Arco 1 –  Oriente sem DESTINATÁRIO

Missão Ágape

Capítulo 11

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E mais uma vez, James ficou mais uma noite em claro por causa daquele ser que ultimamente, parecia se divertir em fazê-lo sair do eixo.

Aquelas coisas que havia sentido foram tão intensas que parecia que tudo que tinha sentindo em relação a isso foram meramente superficiais.

Aquele beijo não era o seu primeiro, talvez o centésimo em sua vida, mas nenhum tinha lhe proporcionando tamanhas sensações como aquelas, a primeira vez que realmente sentiu algo tão intenso no ato de beijar.

Hora ou outra se pegava tocando seus lábios, procurando inconscientemente reproduzir aquela sensação altamente prazerosa, mas todas foram falhas. Isso lhe enraivecia, lhe frustrava, lhe envergonhava…

Ah, vergonha… essa era a palavra que estava no topo de todas as demais naquele momento. Principalmente quando se lembrava dos instantes em que ele avidamente lambia e chupava os dedos do outro como se dependesse daquilo para sobreviver.

— Eu quero morrer…!! — disse cobrindo o rosto com ambas as mãos, sentindo seu rosto queimar de tanto embaraço.

Se perguntava toda hora porque havia feito aquilo. Porque, é claro que todas aquelas sensações foram provocadas por aquele deus, mas suas ações eram movidas por seus desejos mais profundos. E era isso também que James mais se afligia ao pensar.

— Será que todo esse tempo eu… Não! Eu sou um homem! Tudo isso foi culpa daquele deus de merda! Tudo culpa dele! — disse, se jogando pra frente e enfiando a cara no travesseiro, gritando contra o tecido e as plumas, que abafavam quase tudo.

De repente alguém bateu na porta.

E James estremeceu, engolindo em seco.

— Se manda daqui! — gritou.

— É o meu maior desejo! — retrucou uma voz diferente do que ele estava esperando – Abra logo essa porta, tenho que examiná-lo!

Era Panoptes.

James pulou da cama do jeito que estava e foi atendê-lo.

— Por Zeus! O que aconteceu com você! Foi atropelado por uma biga? Está horrível!

— Panoptes, por favor, preciso de ajuda!

— O que houve? Porque está agindo dessa maneira? Usou “alguma coisa errada” desse lugar?

— Que fosse isso! Mas… não… não é isso… É algo pior! Muito pior!

Nesse mesmo momento, entrou alguém mais pela porta que ainda estava aberta.

— Bom… dia?

— Por Hera! Kýrios? O que houve com você? Está péssimo!!

O deus tinha marcas avermelhadas de dedos em seu pescoço, e do lado direito do rosto tinha um hematoma roxo esverdeado na maçã.

Os outros sinais de abatimento eram sua olheira, cabelos completamente desalinhados e roupas totalmente amassadas, como se uma carroça tivesse passado por cima dele. E James, estava do mesmo jeito, só que não tinha nenhum hematoma de agressão, somente lábios levemente avermelhados por estarem ainda com os efeitos das trocas de afetos labiais que o deus e ele fizeram.

Panoptes não conseguia decidir para quem olhava, e também não sabia para quem se dirigir a palestra que estava se formando em sua mente a cada vez que notava alguma coisa a mais de errado naqueles dois.

— Só vou perguntar uma vez… O que houve com vocês dois?!

Ambos começaram a falar ao mesmo tempo, atropelando a fala um do outro, e acabou que o cocheiro não conseguiu entender nada.

— Um de cada vez! Assim vão explodir minha cabeça!

— Esse bastardo me agarrou! — acusou James.

— Esse filhinho de papai me socou na cara!

— E com toda razão!

— Eu disse que tenho uma explicação!

— Enfia essa sua explicação bem no meio do seu rabo divino!

— Silêncio! — ordenou Panoptes, pegando em suas têmporas — Oh, deuses, problemas logo pela manhã… Eu mereço. — Respirou fundo, reunindo toda paciência do mundo, e perguntou mais uma vez, mas agora em direção ao deus — Meu caro estimado amigo, Kýrios, o que houve para vossa divindade ter feito tal coisa de que está sendo acusado?

