Capítulo 90: Extras do Presente (6) - Final de Fu Shuangchi no presente (Parte 1)

No dia em que Fu Shuangchi saiu da prisão, coincidentemente era seu trigésimo aniversário.

Ele recebeu seu certificado de soltura e o dinheiro da passagem das mãos de um guarda, e então pegou sua bagagem e se dirigiu ao portão.

O portão se abriu lentamente, a luz do sol entrou de fora, e embora fosse apenas uma porta, parecia dividir dois mundos.

Um era ensolarado e brilhante, o outro sério e sombrio.

De alguma forma, mesmo ansiando pela liberdade por tanto tempo, quando finalmente estava na porta, hesitou em sair.

“Seja uma pessoa boa lá fora, não volte mais,” o guarda aconselhou.

“Sim,” respondeu Fu Shuangchi, instintivamente querendo olhar para trás, mas foi interrompido pelo guarda: “Não olhe para trás! Apenas siga em frente!”

Fu Shuangchi ficou surpreso por um momento, mas respondeu novamente: “Sim,” antes de hesitante dar o primeiro passo e continuar caminhando para frente.

A luz do sol caiu sobre ele, delineando uma linha inclinada no chão por causa do portão. Ele ergueu o pé e cruzou aquela linha, retornando ao mundo exterior.

Ele encontrou uma pequena pousada na beira da estrada.

Esse era o tipo de lugar que o antigo Fu Shuangchi nunca teria pisado, mas agora suas economias só permitiam que ele passasse a noite ali.

Fu Shuangchi entrou no banheiro sujo e pequeno, tomou um banho, trocou de roupa e deitou na cama que cheirava a mofo.

Ele puxou o cobertor o máximo possível para baixo, pois o cheiro era realmente desagradável, e ele não fazia ideia de quando os lençóis foram trocados pela última vez.

O isolamento acústico do quarto era péssimo. Os sons dos quartos ao lado e acima chegavam nitidamente aos seus ouvidos, como se estivessem ao seu lado.

Discussões, corridas, o som de uma máquina de lavar, até mesmo o choro de alguém.

Era como uma sinfonia barata reunida naquele quarto decadente.

Incrivelmente, aquele ambiente terrível não perturbou seus sentimentos.

Ele até conseguiu forçar-se a fechar os olhos e deixar-se levar por um sono leve.

Dez anos na prisão lhe custaram muito mais do que apenas o orgulho.

Fu Shuangchi acabou adormecendo lentamente naquele ambiente barulhento.

Em seu sono leve, ele voltou ao passado.

Sonhou que ainda era o segundo filho mais amado da família Fu, seus pais e irmão cuidavam dele com extrema dedicação, desejando colocá-lo no centro de tudo. Onde quer que fosse, ele era o centro das atenções, e nada o aborrecia.

No sonho, não havia Yan Qiu, nem todos os eventos que se seguiram.

Ele estava tão feliz no sonho que quase sorriu, mas antes que pudesse abrir um sorriso, o som irritante de um alarme o despertou.

Fu Shuangchi se sentou. A pousada ainda estava tranquila, mas ele já não tinha mais sono. Levantou-se e arrumou a cama e o cobertor.

Desceu para tomar café da manhã, pagou a conta e saiu com sua bagagem.

Depois de dez anos, a cidade à sua frente havia mudado muito, mas felizmente ele ainda lembrava o caminho de casa.

Fu Shuangchi caminhou o dia inteiro e só chegou à Rua Kangning ao anoitecer.

Mas ele não entrou imediatamente. Talvez pela proximidade de casa, sentiu-se subitamente assustado.

Colocou sua bagagem no chão e sentou-se em um banco de pedra na beira da estrada para descansar.

Os pais provavelmente estavam muito zangados com ele, pensou Fu Shuangchi, por isso não o visitaram em dez anos.

E seu irmão? Será que ele também estava zangado?

Fu Shuangchi lembrou-se da última vez que viu seu irmão. Ele estava chorando e implorando para ser tirado da prisão.

O olhar de seu irmão era de impotência, mas Fu Shuangchi estava desesperado demais para notar.

Quando o guarda o puxou para longe, sua última frase foi: “Fu Chenze, se você não me tirar daqui, nunca mais venha me ver.”

Seu irmão sempre o mimou e atendeu a todos os seus pedidos, então Fu Shuangchi achou que desta vez seria igual.

Seu irmão encontraria uma maneira de tirá-lo de lá.

Ele admitiu que cometeu um crime, mas não feriu ninguém, certo?

Dez anos era uma sentença muito pesada para ele.

Mas ele esperou e esperou na prisão, e seu irmão nunca mais apareceu.

Fu Shuangchi demorou muito para aceitar que havia sido abandonado.

Como isso poderia acontecer? Seu irmão o amava tanto.

Anos de mimos fizeram com que ele não conseguisse aceitar a realidade, e sua mente estava cheia de incredulidade e ódio profundo por todos eles.

