Capítulo 142: Tem Alguém Debaixo da Cama (7)

Os fantasmas saíram de debaixo da cama, e Tang Cuo caiu novamente no ciclo.

Ele dividiu sua mente em três tarefas: uma era vasculhar o restante dos cômodos, uma era resistir ao ataque dos fantasmas, e a restante era continuar pensando. Se seu cérebro fosse uma pião girando sem parar, ele era o humano que o mantinha em movimento. Todo esse raciocínio não afetava em nada os movimentos de suas mãos e pés.

A primeira coisa a se ter certeza era que o prédio de apartamentos, naquele momento, não era uma “realidade” verdadeira. Enquanto ele ainda estivesse repetindo o processo de acordar, estava preso nesse chamado “mundo dos sonhos”.

A situação naquele momento se assemelhava a um sonho dentro de outro sonho. Ele estava totalmente ciente de que estava sonhando. Acordava continuamente do sonho, mas não conseguia escapar dele. Seu HP diminuído era a prova de que isso não era apenas um loop temporal, pois seu HP não era resetado junto com o tempo, assim como o tempo de recarga de suas habilidades. O tempo estava seguindo em frente, mas ele continuava preso nesse sonho.

Se a Academia de Fantasmas Meng fosse um sonho, ele poderia sair dela iluminando o radical 犭. O prédio também tinha o radical 犭, e em ambos os cenários, esse radical não poderia ser alcançado facilmente.

O desafio do primeiro caso era a distância absoluta, enquanto no segundo, ele simplesmente não conseguia sair do prédio. Esse cenário semelhante significava que ele poderia sair dos dois sonhos iluminando o radical 犭? Apenas, dessa vez, a dificuldade havia aumentado?

Essa suposição parecia razoável, mas Tang Cuo ainda sentia que algo estava errado. As flores de pêssego certamente eram um fator suspeito, mas havia outra dúvida que pairava na mente de Tang Cuo. Ele não conseguia exatamente identificar o que era, mas também não podia ignorá-la.

Vendo que o prédio inteiro estava prestes a virar de cabeça para baixo por sua causa, mas o filactério ainda não tinha sido encontrado, Tang Cuo não hesitou mais e puxou outro equipamento de Wen Xiaoming — o [Balestra Miniatura].

O virote cortou o vento e, tão rápido quanto um raio, foi direto para a placa de “Paraíso do Cão Ju”.

Mas a placa, que nem estava tão distante, permaneceu imóvel.

As sobrancelhas de Tang Cuo se franziram. Ele estava olhando fixamente para a balestra e para o virote que saía disparado. A placa estava tão perto que era impossível errar. Imediatamente, disparou mais algumas flechas, apenas para ouvir o som do vento sendo rasgado, enquanto a placa permanecia absolutamente intacta.

Isso estava estranho. Se ele nem conseguia chegar perto da placa, não ficaria preso ali para sempre? Poderia esse calabouço ser tão difícil?

Afinal, era apenas um calabouço da Zona E.

“A placa…” Tang Cuo murmurou a palavra baixinho, e justamente nesse momento, um fantasma correu na direção dele e agarrou seu tornozelo. Assim que ele fez uma pausa momentânea, outros fantasmas se lançaram sobre ele.

À medida que o frio selava suas articulações, ele foi derrubado no chão de surpresa. Suas costelas pareciam ter se quebrado, e sua garganta estava cheia de um gosto doce e de peixe. Felizmente, ele estendeu a mão e agarrou a borda da mesa a tempo de se impedir de ser arrastado. Num instante, virou-se e disparou uma “Bola de Fogo”, forçando o fantasma que segurava seu tornozelo a soltar.

Através da dor trazida pelas suas costelas quebradas, a mente de Tang Cuo se clareou imediatamente, e ele finalmente entendeu onde estava o problema — era a placa, e a causa raiz da placa era uma distração!

Esse foi um erro no seu raciocínio.

Depois que Tang Cuo encontrou o interruptor na placa do “Paraíso dos Fantasmas Meng” e o acionou, ele acordou em sua cama no apartamento. Assim, ele inconscientemente pensou que a placa era a chave para escapar do sonho, e que tudo o que aconteceu na Academia de Fantasmas Meng era um sonho.

Mas e se fosse o contrário? E se a bizarra Academia de Fantasmas Meng fosse a realidade?

Vamos voltar ao começo. Ele voltou para o dormitório com o capitão da equipe de patrulha e obteve as informações sobre as vítimas, cujos oito caracteres eram puro yin. Ele então deduziu que poderia ser o próximo alvo do assassino, então deitou na cama e fingiu cair no sono, esperando pelo assassino.

Mais tarde, em um estado de espírito enevoado, ele adormeceu, e no momento em que acordou, encontrou um novo fantasma morto, mas ele mesmo estava ileso. Então sentiu que havia algo errado com a placa e foi verificar.

Nesse processo, ele experimentou tanto adormecer quanto acordar.

