Capítulo 12
A casa estava toda colorida, era uma festividade, uma das muitas que acontecia ali naquela mansão.
E dessa vez quem estava comandando a festa era Dionísio, que havia pedido para os senhores daquela mansão para que o local fosse usado para apresentar sua mais nova coleção de vinhos que conseguiu criar para depois espalhar para a humanidade apreciar.
— Hm, este aqui é mais… doce. Gostei. Me lembra de minha amada e bela deusa. — disse o loiro, bebendo um gole enquanto sua esposa conversava com as ninfas que hora ou outra lançavam olhares para o deus do vinho.
— Sabia que iria gostar. Fiz especialmente para ela.
— Porque? — perguntou, com uma pitada de incômodo no peito, afinal, sabia da fama daquele deus, e sabia muito bem que ele tinha seus caprichos mesquinhos.
— Não se abale, amigo. Não vou roubá-la de você. O que eu quis dizer foi que me lembrei da última vez em que ela esteve no Olimpo, contrariando a tudo e a todos. Uma humana, virando deusa, foi bem… como posso dizer… ah, emocionante. E me inspirei nessa ousadia ao criar esse vinho. Quero que os humanos sintam esse sentimento encorajador a cada gole que derem dessa receita.
— Ah sim, entendi. Bom, se é assim, então obrigado pela homenagem. Vou chamá-la para que ela possa parabenizá-lo.
Quando já ia chamar a deusa, a mesma se encurvou, sentindo-se tonta, e o deus, seu amado, foi ao seu auxilio.
— Psiquê?! O que houve?
— Eu não sei… De repente me senti enjoada e… — A mesma arregalou os olhos para o loiro, que já estava sorrindo muito feliz para a mesma — Será?
— Não tenho dúvidas! — disse e se virou para todos, com um sorriso largo de felicidade estampada no rosto — Por favor, um minuto da atenção de todos!
Os músicos pararam de tocar, todo mundo parou o que fazia para dar atenção ao casal dono daquele lar, seus olhares curiosos, e os sussurros já criando teorias sobre o que poderia ser aquela interrupção.
— E#$%, ainda é muito cedo! Não é melhor esperarmos, chamarmos um curandeiro para verificar?
— É claro que não! É mais do que já certo! Tenho certeza disso! Não acredito que vou ser papai pela quarta vez! — sussurrou muito entusiasmado — Além do mais, nossos trigêmeos vão adorar ter mais um irmão, ou dois, ou quem sabe três de novo!
— Estou ficando muito curioso, o que tanto dizem? — perguntou Dionísio, sendo servido por uma ninfa.
Ambos o casal de deuses se entreolhou, se comunicando e decidindo se iam ou não contar agora.
Mas dada a animação daquele loiro, Psiquê não poderia deixar de comover-se, então lhe fez um sinal positivo num acenar sutil de cabeça.
— Vou ser pai novamente! — anunciou o deus, sem hesitar após a aprovação da esposa.
Todos no salão bateram palmas, assoviaram, a música começou a tocar novamente e tudo voltou a ficar festivo, até mais que antes.
— Meus parabéns, E#$%, estou muito surpreso. De verdade. — Parabenizou o deus do vinho — Que pena que sua mãe não esteja aqui para comemorar a notícia de mais um neto para ela.
O deus do amor ficou um pouco cabisbaixo, sua esposa o consolou lhe dando um beijo na bochecha, e o mesmo pegou sua mão e lhe beijou a costa da mesma.
— Uma hora ela vai saber de qualquer maneira. Mamãe é muito ocupada, sabe como é o Olimpo.
— Ah é verdade. Um caos diário…. — Dionísio revirou os olhos, e bebeu todo o vinho da taça de uma vez só como se quisesse ficar logo embriagado para esquecer do “trabalho”.
Havia um motivo para a deusa da beleza e também do amor não estar ali, e não era excesso e trabalho. O real motivo era que ela ainda não aceitava a tal humana que era considerada a mais bela entre os mortais, ainda se sentia enciumada com isso, e depois que Psiquê virou uma deusa, ficou ainda mais distante, temendo que a moça fosse tomar seu lugar.
Mas Psiquê tinha outros objetivos, para ela, que a vida toda foi julgada por sua aparência, não queria saber de coisas fúteis como brigar para ver quem seria mais bonito ou qualquer coisa do tipo. Seu fascínio estava na mente e na alma das pessoas, de saber e conhecer como cada uma era, o que guardavam, o que ansiavam… Era uma verdadeira entusiasta do universo que cada um tinha dentro de si. E por conta disso, ganhou o título de deusa da alma.
Mas mesmo assim não acalmou os ânimos e receios da mãe de seu esposo…
Estar naquela festa lhe fazia muito feliz. Estava com a pessoa que amava, tinha a vida que pensava nunca ter por conta da profecia, seus pais estavam agora muito orgulhos lá no Campos Elísios…
É, essa era a desvantagem para quem era um imortal, ver pessoas queridas perderem contra o tempo…, mas pelo menos sabia que havia alguém que cuidou muito bem para que fossem bem guiados e não sofressem muito com a partida.
E além disso, havia o fato de ter seus receios sobre muitas coisas que já soube sendo uma deusa da alma… Coisas que ela não gostaria de saber. Principalmente sobre seu amado.
— Hm, Tânatos poderia estar aqui. — disse Psiquê, de repente se lembrando do amigo.