Ele odiava Yan Qiu, odiava a família Fu, mas, acima de tudo, odiava Fu Chenze.

Ele prometeu protegê-lo para sempre, prometeu amá-lo para sempre.

Por que quebrou a promessa?

Mas com o tempo, o ódio foi substituído por uma saudade incontrolável.

Mesmo que não pudesse tirá-lo de lá, por que não veio vê-lo?

Ele estava enlouquecendo ali dentro.

Mimado desde criança, ele não conseguia lidar com a rotina militar e o trabalho incessante da prisão.

Seus dedos delicados ficaram calejados, cortados, sangrando, formaram cicatrizes e desenvolveram calos espessos.

Ele não conseguia se acostumar com a comida, tinha medo das pessoas ali.

Sua tristeza estava prestes a transbordar. Ele guardou todos os seus sentimentos em um caderno, esperando que Fu Chenze viesse vê-lo para que pudesse mostrar.

Mas Fu Chenze nunca apareceu.

Por que não veio? No início, Fu Shuangchi quase enlouqueceu de raiva. Seus pais o abandonaram, mas por que Fu Chenze também?

Fu Chenze prometeu que nunca o abandonaria.

Mas com o tempo, a raiva se transformou em medo. Será que até Fu Chenze o abandonara?

Por quê? Fu Chenze o amava tanto.

Sim, ele sempre soube que Fu Chenze o amava.

Desde que Yan Qiu voltou, o olhar de Fu Chenze sobre ele mudou.

Ele prendia-se em uma disciplina restrita, abotoando o botão superior da camisa de Fu Shuangchi, abraçando-o gentilmente quando ele se sentia mal, e fazendo uma promessa após a outra.

“Não importa o que aconteça, você será sempre meu irmão mais querido. Estarei sempre ao seu lado.”

“E se um dia eu cometer um erro imperdoável? Você nunca me perdoaria?”

“Não, não importa o que você faça, eu sempre amarei você.”

Então ele havia prometido!

Fu Shuangchi repetia essas palavras de Fu Chenze em sua mente, sentindo o coração apertar e amargar.

Ele prometeu.

Mas ele quebrou a promessa, todos quebraram a promessa.

A família Fu o abandonou, Fu Chenze o abandonou.

Por quê? Ele realmente estava errado?

Será que sem Yan Qiu tudo teria ficado bem?

A vida na prisão foi tão difícil para Fu Shuangchi, difícil ao ponto de ele querer acabar com tudo várias vezes.

Mas ele tinha medo da dor e não queria ceder, então ele se forçou a encontrar uma razão para continuar vivendo.

Essa razão era o ódio.

O ódio pela indiferença da família Fu, pela frieza de Fu Chenze e, claro, pelo Yan Qiu.

Se não fosse por Yan Qiu, ele não teria chegado a esse ponto.

Ele sustentou esse ódio durante o primeiro ano, o segundo, o terceiro…

Os anos se passaram, e Fu Shuangchi mudou pouco a pouco.

Mas o ódio permaneceu, ele quase não conseguia distinguir se era ódio ou obsessão.

Mas o ódio certamente dura mais que o amor. Foi com esse ódio que ele suportou ano após ano.

E agora ele finalmente poderia sair e buscar uma resposta.

Fu Shuangchi ficou sentado no banco de pedra por muito tempo, até o céu começar a escurecer e o vento frio quase o congelar. Só então ele se levantou e caminhou até a mansão número 33, onde morou por muitos anos.

Quando chegou ao portão da mansão, parou, ajustou a roupa para parecer mais apresentável.

Embora estivesse vestindo suas melhores roupas, ainda estavam desatualizadas.

A mansão estava toda iluminada, com algumas silhuetas visíveis através da janela do salão.

Naquela hora, Fu Chenze e os outros provavelmente haviam acabado de jantar. No passado, após o jantar, Fu Jianting gostava de reunir toda a família para conversar.

Eles estariam todos lá? Fu Shuangchi se perguntou, finalmente tomando coragem para tocar a campainha.

Logo alguém veio atender a porta, era um jovem mordomo.

O mordomo não abriu a porta imediatamente, apenas perguntou: “Quem é você?”

Fu Shuangchi olhou para o mordomo, um pouco confuso por não ser o Tio Zhou, mas depois lembrou que há dez anos o Tio Zhou já era idoso e provavelmente havia se aposentado.

Então ele respondeu: “Eu sou Fu Shuangchi.”

“Desculpe,” o jovem mordomo respondeu, um pouco perplexo. “Eu nunca ouvi falar de você. Quem você está procurando?”

Embora já esperasse por isso, Fu Shuangchi não pôde deixar de sorrir amargamente. “Estou procurando por Fu Chenze.”

“Fu Chenze? Acho que você está enganado, aqui é a casa da família Chu.”

