Arco 1 –  Oriente sem DESTINATÁRIO

Missão Ágape

Capítulo 21

  1. Home
  2. All Mangas
  3. Missão Ágape
  4. Capítulo 21 - Café Quente
Anterior
🟡 Em breve

James só constatou que havia andando muito quando suas pernas começaram a doer pelo tanto de chão que havia andado.

O lugar era muito calmo, e nada lhe machucava, não havia perigo algum ali naquele lugar. Mas o medo de estar sozinho e de ter alguma coisa na espreita ainda pairava pela sua mente toda vez que ouvia algum movimento por entre os arbustos ou algum vulto que passava muito rápido.

Mas logo se concentrava naquela teoria de que aquele lugar mostrava seus medos e tudo o que deixava escondido dentro de si.

E talvez seja por isso que se irritou muito quando Kýrios tinha lhe dito que aquele lugar mostrava o que mais a pessoa queria. Essa teoria lhe dava medo, e lhe deixou apavorado depois de olhar aquelas gravuras e saber o significado delas.

Mais irritado ainda pela resposta sem graça do outro.

Mas o que ele queria realmente além daquilo?

No fundo sabia, mas se negava. Não queria se render e admitir que bem lá no fundo estava começando a ceder aos seus mais íntimos e profundos gostos por aquele assunto que lhe foi ensinado que era proibido a sentir desde aquela vez em que… bem, desde aquela confusão em sua família por algo que ele era ingênuo demais para saber que era errado, segundo os seus pais.

— Isso é passado! Não tem nada haver pensar nisso agora. Nada. — disse, se lembrando daquela sua primeira paixonite de um pré-adolescente entrando na adolescência.

E talvez por conta daquilo, havia se fechado para essas coisas, quer dizer, teve uma segunda vez, mas esta tinha sido um acidente… e depois disto, havia se esquecido que podia haver uma outra vez em sua vida.

Quando chegou na cabana, a mesma estava sem nenhuma luz acesa, e isso lhe preocupou.

Sem hesitar, e mesmo que sentisse suas pernas doendo, reuniu forças para correr casa adentro e vasculhar o local para ver se algo tinha acontecido.

Abriu a porta avulso, olhou para todos os cantos, foi olhar também os cômodos, que eram somente dois quartos, e uma sala que emendava com a cozinha que também era uma copa, e não havia ninguém, e muito menos sinais de alguma confusão ou violência.

Saiu novamente, olhou para todos os lados, e vendo que não havia nada ali na frente, foi ver se tinha algo de errado nos fundos.

— Kýrios… — sussurrou, e correu até o mesmo ao lhe ver ali.

O deus estava sentado em cima de uma coberta fina e azul escura que estava estendida sobre a grama, numa parte mais alta daquele terreno irregular, mas não menos harmonioso em sua aparência. Olhava pro céu, enquanto comia algo que James não sabia saber o que era naquela distância.

Reunindo coragem, foi se aproximando devagar para não assustar o loiro, parando ao seu lado.

— Isso aqui é realmente muito gostoso. Me desculpe ter comido tudo. — disse Kýrios, percebendo a presença do rapaz ali em pé.

— Kýrios…

— Eu já vou dormir. Não precisa me dizer de novo. Eu só vou terminar aqui e…

— Me desculpe. — Soltou, interrompendo o outro, que parou de comer aquele doce que logo James soube qual era — Posso me sentar aqui?

O deus lhe mirou em questionamento, estava indeciso em como poderia responder sem soar que estivesse dando em cima do outro, e por medo de cometer mais uma vez esse erro, virou seu olhar para as estrelas, e fez que sim em resposta.

James engoliu em seco, pensando no que diria como o próximo passo depois que se sentasse ali. Achou engraçado o fato de o loiro estar rodeado de vários copos de cristais vazios de Syllabub de morangos. Mas o que chamava a atenção não era isso, era o fato do outro estar com a boca toda suja do doce assim como sua camisa, e seu cabelo com os cachos ondulados todos desalinhados, como se tivesse os bagunçado por frustração.

