, então fechando a porta, olhou em rumo ao sol.

 

É um belo dia, foi isto que Ryo disse a si mesmo antes de pegar a corda dourada que agora estava em seu pulso e usá-la para amarrar seus cabelos em um alto rabo de cavalo, voltar para frente do templo, calçar seu sapato e finalmente, em dois meses, sair para as ruas da cidade a qual estava hospedado.

 

Andando pelas ruas tortas da vila o garoto observa enquanto alguns comerciantes abriam suas lojas à medida que o sol os iluminava, algumas mulheres saíam de suas casas em direção ao que Ryo pensa que deveria ser os campos daquela vila, a medida que andava o garoto se sentia mais revigorado dos dois meses em que esteve dormindo. Diferente até mesmo do que o próprio garoto esperava se sentir nesta atual situação, ele se sentia livre pela primeira vez em dois anos, o ar era fresco por mais que em alguns pontos da vila um odor significativamente forte surgia, provavelmente algo do esgoto, ainda assim isso o alegrava e em meio a distração momentânea o garoto esbarrou em uma senhora de idade, mas logo a segurou para que a mesma não caísse.

 

— Oh, perdoe-me senhora, eu me distraí por um instante, quase a fiz cair. —  O garoto disse enquanto equilibrava a idosa e por fim se afastou com um passo.

 

— Não se preocupe senhorita… esta senhora não é tão frágil quanto aparenta! — A idosa disse alegremente e olhou atentamente para Ryo e antes que ele pudesse falar algo a senhora voltou a falar — Oh você não seria a sacerdotisa que estava repousando em nosso templo? A senhorita já se sente melhor?

 

Ouvindo a senhora falar atentamente, Ryo parou um pouco seu raciocínio quando duas palavras se fixaram em sua mente “sacerdotisa” e “senhorita”, o garoto ficou momentaneamente sem reação e em sua mente ele dizia para si mesmo “acham que sou uma mulher?…por que…eu mal apareci na vila nestes dois meses…a não ser…” No momento em que o garoto entendeu o que estava acontecendo uma veia saltou em sua testa e ele respirou fundo e tossiu antes de falar.

 

— Peço perdão senhora, isto deve ser apenas um equívoco. — O garoto disse tentando manter a compostura e, antes que a senhora pudesse continuar essa conversa, o garoto inventou uma desculpa para se retirar e foi na direção oposta da mulher.

 

— Maldito, eu vou matar aquele… aquele… argh. — O estresse por se tocar do que Leonardo havia espalhado pela vila era ardente, principalmente quando quanto mais as pessoas começavam a aparecer na rua, já que muitas delas, ao ver como ele estava vestido iam até ele cumprimentar a sacerdotisa a qual estava se abrigando na vila deles e, com um sorriso forçado no rosto o garoto cumprimentava uma por uma das pessoas que vinham até ele.

 

Enquanto isto, ainda no templo, neste meio tempo algumas horas já haviam se passado e Leonardo finalmente se via a acordar após a maneira caótica a qual haviam ido  dormir, o garoto se levanta se sentindo totalmente dolorido pela maneira desconfortável há qual havia dormido e ainda confuso pelo sono ele olhou em volta e não viu ninguém.

 

— Ele saiu cedo?…não vou me preocupar com isto agora. — Após dizer isso para si mesmo, o garoto andou por toda sala, procurando alguma das coisas de Ryo até ver a espada jogada no chão, a encarar por alguns segundos e sair para fora.

 

O garoto deu a volta até a parte de trás do templo onde havia um pequeno lago o qual ele cuidou durante esses meses, quando não estava fazendo favores aos camponeses, o garoto então se ajoelhou a beira do lago respirou fundo e submergiu sua cabeça na água e a imergiu após poucos segundos respirou fundo mais uma vez e disse ao vento enquanto usava as mãos para tirar seu cabelo do rosto — Pelo menos assim, você não me enlouquece de uma vez.

 

Enquanto estava ali perdido em seus pensamentos de repente o garoto voltou a si quando ouviu um som parecido com de palmas a frente do templo, o garoto então logo se levantou sem sequer se secar e ao chegar na entrada viu uma menina por volta de seus 13 anos com um grande embrulho de pano em seus pés a menina ao vê-lo disse calmamente.

 

— Senhor, minha mãe me disse para que trouxesse estas coisas para o senhor e sua companheira sacerdotisa pela sua ajuda na manutenção em nossa casa. —  A garota dizia parecendo tentar buscar se lembrar de cada uma das coisas que sua mãe havia lhe pedido para os dizer.