— Tânatos? Você sabe que ele odeia festas. E além do mais, seria bem engraçado ele estar aqui celebrando uma vida. — O deus ao seu lado riu breve, mas gostava da ideia de ter o deus da morte ali contrariando a sua natureza.
Adorava os polos que a vida tinha, e adorava trespassá-los, quebrar regras… Tinha descoberto isso ao conhecer a mortal de impecável beleza, não só por fora, mas também por dentro.
Mas também havia aquele outro lado impertinente que lhe deixava um com um gosto de que havia alguma coisa pontiaguda e finíssima lhe cutucando no peito, sabia que era ruim, mas era algo difícil de discernir o que era.
Afinal… Estava com a pessoa mais perfeita aos seus olhos, que conseguiu capturar seu coração, então porque este sentimento?
— E#$%, pode parar com isso.
— O que disse?
— Estou sentindo sinais incômodos vindos de você. Já conversamos sobre isso. — disse Psiquê, pegando uma taça de ambrosia, já que agora não poderia beber néctar.
Era uma deusa, podia tudo que quisesse fazer, mas os hábitos humanos nunca lhe deixavam…
— Oh, me desculpe, eu não queria…, Mas é que…
— E#$%, eu te amo. E se for o caso de ter que te lembrar isso de hora em hora, farei.
— Como pode ser tão romântica sendo que eu é que sou o deus disso? Hm, está querendo roubar também meu trabalho? Já não bastou roubar meu coração?
Psiquê riu diante a fala altamente melosa e clichê de seu esposo, ele sabia que ela não achava elegante, mas gostava do fato dele brincar com isso para entretê-la, ou para somente fazê-la sorrir para ele.
Essa era a vida daqueles dois. Um amor sem sim. Uma felicidade sem tamanho que deixava Hera muito irritada por não ter uma relação igual à que aqueles dois tinham.
Claro, não era perfeita, as vezes tinham algumas farpas, mas que nunca terminavam em finais infelizes.
— Não. Nunca é o suficiente para mim. Aliás… Que tal deixarmos esse evento para que eu possa roubar mais coisas de meu amado? — perguntou, dando um sutil olhar malicioso para o deus, que não precisou de mais nenhum sinal para entender o que a deusa queria agora.
— Espero que estejam se deleitando! — disse ele, já ansioso para tê-la em seus braços —Agradeço demais por terem vindo! E Dio, a festa é toda sua. — Lhe deu uma piscadela e o deus do vinho entendeu sua deixa.
— Ah claro, que o vinhedo continue sempre fértil! Que venham mais boas safras! Hm… Estou parecendo Deméter…, mas tudo bem. Que continuemos com as festanças!
Todos no salão aplaudiram, e essa foi a chance para os dois amantes saírem daquele salão e irem direto para seus aposentos.
•
O som da música animada ainda tocava no cômodo abaixo, mas aquilo não atrapalhava nem um pouco aquele casal em sua comemoração particular…
A deusa estava entre as almofadas, nua, seu corpo se contorcia a cada vez que o seu marido lhe tocava com seus lábios em sua intimidade, o mesmo não parava até que ela conseguisse chegar em seu ápice, e por mais que isso fosse difícil por ele gostar de sempre parar quando sentia que ela ia estremecer-se, Psiquê amava toda essa provocação que acabava em seu mais intenso deleite.
— Ah…! M-mais…! Aaah…
— Hm… Sim meu amor… Terá mais… — disse, afastando mais suas pernas e mergulhando seu rosto entre elas, fazendo um encontro de seus lábios com aquela úmida e corada parte pelas tantas sucções que havia lhe feito.
Agarrando o lençol de algodão, a deusa se preparou para a erupção que seu corpo era privado a um bom tempo. Seu quadril se mexia como se tivesse ganhado vida própria, e cada parte que o deus lhe tocava com suas mãos, formigava com o calor da excitação que ele propositalmente lhe passava com a ponta dos dedos.
— Eu vou… Estou quase…
— Venha Psiquê… Vou te dar o alívio que tanto precisa agora, prometo não me demorar mais…
— Será que posso acredit… Ah! — sua fala foi cortada quando o loiro lhe sugou bem em seu preciso botão, lambendo com a ponta da língua em seguida bem lentamente, era como se ele estivesse deliciando-se de uma fruta suculenta até não deixar nenhuma gota para trás.
E esse foi o estopim…
O corpo da deusa estremeceu-se por inteiro, agarrando os cachos do marido, que continuava lhe dando prazer enquanto percebia a mesma se contorcer naquela perdição que era os lábios dele.
Os gemidos eram o que o motivava a seguir em frente até o fim.
Até que os espasmos chegassem ao relaxamento…
— Por todos os deuses… Porque não me canso de vê-la assim? — perguntou-se o loiro, sorrindo orgulhoso de ter saciado a sua esposa pela terceira vez.
Psiquê lhe deu um sinal com um gesto de mão lhe chamando, e prontamente ele subiu, mas ainda se mantendo entre suas pernas.
— Acho que está na hora de sua recompensa… — disse adentrando sua mão sem seus cachos dourados, e mordeu os lábios, puxando a boca do outro para a sua.
O beijo tinha gosto de seu corpo, mas também do doce que naturalmente o deus do amor tinha em seus lábios. Ela se lembrava da vez em que os dois tinham se beijado pela primeira vez, e tinha se surpreendido que um ser como ele podia ter aquele gosto e beijar daquela maneira.
