Capítulo 77 – Glicínia

Alguns dias depois, Liu Mufeng e seu grupo adentraram uma área cheia de arbustos. Enquanto caminhava, Liu Mufeng parou diante de uma árvore frutífera repleta de frutos vermelhos. A árvore tinha altura equivalente à de uma pessoa adulta, e estava carregada com frutos do tamanho de ovos de codorna. Sob a luz do sol, os frutos brilhavam em um vermelho vívido, parecendo extremamente atrativos. Transmitiam uma sensação de sabor doce, suculento e refrescante, despertando o desejo de colhê-los e provar. 

— Mu Feng, você quer pegar os frutos? Eu pego para você! — disse Wang Jiang, aproximando-se com ar bajulador. 

Ao ouvir isso, Liu Mufeng balançou a cabeça e o impediu. 

— Só fique aqui vigiando. Se algum monstro aparecer, me avise! — Enquanto falava, Liu Mufeng tirou um par de luvas pretas e as vestiu. Começou então a colher os frutos vermelhos diretamente com as mãos, sem usar o poder espiritual. Pegando uma caixa de jade, colocou os frutos cuidadosamente dentro dela. 

Depois de encher duas caixas, Liu Mufeng utilizou sua energia espiritual para arrancar a árvore inteira do solo. Em seguida, a armazenou em seu anel espacial, planejando transplantá-la mais tarde para o espaço de seu bracelete. 

Ao ver Liu Mufeng arrancando a árvore inteira, Wang Jiang não conseguiu evitar de arquear as sobrancelhas. Não faço ideia de que tipo de fruta é essa, mas meu primo gostou tanto que arrancou até a árvore. 

Terminando, Liu Mufeng retirou as luvas, guardou-as com cuidado no anel espacial e continuou avançando. 

— Primo, que tipo de fruta é essa? Você gosta tanto assim? Se quiser, posso procurar mais para você! — perguntou Wang Jiang, sorrindo. 

Ao ouvir isso, Liu Mufeng balançou a cabeça. 

— Isso é fruto de Nuvem Vermelha. Comer um só pode matar uma pessoa por envenenamento. Quer mesmo me trazer mais? 

Vendo a expressão fria de Liu Mufeng, Wang Jiang se apressou em recuar: — Não, não! Eu não sabia que era venenoso! 

— Primo, se é venenoso, por que você colheu tantos? — perguntou Zhang Hui, confuso. Liu Mufeng sorriu com desdém. 

— Da próxima vez que algum animal invadir minha tenda ou se eu estiver de mau humor, posso colocar o suco desse fruto na sua comida. O que acha, primo?

— Hehe… Primo, não brinca com essas coisas! — disse Zhang Hui, sentindo um arrepio percorrer sua espinha ao encarar os olhos gélidos de Liu Mufeng. 

— Hehe, é verdade, primo. Não faz esse tipo de piada… Fico até arrepiado! — completou Wang Jiang, tentando agradá-lo. 

— É só uma brincadeira. São tão medrosos assim? — disse Liu Mufeng com um leve sorriso, encerrando o assunto. Ainda assim, os outros cinco mostravam expressões extremamente desconfortáveis. 

Tendo convivido com Liu Mufeng por mais de três meses, Wang Feng sabia que ele conhecia incontáveis insetos, flores, ervas e frutas venenosas — e sempre fazia questão de coletá-los. Se ele colocava as luvas, era quase certo que o que estava tocando era altamente venenoso. Por isso, quando Liu Mufeng mencionou a possibilidade de envenená-los, Wang Feng ficou seriamente preocupado. 

Os três irmãos da família Wang estavam assustados, e os irmãos Zhang — que tinham conflitos antigos com Liu Mufeng — estavam ainda mais pálidos. Observando Liu Mufeng à frente, Zhang Yan estremeceu. A partir de hoje, só vou tomar Pílula Bigu. Não quero mais comer nada. Vai que ele me envenena de verdade… 

Liu Mufeng andava devagar, farejando ao redor como se procurasse algo. 

— Primo, o que está procurando? Quer que eu te ajude? — perguntou Wang Jiang, observando o comportamento estranho de Liu Mufeng. Mas, como de costume, foi completamente ignorado. 

Suspirando, Wang Jiang murmurou, desanimado: Mu Feng não era assim antes. Agora nem fala mais direito comigo. 

O grupo de seis continuou avançando. De repente, ouviram um farfalhar nos arbustos. — Irmão, ouviu isso? — Zhang Yan virou-se, nervosa. 

— Sim, parece ser um monstro. Fiquem atentos! — respondeu Zhang Hui, sacando sua faca espiritual. 

— Oh! — Zhang Yan fez menção de pegar sua arma, mas antes que pudesse agir, uma trepadeira roxa, grossa como um punho e coberta de espinhos, saiu dos arbustos e se enrolou em seu tornozelo. Num piscar de olhos, ela foi arrastada para dentro do mato. 