 

O garoto sorriu e pegou os panos que revestiam seja lá o que ele e Ryo tivessem ganhado e abrindo um pouco a porta do templo a colocou mais para dentro, então se virando para a garota sorriu e disse — Akiko diga a sua mãe que estamos muito agradecidos pela bondade dela e que caso precise de algo me chame se ainda estivermos na vila.

 

— Ah, senhor, vocês já se vão para fora da vila? — Akiko parecia ter ficado descontente com tal informação.

 

— Bem, imagino que sim, agora que “ela” acordou, imagino que logo iremos para a capital do terceiro distrito. — O  garoto parecia realmente pensar sobre o assunto.

 

— Entendo…mas o senhor disse que a senhorita acordou?! eu posso conhecê-la finalmente?!! — O tom na voz de Akiko logo voltou a ser animado quando soube que a “sacerdotisa” havia despertado.

 

— Sinto muito Akiko, “ela” não está, mas imagino que por volta do começo da tarde, “ela” esteja de volta. — O garoto disse bagunçando o cabelo da jovem.

 

— Ah, certo! voltarei assim que o primeiro horário desta tarde começar! — A garota disse rindo e afastando a mão do outro antes de se virar, despedindo-se de Leonardo com um aceno de mão e correndo de volta por onde havia vindo.

 

Após a jovem ir embora, o garoto se virou novamente para adentrar ao templo e voltou a pensar sobre algo com um sorriso brincalhão em seu rosto “agora que acordou…quanto tempo será que ele vai levar  até descobrir o que fiz…” Quando adentrou organizando o que havia ganhado da mãe de Akiko o garoto ria pensando em como isso irritaria Ryo o fazendo querer pular em seu pescoço.

 

Já por volta do meio-dia, Ryo se via sentado em uma barraca de arroz a qual o dono havia o oferecido o quanto quisesse comer, sem a necessidade que ele pagasse devido a ser um “presente” para a sacerdotisa recém recuperada o que estava mexendo com aos poucos com os pensamentos de Ryo “Bom, este tratamento até que não é ruim e a comida é tão boa…vou manter essa farsa somente por hoje…” O garoto sorria enquanto comia sem dizer nenhuma palavra sequer.

 

O garoto comia alegremente, afinal dois meses sem nenhum alimento obviamente o causaria uma enorme fome, a medida em que devorava o arroz em que comia o garoto parecia extremamente alegre e enquanto comia uma voz grave veio de trás do mesmo.

 

— Ei, você aí. — Uma voz grave e masculina surgiu por trás de Ryo o que o fez se virar e ver uma pessoa um tanto quanto diferente, um homem alto, com chifres em sua cabeça.

 

— Eu?

 

— É, você mesmo  que tá comendo como um porco. — O homem disse, estando claramente sério olhando para o outro. — Você não é desta vila, certo?

 

Esta pergunta fez Ryo ficar confuso sobre o porquê da curiosidade vinda daquele homem ali presente, o fazendo olhar seriamente para o outro e dizer em alto e bom som. — E quem seria você? para se preocupar sobre onde pertenço.

 

— Quem sou eu? — O homem tomou uma postura um tanto quanto presunçosa — Eu sou Kishin comandante do exército do quarto general!

 

Ryo não prestou muita atenção ao que o Oni falava, somente segurou sua tigela de arroz na mão enquanto o encarava falar sobre ser um general — Certo, o que alguém do exército deseja comigo? — O garoto perguntava enquanto levava mais uma porção de arroz à boca.

 

A expressão de Kishin parou um pouco surpreso por o tom de voz da pessoa  à sua frente não mudar nenhum pouco para respondê-lo. — Como, uma… como uma mera sacerdotisa ousa falar de maneira tão leiga com um oficial do exército? não tem medo de ser punida mulher?!

 

O garoto largou o prato na mesa da pequena carroça de comida em que estava após agradecer o senhor pela comida, ele se levantou, se distanciou um pouco da carroça e disse para Kishin — Isso está começando a ficar chato, sabia ? primeiramente eu não ligo para sua posição em exército, ou seja, lá o que e segundamente… — O garoto respirou fundo, como se a raiva de ser confundido com uma sacerdotisa durante o dia todo finalmente viesse à tona — EU NÃO SOU UMA SACERDOTISA, MUITO MENOS UMA MULHER.

