Prólogo
Fazia apenas um mês que Blue Halloway, o gênio hacker conhecido pelo apelido de “Lord”, havia aparecido em Langley. E foi exatamente um mês atrás que a CIA descobriu seu verdadeiro nome — até então, ele era apenas “Lord”.
Se ele não tivesse aparecido do nada e se entregado voluntariamente, talvez nunca tivessem descoberto quem ele realmente era.
“Não achei que vocês fossem demorar tanto assim. Pretendem me manter trancado aqui para sempre, me tratando como um cachorro? Na verdade, se eu fosse comparado a algum animal, seria um felino — bastante sensível ao ambiente.”
O analista-chefe James Thompson ignorou as palavras de Blue e continuou olhando fixamente para o arquivo dele no tablet.
Quase todos os detalhes ali contidos tinham sido revelados por Blue próprio quando se apresentou à CIA. Por isso, ainda era impossível saber se tudo aquilo era verdade. Alguns agentes foram designados para investigar e coletar informações adicionais — mas, até então, sem grandes resultados.
“E isso aqui não é uma violação dos direitos humanos?”
“Criminosos não têm esse tipo de direito.”
Blue respondeu com um sorriso irônico enquanto James o encarava com desdém, fixando seus olhos azuis-claros. James tentava intimidá-lo, mas só conseguiu o efeito contrário: Blue abriu um sorriso largo e sarcástico, como se estivesse se divertindo.
“Finalmente resolveu abrir a boca, hein? Eu queria ouvir sua voz.”
A atitude de Blue diante das provocações de James era algo que mexia com muitas pessoas. Mesmo usando roupas de presidiário e algemas, seu loiro brilhante e seu rosto perfeito eram hipnotizantes.
Por conta disso, Blue conseguia facilmente cativar qualquer pessoa, independentemente de orientação sexual. Até mesmo James, que havia passado por treinamento especializado, sentia certa perturbação ao olhar para ele.
Se não soubesse que ele era “Lord”, talvez já tivesse sucumbido completamente.
“Visto assim… até parece meio fofo.”
Blue piscou para James, soltando uma risada baixa. Afinal, ver as pontas das orelhas de James corarem levemente era hilário.
Mas James respirou fundo e voltou sua atenção para o tablet, virando algumas páginas do documento. Sem levantar os olhos, disse:
“Halloway. Em breve será decidida a sua situação.”
Diante dessas palavras, o sorriso de Blue sumiu, e ele suspirou profundamente.
“Viu. Eu vim pessoalmente até Langley me entregar, então por que eu mentiria? Já falei que isso tudo é só perda de tempo desnecessária.”
James ignorou a resposta e releu os dados de Blue. Ainda era difícil acreditar que aquele homem, sentado bem na sua frente, fosse realmente o famoso “Lord”.
Tudo o que Blue havia dito antes de chegar ali se mostrara verdadeiro. Havia mais informações a serem verificadas, mas muito provavelmente também seriam confirmadas. Mesmo assim, James não conseguia se livrar de uma sensação estranha.
Havia muitas coisas que simplesmente não faziam sentido dentro da lógica normal. Blue ganhava fortunas apagando vestígios de organizações criminosas, vendendo segredos e obtendo informações sigilosas.
Segundo ele mesmo dizia, praticamente nenhuma organização criminosa operava sem o envolvimento dele. E ele trabalhava até em escala internacional.
Muitos crimes estavam ligados a ele, e muitos dependiam de suas ações. Era como se ele fosse um deus manipulando todas as informações do mundo.
Além disso, como seu verdadeiro nome e rosto permaneciam desconhecidos, ele podia agir livremente, até mesmo longe de instituições como a CIA.
Uma única vez, há muito tempo, a CIA chegou a tentar contato com ele. Mas o resultado foi o corpo do agente responsável pela aproximação e a identidade de cinco outros agentes comprometidas — tudo porque a CIA não cumpriu as exigências de Blue.
E claro, os cinco agentes cujas identidades foram descobertas morreram antes de retornar ao país de origem.
Tudo isso aconteceu porque eles viram o rosto de Blue. Assim, a relação entre Blue e a CIA nunca foi boa — era, no mínimo, tensa.
