Arco 1 –  Oriente sem DESTINATÁRIO

Missão Ágape

Capítulo 13

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🟡 Em breve

Já não bastasse ter feito a besteira de agir por impulso ao fazer aquele contrato e agora sentir vergonha e culpa por isso, agora tinha que aguentar as ações genéricas e forçadas propositalmente feitas vindas do loiro, que toda vez que lhe dirigia a palavra, lhe tratava com toda cortesia do mundo, quase como se ele fosse o filho do rei da Inglaterra.

— Tudo pronto? — perguntou Panoptes, arrumando sua bolsa para irem logo embora, já estavam ali na recepção pagando as contas, além dos pequenos prejuízos que fizeram no quarto do moreno por toda aquela confusão.

— Sim, estou. — respondeu James, sentado em um divã, estava emburrado, de braços cruzados e sem nada em suas mãos além da roupa do corpo e um envelope contendo o pergaminho e outros papéis de suas pesquisas.

Assim que Kýrios pagou tudo, foi até os outros dois.

— Pronto, podemos ir. — disse, somente se dirigindo ao seu amigo, e passando pelos dois, indo em direção à saída.

Panoptes encarou o rapaz, lhe mirando inquisidor.

— O que foi dessa vez?

— Nada. Ele deve estar tendo algum dia ruim. — respondeu James, se levantando — E é melhor nem perguntar, deixa ele quieto.

— Aham, sei. — disse o cocheiro, se aproximando dele — Eu vou descobrir.

James engoliu em seco, pois sabia que o outro era bastante cuidadoso com tudo, parecia sempre estar de olho em tudo e todos, era até parecido a um guarda, ou um detetive profissional.

Pegaram condução, tendo uma viagem não muito longa até a uma área deserta de Varanasi, onde não havia ninguém, o que era uma coisa rara de ser.

— Acho que aqui está seguro. Não sinto nada mágico ou algo de uma força maior. Cem por cento neutro. — Avisou Panoptes, com um binóculo, olhando tudo ao redor.

— Obrigado. — disse Kýrios, sem muito ânimo, quer dizer, parecia que alguém tinha lhe sugado qualquer tipo de humor. Não transparência raiva ou irritação, mas também não mostrava sorrisos ou seu jeito expansivo de costume.

E mais uma vez, James recebeu o olhar de Panoptes, como se disse “Estou de olho em você, e quando eu descobrir você vai se ver comigo.”

O deus então pegou uma chave do bolso de sua calça e com a outra mão, emanou uma energia mesclada de dourado e vermelho, e logo uma maçaneta com fechadura surgiu no meio do nada. Sem porta ou qualquer outra coisa, o objeto parecia estar flutuando no ar.

— Vão, vou ter que fechar logo. Esse lugar está tentando neutralizar minha divindade toda hora mesmo num lugar como esse. — Avisou o deus, mantendo a porta aberta para os outros dois passarem. Era o corredor da mansão, era muito estranho saber que em um passo já estariam ali.

Panoptes foi primeiro, estava louco para ir embora logo dali que nem hesitou ao aviso do amigo.

Já James…

Quando se aproximou da porta, recebeu um acenar de cabeça cordial do loiro, e sem querer revirou os olhos.

“Idiota.” Xingou mentalmente o deus.

Quando passou para o outro lado, pode sentir bruscamente a mudança de ares e temperatura.

O ar dali era fresco, um tanto seco, mesmo sendo uma mansão que ficava a beira mar.

A claridade ofuscou seus olhos por curtos segundos, já que não havia tantas cores comparado ao que tinha naquela cidade.

— Lar doce lar! — respirou fundo Kýrios, fechando a porta atrás de si — Bem, Sr. Payne, sei que está cansado da viagem, mas pode me conceder um pouco mais de seu tempo para se reunir a mim e à meu amigo para abrirmos as conversações de nosso próximo norte a seguir?

As mãos de James coçaram numa grande vontade de estapeá-lo para que pudesse parar com todos aqueles modos corteses exagerados. Aquilo lhe fazia lembrar das autoridades que vinham à sua casa quando seu pai os recebia para reuniões e negociações sobre os novos projetos. Lembrava a James a vida chata e monótona que estava condenado a ter.

E o principal… Lembrava-o da merda que fez ao criar aquele contrato.

O que ele podia fazer ou dizer? “Kýrios, por favor, pare com isso e voltemos a informais interações?”.

Não, o estrago já tinha sido feito, agora tinha que sustentá-la. Afinal, voltar atrás tinha suas desvantagens, como por exemplo, o risco de ter o loiro atacando sua boca novamente, ou de acordar na mesma cama que ele como aconteceu quando foi petrificado.

É, sim, ele descobriu quando Panoptes lhe contou depois que ele se lembrou de uma sensação ruim ao olhar tal amuleto que Kýrios embalava dentro de um tecido para depois guarda-lo dentro de seus bolsos. — Sim, claro, Sr. Galanis. — respondeu, em sua postura tipicamente inglesa.

O deus lhe deu um outro aceno de cabeça, e passou ao seu lado, sem sequer deixar transparecer algum ponto de sarcasmo ou alguma piada.

— Irritante…! — sussurrou entredentes, saindo de perto da porta, e caminhando em direção ao salão de jantar.

O caminho foi silencioso pelo corredor, e como estava atrás do deus, somente lhe mirava pelas costas.

Não conseguia deixar de reparar nos ombros largos e o jeito confiante e relaxado de andar que o outro tinha. Diferente dele, que mesmo quando estava em suas boemias, ou quase caindo de bêbado, conseguia manter sua postura de nobre que não podia baixar a guarda, a qual tanto sua tia lhe ensinou.

Por mais que desejasse quebrar essas regras, mas aquele desejo de se manter sempre elegante, atraente e perfeito aos olhos de quem quer que fosse, era mais forte.

“Ninguém nunca reclamou.” Pensou, se orgulhando de ter o currículo intacto de conquistas e nenhuma rejeição das mulheres que caiam em seu charme.

— Hm, há algo de errado. — disse de repente Kýrios, parando de caminhar.

— O que disse? — perguntou, acordando de seus devaneios.

— Para trás Sr. Payne, há algo muito forte e sombrio vindo da sala de jantar… — franziu o cenho dando um passo para trás em posição defensiva — Não… Impossível que alguém invada esse lugar…

— Está sentindo uma ameaça?

— Possivelmente. Há uma energia sombria, mas isso não significa que possa ser ruim. Mas em todo caso, fique para trás. Proteja esse pergaminho. — disse, dando agora um passo à frente, e logo um arco e uma aljava cheia de flechas apareceram em suas costas.

James ficou muito admirado por ver aquilo, era fascinante ver coisas mágicas daquele jeito.

— Panoptes foi para onde?

— Hm… Ele já devia estar aqui… — quando o deus virou seu rosto para onde tinha sentido algo estranho, arregalou por um instante, ficando com postura tensa — Ah não… Não pode ser!

— O que houve?! Kýrios?

— Sr. Payne, creio que seja melhor o senhor ir para seu aposento, agora.

A ênfase que o loiro deu no “Sr. Payne” e “senhor” deixou James muito sem graça, para depois evoluir em segundos para grande incômodo, para depois também evoluir para sentir que o quer que o deus tenha captado era uma coisa muito séria. Era como se agora fosse o loiro que estava lhe dizendo para seguir os protocolos do contrato.

James respirou fundo, e firmou os pés no chão.

— Não. Eu vou com voc… eu vou com… vou com você! — disse, se rendendo em quebrar protocolos respeitosos.

— Ah, meu caro Sr. Payne, creio que esta não é uma boa hora para atos heroicos.

— E essa não é hora para besteiras de agir sozinho! Esse pergaminho está seguro! — disse, pegando de surpresa o loiro ao colocar o envelope em sua aljava, em troca pegou uma de suas flechas, já que não tinha nada cortante ou pontiagudo consigo que fosse ser usado para se defender.

