Capítulo 2
Aquele estava sendo o pior aniversário de sua vida.
James não imaginava que seus pais tramavam sua infelicidade as escondidas. E pior, com a moça que ele mal conhecia, a não ser de vista em reuniões familiares ou quando tinha algum evento na empresa.
Não sabia o que fazer. Em sua vida tudo era feito para ele, e talvez por isso, seus pais tomaram passo até de suas escolhas futuras.
Mas também… O que ele podia fazer se sempre desde do início nunca deu indícios de ser uma pessoa com atitudes? Bom, vontade ele tinha, mas com o tempo foi deixando de lado essa personalidade ativa, deixando a maré o levar para onde quisesse.
Ele estava longe de ser um líder… E muito menos um CEO de uma empresa tão grande e importante como aquela.
A casa estava toda arrumada, os convidados ainda não haviam chegado, mas os serviçais já estavam a postos na varanda para poder receber os mais de duzentos convidados que receberam o convite daquele aniversário, ou melhor, daquele “noivado inesperado”.
O moreno estava em seu quarto a horas, debaixo das cobertas, lendo um livro de Kama Sutra, um artefato pego emprestado sorrateiramente do escritório de restauração de seu pai.
Apesar do cheiro de livro velho, as gravuras eram bastante interessantes e tinham o ar proibido que instigava a ler e ver mais e mais imagens das páginas seguintes.
— Hm, já que vão me jogar num precipício, pelo menos que eu tenha meu último desejo feito.
Bem, não havia como ele fugir pela janela para ir de encontro aos seus amigos para chamá-los para uma noitada no mais caro bordel para fazer sua própria despedida de solteiro com as mais belas moças que Londres podia oferecer, já que seu quarto ficava de frente para a saída lateral, e havia muitas pessoas lá embaixo que com certeza já estavam orientadas a dedurá-lo para seus pais.
Então, só havia uma solução para aproveitar seu últimos instantes de felicidade…
Se sentando, mas ainda debaixo de sua coberta, James abriu sua braguilha, abaixando a calça e tirando seu membro de dentro das peças íntimas, que já estava um pouco ereto por conta das gravuras sensuais e explícitas do livro.
Era bem capaz de já ter experimentado dez por cento daquelas posições, os outros noventa não eram possíveis pelo fato de querer fazê-las com quem ele realmente confiasse, já que certas coisas demandavam de certa estabilidade emocional para poder relaxar e encarar a opção que tinha. Então só fazia o básico.
Afinal, não queria ter a vergonha de ter seu nome e sua fama jogados na lama por conta de algum acidente ou torção pelo caminho por causa das posições quase contorcionistas e por causa de alguns gostos dos quais havia prometido nunca mais dar atenção…
Os movimentos começaram lentos, para pegar o clima. Eram movimentos já decorados, e bastante prazerosos, já que conhecia onde conseguia mais sensibilidade e desejo.
Para facilitar um pouco, esticou o braço para fora do lençol e conseguiu pegar em sua gaveta do criado mudo um frasco de óleo de morango, um presente de uma cortesã, o qual ele abriu com a boca, e despejou um pouco na sua outra mão que segurava seu membro.
A sensação era deliciosa, havia um efeito que aquecia, e com uma simples respiração naquela direção, fez tudo se intensificar.
— Vamos brincar um pouco… — sorriu de canto, murmurando manhoso ao apertar a glande e passar seu polegar lentamente pelo frênulo.
Ah, aquilo era o inicio de seu paraíso…
Eram poucas, quase nenhuma, que conseguia achar aquele ponto específico, e mesmo assim, ainda não era tão satisfatório quanto ele mesmo se dar prazer no local exato que seu corpo ansiava.
Para cima, para baixo… observava o sangue ir para aquela região, indo e voltando aquela mediana extensão com algumas saliências que o excitavam…
Ser era estranho sentir prazer com seu próprio corpo dessa maneira? Bem, James achava que sim, e era por isso que, pela sensação de não ser uma coisa normal que isso lhe instigava a querer desvendar mais daquela estranheza.
“É só o meu próprio pau, não tem nada demais… mas porque sinto tanto prazer nisso?” Pensava.
A cada vez que sua mão subia e descia, mais sua mente se enevoava para se fantasiar naquelas gravuras, mesmo que fossem às vezes um pouco estranhas por conta da arte não ser tão desenvolvida. Mas a ideia era o que contava.