Então, por que alguém como ele se entregaria espontaneamente? E justamente à CIA? Isso não fazia sentido nenhum.
Mesmo assim, Blue falava com tranquilidade sobre o motivo de sua entrega:
“Já te falei várias vezes: cansei de viver como criminoso, como você chamou.”
Na primeira vez em que Blue explicou por que veio a Langley se entregar, ele deu exatamente essa resposta absurda.
Chegou até a dizer, sem hesitação, que havia viajado e tirado um tempo para descansar, cansado de ter que lidar com gente burra todo dia.
“Toda noite, olhando para o mar azul e o pôr do sol em Kota Kinabalu, eu pensava: ‘cansei dessa vida’. Claro, eu nunca matei ninguém diretamente, mas sei que ajudei de alguma forma. Então decidi fazer algo sério. Além disso, queria experimentar uma nova fase da minha vida.”
James ficou irritado com a decisão de Blue. Ele detestava a forma relaxada com que Blue falava, como se pudesse sair da prisão quando quisesse.
Mas cada palavra de Blue parecia sincera. De fato, ele estava cansado de limpar a sujeira deixada pelos criminosos e desejava uma nova vida.
“Foi uma escolha idiota. Talvez você nunca mais possa ver outro pôr do sol em Kota Kinabalu.”
“É mesmo? Mas a vida é imprevisível.”
“… .”
“De qualquer forma, eu queria tentar viver de forma decente, então me entreguei. Você está sendo meio cruel comigo, não acha?”
Blue fez cara de reprovação, erguendo uma mão algemada para apoiar o queixo, encarando James fixamente.
James sentia o olhar intenso de Blue, mas fingiu ignorar e não disse mais nada. Se continuasse conversando com ele, tinha medo de acabar envolvido em algo incontrolável. Só queria que aquele criminoso fosse removido dali quanto antes.
“Thompson.”
Nesse momento, a porta se abriu com força, e ambos viraram a cabeça na direção do som. Era a diretora da CIA, Renée Lahiri. James levantou-se rapidamente ao vê-la entrar.
“Diretora!”
Blue olhou para ela com curiosidade. Enquanto a diretora já havia acompanhado os interrogatórios ou lido os relatórios, para Blue era a primeira vez que a via, então ele a recebeu com entusiasmo.
“Finalmente apareceu alguém importante! A primeira diretora indiana-americana da CIA! Que honra! Estou tão feliz que até tenho vontade de apertar sua mão.”
Ele ergueu as mãos algemadas, fazendo barulho com elas. James franziu o cenho, mas a diretora Lahiri respondeu com calma, provando que não chegou àquele cargo por acaso.
“Halloway. Já ouvi falar muito sobre você. Dizem que você é extremamente habilidoso.”
“Você está sendo gentil demais.”
Blue inclinou levemente a cabeça em cumprimento e sorriu novamente para a diretora.
Mas Lahiri nem sequer olhou para ele — foi direto até James.
“Estamos pensando em usá-lo.”
“Desculpe, não entendi bem.”
“A decisão sobre ele já foi tomada.”
Isso não deveria estar decidido ainda. James esperava que levasse mais tempo, e ficou surpreso com a rapidez da diretora.
“Pensamos em enviá-lo a uma instalação de nível 1, mas… achamos que seria um desperdício usar alguém com o talento dele dessa forma.”
Os olhos da diretora Lahiri voltaram-se para Blue. Ele continuava sorrindo, encarando-a com interesse.
Blue imaginava que fosse mandado para uma instalação de segurança máxima, mas agora parecia animado com a perspectiva de uma vida diferente, fitando-a com expectativa.
“Decidimos integrar Halloway à CIA.”
Ao ouvir isso, James quase pulou de susto. Blue também ficou visivelmente surpreso. Num órgão tão conservador quanto uma agência de inteligência, ele nunca imaginou que lhe dariam uma oportunidade desses.
Pensava que, no máximo, o matariam discretamente sem passar por julgamento ou o submeteriam a torturas brutais para extrair informações.
Claro, como bom profissional que era, ele jamais diria nada sobre seus clientes. Nem mesmo sob ameaça de morte.
“Senhora diretora! A senhora sabe o quão perigoso ele é? É alguém capaz de dominar redes de comunicação inteiras com um simples toque. Como podemos permitir que informações sensíveis e segredos nacionais fiquem nas mãos de um criminoso como ele? Isso não pode ser uma decisão séria.”