Mesmo ele tendo lhe falado que ela tinha sido sua primeira.
E assim aqueles dois amantes se uniram, ele adentrava e saía com grande paixão, sempre lhe beijando onde podia, apertava de leve seus seios de bicos endurecidos pelo desejo do momento. Os sons luxuriosos eram harmônicos… Um se encaixava no outro em uma bela melodia de luxuria.
A festa tinha acabado lá pela madrugada no horário dos deuses é claro, e a entrega dos dois tinha terminado um pouco depois, perto do amanhecer.
De repente, a barriga da deusa roncou. E ambos riram breve daquilo.
— Vou trazer algo para nós. — disse o loiro, beijando sua testa e já se sentando na cama, mas a deusa lhe impediu, puxando-o para ficar deitado novamente ao seu lado.
— Não. Fique mais um pouco. O sol já está nascendo. Quero vê-lo junto com você.
— Hm, você sabe que não gosto muito do sol, não sabe?
— Pare de ser ciumento. Apolo não faz meu tipo. Nem Hélio. — Sorriu, dando um curto selar nos lábios do outro.
— Gostava quando era somente este segundo, mas já que os dois entraram nesse consenso… Vamos parar de falar neles. — disse, puxando a deusa para repousa sua cabeça em seu peito — Vamos falar de nomes.
— Nomes?
— É. Para nosso bebezinho. Ou bebezinha. Ou bebezinhos e bebezinhas.
Psiquê riu, e respirou fundo muito feliz, mas logo em seguida, sem que o outro visse seus olhos, ficou um pouco entristecida.
— Ainda é muito cedo para isso, seu ansioso.
— Para quê deixar para depois o que podemos fazer agora?
— Hm, melhor não. Ainda não sabemos que tipo de divindade ele ou ela será.
— Ah por favor! Não posso esperar nove meses para isso!
— Está bem, está bem… Vejamos… Que tal… Angelos? Ou… Ah! Kroneros!
— Angelos? Kroneros? Que tipo de nomes são esses? Eu já ouvi milhares, mas estes eu realmente nunca os ouvi.
— Sei lá. Eu só… Imaginei agora pouco.
— Gostei de Kroneros. Pode me dizer qual o signicado?
— Acho que você já sabe. — A mesma sorriu e levantou sua cabeça para lhe dar um outro selar, mas desta vez mais longo — Que nosso amor dure por muitos, e muitos tempos.
— Sim, se depender de mim, por toda nossa longa eternidade. — Sussurrou como se quisesse que só eles ouvissem, mesmo que não tivesse ninguém ali além dos dois.
Quando ambos iam se beijar novamente, uma agitação se iniciou no andar debaixo, deixando os dois curiosos.
— Pensei que Dionísio já tinha ido embora.
— Pode ser que esteja caído de tanto beber seus próprios vinhos. E deve ter acordado pensando que foi raptado. — disse Psiquê, rindo pela ideia.
— Hm, então é melhor irmos logo orientá-lo de que está em nossa casa e em segurança antes que comece uma confusão. — Sorriu, e quando mais uma vez tentou beijar sua esposa, aconteceu um estrondo muito forte que estremeceu todo a mansão, assustando os dois que logo se levantaram da cama às pressas, colocando o mais rápido possível suas vestes.
Ao chegarem no andar debaixo, viram Dionísio com mãos erguidas lançando uma nuvem cor vinho para a entrada da mansão, que estava sendo atacada por raios e a àquela hora já se encontrava em algumas partes quase como carvões em brasa.
— O que está acontecendo?! — perguntou o deus do amor.
— Eu estava em meu belo sono, quando do nada Zeus chegou aqui dessa maneira! Não sei o que está acontecendo, mas ele está furioso!
— Furioso?
Mais um raio foi lançado na porta, e logo a mesma se desfez completamente.
— Fiquem atrás de mim! — disse Dionísio para todos, até algumas ninfas que estavam atrás do balcão se encolheram onde estavam.
E quando mais um raio foi lançado, dispersou a barreira de vindo que o deus fazia, fazendo com que o mesmo fizesse outro, mas agora ao redor dele e de seus amigos.
E pela entrada toda destruída, Zeus apareceu com raio ainda ativo na mão, procurando com o olhar feroz até parar onde Dionísio estava.
— Entregue-os para mim, agora!
— Lorde Zeus, o que está havendo?
— Não proteja esses traidores! Entregue-os para mim agora!
Psiquê e seu amado se entreolharam confusos, e a deusa deu um sinal para o amigo deus do vinho abaixar a barreira.
— Pelo que estamos sendo acusados de traição? — perguntou a deusa, se pondo em uma postura diplomática, pois já pensava numa maneira de sair daquela situação.
— Conspiração. Toda essa família e todos que estão ligados a ela, serão julgados e punidos!
— Lord Zeus! — se intrometeu o loiro — Eu peço perdão de antemão pela interrupção, mas, será que não está se equivocando?
Aquela fala irritou ainda mais o rei dos deuses, que lançou um raio perto do balcão das ninfas, que correram todas para todas as direções procurando se protegerem como podiam.
— É claro, o sangue não nega. Por isso que sua mãe já está numa cela, mas sei que seus herdeiros ainda podem fazer seu trabalho.
— Minha mãe?! Lorde Zeus, por favor, imploro, nos explique o porquê disso?!