— Eu… Tinha que testar algo.

— Testar a minha bunda! Faz tempo que esse filho da puta vem de gracejos pra cima de mim!

— Gracejos? — o loiro riu amargamente — Eu nunca ousaria gracejar com um ser como você! Se acha isso, é porque tem algo aí oculto arranjando desculpas para algo aí querendo sair e…

James correu pra cima dele, mas foi interceptado pelo cocheiro que o segurou a tempo antes voar no pescoço do deus a sua frente.

— Vou te mostrar a coisa oculta que está querendo sair de mim! — disse James, cerrando os dois punhos, se preparando para deferir mais socos no outro.

— É isso que você quer? Se isso vai te fazer se sentir melhor, então vem pra cima! — desafiou o deus.

James se debateu para sair do aperto do cocheiro, mas desistiu quando sentiu seu braço doer pela força que o outro exerceu para poder controlá-lo.

— Vocês dois estão impossíveis! Sendo assim, você, Kýrios, fique ali perto da janela. E você, James, ouça bem o que vou te dizer, vou te soltar agora e você vai ser um bom menino e vai se sentar na merda daquele tapete, e se levantar ou fazer menção disso, quebrarei um braço seu. Fui claro?

Ambos, James e Kýrios se entreolharam de forma bélica, e obedeceram às orientações do terceiro integrante daquele trio.

— Pronto, agora, civilizadamente como dois cavalheiros, comecem a se explicar. Começando por você, Kýrios.

O deus olhou fixamente para o rapaz e fungou profundamente, esfregando de forma cansada o rosto com uma mão.

— Eu o beijei, isso é verdade. Mas não fiz isso por capricho. Tive meus motivos.

— Vou fazer você engolir esses “motivos”! — ameaçou James, mas logo foi interrompido por Panoptes.

— Ei! O que eu disse agora pouco sobre civilidade? Continue Kýrios.

— Eu nunca havia recebido algum sinal de minha bela Psiquê. E depois de tantos anos… Venho sido abençoado com tantas em pouco tempo…

— Vá direto ao assunto, pelo amor dos deuses, Kýrios. — pediu Panoptes, impaciente.

— Tudo bem… Bom, ontem na festa, vi os olhos deste rapaz tomarem as mesmas cores, os mesmos sutis detalhes e nuances daquele azul esverdeado que minha Psiquê tinha.

Um longo silêncio se fez no local.

Até o deus novamente começar a contar sua história.

— Houve em uns momentos até alguns trejeitos que ela fazia, como o sorriso, o olhar de admiração nas coisas que eu lhe mostrava… tudo era igualzinho… Meu coração se encheu de esperança e logo um pensamento se apoderou de minha mente. Então, quis testar. Afinal todos nós aqui sabemos que divindades podem mudar de forma.

— Está me dizendo que achou que eu fosse sua mulher? — questionou James, muitíssimo intrigado, mas não menos calmo com as sensações ainda vibrantes em seu corpo — Não acha que se eu fosse ela, não já lhe entregaria as pistas e as provas de sua inocência perante os deuses?

— Eu pensei que pudesse ser alguma punição que deram a ela por ter tido esse poder da verdade em suas mãos. Olhe o que Zeus fez comigo. Confiscou meu nome, e tirou metade de meus poderes só porque me rebelei. O que não fariam com ela? Podem ter lhe tirado a memória, a feito ter mergulhado no rio Lete, ou a obrigado a beber de sua água… Essas tais crueldades. Por isso, tinha que testar!

— E então? Qual foi a resposta? — perguntou Panoptes, que logo recebeu um aceno de cabeça negativo e entristecido como resposta de seu amigo.

— Idiota! É claro que eu não sou essa mulher! E agora? Como vou…

James se interrompeu, pois o que iria dizer lhe envergonhava demais. Algo como “Como vou ficar assim? Meu corpo, minha boca e minha mente estão enlouquecidos por sua culpa!”

Não, iria ficar ainda mais entranho do que já estava.

— James, eu lhe peço perdão. De verdade. Mas eu não podia ficar com essa dúvida! E mesmo se eu lhe falasse isso antes, você com certeza não aceitaria fazer esse teste.