— Aaaah! — Zhang Yan perdeu o equilíbrio e caiu, sendo puxada pelas vinhas roxas. — Maldição! — rosnou Zhang Yan, tentando cortar a vinha com sua lâmina. Clang! Clang! O som do metal atingindo a vinha ecoou, mas ela sequer se partiu. 

— Irmã! — Zhang Hui correu atrás dela, lançando várias técnicas de ataque espiritual. Inútil. Nada surtia efeito.

Vendo a situação, Liu Mufeng correu atrás da videira que arrastava Zhang Yan. 

— Solta! Me solta, seu desgraçado nojento! — gritava Zhang Yan, golpeando a vinha com fúria. Os espinhos dilaceravam seus tornozelos, fazendo o sangue escorrer e se misturar ao solo. 

Não apenas Zhang Yan, mas Zhang Hui e os três irmãos Wang também foram capturados por vinhas roxas semelhantes, sendo arrastados pela mesma direção. Por mais que atacassem, os golpes não causavam dano algum. 

Chegando à raiz da trepadeira, Liu Mufeng foi agarrado pela cintura por uma das vinhas, três vezes mais grossa. Mas, em vez de lutar, ele liberou mais de 2000 vermes espirituais de fogo. 

Assim que foram soltos, os vermes começaram a queimar a vinha em torno de Liu Mufeng. Sentindo dor, a planta recuou e soltou Liu Mufeng, que caiu no chão, observando os ferimentos em sua cintura. Glicínia roxa. Nascida venenosa, coberta de espinhos. Planta carnívora. Perfeita para um cultivador do tipo madeira como eu. Pode ser usada como arma! 

Enquanto os vermes espirituais incendiavam a planta, a glicínia tentou se defender, mas o fogo só aumentava. Vendo isso, Liu Mufeng soltou alguns vermes espirituais de madeira. 

— Digam a ela: se não quiser morrer, que forme um contrato comigo e se torne minha planta espiritual. Senão, vou queimá-la até o fim! 

Os vermes de madeira voaram até a planta e começaram a se comunicar. A princípio, a glicínia resistiu — até que Liu Mufeng liberou seu próprio fogo bestial. Vendo as águias flamejantes voando sobre si, a planta tremeu. Naturalmente, plantas temem o fogo. Diante da ameaça, ela cedeu e firmou um contrato de mestre e servo com Liu Mufeng. 

Após o contrato, a glicínia encolheu-se até se transformar numa pequena vinha, enrolando-se no pulso direito de Liu Mufeng. 

Aplicando um líquido espiritual nos ferimentos da cintura, Liu Mufeng os tratou. Em seguida, pegou uma fruta de Nuvem Vermelha e a comeu. O fruto, apesar de venenoso, também serve como antídoto contra o veneno da glicínia. Onde há frutos de Nuvem Vermelha, há glicínias — as duas espécies coexistem em uma relação de geração e restrição mútua. 

Vendo Liu Mufeng se curar, os olhos de Wang Jiang brilharam. 

— Primo, me vende uma fruta dessas! 

— Três mil pedras espirituais — disse Liu Mufeng, com indiferença. 

— Fechado! — Wang Jiang rapidamente entregou as pedras e pegou a fruta. Os demais fizeram o mesmo, comprando a fruta como antídoto. 

— Mestre, você é incrível! Sabia que a fruta vermelha poderia me curar! — disse a glicínia, tentando agradar.

— Claro. Por que acha que eu faria um contrato com você, se não soubesse o que estava fazendo? — respondeu Liu Mufeng com um sorriso sarcástico. Não sou idiota como os irmãos Zhang, que se atrevem a usar a Flor de Nove Pétalas sem saber nada. 

Após cuidarem dos ferimentos, os seis se refugiaram em um local isolado para descansar. 

— Mu Feng, então você pegou aqueles frutos vermelhos já prevendo o veneno da glicínia, não foi? — perguntou Wang Jiang. 

— De certo modo, sim. O Fruto de Nuvem Vermelha pode ser veneno ou antídoto. Tudo depende de como é usado — respondeu Liu Mufeng com um sorriso enigmático. 

— Mu Feng, você é realmente incrível. Sabe de tudo! — Wang Jiang não escondia a admiração. Desde a Flor de Nove Pétalas, a grama Qianqian, o escorpião dourado, agora o Fruto de Nuvem Vermelha e a glicínia… não há planta ou criatura que Mu Feng não conheça. Até os insetos e matinhos mais insignificantes, ele sabe nomear e explicar! 

— Não é nada demais. Só li em livros — respondeu Liu Mufeng com humildade. Para um cultivador, esses livros são tidos como inúteis. Mas eu não penso assim. História, geografia, plantas, animais… tudo tem valor. Quanto mais se compreende, mais se pode usar a seu favor. 

— Oh! — assentiu Wang Jiang. Meu primo é mesmo um verdadeiro sábio.