— Lorde Zeus, nós realmente não sabemos! — inquiriu Psiquê, e o rei dos deuses lhe sorriu irônico.
— Em pensar que deixei uma humana acender… Minha compaixão foi traída. Como era de se esperar. E você — apontou para o deus do amor — Por isso me importunou tão veemente por ela. Mas a justiça logo será feita.
— Lorde Zeus! Isso tudo é um engano! Que dizer, porque qual motivo iriamos conspirar contra Vossa Majestade?! Não faz sentido!
— Silêncio! Mais uma palavra, e todo esse lugar será posto abaixo neste exato momento!
— Lorde Zeus, se me permite. — Se intrometeu Dionísio — Estive aqui nessa mansão a noite toda, e não vi nenhuma vez alguém ou algo conspiratório, ou qualquer ato de traição.
— Como o conheço bem, sei que passou metade de sua farra caído em inconsciência embriagada. — Retrucou Zeus.
O deus do vinho e o casal que estava atrás dele se entreolharam tensos.
— Tentei pessoal. – Sussurrou o deu do vinho, lhes dando um olhar pesaroso.
— Entreguem-se agora, ou suas punições serão piores!
Psiquê e seu amado olharam entre si como se estivessem combinando algo, o deus do amor lhe balançava a cabeça em negativa, apreensivo, com o coração apertado pela decisão da esposa.
— Psiquê… por favor, isso não é o melhor caminho! — sussurrou.
— Confie em mim. Este é o melhor que podemos fazer por hora até tudo se resolver. Não faça nenhuma besteira. — disse a deusa, saindo detrás do deus do vinho e se pondo a frente, saindo da barreira de proteção e ficando cara a cara com Zeus.
— Psiquê! — lhe chamou o loiro, mas a mesma ergueu uma mão em sinal para ele se acalmá-lo.
— Seja o que for, meu lorde, farei o que puder para provar a minha inocência e a de todos os que foram acusados de estarem envolvidos. E como prova de minha lealdade, eu e toda essa família iremos a julgamento, como o senhor ordena.
— Muito inteligente de sua parte, mas isso não significa que algum sangue não será derramado.
— Se for preciso sangue, também daremos. A verdade prevalecerá, mesmo que doa. — Rebateu Psiquê.
As falas da deusa eram firmes, concisas e verdadeiras, e mesmo que o rei dos deuses estivesse em sua total fúria, se conteve por conta da alta energia que a mesma emanava, e resolveu ter cautela diante disso.
Com um gesto de mão, Zeus envolveu os tornozelos e pulsos da deusa em um grilhão feito de raios, fazendo a mesma cair por conta da dor que esses apetrechos causavam.
O deus do amor correu até a mesma, mas caiu no meio do caminho pelo mesmo motivo, ficando a longos passos distante dela.
— Psiquê!
— Nós vamos resolver isso, estou bem. — Lhe sorriu em meio a dor, tentando passar confiança ao seu amado.
— Lorde Zeus, pai, isso é um ato muito exagerado! — disse Dionísio, e o rei dos deuses lhe mirou com seriedade. E então caiu também, arregalando os olhos em surpresa — Lorde Zeus!
— Quem estiver ao lado dos traidores, sofrerá junto. — disse, sumindo como um raio. E no lugar dele, vários guardas reais adentraram a mansão, prendendo à todas ninfas e serviçais que haviam por ali.
— Psiquê! Não! Não façam isso! Ela não pode ser tratada dessa maneira! — disse o deus do amor que se debatia mesmo que enfraquecido pelos grilhões, mas para proteger a sua amada, tentava ao máximo impedir que empurrassem ou arrastassem a deusa daquele jeito — Dio! Por favor, nos ajude!
— Sinto muito… Estou na mesma situação que vocês… acho que meu pai enlouqueceu.
— Temos que fazer alguma coisa! Não posso deixar minha família ser desonrada dessa maneira! — disse o loiro, sendo arrastado para fora.
•
Angustia, era o que sentia. Tudo era embolado, tudo era confuso, mas uma coisa ele tinha consciência: de que nada daquilo era com ele, de que tudo era alguma alucinação, de que tudo era somente… uma lembrança. E das péssimas.
James se sentia dentro de um vazio que parecia dispersar seu corpo, e isso doía, havia muito frio, solidão e tristeza.
Até que, no meio disso tudo, em meio a um total breu, sentiu ser puxado por uma mão delicada, mas firme em sua ação.
Suas costas doeram ao se deparar com um chão de mármore com detalhes dourados, haviam grades, mas as mesmas eram feitas de raios suaves quase transparentes. Ao tentar sair, levou um tremendo choque, que o empurrou contra a parede do fundo daquela cela.
— Porra… Que merda foi essa?
— É o poder de Zeus. — respondeu uma voz suave.
James se assustou, e se arrastou para longe ao ver uma figura feminina um tanto pálida, parecia um fantasma.
— Eu… te conheço. Sei quem você é!
— É claro que sabe. — A mesma sorriu, e se levantou do banco, que era feito do mesmo material do chão — Então agora é James. — Sorriu mais uma vez, mas agora, com um olhar triste.
— Você é Psiquê. É, uma deusa. Olha, já que estou aqui falando com você, pode me dizer onde se encontra? Há um certo maluco te procurando, e tá arruinando minha vida.
— Eu gostaria muito de dizer. Mas não posso. Porque eu realmente não sei.
James respirou fundo em cansaço.