— É claro que não! Porra!

O deus lhe mirou e franziu o cenho, entranhando algo.

— James, o que está sentindo? — perguntou, dando um passo à frente, e logo o rapaz recuou para prevenir o que temia muito que iria fazer.

Como o que aconteceu ontem…

— C-como pode perguntar uma coisa dessas agora? É claro que não estou bem! Eu beijei um cara!

— O Kýrios está certo, há algo de errado com você. — Panoptes se virou para o amigo e cruzou os braços — Você não deu a ele o neutralizador?

— Eu dei! Mas… Parece que ainda não fez efeito. Estranho. — respondeu.

— Do que é que vocês estão falando?! — perguntou James.

— Quando te beijei ontem — começou Kýrios —, além da natureza de minha divindade, eu liberei um pouco de ocitocina, e também um pouco de meus feromônios. Esse foi o teste, se você iria reagir ou não. E bem… Você reagiu. Mais do que devia. O que significa que se fosse um deus, ou a minha Psiquê, não teria toda essa coisa de libidos descontrolados que humanos tem.

— Então eu fui a porra de um rato de laboratório pra você?!

— Sinto muito por isso, mesmo.

James não sabia o que sentir. Raiva, medo, excitação, decepção… essa última era a que mais lhe afligia naquele momento depois de ouvir aquela explicação.

E isso, se batia de frente com a pergunta que bombardeava em sua mente: “Porque me sinto decepcionado? Porquê?”

— James, se você não reagisse dessa maneira, eu iria ficar muito feliz, pois a primeira vez que tive algum contato com minha Psiquê, ela não reagiu a nada, e sabe porquê? Porque não era só uma paixão ou atração por ser quem eu sou. Ela me amava. Amava a pessoa que sou. Me entende agora?

— Eu quero ficar sozinho… Saia da minha frente! — disse, sem mais saber o que dizer.

— Não posso te deixar assim, foi minha culpa! Tenho que tomar responsabilidade sobre isso!

— Sr. Payne, ele tem razão. — disse Panoptes — Você está em um… estado difícil. Então… Faça logo alguma coisa Kýrios. — Respirando fundo e se encaminhou para a porta — Não demore muito. — disse, fechando a mesma.

— Bem, vamos ao trabalho. — disse o deus, alongando seus braços e estalando as juntas dos dedos de ambas as mãos.

— O-o que você vai fazer?! Pare aí mesmo! — exclamou, ao ver o loiro indo na sua direção.

— James, se eu não tirar isso de seu corpo, você pode morrer de tanta excitaçã…

— Então que eu morra! Eu não sou o primeiro a isso mesmo!

— Eu não vou deixar! Não vou cometer esse erro! Não vou perder um outro Pista de Parca!

Caminhando com passos firmes, conseguiu pegar o rapaz entre seus braços e colocá-lo sobre um dos ombros.

— O que está fazendo?! Me solte! — gritou, se debatendo para sair dali.

— Sinto muito, mas não posso. Saiba que isso não será legal para mim também.

Com o rapaz ainda se debatendo para sair de seu ombro, jogou-o na cama, subiu rapidamente na mesma e prendeu seus pulsos pra cima, ficando entre suas pernas.

— Se tocar em mim eu acabo com você!

— Você vai me agradecer depois disso, prometo.

E como na noite anterior, seus lábios foram tomados novamente de forma brusca.

E como temia que iria acontecer, não resistiu quando sua boca se abriu quando a língua do outro lhe invadiu e se encontrou com a sua.

Estava no paraíso novamente…!

Seu corpo todo começou a queimar igual como tinha sido na outra vez, sua mente estava ficando enevoada, seu ar parecia necessitar do ar da boca do outro, tudo em si ansiava por ele.

— Por favor… Pare… — disse depois do outro libertar sua boca por uns instantes para pegar fôlego, e sem muita segurança em suas palavras, sua racionalidade cada vez mais se esvaía e perdia a batalha para o desejo ardente se alastrando em seu corpo.

— James, relaxe, será mais difícil tirar isso de você dessa maneira que está.

