Capítulo 25

Sexta-feira, 24 de dezembro, 09:13 horas da manhã.

– Colocou tudo o que precisa na bolsa ? – Yohan deixa a xícara sobre a mesa e o encara fixamente.

– Sim, está tudo pronto. – o ômega suspira e volta a comer seu café da manhã. Desde que falou com sua família o alfa estava um pouco mais ansioso e frio, sempre estava no canto com um olhar vago, como se estivesse perdido em seus pensamentos.

– Certo. – ele bebe o último gole de café e espera até que o ômega termine de comer. Em seguida leva a louça suja para a pia enquanto Enarê põe comida para o gato.

– Come tudinho, okay ? – ele acaricia o felino e logo depois segue para a sala. O ômega se aconchega no sofá e liga a tv, mas não consegue prestar atenção no que está passando. Sua mente estava cheia de pensamentos e paranoias.

– O que está assistindo ? – Yohan surge por trás do sofá e sussurra próximo ao seu ouvido, o ômega se vira em sua direção e o encara.

– Nada de mais, só um filme idiota. Quer assistir comigo ? – Enarê da batidinhas no sofá, convidando o alfa.

– Quero. – ele beija sua bochecha e se acomoda no sofá. O alfa se deita e puxa o ômega para perto, para que ele se deite ao seu lado, Enarê suspira e por um momento se sente totalmente relaxado, o calor do seu corpo era sempre reconfortante e até mesmo o pistache veio para se aconchegar em cima dele. Era como um porto seguro.

– Yohan, podemos mesmo ir ? – o ômega rompe o silêncio e o alfa leva sua mão esquerda até seus cabelos, ele o acaricia e dá um longo suspiro.

– Não posso mentir dizendo que eles são legais ou que vai ser divertido, mas se é importante para você então nós podemos ficar por algumas horas.

– Sei que posso estar sendo teimoso, mas obrigado por fazer isso por mim! – o ômega desvia seu olhar até ele e o beija.

– Tudo bem, de qualquer forma eu quero te apresentar como o meu companheiro. Eu gosto de me gabar por ser um homem sortudo! – o alfa dá risada.

– Yohan! – Enarê esbraveja, mas fica corado.

– Okay, me desculpe! – ele beija sua testa e volta sua atenção para a tv.
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18:48 horas da noite.

– Já está tudo dentro do carro ?

– Sim. – Enarê entra no veículo e fecha a porta.

– Vai ser uma viagem de duas horas até lá, durma um pouco se quiser. – Yohan acaricia seu rosto e beija o canto de sua boca. Em seguida gira a chave e dá a partida, o carro começa a se mover e eles seguem para o seu destino.

– Não estou cansado, não se preocupe. – Enarê sorri, tentando disfarçar seu nervosismo.

– Entendo. – o alfa agarra o volante com mais força e a ansiedade começa a percorrer seu corpo, o deixando inquieto. O silêncio toma conta do veículo por quase todo o trajeto, fazendo com que tudo pareça ainda mais incômodo.

– Se quiser, podemos parar um pouco. – Yohan desvia seu olhar até o ômega por um instante e nota que ele está tão nervoso quanto antes.

– Não precisa, estou bem!

– Tem certeza ? Parece um pouco palido.

– Só estou nervoso, você nunca fala sobre sua família e agora eu estou indo até lá. Não faço a mínima ideia de como eles são… – o ômega desvia seu olhar para as mãos, tentando se acalmar.

– Minha familia não é tão importante assim, por isso não falo sobre eles. Não precisa de preocupar, depois de hoje nós nunca mais vamos encontra-los.

– Por que está dizendo isso ? – Enarê o encara assustado, nunca o viu ser tão indiferente antes.

– Não os vejo como minha família, na verdade nós nunca fomos realmente unidos.

– Sinto muito, eu não sabia…

– Não importa, você é minha família agora e estou feliz por isso! – Yohan lhe dá um largo sorriso e acaricia seus cabelos.
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Ville des Tulipes, 20:30 horas da noite.

– Chegamos ? – Enarê o questiona, tentando ver algo em meio a toda aquela neve.

– Sim, pegue seu casaco. – Yohan abre a porta e caminha até o lado do passageiro, onde ajuda o ômega a sair e se assegura de que ele está bem agasalhdo.

– Eu fiz uma reserva em um hotel próximo daqui, se você se sentir incomodado e quiser ir embora me avise no mesmo instante. Entendeu ? – o alfa o abraça e busca por alguns poucos segundos de paz.

– Sim, entendi. – Yohan suspira e o solta, em seguida agarra uma de suas mãos e caminha com ele em direção a porta. Enquanto caminham o alfa começa a suar e suas mãos tremem, Enarê percebe rapidamente que tem algo errado, mas antes de que pudesse fazer alguma coisa a porta se abre e Yohan é puxado para um abraço.

– Graças a deus você veio! – o homem com cabelos negros e olhos tão azuis quanto os do alfa o abraça com força e parece estar muito emocionado. A mulher parada ao seu lado com seus longos cabelos loiros e sua pele palida os observa indiferente.

– Fico tão feliz que tenha aceitado! – enquanto o homem comemora e parece feliz, o alfa não se move ou até mesmo solta a mão de Enarê.