— Confiscaram de você essa informação também? Assim como fizeram com o nome verdadeiro do Kýrios?
A deusa arqueou uma sobrancelha, e riu brevemente.
— Ele é tão sentimental… Kýrios… É um lindo nome também. Não acha?
— É, é bonito. Mas não é bonito o que… — James se interrompeu, pois quase ia dizer sobre o beijo e a quase loucura que fez com aquele loiro, e falar isso para a mulher dele… — Ele é um louco! É isso!
Psiquê se levantou e se aproximou do rapaz ali no chão, o surpreendendo quando pousou em sua testa um beijo carinhoso, fazendo o rapaz arregalar os olhos confuso.
— Por favor, não o abandone. Ele precisa muito de você. Precisa de mim. De nós. Esteja ao lado dele, não importa o que for. Ele vai precisar muito de apoio quando chegar ao destino certo.
— Ele não precisa de mim. Eu sei disso. Já ouve muitos outros antes de mim.
— Outros? Quantos?
— Eu não sei, talvez uns dez, ou sete. A única coisa que sei é que faz bastante tempo já desde que você sumiu.
A deusa se sentou ao lado dele, e começou a chorar. Mas o mais estranho foi que ele mesmo começou a sentir uma grande angustia em seu peito, lhe fazendo ter uma dor que o fez começar a derramar suas lágrimas também.
— Tente entendê-lo, por favor James. E esteja por ele quando chegar a hora em que descobrir tudo. Promete para mim?
— Porque diz isso?
— Já deve saber que eu consegui reunir provas de nossa inocência. E por conta disso… Me perdi. Me lembro de toda nossa vida juntos, dessa acusação injusta, e de nosso futuro. — A deusa colocou uma mão em sua barriga, sorrindo ao acarinhar aquela região.
E mais uma vez, como se ela tivesse usando algum poder de empatia sobre ele, James sentiu um calor vindo do mesmo lugar que ela acarinhava, não tinha nada malicioso, o sentimento era o de grande contentamento, orgulho e amor por aquele brotinho que a deusa parecia querer compartilhar dos sentimentos com aquele rapaz.
— Vocês vão ter um filho…
— Sim, não… não sei também. Tudo está tão confuso. Consegue sentir isso?
— Sinto. Isso é porque estou no mesmo lugar que você? Porque você está me influenciando a poder sentir também?
— Influência? Hm… sim, de certa forma sim. Mas saiba que essa é sua vida, é como é agora. E creio que… Uma hora ele vai saber disso. E você tem que estar ao seu lado. Ele vai precisar de seu apoio. Temos que nos manter unidos. Família e amor são importantes, não abandone isso jamais.
Era até irônico o rapaz ter que ouvir isso, já que tudo o que a deusa lhe disse, tinha feito o contrário.
Tinha abandonado sua família, amigos, alguns amores… mas este último não lhe importava tanto. E trocou tudo isso pela liberdade, pela sua própria felicidade e egoísmo.
Ouvir aquelas palavras o fez se questionar se havia feito o certo quando aceitou ir com Kýrios nessa busca.
— Tudo bem. Sei que agora tem novos problemas, é a vida, cada uma tem um problema, uma missão, uma situação para podermos resolver. Então não se sinta culpado. Não deixe nenhuma culpa te paralisar. Está me entendendo James?
— Sim, estou. Mas ao mesmo tempo… Fico tendo a impressão de que não. Estou entendendo o que me diz, mas…
— Somente ouça seu coração. — Sorriu para rapaz pondo uma mão em seu rosto — Sabia que ele gosta de olhos dessa cor? Essa foi uma das primeiras coisas que ele me disse quando me viu pela primeira vez.
— Mas, os meus são verdes. Os seus são…
— Tem certeza de que são verdes?
A deusa apontou para um espelho que de repente apareceu ali na parede a frente de onde ficava o banco de mármore, e logo James correu para ver algo que a loira parecia querer que ele visse.
E lá estava, no fundo de seus orbes esmeraldas, uma tonalidade dourada com riscos marrons, e todas elas lembravam a flechas que pareciam ir de encontro ao centro, procurando por algo.
— Meus… olhos…
— São bonitos, não são? Ficam assim sempre quando me impressiono ou me entusiasmo com algo. Sentimentos felizes. Kýrios adora ver isso, porque segundo ele… — a deusa pôs uma mão em sua têmpora, franzindo o cenho, se forçando a se lembrar, mas sem sucesso — Pergunte a ele. — Sorriu, enxugando os olhos, e voltando a sua serenidade de antes.
— Perguntar? Melhor não… Já basta… — novamente quase deixou escapar, mas se conteve.
A deusa riu com seu jeito sem graça.
— James, está tudo bem.
— O que está tudo bem? — perguntou, ficando nervoso, temendo que a loira tivesse descoberto algo ao invadir de alguma forma a sua mente.
— Porque acha que estou lhe dizendo para que fique ao seu lado? — arqueou uma sobrancelha, e sorriu de canto com um ar de malícia. James arregalou os olhos e corou, empalideceu, e corou novamente.
— Ah não… Mas não mesmo! Sem chance! Primeiro ele… agora você?! Peço perdão, senhora deusa, mas tenho que lhe dizer que…
— James, está tudo bem.
— Não! Não está nada bem! Você tem que entender que eu…
— Você gostou do beijo dele?
James retesou o corpo e deu um passo para trás.