— Me deixe…! Eu…

Mais uma vez os lábios macios do outro se chocaram com os seus, era incrível como somente essa ação lhe deixava a beira de perder a cabeça. Era estranho, pois ao mesmo tempo em que resistia, sua outra parte, aquela que guardava seus desejos carnais, tentava lhe dominar.

O loiro era firme, segurando com força seus pulsos, mas nunca os machucando, sempre tendo todo cuidado para não ferir aquele ser frágil que ele sabia que um humano era.

— Kýrios… — gemeu, chamando seu nome entre o beijo, sua boca ansiando por mais e mais daquele contato que considerava tão íntimo quanto uma entrega de fato.

— Só mais um pouco James. Já vai acabar… Só mais um pouco… James?

O loiro se surpreendeu quando uma das mãos do rapaz conseguiu se soltar de seu aperto e desceu até sua cintura, procurando o feixe de sua calça.

E sem querer, soltou ambas as mãos para impedir o rapaz daquela ação, o que para o outro foi uma oportunidade de agarrá-lo de vez. E como se sua força estivesse descontrolada, rasgou a camisa do deus.

— James! Se controle! Não se deixe levar por essas sensações!

O olhar do rapaz ficou como da outra vez, perdidos com a visão do deus na frente dele, era como se nada mais ao seu redor importasse.

— V-você é tão… — e então puxou o rosto do outro, direcionando a boca dele para a sua.

Kýrios tentou se soltar, mas havia um magnetismo que começou a lhe puxar, a envolvê-lo. Era familiar, mas também era muito diferente.

— James! Acorde! — disse, conseguindo sair da boca do rapaz, e o sacudiu pelos ombros, mas o mesmo sorriu embriagado, e desceu sua mão para seu abdômen, não parando, e deslizou sem cerimônia para o…

O caos estava vindo, e prevendo isso, o deus fez o que não queria fazer, odiava ter que fazer isso, a não ser que fosse para um propósito mais interessante…

Um tapa no rosto do rapaz, forte o suficiente para fazê-lo recobrar a consciência.

— James! Acorda!

E foi nesse momento, muito confuso com tudo, que James voltou a si e se viu novamente numa situação vergonhosa…

O loiro estava em cima dele, ofegante, sua camisa rasgada na frente e… James tinha uma mão sua apertando por cima do tecido o membro do deus.

Um olhar, agora de ira, apareceu no rosto do rapaz.

— James, eu preciso explicar que…

Não deu tempo, quando o loiro viu, já estava no chão por conta de uma joelhada bem dada em seu estômago, que o deixou quase sem ar.

— Maldito! O-o que foi dessa vez?!

— Você… — Kýrios aspirou o ar com dificuldade — Foi… você… imbecil…

James sentia seu corpo tremer, e pior ficou quando viu que o tecido de sua calça estava o incomodando por estar comprimindo um membro bem sólido que precisava urgentemente de uma atenção apropriada.

Sua respiração estava pesada enquanto olhava para sua mão e lhe passava pela mente de que a poucos segundos atrás estava segurando um órgão, que não era o seu.

— Eu vou te matar! — disse, pulando da cama e indo direto ao deus lá no chão, que ainda se recuperava do chute certeiro do rapaz.

— Panoptes! — chamou o deus, desesperado.

— Por deuses, o que está havendo… — disse entrando às pressas -, mas que merda?!

James estava em cima do outro, puxando seus cabelos e tentando bater a cabeça do outro no chão, como se tivesse tentando quebrar um coco. Panoptes correu e por um milagre conseguiu tirar o rapaz de cima, mas não sem alguma consequência.

— Meus cabelos! Meus preciosos cabelos!

— Eu te avisei! Isso é só o começo! Vou arrancar parte por parte até você virar uma sopa de deus! — disse, tentando sair do aperto do cocheiro, mostrando também orgulhosamente as mechas cacheadas e douradas por entre seus dedos.

— Kýrios! Faça alguma coisa!

— Eu já fiz! E deu nisso! Esse aí está louco!

— Sim! Estou louco para fazê-lo de manjá para a porra de seus deuses! Panoptes, me largue! Tenho uma honra a recuperar!

— Estou vendo que não me resta outra opção a não ser ter que fazer isso.