Kýrios ficou pensativo, fungou, mas não se opôs a decisão do rapaz.

— Como quiser. Mas fique em minha retaguarda. Você é um humano, e mesmo com minha vitalidade, qualquer ferimento muito mortal pode…

— Sim, sim, já sei. Vamos. Se há uma ameaça, temos logo que saber o que é para poder agir logo.

Mais uma vez Kýrios ficou em silêncio, mas após cinco segundos, assentiu, e deu sinal para o moreno lhe seguir.

A passos cautelosos, ambos seguiam pelo corredor, e a cada aproximação, ouviam sussurros confusos, como se muitas vozes quisessem ser ouvidas desesperadamente.

— Isso parece ser coisa daquele Tânatos. — Sugeriu James.

— Se fosse ele, já teria me avisado. E ele tem passe livre para entrar aqui, para que iria fazer toda essa cerimonia. E eu logo também reconheceria sua energia. — O deus novamente parou para analisar o ambiente, mas dessa vez parecia buscar algo — E onde está Panoptes? Era para ele já estar aqui. Eu não consigo senti-lo. — sussurrou para si mesmo, ficando tenso.

Passaram por vários corredores, sempre tomando cuidado de virar a cada esquina, o deus ia se direcionando para onde sentia aquela energia sombria vindo.

E quando se virou para o corredor que dava para o salão de jantar, parou na hora, recuando e erguendo na hora seu arco e flechas.

Havia raízes negras pelas paredes, uma neblina cinzenta pelo chão que cobria até o tornozelo de ambos. O ar denso deixava a respiração difícil, e até a luz das velas pareciam estar perdendo a força pelas suas energias sendo sugadas pela escuridão que ficava cada vez mais forte.

— Kýrios? O que está havendo com você?! E o que é isso na porta?!

O deus olhou para si, para suas mãos, e viu sua aura divina sendo sugada pelas raízes das paredes.

— Oh deuses…

— O que foi?!

— Eu já sei quem está aqui. Aconselho o senhor a se comportar. Se comportar mesmo.

— Me comportar? O que acha que sou?

O deus lhe mirou e arqueou uma sobrancelha.

— Não estou lhe ofendendo, Sr. Payne. Isto é um aviso, e dos muito importantes. Venha. E se acontecer qualquer coisa, por favor vá para a porta de espadas cruzadas e fique lá até segunda ordem. — disse, caminhando ainda com mais cuidado, e com seu arco e flecha ainda em alerta.

James tinha ficado ainda mais apreensivo, e aquele ambiente não lhe deixava menos calmo. Era como se ele estivesse num livro de contos de terror, e ficava pior quando os sussurros pareciam estar ganhando sentindo em seus ouvidos.

“Corvade!” Sussurrou uma voz.

“A morte é sua única resposta!” Disse outra.

“Olha só pra ele, o próximo a vir pra cá! Mais amigos!”

“Coitado, se lembrasse de tudo…”

“Por isso ele é um covarde!” Riu a última voz.

James fechou os olhos, e pegou no peito, sentindo uma dor, um calafrio percorrendo sua espinha, o sentimento era pior do que aquela vez em que havia visto Tânatos pela primeira vez.

— Sr. Payne? — lhe chamou Kýrios, parando de andar quando viu o moreno com uma palidez estranha.

— Estou bem. Continuemos.

— Sr. Payne, por favor, isso não é uma coisa que humanos…

— Porra, eu não sou agora um “quase-semideus”? E também não estou com parte de sua vitalidade dentro de mim? — argumentou, fazendo o deus assentir não tendo como refutar — Então que prossigamos. — disse firmemente, mesmo estando com muito medo daquela coisa toda.

O caminho ficava mais medonho, nem parecia aquela mansão tão linda e elegante, mas ainda um tanto solitária. Mas agora a mansão tinha mudado como se tivesse algum humor, e esse agora era um humor era baixo, vazio e muito assustador.

— Isso não é bom. — disse Kýrios, parando em frente a porta do salão de jantar, e abaixando o arco, mas ainda com mãos e pulsos tensos.

— Não? Bom, é obvio com toda essa coisa medonha e… — James sentiu mais um calafrio, lhe fazendo suar frio dessa vez — Isso está me dando nos nervos. Você está ouvindo isso tudo?

— Estou. E não são nada boas… Não acredite nesses sussurros, só são almas aflitas o querendo atrair e influenciar a fazer coisas ruins consigo mesmo, entende?

James assentiu, tentando ignorar as vozes, mas elas não lhe deixavam em paz nenhum segundo.

— Vou abrir a porta, e no meu sinal, você me dá cobertura com essa flecha — disse se virando e emanando mais energia para a ponta, envolvendo o metal em um círculo brilhante que James achou semelhante a uma pequena bomba de pólvora, e entendeu o que era para fazer.

— Sim. — disse, se pondo numa posição para poder arremessar aquilo sem erros.

O deus lhe deu sinal com a mão que significava “No três”, e contou em gestos.

Um, dois e…

Quando o deus ia pegar na maçaneta no três, a porta se abriu sozinha, e um buraco negro cheio de mãos agarrou seus torsos e começou a arrastá-los para dentro daquela escuridão.

— James! Se se segure em algo! — disse o deus, tentando resistir aquela mãos.

— Estou tentando! Droga! — disse, arremessando a flecha para o meio daquelas mãos.

Houve uma explosão de luz que funcionou dispersando todas aquelas mãos dos dois, mas foi por pouco tempo…

Nem tinha dado tempo para ambos poderem correr para fugir das outras mãos que logo surgiram com mais força e determinação em captura-los.

— Não deixe isso te puxar! James! Use toda sua força! — disse o deus, tentando se livrar como podia daquilo tentando bater com seu arco nelas, mas acabou que uma mão mais forte pegou e quebrou ao meio seu arco, lhe deixando sem meios para se defender. Até a aljava cheia de flechas foi levada por aquelas mãos.

James tentava se apoiar em algo, na mesa perto da parede, nas colunas douradas…, mas a única coisa que poderia ajudá-lo realmente seria o batente da porta.

— James!!! — gritou o loiro, vendo o rapaz não resistir a tantas mãos de sombras, que o envolveram por completo, puxando-o como uma isca para dentro de um lago.

E foi nessa hora que James viu por um segundo o loiro erguer a mão em sua direção e tentar pegá-lo, mas era tarde demais, então, sem a menor hesitação, o deus pulou para dentro do buraco cheio de mãos, tentando alcançá-lo, mas escuridão envolveu ambos, separando-os cada um para um lado desconhecido.

Já era a segunda vez que mãos assustadoras estavam lhe puxando para algo do desejo delas, e James por um momento pensou se isso não seria alguma piada do destino lhe colocando somente nessas situações que tanto ele odiava.

Talvez pudesse ser mesmo algum tipo de brincadeira sádica de alguma entidade superior lhe colocando em situações em que tinha mais medo para poder desestabilizá-lo ou talvez, numa mínima chance, aquilo era alguma forma de fazê-lo superar seus medos.

Mas aquelas formas de superar não estavam lhe ajudando em nada a se fortalecer, pelo contrário, quanto mais acontecia, mais lhe lembravam da sensação irracional do medo que não entendia bem porque sentia, já que nunca na vida tinha passado por alguma situação de mãos horrendas lhe agarrando para algum lugar desconhecido.

As vozes que ouviam antes não eram nada comparadas aos que agora ouvia, seu corpo sendo puxado para o além, seu coração batia descompassado, um pavor pelo pior destino lhe deixava incapaz de pensar em algo que pudesse fazer para sair daquela situação.

