Capítulo 21: Segunda Parte
Yan Qiu entrou no quarto do segundo andar.
Este espaço era completamente diferente do quarto da empregada onde ele costumava morar; na verdade, a disposição era bastante semelhante ao quarto de Fu Shuangchi.
Olhando para o quarto espaçoso e iluminado, Yan Qiu percebeu o quão ridículo era que em sua vida anterior ele tivesse se emocionado tanto com um pequeno quarto de empregada.
Mas, ao invés de se perder nesses pensamentos, havia algo mais importante a ser feito.
Yan Qiu não se preocupou em arrumar suas coisas, apenas empurrou a mala para um canto do quarto.
Sentou-se na cadeira ao lado da escrivaninha, e seus dedos da mão direita se apertaram ligeiramente.
A tão esperada sensação de força voltou ao seu corpo. Yan Qiu abaixou os olhos, observando seus dedos ainda não feridos por um momento, antes de levantar a mão direita e segurar o pingente em seu pescoço.
Seu corpo relaxou da tensão que sentiu no andar de baixo, recostando-se enquanto olhava calmamente para o teto.
“Tia,” Yan Qiu murmurou para si mesmo, “nada aconteceu ainda, não se preocupe comigo.”
Após organizar suas emoções, Yan Qiu pegou do interior da mala a faca de entalhe deixada por sua tia e um pedaço de nogueira que comprou por acaso tempos atrás.
Ele então fixou os olhos na madeira à sua frente, começando a imaginar o que queria esculpir.
Yan Qiu não sabia em que estágio estava seu câncer de estômago, mas, pelo que sentia, parecia que ainda não estava no ponto irreversível da vida anterior.
Ele precisava de dinheiro, primeiro para tratar sua doença.
Mas antes de ganhar dinheiro, ele queria fazer um presente com suas próprias mãos.
Decidido, Yan Qiu começou a desenhar lentamente as linhas.
Ele planejava esculpir um amuleto de mão em forma de tartaruga para dar ao amigo que encontrou no mercado de antiguidades na vida passada.
Yan Qiu ainda se lembrava do idoso: cabelo grisalho, vestindo uma túnica tang de lã, segurando duas nozes de quatro lóbulos polidas, com um rosário de sândalo roxo no pulso. Ele sorria com rugas nos cantos dos olhos, parecendo cheio de energia.
Na primeira vez que Yan Qiu foi ao mercado de antiguidades, levou alguns entalhes simples. Não esperava vendê-los por muito.
Mas o idoso parou em seu estande, pegou um dos entalhes de cavalo e o examinou minuciosamente.
Ele olhou por tanto tempo que Yan Qiu começou a duvidar de sua habilidade e, envergonhado, pensou em arrumar suas coisas e ir embora.
Então o idoso falou: “Isso é bom.”
“Você realmente gosta?” Yan Qiu perguntou cautelosamente, incerto.
O idoso sorriu para ele, “Se eu não gostasse, por que olharia tanto tempo?”
Então, ele comentou: “Você é jovem, ainda falta prática e sua técnica não é fluida, mas…”
Ele fez uma pausa e continuou: “A composição e proporção são boas, você tem talento. Eu gosto de obras com espírito.”
As palavras do idoso deixaram Yan Qiu leve e feliz, como se tivesse comido algodão-doce. Ele pegou o entalhe de cavalo e disse: “Se você gosta, pode ficar com ele.”
O idoso riu e respondeu: “Jovem, uma palavra de elogio basta para conseguir seu trabalho? Como você vai fazer negócios assim?”
Yan Qiu sorriu timidamente, “Então coloque um preço.”
O idoso não discutiu, tirou o rosário do pulso, “Sua sinceridade é apreciada, falar de dinheiro é grosseiro. Troco por isso.”
Yan Qiu, embora não tenha crescido em um ambiente privilegiado, reconheceu o valor do rosário de sândalo.
“Não, é muito valioso.” Ele recusou apressadamente.
Mas o idoso colocou o rosário em sua mão, “Não se preocupe com o valor, apenas espero que ele te proteja.”
Com isso, ele pegou o entalhe e foi embora.
Yan Qiu encontrou o idoso várias vezes depois no mercado, e eles conversavam brevemente. Às vezes, o idoso lhe dava conselhos valiosos.
Com o tempo, eles formaram uma amizade inesperada.
Embora os conselhos do idoso fossem esporádicos, foram de grande ajuda para Yan Qiu, que era autodidata.
Por isso, Yan Qiu passou a frequentar o mercado mais para aprender.
Até o acidente.
Yan Qiu nunca esqueceu aquela noite chuvosa. Sem táxis disponíveis, ele correu para casa na chuva.
Pegou um atalho por um beco antigo, onde os postes de luz balançavam com a tempestade.
Ao sair do beco, uma luz forte o cegou. Ele levantou a mão para proteger os olhos, mas o carro o atingiu em cheio, lançando-o no ar.
A chuva fria o encharcou, e cada osso de seu corpo parecia se quebrar.
Ele pensou que morreria naquela noite, mas um transeunte chamou uma ambulância.
Os sons eram confusos: rodas de maca, vozes de médicos, e o bip de máquinas desconhecidas.
Quando acordou, dois dias haviam passado.
Lu Ruan estava ao seu lado, cheia de preocupação, “Xiao Qiu, você está bem?”
Para não preocupá-la, ele tentou negar, mas ao se mover, uma dor aguda percorreu seu braço direito.
Ele olhou surpreso na direção do braço e viu que seu braço direito estava engessado, totalmente imóvel.