Com um braço, tirou de seu bolso um amuleto do tamanho de uma pinça, e o direcionou na frente do rosto do moreno.

Sem querer, James olhou para aquilo, e logo seu corpo todo petrificou.

Era uma dor horrível, nunca havia sentido uma coisa tão tensa como aquela.

E como uma estátua, caiu de lado, sem movimento algum, mas como estava com os braços estendidos para frente, ficou dessa maneira entre as almofadas que haviam perto da cama.

— Panoptes! Você não devia usar isso! Vai machucá-lo! — levantou aos tropeços, indo cambaleante em direção ao rapaz, que a essa hora era somente um bloco de pedra.

— Era a única maneira!

— Transformar pessoas em pedra não é a única maneira! E onde foi que arranjou esse negócio?!

— Ganhei quando fui visitar meus parentes. Dizem que Medusa está distribuindo isso para as moças adoradoras. É uma das campanhas. Estão dizendo por aí que você está montando um exército de apaixonados para soltar a sua mãe e se vingar contra os que fizeram isso a você.

— O quê?! Como assim?! Eu? Montando exércitos? Estão pensando que sou quem? Meu pai? E porque não me falou isso antes?!

— Porque seu pai quem me pediu. Disse que você já tem problemas demais para lidar. Para te manter focado em achar logo as provas.

— Céus… deuses… — suspirou exasperado, mas também preocupado com o rapaz, já que ainda não tinha cumprido sua missão em tirar dele sua “essência” — Panoptes, eu não quero vê-lo sofrer. Desfaça isso agora!

— Não tem como. Não tenho poderes para isso. E procurar ajuda também não é uma opção no momento, estamos foragidos. O melhor a se fazer é esperar o efeito de petrificação passar.

— Pobre James… — se virou para o rapaz, que tinha uma feição de dor marmorizada. Ele sabia, com certeza o rapaz estava envolto em dor, e também, excitação. E torcia para que o mesmo não enlouquecesse até quando chegasse o fim daquele efeito.

— Vamos deitá-lo perto da lareira, assim ele ficará quentinho e não sofrerá tanto com o frio de pedra.

Sem hesitar, o deus arrastou a estátua do rapaz, deixando-o bem confortável entre outras almofadas, e ainda por cima lhe cobriu com o mais grosso cobertor.

— Será que já está bom? Vou pedir mais lençóis e cobertores.

— Não precisa exagerar. Ele já está mais que confortável. — disse o cocheiro.

Kýrios tinha colocado até as cortinas envolta do rapaz, seu coração estava apertado pela sua condição, e em parte, também se sentia culpado por ter feito aquele tal teste. Mas por ter passado por tanta coisa, tinha ficado inquieto demais, e sua mente pensava em todo tipo de coisa que poderia ter acontecido a pessoa que lhe importava.

— Vai ficar aí? — perguntou Panoptes.

— Vou.

— Kýrios, quando ele acordar, seu rosto é a última coisa que ele vai querer ver.

— Que seja. Mas vou ficar aqui. É minha responsabilidade! Tenho que desfazer isso tudo!

Panoptes deu de ombros em desistência.

— Sabe, Kýrios, não se apegue a essas coisas. Eles são passageiros.

— Quem está aqui apegado a algo? Estou preocupado e cuidando dele porque ele é essencial para encontrar minha Psiquê! Não pense coisas absurdas!

— Não estou pensando em nada absurdo, eu sei que ama a sua deusa. Ou então, eu não estaria aqui sendo o “traidor” de minha senhora.

— Me sinto culpado por isso também. Sei que aquela rancorosa é capaz de muita coisa, mas também, pudera… Aquele resto de raio não dá um segundo de paz a ela.

Os dois se entreolharam em uma compreensão mútua pelos seus respectivos problemas.

— Como está indo Tânatos? — perguntou Kýrios, se sentando ao lado da estátua de James.

— Está tendo um pouco de dificuldades em se manter disfarçado de neutralidade. Os conspiradores estão tentando lhe colocar contra a parede, mas seu pai não está deixando. Está armando guerras para manter o nosso amigo ocupado recolhendo almas.

O deus fez uma cara de reprovação, não gostava nenhum pouco de saber que humanos inocentes estavam morrendo por aquela que era assunto dos deuses.