— Kýrios! — gritou quando sua boca foi liberta. As mãos também tinham saído de seus olhos, mas era o mesmo que nada, já que pra onde se olhava só via o breu. Era como se tivesse ficado cego.

Tentou procurar algum ponto de luz naquela queda infinita, pois este ponto dourado poderia ser o deus, mas nem isso aparecia para ele poder se guiar.

Se via cair, seu corpo sentia isso, sendo puxado por uma gravidade que estava além de sua força, e que alguma hora ele ia tocar o chão com brutalidade por causa da velocidade com que era puxado, mas a sensação era estranha, pois havia uma pressão em sua testa, como se ele estivesse subindo.

Sua voz não ecoava, só se misturava as outras milhares de vozes que haviam ao seu redor. Estava muito assustado, não sabia mais o que fazer do que gritar. E o desespero lhe tomou de conta quando do nada uma grande abertura em forma de olho se abriu abaixo de si.

Sua íris gigante era de fogo, e as mãos lhe puxavam para dentro de sua pupila negra que parecia estar lhe dizendo que estava levando-o para um lugar que seria o pior de seus pesadelos.

James se debatia o quanto podia, por mais que estivesse apavorado havia um lado seu, aquele seu instinto de sobrevivência, que não lhe fazia desistir.

Quando estava prestes a ser engolido por aquele grande olho, um vulto brilhante e dourado passou por ele, para logo em seguida algo muito forte lhe atingir, pegando todo seu corpo, lhe arrancando daquelas centenas de mãos.

Um bater de asas foi ouvido, um vento forte e morno veio delas, fazendo as mãos se afastarem.

Quando James olhou pra cima, viu um ser muito lindo, tão lindo que seus olhos pareciam não suportar olhar por conta de sua luz.

— James, feche os olhos.

— Kýrios… É-é você?!

— James, por favor. Isso pode ser demais para você. Pode ferir sua mente.

— Não. Não está me machucando…

O deus lhe mirou em estranhamento, mas mudou seu semblante quando viu os olhos do rapaz.

— Por deuses… Seus olhos novamente James! Eles estão…

De repente um chão terroso e todo ressecado apareceu sob os pés do loiro, e o mesmo, por estar distraído com os orbes do rapaz, não notou que havia conseguido pousar em segurança.

James estava em seus braços e se segurava envolvendo o pescoço do deus. Estava tonto com tanta informação que havia visto, mas ver aquele deus naquela forma como ele estava, acalmava sua mente.

— Meu Deus… Kýrios, você…

De repente tudo tremeu, e muita terra e gigantescas rochas caíram num lago de lava que estava a cinco metros deles.

— Ei, cuidado com o que fala, estamos em outro território, não o “Dele”. Podemos ser condenados por isso sabia? Não podemos misturar as coisas…

— Você tem asas!! — disse, muito surpreso e encantado com aquelas asas que brilhavam em um dourado, exibindo penas extremamente brancas, deixando tudo ainda mais reluzente e difícil de se manter algum contato visual.

E acompanhado disso, James sentiu um reboliço em sua barriga. E não era do tipo ruim, nenhum pouco.

Kýrios sorriu, respirando em alívio por saber que o outro não havia perdido o juízo ou enlouquecido com tudo que viu, e principalmente, por tê-lo visto naquela forma divina em que estava.

— Que bom que você está bem, James.

James não conseguiu também conter um sorriso ao ouvir seu nome. Era confortável e bom demais ouvir novamente seu nome sem alguma ironia ou sarcasmo.

E sem querer, como se seu corpo fosse mais rápido que seu senso de orgulho, abraçou o loiro, surpreendendo-o.

— James?

— Obrigado. — Agradeceu, ofegante, ainda tremendo pelas ruins sensações daquela queda ou o quer que fosse que estava sendo aquilo.

Kýrios analisou seus sentimentos, e viu que o mesmo não estava fora de si ou algo do tipo como ficou naquela noite em que lhe beijou, o que sentia era muito diferente, algo em meio a tantos outros sentimentos, mas o que mais prevalecia era o de gratidão e alívio.

— De nada, James.

Tomando ciência de como estava, se afastou rapidamente e se debateu para sair dos braços do deus, que tentou contê-lo para não cair, mas não adiantou, e caiu de bunda por conta de suas pernas bambas, ainda sentindo o pavor passar pelo seu corpo.

O deu se abaixou para ajudar, mas James levantou uma mão em sinal de que estava tudo bem.

— E-Estou bem. Já estou bem. — Fechou os olhos, respirando fundo para se acalmar.

— Tem certeza?

— Sim… — disse, abrindo os olhos novamente, e não conseguindo resistir de olhar novamente para as asas do deus à sua frente — Então… você tem asas… Isso é…

— Ok, fique à vontade para me dizer qualquer piada sobre isso. Sei que devem estar feias por conta de minhas forças não estarem….

— São incríveis! E-eu não sabia que poderiam ser tão… São de verdade!

Kýrios arqueou uma sobrancelha, e riu breve, se levantando.

— Hm, você está mesmo bem. O que é um milagre.

— Milagre?

— Sim, James. — Olhou para os lados, e abaixou suas asas, tentando deixá‐las ao redor do rapaz para protegê-lo de alguns pedregulhos flamejantes que pulavam para fora do lago e que poderiam acertar e ferir o moreno — Sinto muito lhe dar esta notícia, mas acabamos caindo no reino de Hades, e na pior sessão, em Campos de Asfódelos.

— Hades? Asfódelos? O quê?! Então estamos no infer…

De repente uma presença de energia bélica e cheia de ódio se aproximou, e logo o loiro puxou o rapaz para mais perto de si, cobrindo-o com suas asas, e James logo entendeu o porquê ao se virar para onde o deus olhava.

Diante deles, um ser feminino com asas de morcego e cabelos serpentinos, com armadura e pele humana em algumas partes, carregava um chicote nas mãos, olhando feroz para ambos, e parecia esperar por alguma ação brusca para somente ter algum motivo de atacar.

— Medusa! — exclamou James, recebendo um rugir muito aborrecido da mesma.

— Não James, essa é uma das erínias. Talvez a mais simpática.

— Porquê está protegendo esse pedaço de carne, deus do amor? — cuspiu ao falar da menção daquele deus, e deu um passo à frente, mas o loiro lhe mirou sério, eriçando algumas de suas penas, fazendo a mesma parar.

— Porque estamos aqui? Aliás, porque um portal de seu mundo estava dentro de meu lar? Estão trabalhando com os Conspiradores? Saiba que não me capturarão com facilidade, ainda tenho uma força extra para lutar até o fim se for preciso.

James nunca tinha visto o loiro falar daquele jeito tão sério, já que o deus sempre era tão zombeteiro ou parecia o tempo todo flertar para somente provocá-lo e irritá-lo. E nas ultimas horas estava o tratando com cortesia exagerada propositalmente para chateá-lo, ele sabia disso. Mas aquele genuinamente sério ainda não havia visto.

Principalmente também da forma como estava, parecia tão imponente, viril…

Uma pontada de algo lhe atingiu as bochechas, se sentindo extremamente envergonhado de repente por um pensamento que passou como um vulto em sua mente.

— Não vai precisar, Kýrios. — disse uma voz calma, mas não menos assustadora, que surgiu do nada, e todos aqueles sussurros se calaram na hora.

Um silêncio ensurdecedor pairou no ambiente, e ficaria muito mais silencioso se não fosse pelos borbulhosos lagos de lava e dos pedregulhos que a toda hora saíam de lá para a superfície e para a beira de terra firme.

— Tânatos! — Kýrios relaxou um pouco, mas nem tanto, já que a tal fúria ao seu lado não tirava os olhos do rapaz, louca para chicoteá-lo sem o menor motivo — O que está havendo? O que era aquilo na minha mansão? Porquê Hades fez isso?