— Isso… Droga… queria alguém agora aqui comigo… — disse, entredentes, baixinho, para que não fosse ouvido.
Seus gemidos eram contidos, já que qualquer coisa que saísse um pouco mais alto poderia ser ouvido por alguém que fosse passar na frente da porta de seu quarto. Então para não correr o risco, quando sentia uma onda mais deliciosa de sua excitação, cobria sua propria boca, ao mesmo tempo que imaginava que alguém é quem estivesse lhe fazendo isso para não ser “pegos no flagra” naquela brincadeira.
— Hgmm~… — gemeu, quando sentiu uma outra onda mais excitada quando fez um movimento certo em sua glande, que aquela hora já se encontrava bem avermelhada pelas fricções constantes e pelo desejo que se acumulava a cada instante.
E uma outra página foi virada…
Uma outra posição, uma outra forma bastante peculiar que lhe chamou a atenção. Mas que naquele momento, não iria parar para observar mais de perto, a não ser se atentar em como estavam aqueles dois personagens distintos dos outros.
A moça de cabelos dourados estava montada em cima do seu parceiro, seus cabelos longos caiam por sobre os ombros. Não dava para ver seu rosto. Mas James presumia que ela deveria ser muito linda, pois era a única ali que tinha essa cor de cabelo.
Talvez… A pessoa que tenha desenhado tivesse tido uma convidada especial, e resolveu imortalizá-la naquele livro.
— Só… mais um pouco… mais um pouco… Ahm…
Parecendo uma descarga elétrica que passou por suas costas, indo para sua barriga, e descendo para o meio de suas pernas, o moreno sentiu todo seu corpo se preparar para a grande explosão que logo viria.
Mão para baixo, na base, para cima, sem parar… sem hesitar… Indo forte, deslizando freneticamente. Sua mão sem calosidades ajudava a deixar aquela ação mais fluída, mais prazerosa… mais…
— A-ah… agh… só… mais…
De repente, quando virou outra página e olhou para uma certa gravura à direita, seu corpo esquentou e paralisou por curtos segundos, sua mente lhe pregou uma peça perigosa e como um raio que tivesse acertado sua cabeça, seus pensamentos começaram a criar uma fantasia totalmente fora do que ele já tinha experimentado.
Poderia ser só uma impressão por conta do tempo ter deixado aquela imagem um tanto distorcida, mas porque do nada ele pensou ter visto dois homens?
— Oh…!? Porque meu pau ficou…? Não… Isso não pode…!
Não parava, não queria, não podia. Estava perto, bem perto de seu paraíso… tão intenso, rumo a erupção que seu corpo conhecia bem…
— James? Você já esta pronto?
Foi o maior balde de água fria mais gelado que havia tomado. Pelo que lembrava.
— T-tia? — perguntou lá pra porta — Que merda ela está fazendo aqui?! — sussurrou para si.
Saindo as pressas debaixo do lençol, guardou o frasco de óleo na gaveta, pôs rapidamente para dentro do calça seu membro, escondeu entre os outros livros de estudos de arte o de gravuras obscenas que estava “degustando”, e num pulo foi até o toillet lavar suas mãos.
Tudo em menos de dois minutos…
— O-oi! Titia! Que belos ventos a trazem aqui! — disse, sorrindo o mais simpático que podia, dando passagem para a senhora entrar.
— Eu conheço muito bem o suficiente para saber que minha presença aqui não é muito bem vinda. Mas um dia você entenderá minhas exigências. Fez todas as lições que te falei?
— Titia… Hoje é dia de festa.
— E isso é motivo para deixar de lado suas obrigações? Seu pai me contou que irá noivar-se hoje com a filha do dono da Restauradora e do Museu. Já tem que agir como um homem adulto, James.
— Titia, meu pai está exagerando. E a senhora também.
— Exagerando? James, suas notas só vem caindo! Você não dá valor ao meu trabalho?
James dava valor. Mas ficava difícil quando tinha uma ditadora ao seu lado todas as tardes lhe dizendo que nunca estava bom o suficiente.
Quando ele estaria? Oras, ele estava ainda estava completando dezoito anos naquela festa!
— Titia… Prometo que farei tudo certo. Não há escapatória, como todos já deixaram bem claro para mim…
— Não leve isso que estamos fazendo por você como uma espécie de tortura. Eu, seu pai e sua mãe só queremos o seu bem.
— Eu sei. Mas…
— Não tem um mas. Está decidido. E essa família só prosperará com isso. Pense em seus futuros descendentes. É por eles que você tem que se tornar melhor.