E se ele não tivesse acordado de verdade? O assassino veio até a porta enquanto ele estava dormindo. Tudo o que ele experimentava naquele momento era uma “gaiola de sonhos” criada por aquele alguém.

Independentemente de essa dedução estar correta ou não, ele ainda precisava confirmá-la.

Todos esses pensamentos ocorreram num piscar de olhos. Enquanto Tang Cuo cobria seus ferimentos, seu rosto estava pálido como uma folha, mas a luz em seus olhos estava mais brilhante do que nunca. Ele aproveitou a oportunidade para pular do prédio e voltar para o seu quarto, acordando novamente.

Mais uma vez, seu HP caiu abaixo de 10.

Tang Cuo habilidosamente puxou uma poção e deu um gole enquanto olhava ao redor. Se o assassino realmente estivesse manipulando esse sonho e tentando matá-lo ali, onde ele estaria no momento?

Estaria ele nesse sonho também?

Não, Tang Cuo certamente não deixou nenhum canto daquele prédio de apartamentos sem ser vasculhado. Não havia outra presença ali. Sem contar que o assassino poderia simplesmente esperar que Tang Cuo ficasse preso e morresse ali. Não havia necessidade de correr nenhum risco.

Essa era a suposição mais razoável até agora para explicar como o assassino poderia escapar tão facilmente. Era porque ele não precisava esperar a vítima morrer depois de agir.

Mas como Tang Cuo sairia do sonho?

O assassino definitivamente não queria que ele escapasse, então, mesmo que houvesse uma rota de fuga, ela deveria estar bem escondida, ou talvez não houvesse saída nenhuma.

Os fantasmas estavam saindo de debaixo da cama novamente, mas Tang Cuo não tinha um segundo CD de cápsulas para bloquear o caminho. Mais uma vez, ele iniciou sua jornada de fuga do apartamento. Nesse ponto, seu corpo estava extremamente exausto e seus pés sentiam-se como se estivessem preenchidos de chumbo, enquanto seus dedos não tinham nem um pingo de calor.

Felizmente, ele estava ficando cada vez melhor na sua habilidade de “Bola de Fogo”. A habilidade básica de “Bola de Fogo” concedida pelo sistema e a sua habilidade mágica de “Bola de Fogo” foram lançadas ao mesmo tempo.

“Ah ah ah ah!”

Os gritos agudos eram como uma chuva de agulhas que caía do céu para todos os cantos do quarto. Enquanto o cérebro de Tang Cuo sentia uma sensação de formigamento, seus pés escorregaram. A espada em sua mão cortou para frente com irritação, abrindo a barriga de um fantasma feminino.

No momento em que caiu, ajustou-se com agilidade para deslizar diretamente abaixo do fantasma, e rapidamente se levantou com uma mão. Mas no instante em que olhou para cima, um pedaço de carne ensanguentada estava caindo da barriga do fantasma feminino.

Assim que o pedaço de carne tocou o chão, quatro membros surgiram dele. Virou a cabeça e abriu os olhos—

Dois pares de olhos se encararam.

Era um demônio bebê.

Enquanto Tang Cuo encarava aquela cabeça grande e inchada que parecia ter sido embalsamada e os membros deformados, um alerta soou em seu coração. Uma gota de suor escorreu de sua têmpora, mas foi rapidamente cortada por uma lâmina afiada. Perante o risco de ser cercado pelos fantasmas, a figura de Tang Cuo se moveu com a velocidade do vento. Ele concentrou toda sua força para ativar sua habilidade “Sprint” e perfurou o cérebro do demônio bebê com sua espada.

O som de um choro angustiante de bebê ecoou instantaneamente, e as mãos de Tang Cuo tremeram incontrolavelmente, mas seus olhos permaneceram firmes. Com um movimento rápido de pulso, a [Espada do Julgamento] girou ferozmente dentro da cabeça do demônio bebê e, ao mesmo tempo, a Luz Sagrada do Julgamento surgiu, iluminando todo o corredor em um instante.

“Boom —”

No momento em que ambos os lados foram lançados para longe, Tang Cuo invocou a habilidade ‘Caminhada no Ar’ e virou 90 graus para deslizar pela mureta da escada. Em um piscar de olhos, ele aterrissou no terceiro andar a partir do quarto.

Olhando para o corredor escuro, Tang Cuo continuou andando. Uma a uma, as luzes ativadas por voz se acendiam ao som de seus passos, mas ainda não conseguiam acompanhar seu movimento. Como um perseguidor da luz, elas só podiam segui-lo por uma eternidade.

Na mudança de luz e sombra, Tang Cuo pensava: qual é a realidade deste sonho?

Só poderia ser uma falsidade.

Os sonhos não passam de ilusões. Dizem que “o que você pensa durante o dia vai para o seu sonho à noite”, então, até certo ponto, os sonhos também são baseados na realidade. Mas o que é falso sempre será falso. De quem é o sonho aqui?

Era do próprio Tang Cuo.