— Os tempos são outros. — Fungou e voltou sua atenção para o rapaz, lhe mirando com pesar — Hades tem algo para lhe dizer, James Payne. E não podia ser em seu lar, Kýrios.

— Porquê? Alguma coisa de errado? E onde está Panoptes? Ele estava comigo não faz nem minutos e quando vi, tinha sumido.

— Terão todas as respostas assim que chegarmos no castelo. Aqui não é seguro, e creio que em sua mansão também não seja mais.

— Espera. Há alguém em minha casa?!

— É o que vamos verificar. Por isso, terão que ficar aqui por alguns dias, até tudo ser verificado.

— Entendo… Então isso significa que…

— Exato. Hades está do seu lado. Do nosso lado.

Kýrios fechou os olhos, e se sentou, respirando fundo. James lhe mirou, não sabendo identificar se aquilo era preocupação ou alívio.

— Kýrios. — Chamou James e logo o deus lhe deu atenção — Eu também ficarei aqui? Sou um humano, não sei se aguentarei ficar aqui sem morrer de algo, porque…, sinto meu peito se apertando, me sinto sufocado.

— Vai ficar tudo bem, é só se manter perto de mim. — Lhe sorriu, ainda lhe protegendo com suas asas.

— Hades não é muito paciente, temos que nos apressar. Kýrios, James Payne, me acompanhem. — disse Tânatos, se virando para um portal que ele abriu com sua foice.

Kýrios se levantou, abrindo suas asas e as colocando para trás, e depois oferecendo sua mão para o rapaz se levantar, que sem alguma ponderação, aceitou.

Quando passou pela fúria, a mesma lhe direcionou um grunhido malicioso, e abriu um sorriso cheio de dentes.

— A pele dele é tão lisa e macia… Deve ser muito prazerosa de cortá-la com meu chicote. Ou com minhas garras. Ou… com meus dentes.

James se encolheu um pouco, e Kýrios lhe puxou para outro lado para longe dela.

— Não venha querer roubar o osso dos outros, vá procurar o seu, Tisífoninha.

A fúria lhe grunhiu irritadiça. E quando fez menção de levantar seu chicote, Tânatos lhe deu um olhar de advertência muito sério.

— Espero que cometa um crime bem pecaminoso para poder vir pra cá para eu poder me deliciar com sua carne macia. — Sorriu para James, e lambeu os lábios.

Kýrios então puxou o rapaz para o portal, e antes de entrar deixou sua provocação:

— Cuidado, estou com uma aljava cheia aqui. Estou com humor suficiente para fazer esse seu coração de galinha se derreter de amores por uma dessas pedras. O que acha? — blefou.

A fúria desfez o seu chicote e o balançou para acertar, mas seu golpe foi impedido pela áurea de bloqueio de Tânatos, que balançou a cabeça e revirou os olhos.

— Será que vocês nunca vão crescer? Já está mais do que na hora de superarem esta criancice.

— Nunca. — disse o loiro, mostrando a língua para a fúria, e correndo para dentro do portal antes que a mesma reagisse à sua outra provocação.

•

O castelo era deslumbrante, mas de um jeito muito sombrio. As luzes variavam de vermelhas, alaranjadas e cinzentas, mas este último era por causa de Tânatos, que por onde passava, era como se aquele local morresse, para depois se reavivar assim que ele ia se distanciando.

James e Kýrios caminhavam lado a lado e atrás do outro deus. Miravam para todos os lugares, admirando alguns pontos e temendo outros, já que sempre aparecia um par de olhos vermelhos dos cantos escuros.

James o tempo todo ficava suando frio, não mais tanto pelo medo, já que estar ao lado daquele deus lhe confortava, pois o mesmo brilhava em uma áurea dourada muito sutil agora, e era assim pelas suas asas também, que até agora não tinham desaparecido de suas costas.

— Kýrios. — Chamou-o.

— Hm?

— Você já veio aqui?

— Em toda minha existência, essa é minha segunda vez.

— Sério?

— Sim. A primeira vez que vim aqui foi… Bom…

— Psiquê. — disse Tânatos de repente, roubando a atenção do outro deus pra si. — Ela não está por aqui.

— O quê? Como assim? Tânatos, por favor, me diz, tem alguma novidade sobre ela?

— Eu a procurei por todos os cantos daqui. Desci até o Tártaro pois imaginei que tivessem lhe escondido lá em alguma camada mais profunda. Mas… A única coisa que encontrei foi sua essência. Como se… Como se tivesse sido seu último respirar.

Kýrios parou de repente, paralisando o olhar no amigo.

— Tânatos, por favor, o que você está querendo dizer? — perguntou, sua voz saindo já afetada.

— Kýrios, não tire conclusões precipitadas. Tudo está muito confuso até para mim. Pois nessa minha busca eu senti uma aura de morte, mas também de vida. E essa segunda está ainda mais forte. Ela vive. Mas não sei aonde. Mas sei agora que não está por nenhum lugar deste submundo.

Kýrios pegou em seu peito, e fungou aliviado.

— Então pelo menos ela não está sofrendo em algum lugar horrível. Oh por deuses… Tân, você quase me mata do coração!

O outro moreno cerrou os olhos pelo trocadilho do loiro, mas não disse nada, somente se virou e continuou o seu caminho em sua missão de guiar os dois até o salão de audiência do rei do submundo.

E após vários corredores e portas gigantescas, pararam em uma que era feita inteira de caveiras cravejadas de pedras preciosas de todos os tipos. Era bonito de um jeito estranho, foi o que James achou a primeira vista.

Mas era porque ele ainda não tinha visto e julgado o salão.

— Meu De… — logo sua boca foi tampada pela mão do loiro.

— James, tenha cuidado. Estamos no domínio de Hades. Então, é melhor se esquecer por um momento de suas crenças ou expressões religiosas de nascimento.

— Me desculpe.

Kýrios sorriu de canto, e continuou a seguir o seu amigo que ainda os guiava.

E lá ao longe, sentado em seu trono de pedras preciosas e ossos que se misturavam a espadas derretidas, estava sentado um senhor que parecia ter uns quarenta anos, cabelos negros que se moviam a toda hora como fumaça negra, tinha barba rala e era da mesma cor obsidiana que seus olhos. Sua pele era extremamente pálida, cinzenta, muito mais do que a de Tânatos, e suas feições eram sérias, como se já estivesse aborrecido com as tais visitas ali em seu salão cheio de almas perambulantes, que se afastavam amedrontadas dos outros dois deuses e do rapaz.

— Enfim, a Pista de Parca veio até nós. — disse Hades, se inclinando um pouco para frente, encarando James, que sentiu ainda mais seu peito sufocando com a presença do rei — Temos muito o que conversar, James Payne. — A voz do rei do submundo teve um tom de aviso, e James sentiu na hora que aquela sua vinda ali seria bem tensa.

E que sua estadia também não seria muito fácil.

E não só era isso…

James tinha a impressão de que aquele rei não lhe era estranho. E que não era por causa da estranha sensação do lugar que parecia querer lhe esmagar, mas sim por causa de um sentimento desconfortável sobre aqueles olhos sérios que lhe miravam curioso.

•

Talvez era porque a pressão do lugar estivesse fazendo James ficar muito desconfortável, mas agora, além do sufoco que sentia, apareceu um leve enjoo que começava a querer brincar com seu estômago.

Kýrios olhava a toda hora para o mesmo e ficava preocupado.

Afinal, ali era o mundo dos mortos, e ele era um humano, e vivo. E claro, o lugar estava tentando fazer de tudo ficar em ordem e expulsar aquela anomalia de seu ambiente.

E tinha também outra coisa…

James não pertencia a aquele domínio, era batizado em outra estância, então seu mal estar era mais do que justificável.