— Bom saber que meu pai esteja fazendo algo de bom. É ruim, afinal, são vidas! Mas… Bem, é tudo um equilíbrio, não é?

— Sim… — fungou o cocheiro olhando para a janela e vendo o sol nascer — Vou pedir o café da manhã. Espero que até eu chegar tudo se mantenha tranquilo. Pode ser?

— Ei! Eu não tenho culpa se esse humano é esquentadinho e mal resolvido consigo mesmo! Se ele fosse mais mente aberta nada disso estaria acontecendo!

— Nem todo mundo é como você. Ou sua mãe. Entenda isso. Por isso há seres evoluídos, como nós, e humanos, os macacos em evolução.

— Mas são uns macaquinhos muito fofos… — Sorriu de canto, ajeitando uma coberta de seda que estava escorregando pelos braços de mármore do rapaz.

— Argh, você não tem jeito.

— O que eu posso fazer? Amo todo tipo de ser que tenha um grau da consciência do sentir.

— Ok, ok. Vou parar por aqui antes que comece seus discursos melosos de a “vida é bela”. — disse, já se virando para ir, mas o amigo deus se levantou, se pôs em sua frente e estendeu uma mão — O que foi?

— O amuleto.

— Não.

— O amuleto, aqui na minha mão agora.

— Não.

— Eu não vou te deixar em paz enquanto não me der isso, Panoptes. Não posso me arriscar. Não quero ver aquele rapaz dessa maneira novamente.

Panoptes revirou os olhos, e deu logo de uma vez o objeto na mão do amigo.

— Tanto faz. Vou pegar logo a comida.

O quarto estava uma bagunça pela confusão toda, mas Kýrios não se importava nem um pouco. Estar ali ao lado da estátua do rapaz lhe deixava um pouco mais calmo, já que estava sob suas vistas.

O crepitar das chamas era o único som que se ouvia, o que convidava aquele deus a várias reflexões, principalmente sobre seu anseio por respostas do que fez na noite anterior.

— Me perdoe James, me perdoe mesmo. — Começou, melancólico, mexendo nas brasas com o atiçador, para aumentar mais o fogo e deixar tudo mais quente e confortável para o rapaz — Estou meio cansado, sabe, e estou ultimamente com tendências a fazer besteiras tolas como essa. Espero que me compreenda. Estou nisso já faz cem anos. Para deuses, é praticamente nada. Mas para quem ama alguém, é uma eternidade. Você é humano, deve entender essas noções de tempo com mais intensidade. Então perdoe meu desespero em ter feito aquele teste.

Não havia nenhuma resposta de volta, somente um olhar zangado e ameaçador de uma estátua com os braços estendidos como se a qualquer momento fosse se mover dali para arrancar sua jugular.

Mas fora isso tudo, Kýrios observava cada detalhe da feição do jovem, e o classificava como “normal”. Não era bonito, mas também não era feio. Tinha uma certa beleza singular, assim como sua Psiquê tinha.

Claro, ela era a mais bela das mulheres naquela época, e foi por causa disso que a conheceu, quando sua mãe, Afrodite, lhe enviou para pregar uma peça cruel para “acabar” com sua vida de uma forma poética, mas o feitiço se virou contra o feiticeiro, e acabou que provou do próprio veneno, apaixonando-se por uma mortal, que logo mais se tornou o amor de sua vida, e sua deusa.

— Lhe peço, James, ou melhor, eu imploro que continue nessa busca. Eu realmente me importo com você. De todos os Pistas de Parca, você é o que mais se aproximou de mim. Acho que fui com sua cara. Eu não sei se você foi com a minha, talvez sim, costumo cativar as pessoas somente com o olhar. Ah, e mais, prometo não encostar em você como fiz ontem e hoje. Sei que foi muito errado de minha parte. Vejo agora que foi um total desrespeito…

Suspirou, se sentindo cada vez mais sonolento.

— Prometo James, prometo consertar as coisas. Mas você também tem que me ajudar não sendo um cabeça quente! Oras.

O silêncio era impiedoso, e aquele deus desejava muito ser correspondido em sua conversação, odiava falar sozinho. Sim, odiava. Ele também tinha esse aspecto mesmo sendo o deus que era.