— Sabe, as vezes penso se não sou mesmo merecedor por toda essa bagunça que ficou minha vida. Talvez todos esses anos sendo um deus do amor foi um completo erro. E agora, estou pagando por todos eles.

— Não pense nessas porcarias. Você não tem culpa de nada.

— Ah não? Então porque todas as vezes que tento te agradar sempre ganho em troca uma hostilidade? Acho que você é uma pessoa especial não por somente ser um Pista de Parca, mas sim por ter sido o escolhido a me fazer enxergar que o que eu faço está tudo errado.

— Não Kýrios, você não está errado. É só que… há certas coisas que não se podem dizer ou fazer. Em meu mundo, isso tudo são… olha, não funcionam dessa maneira. E daí que estou tendo uma ereção repentina? Isso não lhe diz respeito. A não ser é claro quando… — James se sentia muito nervoso, seu coração estava batendo acelerado, pois estava se preparando para o que pensou em fazer.

Um plano. Não era algo assim muito do que aquela deusa tinha lhe falado, era algo que ele havia pensado no caminho e que refletiu que isso poderia lhe deixar mais seguro quanto “aquelas coisas” sobre o deus.

Se aproximando, pegou a beira de sua camisa e a tirou, para logo em seguida virar o rosto do loiro, que lhe mirou confuso quando começou a ter seu rosto limpo pelo rapaz.

— James…?

— Fique quieto. Você está todo sujo com esse doce. Vai ter que tomar um outro banho, ou então as formigas vão te comer vivo. — disse, ainda limpando.

O deus lhe encarava sem saber o que fazer, não esperava, nem imaginava que o outro fosse fazer aquilo depois do que houve na varanda. E por conta disso, ficou inquieto, e se afastou um pouco por sentir um pequeno incomodo em seu peito lhe assustar.

— Ah… sim… obrigado pelo conselho, James. Então eu vou… Eu vou… Tomar banho.

— Vá. Hoje foi um dia cheio. Devemos descansar. A não ser que…

— A não ser que? — perguntou, ansioso pela resposta, James viu isso, e logo pôs seu plano em ação.

— Boa noite, Kýrios. — disse, se levantando, mas logo foi puxado para baixo, tendo suas costas postas contra a coberta.

— James, o que está fazendo?

— Nada.

— Não… Estou sentindo… É algo estranho. Não é raiva… Mas também não é…

— Hm, não, não é. Mas saiba que ainda estou muito aborrecido. — disse, colocando uma mão no meio do tórax do loiro para lhe afastar, mas nem precisou, porque o mesmo recuou um pouco por causa do seu toque — Então, sua obrigação é me deixar sempre confortável e com um bem estar físico, certo?

— Sim.

— Então fará tudo o que eu quiser?

— Sim. — respondeu outra vez sem hesitar.

— Tudo mesmo?

— Tudo mesmo.

— Interessante… — James mordeu bem discretamente os lábios, e percebeu o outro fincar seu olhar em seus lábios na hora em que fez esse gesto.

— James, o que está pensando? Por favor, me diga, estou muito confuso em discernir o que está vindo de você.

— Estou pensando em muitas coisas, a maioria delas ruim, afinal, estou muito irritado. — disse, erguendo seus dedos até seus próprios lábios, tocando-os de maneira sutil e muito provocativa, e mais uma vez o olhar do outro foi capturado em mais aquela ação.

James, aproveitando da distração do outro, desceu seu olhar para o corpo do deus, e viu algo muito notável entre as pernas do loiro.

— Acho que está na hora mesmo de você tomar um banho.

— O quê? — perguntou, acordando do transe, e seguiu o olhar do moreno, que estava apontando lá pra baixo entre suas pernas.

E quando constatou do que se tratava, tomou um grande susto, e saiu de cima do rapaz, caindo sentado para trás com os olhos arregalados.

— Não… Isso não… Por… por deuses…! Me desculpe James! Me perdoe! Eu não…!

— Vou comer alguma coisa. A gente se vê amanhã. — disse ao deus, se levantando, pegando sua camisa e a colocando por sobre o ombro esquerdo, e antes de se virar, deu uma piscadela vitoriosa para o deus, que tinha um semblante um pouco aturdido.