Ao ouvir isso, Blue bateu levemente na mesa com os dedos e murmurou:
“Obrigado pelas palavras gentis, Thompson.”
Em seguida, acrescentou sarcasticamente, como se quisesse provocar James:
“Relaxe, eu não vou mexer nos códigos de lançamento nuclear.”
James lançou um olhar furioso a Blue e voltou-se para a diretora.
“Senhora diretora, eu não concordo com essa decisão. Ela é perigosa. Com certeza, a senhora vai se arrepender.”
“Essa decisão já foi aprovada lá de cima, Thompson.”
“Mas…”
“Você se preocupa demais. Acha mesmo que vamos liberar um criminoso desses sem nenhuma medida de controle?”
A diretora Lahiri deu uns tapinhas no ombro de James. Blue aproveitou para interromper:
“Será que podemos parar com essa história de ‘criminoso’? Meu nome é Blue Halloway, sabia? Parece que vamos virar colegas por aqui, nos esbarrando e nos enfrentando ocasionalmente. Não seria melhor me chamar pelo nome em vez de por um título negativo?”
Nem a diretora Lahiri, nem James deram a mínima atenção às palavras de Blue. Ele olhou para os dois, visivelmente decepcionado.
“Thompson, por enquanto, você será responsável por Halloway. Espero que consiga utilizá-lo da melhor maneira possível.”
James não gostou da ideia, mas sabia que não poderia mudar uma decisão já tomada.
Agora, caberia a ele controlar esse indivíduo problemático à sua frente. Só restava torcer para que conseguisse.
Nesse momento, a diretora Lahiri ergueu o braço e fez um sinal com o dedo. Pouco depois, dois agentes altamente qualificados entraram na sala. Um deles agarrou firmemente Blue.
Surpreso com a reação repentina, Blue olhou confuso para a diretora Lahiri, que o encarou friamente e disse:
“Comporte-se, ou pode acabar perdendo a cabeça. Halloway.”
As palavras da diretora Lahiri fizeram Blue soltar um comentário entre o sarcasmo e o descontentamento.
“… Parece que eu devia ter contratado um advogado. Eu pensei que, ao me entregar à CIA, seguiriam algum tipo de procedimento legal decente. Mas até aqui é igualzinho ao resto do mundo sujo.”
Ao ouvir isso, a diretora Lahiri fez uma expressão de desprezo. Um dos agentes abriu uma bolsa que trazia consigo e tirou de dentro dela algo que parecia uma seringa — mas não era qualquer seringa hospitalar comum. Era claramente um objeto especializado.
Ao ver aquele objeto desconhecido, Blue ficou pálido e tentou se mexer instintivamente, mas suas pernas e mãos estavam algemadas, impedindo qualquer movimento significativo. Apesar de fisicamente forte, naquela situação, escapar seria impossível.
“O que vocês estão pretendendo fazer?”
“Se quiser continuar vivo, melhor se adaptar.”
Mal Lahiri terminou de falar, outro agente pegou o objeto e o pressionou contra o pescoço de Blue. Com um som rápido e seco — “pshhh” —, algo penetrou em sua pele.
Uma sensação estranha invadiu seu corpo, e Blue empalideceu. Não era tanto a dor que o assustava, mas a sensação de líquido escorrendo pela garganta que fez seu estômago embrulhar.
Mesmo assim, ele segurou a náusea e olhou para cima, encarando Lahiri com os olhos semicerrados.
“Você tem medo mesmo, apesar do tamanho.”
“Todo mundo tem medo. Independentemente do porte físico, ninguém gosta de sentir algo sendo enfiado no pescoço de repente, né?”
Diante as palavras de Blue, Lahiri soltou um riso discreto e fez um sinal para que retirassem as algemas das mãos e pés dele.
Blue esfregou os pulsos doloridos e olhou fixamente para a diretora. Ela, por sua vez, encarou alternadamente Blue e James antes de dizer:
“Foi implantado um chip nanotecnológico no pescoço de Halloway. Só pode ser removido com cirurgia.”
“Vocês colocaram o quê no meu pescoço?”