— James Payne, Pista de Parca. — Começou Hades, lhe encarando dos pés à cabeça como se estivesse julgando uma alma e decidindo se ele ia para Elísios ou Asfodelos — Está fazendo um bom trabalho se mantendo vivo, mas também incomodando todo nosso domínio com sua existência. Eu não sei qual é o plano das Parcas para poder ter colocado em nosso caminho um alguém que não tem nenhuma ligação conosco. Há algo de muito errado com elas.

— Ele tem razão — começou também Tânatos — Eu pesquisei toda a linhagem de sua família, e não há ninguém que tenha alguma filiação com nosso domínio, todos são crentes à… Ele. Ao criador do domínio deles.

Mesmo que não tivesse falado o nome, somente a menção de Deus naquele assunto fez o lugar todo tremer e uma coluna gigante caiu ao longe, destruindo uma parede do castelo.

James estava começando a entender porque Kýrios lhe orientava a nunca mencionar nada de sua crença por ali…

— E isso é muito mal? — perguntou Kýrios.

— Mal? Isso é devastador. Se estão agora misturando domínios, o que vai ser depois? Guerra entre outros deuses? Terei que brigar pelo meu lugar com aquele que foi expulso do seu céu pelo próprio pai? Isso tudo é absurdo! — Hades bateu com punho cerrado no braço do seu trono, seu olhar obsidiando ganhando uma tonalidade avermelhada, como se lavas estivessem prestes a sair de seus olhos.

— Estive em contato com os outros guardiões da morte, Lorde Hades, e todos eles estão também preocupados com essa situação. — Tânatos voltou a relatar — Nenhum de nós queremos ser obrigados guerrear por poder ou para corrigir o equilíbrio do universo. Seja qual for o plano das Parcas, elas estão tentando nos dizer alguma coisa fazendo este humano existir entre nós.

James olhou para o deus ao seu lado, que balançou a cabeça respondendo a sua pergunta silenciosa se ele sabia de algo que pudesse ajudar, afinal, ele era o deus do amor, como agora sabia, mesmo ainda não conseguindo se lembrar de seu nome verdadeiro.

— Estou tendo um pressentimento de que o Lorde Hades está tentando me passar uma missão. Não é isso? — disse Kýrios dando um passo à frente, suas asas se movendo um pouco, sempre atentas ao rapaz ao seu lado.

— Sei que está em busca de sua esposa, Kýrios — o deus do submundo deu um breve riso do nome — Mas terá agora que deixar de lado seus problemas pessoais para resolver coisas mais importantes.

O deus do amor franziu o cenho, ficando com seu rosto vermelho de aborrecimento pelo tom desdenhoso que Hades emitiu ao falar de Psiquê.

— Coisas mais importantes… Ha, então se sua Perséfone sumisse da face deste mundo, também faria o mesmo? Deixaria de lado este pequeno “problema pessoal” para se focar em coisas “mais importantes”?

— Não ouse criar cenas diante de mim! Estes são os fatos! E você, não pode virar a costas para isso!

— Não posso mesmo! Principalmente quando foi seu irmão quem começou tudo isso!

— Admito que Zeus está perdendo suas capacidades mentais. Ele sempre foi assim, um tanto difícil de se lidar. Mas estamos em tempos difíceis, e temos que escolher as prioridades!

— Sim! E minha prioridade é achar Psiquê! — esbravejou o deus do amor, sua voz reverberando pelo salão todo.

Nessa mesma hora, Hades se levantou de seu trono, desceu as escadas e caminhou até parar e ficar cara a cara com o outro deus, que abriu novamente suas asas, deixando o rapaz atrás de si.

— Não adianta tentar protegê-lo de mim. Uma palavra minha, e ele será arrastado por uma das fúrias e será jogado no Tártaro.

— E acha que mesmo assim vou desistir de meus objetivos com essa ameaça? Ele não é o primeiro, Lorde Hades.

James franziu o cenho diante daquela frase, se sentindo um tanto decepcionado. É claro que ele tinha que se lembrar toda hora de que era substituível…

Mas logo algo fez o seu coração voltar a bater e até descompassar numa esperança crescente de que poderia ser salvo ainda daquela situação.

— Jogue-o até nas mãos da Nix, ou do terrível infinito de Caos, e eu irei atrás dele nos confins da existência desse universo nem que dure dez mil éons! E trago sua alma e a remendo átomo por átomo! Tenho todo o tempo do mundo para isso!

Hades cerrou os punhos diante a determinação daquele deus, e deu um sorriso malicioso de canto.

— Então agora também tem seus favoritos? Hm, que grande ironia. Logo você, que tanto crítica e julga meu irmão.

— Ha ha, meu estimado Lorde Hades, creio que esteja comendo lava demais. Cuidado, eles podem estar derretendo seus miolos ou os neurônios que ainda restam aí dentro.

Uma lança fumacenta e cheia de energia sombria logo apareceu na mão direita do rei, que grunhiu irritadiço e fez um movimento em direção ao outro deus.

Mas logo Tânatos desapareceu de onde estava ao lado do trono e se transportou em milésimos de segundos entre o deus do amor e o rei dos mortos, impedindo o golpe da lança sombria com sua foice. O tilintar das armas foi tão alto que seu som perturbou as almas que perambulavam por ali, dispersando todas, deixando o salão completamente vazio e silencioso.

— Lorde Hades, lembre-se, estamos todos aqui para uma reunião para evitarmos alguma guerra, e não para entre começar nós travar uma. — disse Tânatos, em sua calma e serenidade inabaláveis.

— Então lembre a seu amigo em que território está. Não aceitarei nenhum tipo de falta de respeito sob meu teto! — disse, com altivez e irritabilidade evidente em sua feição enquanto encarava o outro deus.

— Ele vai se lembrar. Kýrios?

— Ele quem começou. — Rebateu.

— Kýrios. — Lhe chamou novamente Tânatos, em uma súplica mista de advertência.

— Sim, me lembrarei. Palavra de escoteiro como os humanos dizem. — o loiro levantou uma mão como se estivesse fazendo um juramento e sorriu de canto — Mas que eu estou certo, estou.

— Kýrios! — dessa vez quem lhe chamou foi James, reunindo toda coragem que tinha para puxar o loiro pra trás e ficar à sua frente — Sim Lorde Hades, este deus cabeça oca vai lembrar de tudo e vai se comportar. E, ah, só para deixar claro, Vossa Majestade, que eu e esse cara não temos nada. Quer dizer, nenhum tipo de… relação conjugal. — James ficou nervoso ao dizer a palavra conjugal, e pigarreou para continuar — Droga, o que quero dizer especificamente é que eu não tenho nenhum tipo de afeição romântica ou qualquer coisa do tipo com esta pessoa, digo, com este tal deus. E prometo que ele será um bom menino tanto quanto um que queira ganhar presente de Natal.

E logo um outro estrondo foi ouvido a quilômetros do castelo, e pelo nível de som, esse tinha feito um estrago considerável em algum lugar.

— Ops. — Murmurou James, se dando conta de que fez uma outra menção a sua cresça.

Tânatos fechou os olhos e tapou-os com uma mão, fungando e balançando a cabeça em negativa.

Kýrios arqueou uma sobrancelha para o rapaz, prendendo um riso, e depois cruzou os braços e virou o rosto para o rei, e ambos assentiram, em um acordo de paz temporária.

— Sim, sei. Aceito seus argumentos, humano. Agora quanto a esse que está atrás de si…

— Ok, farei o que meu Pista de Parca está dizendo. Mas só porque ele está dando tudo de si para a ter a paz mundial. Viu, como ele é importante, Lorde Hades?

O rei semicerrou os olhos e soltou fumaça pelas narinas pela indireta do outro deus.