Se Jin Cheng estivesse aqui, ele certamente diria: “Eu sou o dono do meu próprio sonho.”

Ao pensar nisso, Tang Cuo não pôde deixar de curvar os cantos dos lábios, sentindo que devia estar seriamente envenenado. Caso contrário, como poderia, enquanto dançava perigosamente na borda da morte, ainda estar pensando em Jin Cheng?

Ao lembrar de Jin Cheng, ele se lembrou da pena do Sr. Corvo, um item em seu Inventário que ainda não havia sido usado, e decidiu fazer uma aposta. De qualquer forma, ele poderia ser ressuscitado caso morresse.

Realmente, ele não sentia medo.

Como não dava mais para adiar, Tang Cuo tirou as duas últimas gotas de [Lágrimas do Lago Secreto] e derramou uma gota em sua boca. Aquilo havia sido usado contra o inimigo, mas era a primeira vez que ele usava em si mesmo.

Antes que pudesse sentir o gosto, uma onda de tontura terrível fez com que ele se agachasse, apoiando-se em um joelho no chão. Ele teve que se apoiar na espada para evitar cair.

As [Lágrimas do Lago Secreto] tinham um forte efeito alucinógeno. Ele ergueu a cabeça com todas as forças, e, até onde seus olhos podiam ver, o corredor começou a se curvar, e os fantasmas que o perseguiam começaram a borrar como gotas de tinta caindo em água.

Era como se ele fosse alguém com miopia de 800 graus que tivesse ficado bêbado com vinho falso. Estava indo direto para o cérebro.

Neste ponto, o Índice de Instabilidade da Alma de Tang Cuo havia disparado para 38, e seu oceano espiritual estava tempestuoso e chuvoso, mas tingido de um tom rosado de embriaguez. Evoluíra de um filme de desastre para um drama artístico.

Era Tang Cuo quem decidia as cenas. Se ele quisesse luz, haveria luz. Se ele quisesse estrelas, não haveria lua. Se ele quisesse que a Luz Sagrada do Julgamento brilhasse sobre a Terra, não haveria vestígios de escuridão.

A [Espada do Julgamento], a espada de Sua Excelência, o Duque Theodore do Reino das Cem Flores. Diziam que quando a Luz Sagrada do Julgamento brilhasse sobre a terra, todo o mal seria exposto.

Quando Tang Cuo obteve a espada, ela ainda estava em um estado danificado e não havia sido reparada. Mas sob os efeitos duplos das alucinações e dos sonhos, se Tang Cuo dissesse que ela havia sido reparada, significava que ela havia sido reparada.

Ele se levantou novamente, ergueu a agora reparada [Espada do Julgamento] e desceu o golpe. A luz irrompeu da ponta da espada, e os corredores tortos e os fantasmas distorcidos se dissiparam instantaneamente.

Até mesmo Tang Cuo foi completamente engolido.

“!” Tang Cuo de repente se levantou da cama, e assim que abriu os olhos, viu os galhos da árvore de pêssego pela janela e a cortina sendo agitada pelo vento noturno. Ao olhar pela janela entreaberta, a placa de ‘Academia dos Fantasmas Meng’ era claramente visível.

Realmente, ele havia voltado.

Sem se importar com o suor frio que cobria seu corpo, Tang Cuo imediatamente se inclinou para olhar debaixo da cama. Estava vazio.

Não. No canto onde a luz do sol não chegava, havia uma pétala de flor de pêssego.

O assassino esteve aqui!

A janela!

Tang Cuo não perdeu tempo em calçar os sapatos, pulou pela janela. No momento em que aterrissou, seus olhos se fixaram em uma figura preta que passou rapidamente pela frente. Determinado, ele a seguiu, mas ela corria extremamente rápido. Depois de um tempo, a figura o levou ao pequeno jardim.

As flores de pêssego brilhando ainda estavam florescendo silenciosamente, como uma cena de um sonho, mas a pessoa havia desaparecido.

Já era tarde da tarde, e o entardecer se aproximava. A luz do sol já não era tão forte, mas ainda parecia fogo quando tocava o Tang Cuo versão fantasma. No entanto, ele permaneceu completamente calmo e tirou as [Botas de Chuva] que havia obtido no calabouço [Reino dos Mortais], então colocou os óculos de sol produzidos por Wen Xiaoming. Com firmeza, ele avançou como o homem mais estiloso da cidade.

Após dar uma volta no pequeno jardim, ainda não encontrou ninguém. Seus olhos caíram novamente na árvore de pêssego e um pensamento passou por sua mente.

No entanto, ele já havia tentado antes. A árvore de pêssego permanecia ilesa, não importa o quanto tentasse cortá-la.

Ele decidiu dar uma olhada na placa novamente.

Claro, primeiro teria que encontrar um lugar para se esconder do sol antes de ir lá. No Painel de Características, seu HP já havia caído abaixo de 10 novamente, e não restavam muitas poções.

Se isso continuasse, Jin Cheng realmente poderia se tornar um viúvo.