Lu Ruan, ao ver isso, rapidamente explicou: “Não se mova, é apenas uma fratura. Vai se curar com o tempo.”
Yan Qiu, com a outra mão que mal conseguia mover, tocou o pingente em seu pescoço.
O pingente ainda estava lá, o que lhe trouxe um pouco de alívio.
Em seguida, olhou para o pulso esquerdo.
Lá, ele costumava usar um terço de sândalo roxo, um presente de um ancião que ele usava todos os dias para mostrar apreço. No entanto, agora estava desaparecido.
“Onde está meu terço?” Ainda deitado na cama, Yan Qiu perguntou com dificuldade, suportando o desconforto.
Lu Ruan também parecia confusa, mas segurou a mão dele para acalmá-lo: “Não se preocupe. Que terço? Vou pedir para alguém procurar, pode ainda estar lá.”
Yan Qiu segurou seus dedos firmemente, “Traga-o de volta para mim.”
Lu Ruan prometeu, mas no final, não cumpriu.
Seu braço direito não estava apenas fraturado; nunca se recuperaria totalmente.
Lu Ruan também não encontrou o terço e acabou comprando um novo para substituir.
Yan Qiu, não querendo vê-la triste junto com ele, aceitou o novo terço e sorriu, dizendo que estava tudo bem.
Mas naquela época, Yan Qiu nunca imaginou que o culpado do acidente seria Fu Shuangchi.
E Lu Ruan sabia de tudo, mas escolheu esconder a verdade junto com ele.
Embora na vida anterior ele não tivesse levado o terço de Lu Ruan ao sair da casa dos Fu, essa lembrança ainda o enojava como se tivesse engolido uma mosca.
A faca de entalhe em sua mão tremia ligeiramente; Yan Qiu sabia que estava sendo afetado pelas lembranças e parou o que estava fazendo.
Olhou para a tartaruga esculpida que ainda estava em fase inicial e começou a se acalmar.
Ele não tinha nada agora e não podia se apressar.
Enquanto pensava, ouviu uma batida na porta.
Yan Qiu guardou a escultura na gaveta antes de dizer: “Entre.”
Mal acabou de falar, e Lu Ruan entrou pela porta.
“Xiao Qiu.” Assim como na vida anterior, Lu Ruan trouxe uma sobremesa na tentativa de se aproximar dele.
“Algo errado?” Yan Qiu respondeu friamente.
Na vida passada, ele tinha visto tantas falsidades dela que agora estava cansado de qualquer atuação de mãe amorosa.
Lu Ruan parecia surpresa com sua frieza, suas mãos tremendo ligeiramente ao segurar a sobremesa, mas logo se recompôs.
Colocou um sorriso no rosto e deixou a sobremesa na frente dele.
“Eu vi que você só comeu uma tigela de macarrão mais cedo e fiquei preocupada que estivesse com fome. Fiz uma sobremesa para você, quer um pouco?”
“Não, obrigado.” Yan Qiu recusou. “Não estou com fome.”
A atitude fria e repetitiva de Yan Qiu fez Lu Ruan perder um pouco a compostura.
O sorriso dela desbotou.
Vendo que ele não queria conversar, Lu Ruan ponderou por um momento e finalmente foi direto ao ponto.
“Não leve a sério o que aconteceu hoje. Na verdade, Xiao Chi não é uma pessoa má. Ele só foi mimado e não sabe lidar com certas situações.” Lu Ruan tentou falar suavemente, buscando reparar a relação deles.
Yan Qiu não respondeu, apenas olhou para a sobremesa na mesa, sem dar qualquer resposta.
Vendo que ele mantinha a mesma atitude, a paciência de Lu Ruan começou a se esgotar.
“Se você está insatisfeito, pode falar comigo, mas essa atitude é muito rude.”
Yan Qiu finalmente levantou a cabeça e olhou para ela. “Mãe?”
Lu Ruan, vendo que ele finalmente reagiu, suavizou a atitude, mas antes que pudesse falar, Yan Qiu continuou: “De quem você é mãe?”
Lu Ruan ficou confusa. “O que você quer dizer?”
“Quero dizer…” Yan Qiu sorriu. “Hoje é meu primeiro dia de volta, Fu Shuangchi estragou meu primeiro jantar de volta e ainda cortou minha mão com uma faca. Você não vai se importar comigo? Só vai defendê-lo?”
“Não, eu…” Lu Ruan tentou explicar.
Mas Yan Qiu não estava interessado em ouvir. “Ele tem a mesma idade que eu, 20 anos, não 2. Ele sabe o que está fazendo.”
Lu Ruan ficou sem palavras, apenas conseguiu dizer de forma constrangedora: “Mãe não quis dizer isso. Vou falar com ele.”
Depois de tudo que aconteceu antes, Yan Qiu não acreditava nem um pouco nela e não queria perder tempo discutindo.
Nesse momento, Lu Ruan pareceu lembrar de algo. “Deixe-me ver a cicatriz no seu braço. Foi uma queimadura, certo?”
Ela tentou segurar o braço dele.
Mas antes de tocar, Yan Qiu afastou, deixando-a com as mãos no ar.
Ele olhou para o rosto dela, que alternava entre vermelho e branco, e tocou levemente o lugar onde quase foi tocado, dizendo: “Cicatriz antiga, nada para ver.”
“Eu…”
“E mais,” Yan Qiu a interrompeu, “alguns cuidados, quando chegam tarde demais, não têm mais valor.”
***
Autor: Infelizmente, não consegui terminar duas capítulos. Vou publicar dois capítulos amanhã, cuidem-se e fiquem seguros!