— Agora que está tudo resolvido, podemos voltar à nossa reunião. — disse Tânatos, abaixando sua foice, mas logo um sinal de uma ampulheta que ficava pendurado em sua cintura começou a emanar uma áurea escura, e o deus respirou cansado — Tenho que trabalhar. Tenho que guiar um exército para cá agora. Com sua licença Lorde Hades. — E se virou para Kýrios e James — Que estejam sem danos quando eu voltar. — disse, desaparecendo num dispersar, deixando uma fumaça negra para trás, e logo todo o local se iluminou, mas não tanto, somente que as chamas voltaram a refletir em seus vermelhos alaranjados de costume.

— Então, o que vamos fazer até ele voltar? Vamos brincar de Pugilato e quem ficar inconsciente paga uma moussaka? — ironizou o deus do amor.

Hades estava começando a ficar com os olhos avermelhados de novo quando James tossiu fingido e deu um pequeno empurrão no ombro do loiro.

— Por De…. — James quase ia fazer tudo tremer de novo, e logo se corrigiu — … por deuses. Estou com tanta fome! Vossa Majestade, Lorde Hades, o senhor tem algo para saciar a fome deste humano? — sorriu nervoso.

O rei do submundo lhe mirou entediado, e voltou a se sentar no trono, e fez sinal para um par de olhos vermelhos fluorescentes, que saiu da escuridão e se mostrou ser somente uma alma com grilhões nos pulsos e nos pés.

— Vá avisar o cozinheiro, teremos visitas no jantar de hoje. Coloque espaço para mais este humano na mesa.

— Ei, não está se esquecendo de mim? — inquiriu Kýrios.

— Não, não me esqueci. Mas me lembrei de que Cerberus precisa de companhia para seu jantar também. Vou colocar mais um cocho para sua ração.

Antes do loiro abrir a boca para revidar, James mais uma vez interviu.

— Ah, Vossa Majestade, sei que não tenho nenhum direito de pedir nada, mas, gostaria que meu colega aqui jantasse comigo.

— Que seja. — disse, se voltando para um pergaminho que apareceu em sua frente, e pela cara mal humorada que fez, era mais um trabalho para cumprir — Meus servos irão os acompanha até seus aposentos. Espero que não me tirem mais de minha paciência, pois não vou tolerar mais do que foi necessário agora.

— Entendido. Vamos Kýrios? — disse James, lhe puxando pelo braço quando uma alma com vários cortes em sua pele translúcida apareceu do nada e indicava a eles que a seguissem.

O loiro revirou os olhos, e se deixou se puxado pelo rapaz.

•

O quarto era simplesmente só luxo, tanto que até mesmo James, que foi criado no meio disso se sentia sendo esmagado por tanta coisa que havia ali. Quadros, jarros, tapetes, candelabros, almofadas de cetim em tons vermelhos e cinza, e uma enorme cama. Somente uma.

— Eu fico com a cama. — disse Kýrios, já se apossando da mesma e se jogando entre as almofadas.

James lhe encarou, cruzando os braços indignado.

— Eu é quem deveria ficar com a cama! Se não fosse por mim estaria dormindo na casa de um cachorro!

— Ah então você sabe quem é Cérbero?

— Sim. Meu pai brincava comigo dizendo que se eu não comesse, esse cão ia me pegar. Pais normais ameaçam com bichos-papãos, mas meu pai me dava medo com monstros mitológicos.

— Hm, acho que eu iria gostar do seu pai.

— Mas ele não gostou nenhum pouco de você.

— Como sabe? Eu me apresentei de forma tão simpática pra ele naquela festa.

— Foi por exatamente por você ter sido extremamente simpático que ele te odiou. E sabe porquê? Por que ele não gosta de arruaceiros ou pessoas que aparentam ter uma vida boêmia. E olha só, eu era um. Deve ser por isso que ele estava louco para me casar e tentar me enterrar em um escritório… — disse, ficando triste no fim por falar de sua família.

— Ainda tenho certeza de que ele ia me adorar. Mas… Isso não tira o fato de que eu tenho que sair dessa cama.

— Oras seu…!

— Obrigado.

— O quê?

— Por ter agido diplomático. Sabe, Hades e seus dois outros irmãos me dão nos nervos. Mas Hades é o único dos três que gosto de irritar.

— Você não tem medo de morrer?

— James… Eu sou o melhor amigo da própria morte. Então, está tudo tranquilo.

Um bom argumento. Muito válido para um deus, o que significava que não se aplicava a ele, um mero mortal.

— James. — Lhe chamou, e o mesmo se virou — A cama é bastante grande…

— Já escolhi meu canto. Ali perto da lareira parece ser bem confortável. — disse, antes que o loiro fosse completar sua proposta — Pensando bem… Foi bom você ter escolhido a cama, tem que haver espaço para essas suas asas.

— Se asas são um problema…

O deus se sentou e fechou os olhos se concentrando em algo, e logo um brilho maior vindo de si foi sendo transferido para suas asas, que desapareceram numa explosão suave do que parecia ser areia muito fina e dourada.

— Pronto, há espaço.

— Tarde demais. — disse, se ajeitando no tapete perto da lareira, pegando uma almofada e a colocando sob sua cabeça — Uau, é realmente confortável. Mais do que aparenta ser.

O deus lhe encarou por curtos segundos, e deu de ombros, se levantando da cama.

— Certo. Bem… Vou tomar um banho.

— O quê?

— Há uma termal ali atrás do biombo. Com certeza a água está bem quentinha, e muito limpa…

— Obrigado por avisar, vou depois de você então.

— Dá para dez pessoas ali dentro.

— Quero descansar um pouco, me sinto exausto.

— Este lugar está tirando sua vitalidade, James. E eu posso lhe emprestar mais. Mas para isso…

Um farfalhar de roupas foi ouvido, e depois, passos surdos vindo em sua direção, uma presença muito forte que parou ao seu lado, deitando bem ao lado de onde ele estava.

— Ah meu… M-meus deuses! — disse James, tapando os olhos ao ver que o loiro estava nu e deitado de lado e ao seu lado e olhando para ele.

— James, não sei porque sente tanta vergonha. O que eu tenho, você também tem. Sem bem que… Eu tenho maior. — brincou, rindo ao ver o rapaz com o rosto vermelho.

— Cale a boca! E vá logo tomar seu banho antes que eu faça sua coisa maior ficar bem menor com aquela espada ali!

O deus gargalhou, não se importando com as ameaças, e continuou deitado ali, se divertindo com o constrangimento do rapaz.

— Só vou se você rasgar aquele contrato.

— O quê?!

— James, olha para nós. Já estamos nos tratando normalmente de novo, brigando como dois bons e velhos amigos e você nem percebeu. Ah, por isso que gosto de humanos. Vocês não conseguem fingir por muito tempo. A máscara logo cai e se mostram como são de verdade.

Nessa James teve ficar em silêncio e admitir. Nem tinha percebido que estava da mesma maneira com aquele deus mesmo estando sob aquelas condições do contrato que fizera para o mesmo.

E além do mais…

Havia a vantagem de que, agora, ele podia não mais ficar com sentimento de culpa e se sentindo um merda.

Tudo bem que agora poderia ser altamente perigoso acontecer aquelas coisas, mas dane-se, estar com a consciência limpa era muito mais vantajoso, e confortável. E outra, se houvesse alguma outra tentativa daquele loiro em agarrá-lo por algum motivo, ele tinha dois punhos perfeitamente saudáveis para resolver isso.

— Ok! Que quebremos aquela porra de contrato!

— Ah que bom! — o deu se sentou e abriu sua mão, fazendo aparecer um papel todo amassado.

James logo supôs que ele deveria ter pego quando eles estavam indo embora, pois ele tinha amassado e jogado na varanda para o vento levar de propósito. Mas não, lá estava o papel na mão do loiro.

E com um simples assopro, o papel saiu voado lentamente em direção a fogueira da lareira, queimando-se na hora.