James se perguntava se o que a sua tia era, se esse era o melhor que o esperava que ele tinha que ser, se for… ele não estava gostando nada, nada do que seu futuro estava lhe reservando: amargura, pele pálida, rabugentice, rugas, cabelos grisalhos, doenças de idosos e uma pilha de papeladas dentro de uma sala cinzenta.
Que triste… e irritante, para não dizer pior.
— Meu pai lhe enviou até mim para dizer todas essas coisas?
— Não preciso de algum roteiro de meu irmão para lhe dar lições. Mas agora sem mais delongas, já está pronto para sua grande noite?
James olhou para si. Sua tia lhe examinou dos pés a cabeça e fez uma expressão de reprovação.
— Você tem cinco minutos. Não mais. Vou te esperar aqui enquanto corrijo o que você já fez… — disse, se sentando na mesa de estudos.
James se lembrou que tinha escondido ali seu livro proibido e logo sua espinha gelou quando, por falta de sorte, sua tia pegou logo o que estava embaixo dos outros.
— Titia! — gritou, assustando a senhora sentada.
— Porquê está falando nesse tom?! Não sou surda! — reprendeu, largando o livro no chão, que ficou aberto, parecendo que aquilo estava sendo proposital para sua desventura.
E como um gato indo pegar um rato, James pulou na frente da tia e pegou o livro do chão, se levantando e fingindo uma calma despreocupada, colocando na estante o tal livro proibido.
— Desculpe pelos meus modos, é que tive a impressão de ter visto uma barata…
— Barata?! Onde?! — sua tia levantou na hora da cadeira e ficou olhando para tudo ao redor.
— Já passou. Ela deve ter escapado pela janela…
— Deve ser essas coisas mofadas que seu pai trás pra essa casa. Coisas velhas atraem insetos e roedores.
Apesar de não gostar quando seu pai lhe intimava a ter que seguir seus mesmos passos, James gostava do trabalho que seu pai fazia. Arqueologia era interessante, misteriosa, excitante, e em parte, bem raras as vezes, ele gostava de umas coisas ou outras como aquele livro indiano de posições sexuais.
Então ouvir aquilo de sua tia não soou bem em seus ouvidos…
— Coisas mofadas dão uma boa fortuna. — disse, jogando uma indireta para sua tia, que entendeu e semi-cerrou os olhos aborrecida em direção ao moreno.
É claro… Toda aquela família era sustentada pelo dinheiro das reformas que seu pai fazia. Então, falar mal disso era o mesmo que cuspir onde comia.
— Cinco minuto, James. Ficarei na varanda lhe esperando. — disse.
— Me esperando? Pra quê? Eu não vou sair correndo e nem fugir.
— Serei a mediadora entre você e a filha do Hughe.
“Ah claro, ela tinha que estar nesse assunto também”. Pensou, um tanto irritado.
Saindo do quarto a passos duros, sua tia fechou a porta de forma que avisava que não estava para brincadeiras.
•
Impecável de acordo como mandava o figurino. James teve que vestir seu traje de gala que tanto odiava. Não gostava de como lhe deixava: organizado.
Para ele, os padrões eram somente para chatear e aborrecer as pessoas, deixando-as reprimidas em um mundo arquitetado e voltado somente para agradar aos olhos dos outros. Sempre a opinião dos outros.
— Meu bebê cresceu tanto… Não acredito que em poucos meses irá construir uma família e herdar uma importante propriedade. — disse Dona Imogen, sua mãe.
James estava sentado de costa para a mesma, que ajeitava seu colarinho, endireitando a gravata borboleta, e ao ouvir aquilo, revirou os olhos em aborrecimento.
— Minha senhora. — disse uma criada, entrando ali com um pequeno papel na mão — Um telegrama chegou.
Dona Imogen saiu em pulinhos animada para receber o telegrama.
E pelo semblante empolgado, James pôde deduzir de que assunto se tratava.
— Vão cancelar a festa? — brincou o rapaz.
— Bata essa boca, não fale uma besteira dessas. — advertiu sua mãe — O Sr. Hughes, seu futuro sogro, está pedindo desculpas pelo incômodo de terem que chegar atrasados. Parece que houve um acidente na Avenida Oxford Street.
— Acidente? O que ocorreu? — perguntou o rapaz.
