Capítulo 77: O Lenço
Naquele dia, o Sr. Li estava diferente, sem a frieza habitual.
Quando Li Zhi entrou, ele olhou para o avô por um longo momento antes de desviar o olhar e dizer: “Não é nada sério, apenas uma pneumonia comum. Com dois dias de medicação intravenosa, ficará bem.”
Yan Qiu suspirou de alívio, mas ainda não completamente tranquilo, e insistiu em ficar.
O Sr. Li, é claro, recusou, pedindo que voltassem para casa. “Hoje é o primeiro dia do Ano Novo. Visitar um hospital não traz sorte, voltem para casa.”
Mas Yan Qiu não se deixou convencer e, teimosamente, sentou-se ao lado da cama.
Incapaz de mandá-los embora, o Sr. Li cedeu.
Yan Qiu sabia que os Li eram supersticiosos e temia que o mestre estivesse de mau humor por estar no hospital durante o Ano Novo. Então, tentou distraí-lo, puxando conversa sobre vários assuntos para alegrá-lo.
Li Zhi, por outro lado, permaneceu em silêncio no sofá, observando-os.
Yan Qiu notou o lenço bordado com gencianas nas mãos do Sr. Li, lembrando-se das flores nos jardins da casa ancestral. Percebeu de quem era o lenço.
Mas, ciente das dolorosas histórias passadas dos Li, não ousou perguntar.
Surpreendentemente, o Sr. Li notou seu olhar e levantou o lenço, perguntando: “Bonito, não?”
Yan Qiu assentiu, elogiando sinceramente: “Muito bonito.”
Embora já estivesse idoso, o Sr. Li sorriu, um tanto envergonhado, ao ouvir isso.
Ele parecia querer exibir o lenço, mas se conteve, dizendo com modéstia: “Foi sua mestra quem me deu quando éramos jovens.”
Yan Qiu não esperava que o Sr. Li mencionasse a Sra. Li. Pensou que aquela parte dolorosa da vida dele havia sido enterrada com ela.
“Ela me deu como presente de casamento. Eu dei a ela uma pulseira, e ela me deu este lenço, bordado à mão.”
Não escrevendo poemas ou versos, um simples lenço expressava sentimentos profundos.
Yan Qiu ficou comovido. O Sr. Li, aos oitenta anos, ainda guardava o lenço em perfeito estado, mostrando o quanto cuidara dele ao longo dos anos.
Sendo reservado, o máximo que o Sr. Li podia se permitir era dizer que fora “bordado à mão.”
Mas Yan Qiu podia sentir a profundidade dos sentimentos escondidos naquele pequeno lenço e nas poucas palavras.
“Você cuidou muito bem deste lenço.” Yan Qiu disse.
“Eu o guardo cuidadosamente. Não sei por quê, mas recentemente senti vontade de vê-lo mais vezes.”
O Sr. Li olhou para o lenço, segurando-o com cuidado, como se temesse danificá-lo.
“Mestre…” Yan Qiu, vendo o olhar dele, sentiu vontade de chorar.
O Sr. Li, percebendo sua emoção, virou-se para confortá-lo, mas começou a respirar com dificuldade e se virou rapidamente, tossindo forte.
Yan Qiu levantou-se para dar tapinhas em suas costas, e Li Zhi também se levantou.
“Vou chamar um médico.” Li Zhi disse.
“Estou bem.” O Sr. Li disse entre tosses.
Mas Li Zhi já tinha saído.
O médico veio, verificou a situação e prescreveu mais medicamentos.
Depois, tranquilizou-os: “Não se preocupem. Quando a inflamação nos pulmões diminuir, ele ficará bem.”
Parecia querer dizer algo mais, mas foi interrompido pelo olhar do Sr. Li.
Apesar das palavras tranquilizadoras, Yan Qiu ainda sentia um desconforto. “Doutor, quando meu mestre ficará totalmente recuperado?”
O médico não respondeu diretamente, apenas disse: “Com o tempo e repouso, ficará bem. É normal para a idade dele, não é grave.”
Depois, saiu, hesitando em falar mais.
Yan Qiu conversou um pouco mais com o Sr. Li, até que ele ficou sonolento. Yan Qiu o ajudou a se deitar, e logo ele adormeceu.
Antes de dormir, o Sr. Li dobrou cuidadosamente o lenço e o colocou no bolso da camisa do hospital.
Quando ele adormeceu, Yan Qiu puxou Li Zhi para fora do quarto.
No corredor do hospital, Yan Qiu disse baixinho: “Vou para casa fazer uma sopa nutritiva. Você fica aqui com o mestre.”
Li Zhi respondeu: “Vou eu. Você fica com o avô.”
O plano de Yan Qiu era deixar Li Zhi com o mestre para que passassem mais tempo juntos, então insistiu: “Você sabe fazer sopa de costela?”
Li Zhi ficou em silêncio.
“Volto logo.” Yan Qiu aproveitou a hesitação e o empurrou de volta ao quarto.