“Isso mesmo. E ainda tem GPS embutido, então qualquer tentativa de fuga será rapidamente descoberta. É melhor nem pensar nisso, Halloway.”
A revelação fez Blue arregalar os olhos de choque, mas Lahiri nem piscou.
“Se tentar arrancar o chip à força, seu cérebro vai explodir. Mesmo sendo ‘Lord’, esse sistema você não consegue hackear. Ele está sincronizado com um sistema biométrico.”
“Não existe nada que eu não consiga desativar.”
Blue respondeu com orgulho ferido. Nunca havia encontrado um sistema que não pudesse quebrar — até agora.
“Esse foi desenvolvido fora do sistema da CIA. Duvido que você consiga encontrá-lo. E mesmo que seja único como hacker, aqui dentro existem pessoas tão inteligentes quanto você.”
Lahiri respondeu calmamente, fazendo Blue franzir o rosto todo.
“Do que você está falando?”
“Sem encontrar o agente vinculado ao sistema, você nunca vai conseguir remover o chip. Então, sugiro que desista dessas ideias inúteis.”
“Você está me ameaçando?”
“É mais uma observação. Você não parece alguém que quer morrer. Se quisesse, teria cometido suicídio, e não se entregado.”
Blue ficou sem resposta por um momento.
“Aliás, nem eu sei com quem o chip está sincronizado. O documento está classificado com segurança máxima. Provavelmente, só um agente aqui sabe a informação. Pode ser eu, pode ser outra pessoa.”
Dizer que “talvez fosse alguém ali” soava vago, mas considerando que aquilo era a CIA, e Langley abrigava centenas de agentes, poderia estar em qualquer lugar — ou até já morto e enterrado em algum canto.
Blue sentiu um frio percorrer sua espinha. Segurou com força a raiva que começava a subir.
“Thompson.”
“Sim, senhora diretora.”
“Tente usar bem esse novo recurso humano.”
“Mas ainda tenho dúvidas sobre envolver um criminoso nas operações.”
James não conseguiu evitar o comentário. A diretora o chamou para fora da sala de interrogatório e, lá fora, suspirou profundamente antes de continuar:
“Eu entendo suas preocupações, Thompson. Mas é praticamente impossível encontrar alguém com habilidade equivalente à dele dentro da CIA. Se não o usarmos, a NSA virá buscá-lo. Lembre-se: muitos na comunidade de inteligência estão de olho nele.”
James permaneceu calado. Ainda achava tudo muito duvidoso, mas sabia que não podia questionar mais. A voz da diretora era firme, e ela não parecia disposta a recuar.
Por isso, ele apenas assentiu, resignado.
“Pense numa forma de usá-lo. Essa é uma oportunidade única. Não sabemos exatamente por que ele veio até nós, mas já que decidiu entrar por vontade própria, vamos aproveitar.”
“… Entendido, senhora diretora.”
“E Thompson — mantenha todas as informações sobre Halloway sob sigilo. Se outras pessoas souberem que temos ‘Lord’ sob nosso controle, elas vão mudar seus padrões de comportamento.”
Ela bateu levemente no ombro de James antes de continuar:
“Vou delegar a maioria das autoridades relacionadas a Halloway para você. Ah, e John volta de Cuba em breve, certo?”
“Sim. Disseram que ele voltará assim que resolver alguns assuntos pendentes.”
Lahiri assentiu, com um leve sorriso nos cantos dos lábios.
“Talvez seja bom dar a ele um novo parceiro. Eu sei que ele prefere trabalhar sozinho, e não duvido da competência dele, mas não dá para deixar que continue assim para sempre. Talvez ele precise de alguém mais… sedentário para equilibrar as coisas.”
Ela não mencionou nomes, mas James captou imediatamente a intenção.
Mesmo assim, ele não podia simplesmente concordar. Tinha dúvidas demais, e não tinha certeza se ele ou outros agentes conseguiriam controlar Blue adequadamente.
Enquanto isso, Lahiri olhou para o relógio e disse que tinha uma reunião marcada, se despedindo logo depois.
James a viu sair e soltou um longo suspiro. Nada daquilo o agradava.
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Blue Holloway, um hacker genial apelidado de ‘Lord’. Um dia, ele de repente chega à sede da CIA e se entrega, dizendo: “Quero limpar o...