 

O oni ficou boquiaberto com a audácia do garoto em gritar enquanto falava com ele — Então por que se veste como uma sacerdotisa?! Se não queria ser confundida com uma se vista apropriadamente! e quem pensa ser para levantar a voz para mim ?! — O oni se enfurecia a cada frase trocada com o garoto a sua frente e não sendo alguém conhecido por sua paciência em conversar com outras pessoas o garoto jogou uma de suas katanas a frente de Ryo e empunhou a outra e irritado disse — SE NÃO É UMA MULHER, VAI SER PUNIDO COMO UM HOMEM POR SEU TOM INSOLENTE! É MELHOR PEGAR ESSA KATANA E SE PREPARAR.

 

Ryo olhou para a katana no chão e depois para Kishin e pensou olhando para ele confuso “esse cara quer brigar porque gritei com ele? ah é mesmo, nesse tempo existiam pessoas que só sabem conversar entre espadas…bem se ele quer apanhar…” O garoto então deu um sorriso confiante enquanto pegava a lâmina jogada ao chão e a tirou de sua bainha e antes de qualquer movimento disse sorrindo — Certeza disso? eu não vou pegar leve por ser alguém importante…

 

— Cale a boca mortal insolente! — Kishin disse partido para cima de Ryo com sua lâmina mirando no pescoço do mesmo.

 

Ryo somente sorriu para ele soltando um pequeno riso enquanto observava o mesmo correr em sua direção e com apenas uma mão o garoto segurando a Katana, assim que Kishin se aproximou do mesmo com sua lâmina o garoto o conteve sem demonstrar muita dificuldade e disse em um tom um tanto quanto presunçoso — Para alguém que parecia estar confiante que ganharia… sua base está um tanto quanto ruim…não tem força o suficiente para forçar a lâmina contra a minha…

 

Kishin se irritava cada vez mais com o que Ryo falava — INSOLENTE, O QUE QUER DIZER COM ISSO? — O oni disse forçando mais a lâmina contra a lâmina de Ryo.

 

— Oh, não entendeu? Estou te chamando de fraude, nenhum espadachim teria uma base horrível dessas. — O garoto disse forçando a lâmina contra a do outro ao ponto de forçá-lo a se afastar, no mesmo momento o garoto percebeu que Kishin havia deixado seu peito exposto, era uma abertura que somente um idiota não viria como uma oportunidade de um contra-ataque.

 

Naquele momento usando seus dois pés como impulso o garoto saltou com a lâmina em direção ao peito de Kishin e antes que o oni pudesse fazer qualquer coisa para desviar a lâmina na mão de Ryo perfurou o peito dele o fazendo o cair no chão o fazendo cuspir um pouco de sangue — Viu? uma fraude… isso não vai te matar né? você não me parece ser um humano, se morrer só com isso vai ser humilhante comandante. — O garoto riu e fincou o máximo que conseguia a espada no chão, o que fez Kishin urrar de dor. — Ah, sua katana, quase me esqueci, sabe não entre em um combate sem avaliar se pode vencer seu inimigo… Enfim, não espere me ver de novo. Iremos embora hoje.

 

Enquanto o oni se contorcia pela dor da katana cravada em seu peito, ele reuniu forças para fazer apenas mais uma pergunta ao garoto que o derrotou de forma um tanto quanto humilhante. — SEU DESGRAÇO, COMO OUSA ME FERIR?…QUEM PENSA SER PARA FERIR UM COMANDANTE?!

 

O garoto então soltando a katana se virou para partir do local e um tanto orgulhoso por se sair bem em um combate contra alguém de um lugar onde as eras estavam tão longes da própria, o garoto falou de maneira presunçosa enquanto se afastava — Quem penso ser? sou um mero visitante de outra terra procurando um lugar para viver, mas se deseja saber meu nome lembre se dele se quiser recuperar a honra que perdeu ao ser ferido por sua própria lâmina — O garoto então sorriu enquanto caminha por onde havia vindo mais cedo e disse  — Ah é mesmo, eu não o disse meu nome… pode me chamar de Toyosaki Ryo, lembre-se do nome da pessoa que o humilhou hoje.

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Um relacionamento que acabou de maneira conturbada e um acidente que causa a morte de ambos, foi assim assim que Ryo e Leonardo se viram em um mundo feudal durante um xogunato, onde aparentemente...

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        Capítulo 45 Um Conto de Dois Irmãos (4): Sobre suas asas.
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        Capítulo 44 Um Conto de Dois Irmãos (3): Nasce o Lírio.
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        Capítulo 42 Um Conto de Dois Irmãos (1)
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