Embora dissesse que voltaria rápido, demorou um pouco mais, pois além da sopa, preparou alguns pratos leves. E queria dar mais tempo para Li Zhi e o mestre ficarem juntos. Só voltou ao hospital ao anoitecer.
Quando entrou, o Sr. Li já estava acordado, reclinado na cama como antes, e Li Zhi estava ao lado, descascando uma maçã.
Nenhum dos dois falava, mas não havia constrangimento, parecendo habituados àquela situação.
Li Zhi cortou a maçã em pedaços e entregou um ao Sr. Li.
O Sr. Li pegou e disse: “Um pedaço é suficiente, coma o resto.”
Ele colocou o pedaço na boca.
O Sr. Li, já idoso, comia devagar, demorando bastante para terminar.
Enquanto mastigava, os olhos dele se semicerraram em recordação. “Lembro que você também gostava de maçãs quando era pequeno.”
Li Zhi, ainda cortando a maçã, parou por um momento.
Sem levantar a cabeça, respondeu calmamente: “Você lembra?”
“Não muito bem.” O Sr. Li sorriu. “Tenho uma vaga lembrança de um Ano Novo, quando você e seus pais vieram. Sua avó não quis descer para vê-los. Você tirou uma maçã do bolso e subiu, batendo na porta, dizendo que daria sua maçã favorita para ela parar de estar zangada.”
“Sim.” Li Zhi respondeu da mesma forma calma. “Mas ela não me viu.”
O Sr. Li suspirou.
“Yuanfang era teimosa. Temia que, ao descer, não resistisse em aceitar sua maçã.”
Ambos ficaram em silêncio, até que Li Zhi continuou: “Depois você me pegou e me deu a maçã.”
“Foi?” O Sr. Li tentou lembrar, mas não conseguiu, desistindo com um suspiro.
Yan Qiu, temendo que tocassem em memórias dolorosas, interrompeu: “Já está tarde, vamos comer.”
Ele colocou os pratos na mesa e ajudou o Sr. Li a se sentar à mesa.
“Muito obrigado por tudo isso.” O Sr. Li disse, olhando a comida.
Yan Qiu lhe entregou os hashis, “Perguntei ao médico o que você pode comer. Fiz tudo de acordo. E como é Ano Novo, fiz um pouco mais.”
“Ah… Ano Novo.” O Sr. Li olhou pela janela, onde os fogos de artifício brilhavam no céu, celebrando a passagem do ano e rapidamente se extinguindo, em uma beleza efêmera e triste.
“Mestre, feliz Ano Novo!” Yan Qiu, tentando animar, serviu uma tigela de sopa e sorriu.
O Sr. Li, surpreso, depois sorriu também, “Feliz Ano Novo!”
À noite, Yan Qiu e Li Zhi dormiram no pequeno quarto anexo, bem equipado, mas com apenas uma cama.
Nenhum dos dois queria deixar o outro sozinho, então se apertaram.
Embora já tivessem se abraçado e beijado, nada mais íntimo aconteceu.
Então, dormir juntos pela primeira vez deixou Yan Qiu nervoso.
Ele não conseguia dormir, olhando para o teto escuro, imóvel, até ficar rígido.
Tentou mudar de posição, mas a voz de Li Zhi veio da escuridão: “Está desconfortável?”
Yan Qiu parou de se mexer, respondendo rapidamente: “Não.”
Depois disso, o quarto ficou em silêncio novamente.
Yan Qiu se virou e sentiu o espaço vazio ao lado.
Surpreso, estendeu a mão, tocando o vazio.
“Li Zhi?” Yan Qiu chamou.
“Sim?” Logo uma mão forte agarrou a dele na escuridão.
“Por que não está dormindo?” Yan Qiu sentou-se.
“Vou encontrar outro quarto.”
Sem falar, ambos entenderam o motivo. Yan Qiu sabia que Li Zhi percebera seu nervosismo e respondeu rapidamente: “Não precisa.”
Li Zhi não respondeu, apenas colocou a mão de Yan Qiu de volta sob o cobertor e levantou-se para sair.
Mas ao se levantar, sentiu braços finos o abraçando por trás.
Li Zhi parou, surpreendido.
“Não estou desconfortável, apenas não acostumado.” Yan Qiu disse, a cabeça contra as costas dele, a voz baixa de vergonha.
Li Zhi, com o pé já no ar, parou.
Ele também não conseguia dormir, sentindo os movimentos de Yan Qiu, percebendo seu nervosismo.
Yan Qiu, sendo jovem, embora tenha certeza dos sentimentos, ainda mantinha distância em momentos íntimos, devido à gratidão que sentia.
Ele queria que, quando acontecesse, fosse por amor, não por qualquer outro motivo.
Desta vez, ele escolheu evitar, mas Yan Qiu o segurou antes de partir.
“Não vá.” Yan Qiu murmurou contra suas costas, a voz baixa de timidez.
“Quero dormir com você.”
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