— É claro que não gostei! Odiei! Tudo que senti foi porque ele é um deus, e como deus, soltou em mim a coisa de seu poder! Porque se ele não fosse um deus e fizesse isso comigo eu iria…
— Direto para sua cama? — brincou a deusa.
— Não!!! — gritou, adentrando suas mãos em seus próprios cabelos como se estivesse prestes a arrancá-los — Será que tenho que gritar, implorar, ou seja lá que merda que tenho que fazer para ter que dizer que eu sou um homem?! Sou, um, homem! Kýrios também é! Insinuar isso sobre mim é um absurdo!
— Sim, muito absurdo. — O rosto da deusa, que antes estava um tanto tristonho, agora se continha para não rir.
— Será que só eu estou pensando aqui? Psiquê, ele te ama! Você é a mulher dele! Está esperando um filho dele! Ele está movendo deuses e mundos para te encontrar! Como pode estar tão calma com tudo isso? Você deveria era me punir! Porque no fim das contas, estou como um… como um… amante! E pior! Um amante e um afemina…
— Então está admitindo que é um amante dele?
— Nãão! — gritou, levantando-se, e caminhando para lá e pra cá, muito nervoso com a situação — Vocês dois se merecem! São dois loucos!
A deusa também se levantou, e foi até o mesmo, pondo uma mão em cada ombro dele.
— Um dia você entenderá. E ele também mesmo que não goste. É por isso que peço que quando esse dia chegar, esteja ao seu lado. Explique tudo, não deixe nada guardado aqui. — Apontou para seu coração — Pode me prometer isso, James Payne?
— Isso é algum tipo de passe livre? Sou um prêmio de consolação que tenho que “servi-lo” enquanto sua esposa não está?
Psiquê não aguentou o riso.
— Ele ama sorrir. E estou vendo que ele vai continuar sorrindo. Tenho que confessar que estou triste ainda, por ele, mas também feliz que finalmente estou podendo ter essa conversa com um Pista de Parca dessa maneira. Que bom que esclarecemos tudo. E que bom que ainda continuo assim.
James também percebeu isso, que ele e a deusa eram parecidos nisso, na sinceridade.
Será que era por isso que Kýrios…
Bom, ele não queria pensar nisso, e muito menos criar alguma teoria sobre ele e… o loiro. Isso estava fora e cogitação.
De forma repentina, um outro espaço que refletia sua imagem apareceu, mas agora na parede do fundo da cela.
— Está na hora de você voltar.
— Nós nos veremos de novo?
— Por mim tudo bem. Vou estar aqui sempre mesmo. Ou… não sei ao certo. Há muita coisa confusa para mim agora. Mas creio que uma hora terá que seguir um caminho sem mim.
— Porquê?
A deusa lhe abraçou de surpresa e beijou sua testa novamente.
— Não se exija tanto. Você é um bom rapaz. Não está fazendo nada de errado. Aproveite mais a vida. E lembre-se do que te falei.
— Ah, sim, ok, tenho que apoiar aquele imbecil.
— Exatamente! Quer dizer, menos a parte do imbecil. — Riu breve balançando a cabeça em negativa.
James então começou a ver que a deusa ficava cada vez mais transparente, como se sua existência estivesse se dispersando.
— O que está havendo?! Psiquê?!
— Seja rápido. Não demore tanto.
— Isso quer dizer que se não nos apressarmos… Você vai…
— Não pense muito, tente segui seu coração! — disse, tentando ficar em pé, mas caiu sobre seus joelhos, enfraquecida.
James tentou pegá-la a tempo, mas suas mãos passaram por ela como se fosse fumaça, e quando olhou para suas próprias mãos, viu ambas da mesma maneira.
— Estou sumindo!
— Está chegando sua hora, e terminando a minha.
— Não! Você não pode morrer!
— Eu não vou morrer. — Sorriu, fechando os olhos, dispersando-se completamente no ar.
James ficou assustado, seu corpo também se desfazia igual ao da deusa, e havia um frio paralisante que tomava de conta de cada parte de seu corpo, era uma sensação muito ruim.
O lugar também começou a se desfazer, as grades eletrizadas de Zeus também se desfizeram, e o instinto do rapaz foi de correr logo dali e escapar daquela cela antes que a mesma lhe engolisse junto.
Mas seu esforço foi em vão, pois várias mãos sombrias e pálidas das mais variadas cores e formas humanas lhe puxaram, e ele, não conseguiu escapar.
Com um longo suspiro desesperado, James se sentou. Tocou em seu corpo, e respirou fundo muito aliviado ao ver que estava inteiro, e sem aquelas mãos ao redor de si. Sua respiração era irregular, estava suando frio mesmo que estivesse num local quente.
— Que porra é… essa?! — sussurrou para si mesmo ao ver que estava nu, coberto até a cintura com muitos lençóis, e ao seu lado… um homem muito bonito de cabelos dourados e cacheados dormia, com seu braço lhe abraçando pela cintura.
E como havia se levantado, o antebraço do loiro estava caído bem em cima de seu… membro.
Como se o outro fosse um cacto, se afastou tão rápido que acabou caindo da cama causando um estrondo fosco no piso atapetado.
Seu corpo tremia um pouco, sua respiração ainda continuava irregular, mas não era por conta daqueles sintomas de antes quando foi beijado por aquele deus e ficado com aqueles sentimentos todos.