— Não diz no telegrama. Bom, seja o que for, não é pra tanto para desmanchar tudo. Ou então estaria escrito aqui. — disse sua mãe, ansiosa — Vamos? Temos que já estar no salão para receber os convidados. E bote um sorriso nesse rosto, ou vai estragar a decoração com seu emburramento.
James então abriu um grande sorriso falso, se levantando com elegância.
— Assim está melhor, mamãe?
— Olha esse tom. — sua mãe balançou a cabeça em negativa e puxou o filho pelo braço, para que a acompanhasse até o salão.
Dentro dos primeiros minutos os primeiros convidados tinham chegado, e dentro de meia hora aquele lugar estava cheio de pessoas pomposas exibindo ares de superioridade enquanto eram servidos com champanhes e coquetéis.
James bem que tentava pegar uma taça, mas sempre tinha alguém dos criados que lhe tomavam a bebida, tudo por ordens de seus pais, que os orientou para deixá-lo o mais longe possível do álcool e ficasse lúcido para que não cometesse alguma gafe ou escândalo na festa.
— Parabéns pela festa, Sr. Payne. — disse uma moça chegando de repente até ele de modo elegante.
— Obrigado. Mas todos os créditos são para a Sra. Payne, minha mãe. — disse o rapaz, observando a beleza da moça, mas por um motivo, não tinha ido muito com sua cara.
Parecia familiar… Muito familiar…
Não que ela fosse bonita, era ela linda. Mas seu olhar transmitia a de alguém que estava caçando uma presa que já estava caída em sua armadilha.
— Muito modesto de sua parte. O vi de longe, e percebi que não está muito contente.
— Eu? Não muito contente? Hm, você está certa. Não estou. Mas, o que posso fazer? Esse terno está me matando.
A moça riu breve e pegou duas taças de champanhe de um garçon que passava por ali.
— Me acompanha?
— Com muito gosto. — disse, pegando a taça da mão da moça e a virando de uma vez só. A moça arqueou uma sobrancelha e sorriu enigmática — Oh, me desculpe, mas é que para o que vai acontecer hoje eu não gostaria de estar sóbrio.
— Então deve ser um evento muito importante. Está nervoso?
— Nervoso? — James riu breve em escárnio — Estou mais para… Com sentimento de estar indo pra forca. Já sentiu isso.
A moça riu, e fez que sim.
— Sua sinceridade é estimável. Gosto de pessoas assim.
— Sério? Ah, que bom. Porque há muito mais de onde isso veio. – disse, em tom mais galanteador.
A moça sorriu de canto, e bebeu mais um gole de sua taça.
— James. Seu pai lhe chama. — disse um garçom, quase da mesma idade que ele. Na verdade, era o filho da governanta, então ambos eram amigos desde infância.
— Ah sim. Certo. Obrigado por avisar, Harry.
O rapaz antes de ir fez uma expressão de “Uau, que sorte você tem por conversar com uma moça tão linda, mas que pena que será posto em correntes daqui a pouco por outra”.
James fungou em cansaço, e virou uma segunda taça que pegou da bandeja do amigo.
— Me deseje sorte.
— Eu até desejaria, mas sei que não terá mesmo. Afinal, é seu pai que esta lhe chamando. Bom, com licença senhores. — disse, se despedindo do amigo e da moça.
— Vou indo então, depois a gente conversa mais, Sr. Payne.
— Pode me chamar só de James. Senhorita…
— James! — lhe chamou seu pai ao longe, fazendo o rapaz revirar os olhos discretamente.
— Acho melhor você ir logo. Até mais, James. — disse a moça, lhe dando uma piscadela.
James sorriu em correspondência, mas bufou assim que se virou para ir até seu pai.
— Sim, pai?
— James, recebi um telegrama dizendo que o Hughes estará aqui dentro de alguns minutos. Então, vá e pegue logo o presente lá no meu escritório. Está na hora de se preparar.
Aquela última palavra fez todos pêlos do rapaz se arrepiar em repúdio. Não estava nem um pouco a fim de ir pegar qualquer coisa, principalmente aquele objeto que seria o seu grilhão.
— Sim, pai, já estou indo. — disse, mas antes de se virar, seu pai pôs uma mão em seu ombro.
— James, um dia você vai me agradecer.
— Assim espero, mesmo.
Aquelas palavras eram verdadeiras. James tinha toda uma visão totalmente negativa daquilo tudo, mas, uma outra parte sua dizia: “E se isso tudo for para um propósito maior que não estou conseguindo ver?”