“Família Chu?” Fu Shuangchi ficou ainda mais perplexo, demorando um pouco para perguntar: “Eles se mudaram?”

O mordomo pareceu lembrar de algo e lentamente disse: “O antigo dono desta mansão era realmente da família Fu, mas eles faliram. A mansão foi leiloada pelo tribunal e meu senhor a comprou.”

“Faliu?” Fu Shuangchi perguntou, incrédulo.

“Sim, foi notícia na época. Você não sabia?”

Fu Shuangchi ficou paralisado por um bom tempo com essa notícia, antes de balançar a cabeça. Então, como se tivesse lembrado de algo, levantou a cabeça rapidamente, segurando com força o portão de ferro, tentando entrar. “E a família? Onde estão os membros da família Fu?”

O mordomo balançou a cabeça, desculpando-se. “Isso eu não sei.”

Fu Shuangchi pegou sua bagagem e começou a andar sem rumo pelas ruas.

Durante esses anos na prisão, ele havia fantasiado inúmeras vezes sobre o reencontro. Imaginava Lu Ruan chorando e abraçando-o, Fu Jianting batendo em seu ombro dizendo que estava feliz por ele estar de volta, e Fu Chenze segurando sua mão e pedindo desculpas, implorando por perdão.

Fu Shuangchi também havia pensado em várias reações próprias, olhando friamente para eles, ouvindo suas desculpas, e talvez, se fossem sinceros o suficiente, perdoando-os com relutância.

Depois, ele contaria sobre os anos que passou na prisão, quantas dificuldades enfrentou e quanto os odiava.

Odiava-os por terem sido tão cruéis ao ponto de realmente abandoná-lo.

Se eles se desculpassem, Fu Shuangchi poderia perdoá-los.

Os anos na prisão o amadureceram muito, e ele sabia que também havia cometido erros.

Mas ele nunca imaginou que a família Fu iria à falência e se mudaria.

Para onde eles foram?

Fu Shuangchi continuou andando sem rumo até chegar ao centro da cidade.

O céu estava completamente escuro, e o vento frio soprava implacavelmente, atravessando seu corpo.

Fu Shuangchi, tremendo de frio, sentou-se em frente a uma loja aberta 24 horas e tirou do saco uma jaqueta velha para se cobrir.

Ele sabia que estava em péssimo estado, então manteve a cabeça baixa, mesmo sabendo que ninguém o reconheceria agora.

Mas não ficou ali por muito tempo. Logo, um funcionário saiu da loja e gritou: “De onde veio esse mendigo? Você não pode ficar na frente da nossa loja! Como vamos fazer negócios? Saia, saia!”

Fu Shuangchi levantou a cabeça e olhou para o jovem funcionário. Se fosse há dez anos, ele teria reagido agressivamente.

Mas infelizmente, isso foi há dez anos.

A vida na prisão o tinha quebrado e reconstruído. Hoje, Fu Shuangchi só queria evitar conflitos.

Então, ele forçou um sorriso, levantou-se e disse: “Desculpe, eu já estou indo.”

Ele pegou a bagagem, mas ao puxar a bolsa, a coisa não fechada se abriu, e seus pertences caíram no chão.

O funcionário bufou impaciente, enquanto Fu Shuangchi se apressava para recolher tudo.

Ainda não tinha terminado quando ouviu gritos de surpresa ao longe.

Fu Shuangchi olhou para cima e viu as telas da maior torre de A City se iluminarem de repente.

Formaram grandes letras:

Xiao Qiu, feliz aniversário!

Então, sobre o rio próximo, drones começaram a se erguer, formando a imagem de um bolo de aniversário no céu.

Os clientes que estavam na loja saíram para ver o espetáculo, murmurando com inveja.

“Que inveja, mesmo depois de dez anos, o relacionamento deles ainda é tão bom.”

“Eu vou morrer de inveja, é o Li Zhi!”

“Li Zhi?” Fu Shuangchi ficou surpreso ao ouvir o nome, mas logo se lembrou.

Afinal, ninguém na elite de A City desconhecia esse nome.

“Eu queria saber como o Sr. Yan conquistou o Sr. Li. Eu realmente quero conhecer a história de amor deles.”

“O Sr. Yan também não é qualquer um. Ele é o primeiro mestre de escultura em madeira a ganhar prêmios globais.”

“Yan?” Esse sobrenome trouxe à tona um nome em sua mente.

Impossível.

Fu Shuangchi sorriu. Mesmo no auge da família Fu, eles não podiam se igualar à família Li, quanto mais agora que estavam falidos.

Era apenas uma coincidência.

Fu Shuangchi parou de prestar atenção e continuou arrumando suas coisas para sair.

Mas quando tentou passar pela multidão, algo o fez parar.

Ele se virou e olhou para o edifício mais alto de A City.

Estava escrito Xiao Qiu.

Sr. Yan, Xiao Qiu.

Juntos, formavam… Yan Qiu.