– Mãe, pai, esse é o Enarê. – Yohan o puxa para mais perto e encara sua mãe sem hesitar.

– Esses são Louise e Lohan, meus pais.

– É um prazer conhecê-los. – Enarê estende sua mão em direção ao homem que apesar de estar um pouco hesitante, aperta sua mão e lhe dá um sorriso gentil. Já a mulher o encara da cabeça aos pés, mas não diz nada.

– Vamos entrar, está frio aqui fora. – Yohan contrai sua mandíbula e a encara furioso enquanto Louise caminha em direção a sala. Ele odiava a sua atitude fria e arrogante.

Ao entrarem eles se sentam no sofá e o ômega começa a entender o motivo pelo qual o alfa havia se afastado de sua família, aquelas pessoas eram completamente diferentes dele.

– Yohan querido, aceita um pouco de chá ? – Lohan se aproxima segurando uma badeija com xícaras de chá.

– Não, obrigado. – ele rapidamente nega e o sorriso no rosto de seu pai some no mesmo instante.

– Quer um pouco ? – o alfa volta seu olhar para Enarê, ele acaricia sua nuca e sorri, tentando parecer calmo e deixa-ló menos nervoso.

– Eu adoraria! – Lohan o serve e logo se senta ao lado de sua esposa em outro sofá. As perguntas começam e os pais que não viam seu filho a muito tempo estão empolgados para saber como vai sua vida, deixando o ômega de lado.

Após alguns minutos de conversa, eles são interrompidos pelo barulho da campainha, Louise se levanta rapidamente e atende a porta. Estava esperando por aquela visita.

– Yohan, o Dylan está aqui! – a mulher fala com empolgação e um enorme sorriso em seu rosto. Yohan suspira e se mantém no mesmo lugar, precisava se controlar.

– O Yohan está aqui ? Faz tanto tempo que não o vejo! – Dylan entra e vai em direção ao alfa, que o encara com um olhar de desprezo.

– Por que está aqui ? – Yohan agarra a mão de Enarê e a segura com força, ele está suando e tremendo de novo. Estava quase em seu limite.

– Eu o convidei, algum problema ? – Louise o repreende e não parece satisfeita com sua atitude.

– Olá, eu sou o Dylan, ex noivo do Yohan. – enquanto mãe e filho trocam algumas farpas, Dylan aproveita para se apresentar. Ele encara o ômega com o seu nariz empinado, como se o visse como uma ameaça.

– Eu sou Enarê, companheiro do Yohan. – ele estende sua mão e sorri, sendo o mais gentil possivel.

– Sei… – Dylan o ignora e se aproxima de Louise, não o via como alguém do seu nível.

– Você está bem ? Podemos ir embora a qualquer momento… – Yohan sussurra próximo ao seu ouvido, preocupado e irritado pela forma como seus pais e Dylan o tratam.

– Sim, não se preocupe. – Enarê não queria ir embora e deixar uma má impressão.
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00:03 horas da noite.

– Aproveitem o jantar! – Louise sorri, parecendo animada, todos se sentam e logo começam a se servir. A mesa estava repleta de carnes, salada e algumas sobremesas, que pareciam particularmente deliciosas.

Enarê observa enquanto os outros comem, já que por ser vegetariano não havia muitas opções para ele.

– Enarê, não precisa comer se não quiser. – Yohan acaricia seu rosto.

– Tudo bem, posso comer salada! – o ômega sorri, mas se sente incomodado com tantas carnes sobre a mesa. O alfa o serve com um pouco de salada, figos e castanhas, em seguida põe o mesmo para ele.

– Yohan, vai comer só isso ? – Lohan o encara.

– Sim. – ele o responde sem hesitar. Louise volta seu olhar para o alfa e está estapado em seu rosto o quão irritada ela estava.

– Seu nome é Enarê, não é ? O que te trouxe à Paris ? – o ômega se surpreende ao ser questionado por ela, ninguém havia demonstrado o menor interesse por ele até aquele momento.

– Estou aqui para estudar, tenho uma bolsa na Université de Verveine. – Louise tenta conter um risinho que se forma em seus lábios, mas fica evidente o quanto ela o acha patético.

– Um artista ? Não esperava por isso! – seu tom sarcastico deixa Enarê irritado, e ele precisa reunir todo o seu auto controle para não lhe dar uma resposta a altura de sua ofensa.

– Enarê é um artista incrivel e promissor, escolhido a dedo entre vários pintores. Não o ofenda desse jeito! – Yohan a encara e o jantar que deveria ser leve e descontraído, ganha uma boa dose de tensão.

– Me desculpe, eu só estava pensando que você teria escolhido alguém melhor do que eu e o seu pai escolhemos. Mas tenho certeza de que no fundo você sabe que o Dylan é uma melhor opção. Esse ômega pelo menos sabe da sua condição ?

– Já chega! Parem de compara-ló ao Dylan! – Yohan esbraveja e seus olhos ganham um leve dom de dourado.

– Louise querida, por favor… – Lohan segura sua mão e a encara, com uma expressão serena como se estivesse pedindo para que ela se acalmasse.

– Certo, me desculpe. – ela suspira e parece se desculpar com sinceridade dessa vez. Todos voltam a comer como se nada tivesse acontecido, mas Yohan não toca em sua comida, estava tão irritado e incomodado que seu apetite havia sumido.