Assim como apostava que tudo em sua vida iria ruir com aquele noivado, também estava apostando que pudesse haver uma salvação, um consolo naquilo tudo.
O som das pessoas se ouvia bem abafado ali no escritório de seu pai, e o cheiro de coisas velhas coçava em seu nariz. Mas por conta do evento daquele momento, todas as janelas estavam abertas para poder receber um pouco de ar.
James foi até uma delas, e viu a frente de casa cheia de outras pessoas nos jardins, bebendo, conversando umas com as outras, sorriam felizes enquanto se exibiam em seus chiquérrimos trajes.
Tudo aparência, ele sabia disso.
Pois por trás daqueles sorrisos falsos havia crueldade, inveja, e até tristeza. A maioria era assim.
E parece que ele estava sendo puxado pro meio disso tudo, sendo obrigado a se tornar mais uma alma cinza no meio daquela massa.
— Onde será que meu pai colocou aquela porcaria? — disse James, procurando com o olhar o tal pingente.
Procurou pelos armários de porta de vidro, pelas gavetas, cômodas, recipientes, e tudo onde sua visão e imaginação pudesse alcançar.
Mas não encontrava.
Isso até sentir algo quebrar sobre um de seus sapatos.
— Que grande merda!
Aquilo só podia ser um sinal.
James se abaixou desesperado para pegar o tal pingente que antes estava ligado a um elo na corrente, e foi justamente essa parte que havia quebrado.
Indo até a mesa de seu pai, procurou por algo para poder emendar de volta aquilo.
— Eu consigo, isso não deve ser tão difícil… A-ai! Porra! — xingou, após se ferir com a ponta afiada do pingente de flecha. Não havia prestado atenção quando tentou com um pequeno alicate ligar novamente a outra ponta da flecha ao elo na corrente tentando dobrá-lo num improviso bem amador.
Irritado, largou tudo em cima da mesa e foi pegar um lenço de seu bolso para cobrir sua palma machucada pelo corte.
De repente, um frio em sua espinha foi sentido, junto de um pulsar mais forte em seu coração. Era uma sensação muito estranha, como se já tivesse sentido isso antes.
Não era ruim, pelo contrário, era bom, lhe passava um sentimento de estar completo, de alguma forma.
— James?
— Já estou indo! — respondeu. Era sua mãe, que entrou ali com semblante preocupado.
— Está tudo bem? — perguntou, ao perceber que o mesmo suava frio, segurando sua mão envolta de seu lenço já meio sujo de sangue — O que houve?!
— Não foi nada. Foi só… Eu tentando ser um “restaurador”.
Sua mãe se aproximou, deu um pequeno sorriso e pegou a mão ferida do filho na sua para poder analisar o ferimento.
— Sabe, filho, sei que isso tudo está sendo complicado para você, mas saiba que os caminhos que Deus nos reserva podem parecer sinuosos, mas quando estamos trilhando ele, percebemos que todo esse tempo na verdade era uma reta, perfeita, e era nós que estávamos caminhando torto ou tentando sair dele.
James podia estar mais aborrecido que for, mas sempre sua mãe dava um jeito de quebrar aquela barreira bélica e orgulhosa dele.
O rapaz sentia vontade de chorar de raiva, por tudo. Seus olhos entregavam isso, havia um desaguar quase eminente que se misturava a dor de sua mão lastimada.
— Sabe, mãe, me sinto sufocado! Hoje está sendo o pior dia de minha vida! Sendo que era pra ser o melhor! Creio que a sorte tenha me abandonado. Tudo de ruim está me acontecendo!
Sua mãe fungou, e beijou sua testa.
— Não seja tão dramático, James. — disse, indicando para o mesmo se sentar na cadeira de seu pai enquanto a mesma procurava uma maleta de primeiros-socorros — Quando menos você esperar, tudo vai melhorar.
— Já esteve em algum momento assim?
Sua mãe deu uma breve risada.
— Todos os dias.
James franziu o cenho, intrigado com aquela resposta.
— Mas não estamos aqui para falar de mim. Estou aqui para falar de você, e — assim que achou pequena maleta, foi em direção a mesa — para curar esse dodói.
James respirou fundo, e sorriu, tentando suprimir as lágrimas.
— Você é um anjo, mãe. Sempre está quando preciso.
Sua mãe sorriu de canto, e deu um tapinha em seu ombro, em menos de um minuto limpou o sangue da palma toda e fez um curativo.
— Eu realmente não gostaria de ser seu anjo da guarda, meu bebê.