— Isso não quer dizer nada, Kýrios. — disse, pondo suas mãos atrás da cabeça e se fazendo de despreocupado — Você sabe o que lhe vai acontecer se me beijar de novo daquela maneira. Ou melhor, se encostar em mim novamente.

— Porque acha que não te toquei mesmo sabendo que precisa de minha vitalidade? Olha James, está vendo? Estou sendo mesmo o bom menino que você disse para Hades que eu seria.

James olhou para ele, e o mesmo exibiu um olhar inocente, mas seu sorriso arteiro de canto entregava todo o jogo.

— Estou vendo. Agora, vá tomar seu banho.

— Venha comigo. Como eu disse antes, cabe dez pessoas ali. Eu fico num lado, e você fica do outro. Vai, por favor! — pediu, quase implorando, e James estranhou aquele jeito.

— Porque quer tanto que eu vá tomar banho com você? Está planejando algo? Se for, já fala logo que já vou aquecendo minhas esquerdas e direitas. — disse, tirando as mãos da cabeça e massageou seus próprios punhos.

Kýrios sorriu e se levantou.

James logo suspirou e fechou os olhos, tinha se esquecido que o mesmo estava nu.

— Não é por nada. É só que… Bom, vou confessar: Estou com um pouco de medo. A termal é assustadora. Os mármores são pretos, e a água é branca e ainda por cima há nevoa. Parece um pântano!

— Está querendo me atirar ali dentro primeiro como uma isca para ver se não há perigo? É isso?

— Não, não. O que pensa que eu sou?

— Um medroso descarado! E será que dá pra você sair de perto? Suas bolas estão praticamente em cima de mim!

O deus riu e balançou a cabeça em negativa, se afastando, pegando algo, mas voltando em seguida, e James novamente sentiu sua presença.

— Eu já disse para você…

— Abra os olhos.

— Não!

— Fique tranquilo, confie em mim.

— Está aí uma coisa que não consigo ainda, confiar em você!

— Oh, assim você me magoa, Sr. Payne.

Ouvir seu sobrenome lhe fez sem querer abrir os olhos, e se surpreendeu por ver o outro vestido com um robe de algodão cinzento.

— Sei que essa cor não combina comigo. Mas dá pro gasto. E olha, tem outro ali também. Na verdade, há centenas, todos da mesma cor. Então não tem por que você ficar com inveja de mim. — disse, lhe dando uma piscadela e erguendo uma mão para ajudar o outro a se levantar.

Em desistência e aceitando a ajuda, o deus lhe puxou, e a força foi um pouco a mais do que devia, fazendo o moreno bater contra seu peito. E para o outro não cair, conseguiu lhe pegar pela cintura a tempo.

— Me desculpe, é que este lugar está me deixando instável com meus poderes.

James só conseguia pensar numa coisa: em como os olhos daquele loiro eram lindos.

Eles tinham finíssimas riscas com várias cores, desde castanho, azul que o principal, verdes e uma predominância de dourado no centro.

E quando se deu conta de que em sua mente pairava aquele pensamento, afastou-se bruscamente e arrumou seu cabelo um tanto sem jeito, era mais um ato de escapismo do que realmente querer arrumar sua aparência.

— Claro. Eu também estou me sentindo assim… Mas não precisa se preocup…

— Isso, venha, vou logo lhe passar minha vitalidade. — Sem esperar o outro dizer alguma coisa, pegou suas mãos na suas e começou a emanar uma áurea de tons dourados com pontos vermelhos.

Era incrivelmente fascinante o modo como aquela áurea passava para ele, era também muito bom, lhe dava a sensação de paz, de acolhimento… muito diferente do que ocorreu na primeira vez naquele ritual.

— Kýrios, porque não dói mais como foi na primeira vez em que passou isso pra mim?

— Vamos dizer que… Aquele ritual foi como uma marreta quebrando um muro de concreto. E como está sendo difícil pra você como estar aqui por conta de você ser vivo e de outro domínio, foi a mesma coisa naquele ritual. Seu corpo estava selado com o batismo de sua crença. Foi muito arriscado, mas eu sabia que você era forte para poder aguentar. — Sorriu, amigável, mas depois prendeu um riso por conta de um pensamento que lhe veio à mente.

— Do que está rindo?

— Nada, é só que… Poxa, perdi a piada. Eu poderia usar outro tipo de analogia, do tipo, que agora não dói mais porquê… Agora você não é mais “virgem”. Afinal, eu a tirei. Então… Bem… agora será sempre fácil minha vitalidade entrar em você. —  Arqueou uma sobrancelha e sorriu agora com aquela malícia arteira conhecida.

James sentiu as bochechas começarem a queimar, e logo afastou suas mãos das do deus.

— Idiota…! — Murmurou entredentes.

— Ainda não terminei. Isso que estou fazendo é temporár…

— Já estou me sentindo muito bem obrigado! — disse interrompendo o deus, se encaminhando para a termal atrás do biombo que o loiro indicou.

Kýrios começou a rir o seguindo.

•

A termal era mesmo assustadora. Havia uma aura estranha, e parecia que a qualquer momento iria sair dali um monstro cheio de tentáculos e uma boca cheia de dentes.

Kýrios recusou a ir primeiro, e empurrou o rapaz para dentro, e o mesmo ficou muito bravo, fazendo seu medo sumir e ir atrás do loiro, lhe puxando com robe e tudo para dentro, e o afundando para dentro da água como se tentasse afogá-lo, mas não durou muito, só queria fazê-lo mergulhar e provar que não havia nada ali.

— Se esse lugar não fosse tão escuro e medonho, ficaria aqui por uns cem anos nesse castelo. — disse Kýrios, relaxando sua cabeça na beira, onde havia uma toalha preta.

Do outro lado a quase dois metros de distância estava James, que passava em seus braços algumas especiarias estranhas que ao tocar em sua pele dissolviam e a limpavam na hora enquanto um efeito quente se espalhava.

— Há alguns sais por aqui, os quer na água?

— Coloque tudo o que há de bom. Já que Hades está nos oferecendo toda essa estadia, porque não aproveitar tudo? Há vinho em algum lugar aí do seu lado também?

— Quem me dera… Faz tanto tempo que não bebo… Ou não danço, ou não escuto alguma música. Estou com saudades de sair pela noite e só voltar no alvorecer, com muitas lembranças de minhas madrugadas e das belas…

— Parece que estou ouvindo o Dionísio falar na minha frente. — Sorriu sem mostrar os dentes, seu olhar ficando nostálgico — Acho que vocês seriam muito amigos.

— Mas você é amigo dele?

— É claro! Ele sempre frequentava meu lar, sempre estreando seus inventos de novos vinhos que ele ia passar para a humanidade. Era bem divertido…

— Sua Psiquê gostava também?

Kýrios não sorriu dessa vez, somente soltou um longo suspiro.

— Gostávamos de fugir das festas, e fazer a nossa própria em algum cômodo vazio…

— Hm, legal.

Kýrios franziu o cenho, e encarou o outro.

— Legal?

— É. Legal. O que foi?

— Nada. Não é nada. Só pensei que… bom, deixa pra lá. — Mergulhou, para em seguida submergir com os fios todos molhados outra vez — Quer que eu te ajude?

— Me ajudar?

— Sim. Até agora não vi você alcançando as costas para lavá-las.

James refletiu, e pensou em que momento o deus lhe observava? Já que passou metade do tempo de olhos fechados relaxando em seu canto.

— Não precisa.

— Ah, pare de timidez. Leve isso como um treinamento.

— Treinamento?

— Sim, de sua fragilidade humana.

— Fragilidade? Que porra está falando?