Suas reações eram por algo que não sabia, não conseguia distinguir se era medo ou entusiasmo, só sabia que se sentia muito disposto, como se tivesse tomado várias xícaras de café.
Seu olhar foi para o deus lá no colchão, e o mesmo se matinha ainda desacordado mesmo depois do barulho que fez na queda. Agradeceu mentalmente por isso.
Se levantando, olhou logo ao redor e tratou de procurar por suas roupas.
Claro, em sua mente logo apareceu um pensamento ruim de que algo tivesse acontecido, e olhou para si mesmo no espelho, vendo logo que nada estava fora do normal em seu corpo, a não ser seu suor excessivo.
Não havia marcas roxas, arranhões ou qualquer sinal de algo inapropriado. Nada.
Com suas roupas em mãos, apertou-as contra seu peito, sentindo vontade de chorar de repente.
E toda aquela conversa que teve com uma certa mulher muito gentil apareceu em sua mente como uma pedra arremessada contra a água.
Uma grande tontura lhe abateu, fazendo-o ter que se recostar na parede.
— Meu Deus… Em que fui me meter!
Olhou de novo pro colchão, a cama de seu quarto que havia alugado naquele hotel, e lá estava aquele que foi o principal assunto na conversa que teve com a deusa.
“Não o abandone. Apoie ele. Fique ao seu lado.”
— Merda…! — sussurrou entredentes, irritado com isso, pois sabia que não podia negar um pedido de alguém que se encontrava perdido e parecendo muito esperançoso para ser logo encontrado — Ok! Vou ajudá-lo. Mas será do meu jeito! Não vou ser “dama de companhia” de ninguém! Não sou uma meretriz! Droga! Isso é uma grande merda!
Estava surtando, mas tentava se acalmar, aquele encontro com Psiquê tinha colocado um ponto de escolha, um definitivo “contrato” em que ele se viu obrigado a ter que resolver tudo isso logo para todo mundo ter seu final feliz de uma vez por todas.
— Ok James Payne, fique calmo. É só uma ajuda. É você quem está no controle. Todos dependem de você. É você quem manda! Então, trate de mexer essa bunda e mostrar do que pode ser capaz. E adeus mundo e loucos! Isso! Bom plano!
Organizando suas ideias, correu para trás do biombo, onde uma tina cheia e água que ainda nem tinha sido tocada desde que tinha ido para aquela festa com o deus.
O banho foi longo, pois o tempo todo se perdia em devaneios por conta do encontro com a deusa. Era muito estranho sua reação diante dela. Qualquer um que visse uma divindade como ela com certeza iria desmaiar, ou talvez cair aos seus pés por ter se apaixonado por tamanha beleza que a mesma tinha.
Mas James não sentiu nada disso.
— Tem alguma coisa errada comigo. Ou deve ter sido alguma barreira para me manter são diante dela. — Teorizou.
Quando retornou para a área onde ficava a cama, viu Kýrios ainda dormindo, totalmente apagado mesmo.
Havia alguma coisa de errado também com o deus, e James não e aguentou em deixá-lo ali naquela situação deplorável como se fosse um bêbado qualquer espalhado pela cama.
— Droga de consciência! Porque não posso ser mal? Eu deveria deixá-lo do jeito que está, não? Seria uma boa lição para esse idiota… — disse, ajeitando seu braço, mudando o ângulo da cabeça para poder ficar mais confortável no travesseiro, arrumou também suas pernas, já que uma estava pendurada para fora da cama, e por fim, tirou sua camisa, lhe cobrindo depois com somente um lençol mais fino, tirou todas aquelas almofadas e cobertas em que ele estava jogando-as para perto de um divã perto da lareira.
— Espera um minuto… Porque mesmo que eu adormeci?
Não se lembrava de ter virado uma estátua, a sua última recordação foi de um objeto que havia visto, e depois um grande frio e breu, e nada. Absolutamente nada. Até que se sentiu angustiado demais e se encontrou com a deusa.
Como não sabia cozinhar ou sequer dobrar algum lençol direito, comeu somente uma maçã e depois se virou para a mesa, onde viu que havia alguns papeis ali desordenados um por cima do outro.
— Hm… Então ele tentou decifrar? Mas ele falou que não podia.
E isso se confirmou quando viu que, dentro de uma caixa retangular comprida estava o pergaminho que ele tinha pego lá do fundo do rio Ganges. Estava lacrado com uma fita dourada, sem nenhum indício de estar molhado ou mofado. Era como se alguém tivesse escrito ela e amarrado a fita fazia alguns minutos, mesmo que ele tivesse aberto o papel antes para ler.
— Vamos ver logo tudo o que está escrito aqui. — disse, indo pegar o dicionário de grego.
E para sua surpresa, quando abriu o pergaminho, nem precisou também abrir o guia de língua grega.
E seu rosto corou fortemente ao se lembrar porquê.
— Seu bastardo! Você me paga! — disse, esfregando o rosto e balançando a cabeça para espantar a lembrança daquilo, e se voltou para o papel em suas mãos — Ok vamos esquecer disso! Foque na sua liberdade! Hm… É uma boa ideia. Acho que vou colocar isso por escrito… — disse, deixando um pouco de lado o pergaminho para escrever algo que repentinamente passou pela sua mente.
•
Sentindo um vazio ao seu lado, o deus acordou preocupado e se sentou de supetão com seu coração acelerado, pensando que algo de muito ruim tivesse acontecido ao rapaz.