Ambo riram, afinal, cada um sabia muito bem o motivo.
Quando os dois saíram do escritório, todos já estavam agitados, como se tivessem recebido alguma grande notícia.
Ao chegar no pé da escada, James e sua mãe viram uma pequena movimentação na entrada do salão.
— O dono do Museu Hughes chegou! — comentou baixo uma mulher que estava por ali perto.
— Ele gosta de fazer essas entradas. Quando organizei um jantar foi assim mesmo. — comentou um homem rechonchudo que estava ao seu lado.
James bufou em cansaço, sabendo que sua hora para o abate de sofrimento eterno estava chegando.
— Finalmente! Não sei porque meu pai gosta de chegar nas festas assim. — disse aquela moça para um grupo de pessoas com quem ela interagia.
James ficou petrificado.
E logo alguém ao seu lado chegou para ajudá-lo.
— Está tudo bem, James? — era a governanta.
— Não… quer dizer… acho que só estou um pouco fodido.
A governanta arqueou uma sobrancelha e balançou a cabeça em negativa dando u sorrisinho discreto.
— Bom, se já está fodido, o que lhe resta é seguir o ritmo da dança até que chegue a sua vez de ser o aquele que vai foder alguém. — disse, dando um tapinha discreto no ombro do rapaz, que suspirou entristecido, mas de certa forma consolado pela mulher que era como sua segunda mãe.
— O que seria de mim sem você, Marjorie. — disse, e a mesma lhe deu um meio sorriso.
A recepção de Hughes foi bastante animada, várias pessoas lhe rodeavam, tentando ter sua atenção. E a moça, que estava ali conversando com James, também recebia toda aquela atenção, e parecia gostar daquilo tudo.
A vaidade tal pai, tal filha. Assim o rapaz pensava toda vez que olhava para a moça.
— Muito obrigada por todos virem hoje a noite em minha casa, para mim sempre é uma honra recebê-los. — Começou Sr. Payne — Mas, essa não é somente a comemoração do décimo oitavo aniversário de meu filho primogênito, mas sim, o início de um novo capítulo da vida dele. — sorriu orgulhoso para o rapaz.
James tinha pego já a sua terceira taça de champanhe, e quando seu pai olhou feio em sua direção teve que deixar a quarta de volta na bandeja do garçom.
Num chamado silencioso, foi até seu pai, se colocando ao seu lado e de sua mãe, que sorria largamente muito feliz com o evento que já iria se seguir.
— Como disse antes, esta festa não é só para comemorar o décimo oitavo aniversário de meu filho, e sim, para também comemorar a união a muito esperada por esses dois jovens.
Todos no salão murmuraram surpresos, e logo uma salva de palmas muito alegre aconteceu.
— Em pensar que não fazia muito tempo e eu estava passando noites sem dormir para cuidá-lo, e agora, estou aqui, presente, vendo meu filho, que será o orgulho da família, seguindo meus passos.
“Mas que… porra é essa?” Pensou James, olhando para seu pai, que acabara não só noivá-lo a força com aquela moça, mas também de empregá-lo no trabalho de restaurador que ele fazia.
— Eu não sei o que dizer, só posso dizer que hoje me sinto muito feliz. — Terminou seu pai, olhando para o rapaz como num sinal para ele falar algo.
James olhou para todos no salão, até seu olhar parar na moça, Elise, que lhe mirava com um sorriso muito grande nos lábios.
Pigarreando muito nervoso, deu um passo a frente.
— Bem… Primeiro de tudo… obrigado por virem. E em segundo… Hm… — olhou ao redor novamente, aquela multidão de esnobes que parecia lhe sugar as energias com seus narizes empinados e semblantes de superioridade — Eu… estou muito feliz com tudo isso, e não tenho palavras para me expressar.
Ele realmente não tinha.
— Eu… Bom… quero dizer que…
De repente, uma outra pequena movimentação foi ouvida lá fora.
— Hm? Será mais algum convidado? — questionou a tia de James, olhando em sua prancheta, já que a mesma estava organizando também aquele evento.
Várias buzinas foram ouvidas do lado de fora. Até som de cornetas, anunciando a chegada de alguém que parecia ser importante. Curiosos, todos foram lá pra fora.
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Capítulo 2
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Missão Ágape
O Olimpo está em crise, e tudo porque de repente uma profecia disse que um deus iria dizimar o seu sistema e tudo que eles lutaram para conquistar e poderem estar no poder até hoje.
E é...