— De nada James. Só estou novamente brincando com você. Agora vamos, me deixe passar isso em suas costas. E eu já prometi também sobre aquilo. Não vai mais acontecer. Combinado? O que mais quero agora é poder reparar este meu erro sobre aquele teste e a minha tentativa de tirar minhas ocitocinas de você. Então deixe-me provar e ganhar sua confiança novamente em mim? Por favor, acho que depois de tudo mereço uma redenção por aquele beijo, não acha?

James lhe mirou analítico, e depois de longos segundos, deu um aceno positivo de cabeça, e sem pestanejar o loiro se aproximou, pegou uma especiaria em cubos que estava em uma bandeja e pediu para o rapaz se virar e costas pra ele.

— Espero não me arrepender.

— E não vai! Eu lhe garanto. — disse, se empenhando a cumprir sua promessa.

As mãos do deus eram macias, não havia calos em suas palmas. Mas havia um calor muito reconfortante, parecia que era assim sempre.

E enquanto passava aquele cubo que quando entrava em contato com a pele ficava pastoso, o deus também esfregava o material para dispersar mais rápido por toda a pele.

— Está bom?

— Sim, está.

— E aqui? Posso passar aqui também? — perguntou, descendo para o meio de suas costas, e o mesmo fez que sim.

James podia até não verbalizar, mas ter suas costas sendo lavadas lhe fez lembrar de suas criadas quando ele ainda era um adolescente e vivia se metendo em confusões que sempre acabavam com ele todo sujo de terra ou carvão, já que por muitas vezes fugia com seus amigos para algumas fábricas ali pela região.

E as mãos suaves do deus lhe fez lembrar de uma em especial, ou melhor, da favorita dele. Uma criada a qual foi sua primeira paixonite de adolescente depois do… daquele ocorrido com o primeiro. E que mais tarde havia descoberto que não era também exatamente uma criada…

Por conta de não achar nenhum emprego por ser o que era, não havia contado que era um rapaz que tinha ambos os sexos. Na época, James tinha ficado muito chocado, mas seu coração parecia não querer saber disso.

E aos dezessete anos, mesmo já tendo ido escondido para vários bordéis e conhecido várias garotas mais velhas que ele, nenhuma foi tão especial quanto… esse rapaz. Claro, em seu pensamento ele tinha se apaixonado pela moça, gostado de sua personalidade gentil e amável, o quão era responsável e competente em seu ofício de faxinar e cuidar dos dois herdeiros dos Payne. Quantas e quantas vezes ela tinha lhe feito curativos em suas feridas de brigas aleatórias ou brigas de aposta.

Mas por conta dos seus pais terem descoberto isso, sobre sua verdadeira identidade, lhe mandaram embora, e nunca mais o viu. James havia ficado triste por dias, até entender que o que seus pais fizeram foi na justificativa de “manter o nome da família limpo”, já que dependiam também da aparência para manter os negócios.

E depois de muito tempo triste pela partida do jovem rapaz que era somente um ano mais velho que ele, James tinha decidido que era melhor assim, pois havia refletido, e tinha visto que coisas muito perigosas iriam acontecer se caso ele ficasse por mais tempo. E isso seria culpa de seu coração, que havia lhe enganado outra vez.

Tudo uma grande armadilha, e ele não podia cair. Tinha que manter sua dignidade seu pai lhe dizia, e seguir em frente, como uma vez sua governanta lhe aconselhou.

As mãos de Kýrios não vacilavam, não deixavam nenhum ponto de pele sem aquela pasta. As vezes seus dedos iam até seus ombros, desciam para a lateral da cintura definida do outro, as pontas quase chegando em suas costelas…

James se sentia muito bem, o calor que o outro emanava para a suas costas era muito bom, parecia estar sendo abraçado por trás. As mãos espalmadas em suas costas lhe davam uma sensação tão familiar e natural… Seu corpo reagia com pequenas ondas de frio e calor que iam parar em sua barriga, e desciam até o baixo de sua virilha.

— Pronto! Feito. — disse Kýrios, dispersando o conteúdo na água.

— Obrigado. — disse Jmaes, e quando já ia se virando, por sorte seu pulso se esbarrou no seu próprio corpo, e sentiu algo que não queria sentir — Merda!

— James? O que houve?

— Nada! V-Você pode se afastar?!

— Claro, tudo bem. Vai me socar na cara ou algo assim? Esse olhar está me dizendo que sim. Olha, isso será injusto! Eu não fiz nada!

— Kýrios, saia dessa maldita terma, agora!

— Ok! Não precisa gritar! Já estou saindo. — disse, se afastando com cara emburrada — Irritadinho. — Murmurou em reclamação, saindo, vestindo seu robe e se encaminhando para o quarto.

James ficou ali, só, e em pânico.

O motivo: seu membro estava ereto. Bem ereto.

— Porra, porque fiquei assim?!

Ele sabia, ah como ele sabia. Mas nem morto queria admitir.

Quantas vezes enquanto o loiro lhe esfregava as costas, quando seus dedos quase passavam da fronteira onde ficava a lateral de seu corpo, o ligeiro pensamento de desejar as mãos do outro num “só mais um pouco pra frente” passavam pela sua mente quase enevoando seu bom senso.

Se ele podia pedir para parar? Sim.

Mas estava sendo gostoso demais para seus lábios poderem verbalizar. E quando se deu conta, já estava numa linha tênue de desejo que quase o fez soltar um som inapropriado com sua boca. E só acordou daquele devaneio quando o deus lhe avisou da tarefa terminada.

— O que eu faço?!

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Capítulo 13
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Missão Ágape

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O Olimpo está em crise, e tudo porque de repente uma profecia disse que um deus iria dizimar o seu sistema e tudo que eles lutaram para conquistar e poderem estar no poder até hoje.

E é...

Chapters

  • Capítulo 47 Proemial
  • Capítulo 46 Alto Mar
  • Capítulo 45 Anelos
  • Capítulo 44 Verdades da Alma
  • Capítulo 43 Premências Difíceis
  • Capítulo 42 Enraizados
  • Capítulo 41 Chaves Sinceras
  • Capítulo 40 Presença
  • Capítulo 39 Luz Misteriosa
  • Capítulo 38 Possibilidades
  • Capítulo 37 Espólios
  • Capítulo 36 Fogo
  • Capítulo 35 Visitas Indesejadas
  • Capítulo 34 Penalidades
  • Capítulo 33 Mais, ou Menos
  • Capítulo 32 Temerário
  • Capítulo 31 Serviços Extras
  • Capítulo 30 Zelus
  • Capítulo 29 Magnetismo
  • Capítulo 28 Despertando
  • Capítulo 27 Sem Céu para Inocentes
  • Capítulo 26 Entre Mortais
  • Capítulo 25 Nuances
  • Capítulo 24 Céu de Luzes
  • Capítulo 23 Sobreposição (parte 2)
  • Capítulo 22 Sobreposição (parte 1)
  • Capítulo 21 Café Quente
  • Capítulo 20 Conselhos
  • Capítulo 19 Muros em Chamas (parte 3)
  • Capítulo 18 Muros em Chamas (parte 2)
  • Capítulo 17 Muros em Chamas (parte 1)
  • Capítulo 16 Cem Olhos
  • Capítulo 15 Nobre Amizade
  • Capítulo 14 Impulsos
  • Capítulo 13 Abaixo da Superfície
  • Capítulo 12 Fim de Festa
  • Capítulo 11 Fagulhas
  • Capítulo 10 Noite de Cores
  • Capítulo 9 Sopa de Ossos
  • Capítulo 8 Saindo do Ninho
  • Capítulo 7 Dádivas
  • Capítulo 6 Reunião Cancelada
  • Capítulo 5 Sonhos?
  • Capítulo 4 Empecilhos
  • Capítulo 3 Efúgio
  • Capítulo 2 Bençãos á Vista
  • Capítulo 1 Sem Opção
  • Capítulo 0 Prólogo dos Contratempos do Amor

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