Mas quando viu que o mesmo estava sentado de costas para si ali, numa mesa perto da janela, tranquilizou-se.
— Finalmente a bela adormecida acordou. — disse, sem se virar, estava focado em seus estudos naquele pergaminho.
Kýrios lhe mirou sem entender, mas não se demorou mais na cama, saindo da mesma a passos apressados e se colocando na frente do rapaz, que pousou um papel na mesa que estava em sua mão para poder encarar o deus, que lhe mirava ainda preocupado.
— Será que dá pra parar de ficar me olhando como se eu fosse um cão prestes a mordê-lo?
— Você está bem? — perguntou o loiro, se sentando na outra cadeira, mas sem tirar os olhos do rapaz.
— Sim. Estou.
— Não está sentindo nada?
— Nada.
— Bom… que bom. Muito bom…
— Aqui está o contrato.
— O quê?
— Isso que você ouviu, um contrato.
— Contrato de quê? — perguntou, confuso, mas assim que botou os olhos no título, nem precisou do moreno para explicar do que se tratava.
“Contrato de Segurança e Distanciamento Físico”
— Aqui está dizendo que… Isso é exagero. — Sorriu torto.
— Por favor, prossiga. — pediu educadamente como um típico inglês.
— 1) Caso houver algum contato físico que coloca a dignidade da outra parte em prejuízos, a parte danificada psicologicamente pode obter sua indenização através de outro contato físico mais drástico, vulgo, socos. — leu, olhando para o rapaz e arqueando uma sobrancelha — James…
— Continue, por favor.
— 2) Serão válidos quaisquer tipos de interações amistosas, mas isso tudo feito de forma consciente, ou seja, interações para fins de auxílio nas buscas, atuações. — O deus olhou para o moreno, e viu que o mesmo estava com um semblante sério, indicando que aquilo era realmente de verdade. — O que significa isso? Que nós nos falaremos somente o necessário mas quando for em uma situação que precise que nós dois temos que nos comunicar e fingir sermos amigos de infância e depois agirmos como dois estranhos?
— Exatamente! Que bom que entendeu esse artigo. Ah, agora vem a melhor parte. — disse, dando sinal com a mão para o outro continuar.
— E 3) Após o término vitorioso da busca, este individuo ao qual se nomeia como “Pista de Parca”, será totalmente recompensado por todos os danos que lhe foi causado e terá sua total liberdade, ou seja, que após os trabalhos feitos, que haja um corte de interações imediatas.
O deus encarou-o sério quando terminou de ler, comprimiu os lábios, se contendo em dizer algo. O papel em suas mãos estava preso entre seus dedos de forma tensa, quase o amassava.
— Então é assim que deseja que seja agora?
— Deveria ser assim desde o princípio.
— James, eu sei que errei ao fazer aquilo com você lá na festa, mas isso aqui…
— Kýrios, olhe para mim, eu sou somente uma ferramenta. Você também está se machucando tudo nisso. Pense bem, nós dois somos dois estranhos. Eu não lhe conheço, e nem você me conhece. Acho que o certo é termos certos limites. Mas tudo bem, o erro também foi meu. Fui me deixando ir… E olha onde estamos? Nem chegamos na segunda pista e já estamos quase acabados.
— Concordo que estamos fazendo algumas coisas além de nossas capacidades físicas, mas isso — apontou para o “contrato”, com aborrecimento — Isso é um total exagero!
— Não é! Você trataria seus funcionários assim? Veja por esse lado, sou um funcionário que…
— Não! Você não é meu funcionário! É um…
— Kýrios, eu já vi que não tenho escolha até tudo isso acabar. Então por favor, peço que respeite esses meus termos.
O loiro deixou o papel na mesa, e cruzou os braços, e de cara fechada, virou o rosto.
— Kýrios?
— Se assim que deseja, então assim será. — disse, se levantando da mesa e caminhando a passos duros para a porta do quarto.
Mas antes que saísse, o rapaz lhe chamou:
— Kýrios.
E por um instante, um ar de felicidade pela esperança e que aquele contrato fosse alguma pegadinha para se vingar dos últimos acontecimentos lhe invadiu o peito.
Mas na mesma velocidade que um raio que caí na terra, a alegria esperançosa também foi ao chão.
— Eu consegui descobrir toda a mensagem do pergaminho. Creio que já queira saber a região do nosso próximo destino.
E se virando sem ânimo algum, o deus respirou fundo e colocou uma face o mais neutra possível.
— Ah, sim, claro. Mas antes de começarmos a trabalhar nisso, vamos jantar. Já faz três dias que não como nada.
James sentiu de repente como se uma lança o tivesse atingido no peito.
Além de uma outra rocha que lhe foi jogada nas costas…
— A-ah sim. Entendo. Então, tenha um bom jantar. Nos vemos daqui a pouco.
O loiro somente lhe deu um aceno de cabeça como se estivesse cansado demais para poder rebater ou discutir e tentar reverter aquilo, e saiu do quarto, fechando a porta sem fazer um barulho sequer.
Assim que a porta se fechou, James cobriu com suas mãos ao rosto, sentindo uma grande vergonha e culpa.
— Porque fiz isso?! Que grande merda eu sou?!
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Capítulo 12
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Missão Ágape
O Olimpo está em crise, e tudo porque de repente uma profecia disse que um deus iria dizimar o seu sistema e tudo que eles lutaram para conquistar e poderem estar no poder até hoje.
E é...