— Vou dormir aqui um pouco, está bem? Acho que nós dois precisamos realmente descansar. Mas não vá se acostumando. Pois temos muito trabalho pela frente. – disse, deitando-se ao lado da estátua e fechando os olhos para cochilar um pouco e se acalmar dos ânimos aflorados de minutos atrás.

Mas antes de cair no sono, sentiu um pequeno bater irregular de seu coração que o fez se sentar subitamente pelo susto de sentir.

— O que foi isso?! — perguntou-se, esperando a batida forte acontecer novamente, mas nada aconteceu por um longo momento.

Olhou para os lados tentando encontrar qualquer vestígio de algo sobrenatural ou mágico que estivesse por ali para cercá-lo em uma armadilha, mas nada e nem uma menção de encanto ou qualquer feitiço tinha por ali.

Então desistiu, deitando-se mais perto da estátua fria do rapaz, ficando entristecido e pensativo pela situação embaraçosa em que colocou o moreno.

…

…

…

Um olhar, uma sombra, observando o vulnerável, mas ainda sem forças para fazer algo.

O tempo não lhe deixava agir. Mas o tempo se enfraquecia a cada segundo naquela ampulheta guardada pelas Parcas.

Havia uma luminosidade muito bonita, variava entre tons de azul e lilás.

Vários fios rubi estavam arrebentados e sem vida, mas havia dois, os únicos, que ainda seguravam e mantinham-se pulsando como veias que se alimentavam daquele objeto, que no lugar de areia havia uma essência que levemente caía, outas horas com intensidade, e outras não passava de um fio de cabelo muito fino.

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Capítulo 11
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Missão Ágape

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O Olimpo está em crise, e tudo porque de repente uma profecia disse que um deus iria dizimar o seu sistema e tudo que eles lutaram para conquistar e poderem estar no poder até hoje.

E é...

Chapters

  • Capítulo 47 Proemial
  • Capítulo 46 Alto Mar
  • Capítulo 45 Anelos
  • Capítulo 44 Verdades da Alma
  • Capítulo 43 Premências Difíceis
  • Capítulo 42 Enraizados
  • Capítulo 41 Chaves Sinceras
  • Capítulo 40 Presença
  • Capítulo 39 Luz Misteriosa
  • Capítulo 38 Possibilidades
  • Capítulo 37 Espólios
  • Capítulo 36 Fogo
  • Capítulo 35 Visitas Indesejadas
  • Capítulo 34 Penalidades
  • Capítulo 33 Mais, ou Menos
  • Capítulo 32 Temerário
  • Capítulo 31 Serviços Extras
  • Capítulo 30 Zelus
  • Capítulo 29 Magnetismo
  • Capítulo 28 Despertando
  • Capítulo 27 Sem Céu para Inocentes
  • Capítulo 26 Entre Mortais
  • Capítulo 25 Nuances
  • Capítulo 24 Céu de Luzes
  • Capítulo 23 Sobreposição (parte 2)
  • Capítulo 22 Sobreposição (parte 1)
  • Capítulo 21 Café Quente
  • Capítulo 20 Conselhos
  • Capítulo 19 Muros em Chamas (parte 3)
  • Capítulo 18 Muros em Chamas (parte 2)
  • Capítulo 17 Muros em Chamas (parte 1)
  • Capítulo 16 Cem Olhos
  • Capítulo 15 Nobre Amizade
  • Capítulo 14 Impulsos
  • Capítulo 13 Abaixo da Superfície
  • Capítulo 12 Fim de Festa
  • Capítulo 11 Fagulhas
  • Capítulo 10 Noite de Cores
  • Capítulo 9 Sopa de Ossos
  • Capítulo 8 Saindo do Ninho
  • Capítulo 7 Dádivas
  • Capítulo 6 Reunião Cancelada
  • Capítulo 5 Sonhos?
  • Capítulo 4 Empecilhos
  • Capítulo 3 Efúgio
  • Capítulo 2 Bençãos á Vista
  • Capítulo 1 Sem Opção
  • Capítulo 0 Prólogo dos Contratempos do Amor

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