•

Aquela manhã tinha chegado muito rápido, e a claridade foi culpada por seu despertar.

Tinha conseguido dormir muito bem, já que estava exausto, e suas pernas, ainda mais nas panturrilhas, doíam por ter andado muito.

Mas tirando essa dor, todo o resto de seu corpo estava só um pouco dolorido, notou também que começava a doer numa certa região de sua barriga, e aquilo lhe fez ter uma pequena pontada de dor de cabeça, e uma rápida imagem de uma lâmina sendo fincada bem onde doía lhe veio à mente, fazendo-o se levantar num pulo, e se defender de algo que não estava ali.

Pensou que pudesse ser um pesadelo, e que tinha sido somente uma sensação muito real de algo muito ruim.

Mas nem isso tirou seu humor sobre algo…

Uma vitória, uma pequena vitória.

“Funcionou! Tenho que dizer que é uma ‘grande’ vitória. Psiquê que me desculpe, mas finalmente tirei aquele deus e essa situação louca de meu pé de uma vez por todas! Não disse que era para eu fazer algo? Assim fiz!” Pensou, de bom humor, ao se lembrar de como havia deixado aquele loiro ontem.

James tinha sua vaidade, sabia que as moças não resistiam ao seu charme, mas agora estava começando a descobrir que seu “dom” poderia surtir efeito também em homens, pelo menos havia descoberto naquele deus.

— Acho que agora ele vai parar de me encher. O espantei, e ao mesmo tempo, ficarei ao seu lado sem nenhum perigo de acontecer algo, dadas as reações que ele teve ontem. — riu breve para si mesmo, comemorando o êxito seu feito.

E com este pensamento, se levantou da cama, saindo do quarto e indo direto para a cozinha. De cara deu para ver que o loiro não estava ali, mas se espantou ao ver que a mesa estava bem posta e arrumada.

Se aproximou da mesa e se sentou para começar seu desjejum tranquilamente, pegando logo um pedaço de um pãozinho doce e abocanhando logo um pedaço, sua fome era grande, já que havia se esquecido de jantar na noite anterior. E nesse segundo em que se deliciava do sabor daquilo, sentiu um hálito quente bem perto de seu ouvido dizer:

— Dormiu bem, James?

Se não fosse pelo deus estar ali e socorrê-lo logo, teria morrido engasgado, se isso era possível ali, já que em parte já estava.

— Porra! Você quer me matar?!

— Sinto muito ter lhe assustado. Só quis vir e ver se gostou de minha surpresa.

— Que surpres… — quando se virou, espantou-se por ver como estava a aparência do deus.

O deus do amor exibia a mesma postura convencida de sempre, mas seus cabelos ainda se mantinham desalinhados, até mais que antes, e havia também uma perceptível olheira debaixo de seus olhos como se não tivesse dormido a noite toda, mas parecia disfarçar isso com um pequeno sorriso “a la Monalisa”, que James logo pensou ao vê-lo.

Tomando um longo gole do suco de pêra para se recompor, deu sinal para o deus continuar o que estivesse louco para dizer, já que o seu semblante parecia muito o de alguém que queria falar algo assim como sua postura inquieta esperando uma autorização como um servo que queria entregar uma mensagem urgente. Mas vendo que o rapaz ainda lhe mirava confuso, se adiantou:

— Eu mesmo fiz este café da manhã todo. Nada de encanto. Eu mesmo! Com minhas próprias mãos e conhecimentos culinários!

— Ãh… Você está bem? — perguntou James, vendo o outro entusiasmado demais.

— É claro que estou! Estou tão disposto que estou completamente bem!

“Será que ele tomou muito café? Ou usou algo inapropriado?”. Pensou, olhando desconfiado para o loiro, que a toda hora desviava o olhar para a comida, como um louco que estava querendo ver o seu crime sendo executado com sucesso.

— O que colocou nessa comida?

— O quê?

— Não que eu esteja desconfiando que tente me envenenar, mas… Algo não está certo. Está tudo muito bom, bonito e perfeito…

— Oras, James, é só uma gentileza de minha parte! Só quero fazer as coisas certas entre nós! Só isso.

O “entre nós” saiu em tom que fez James sentir um pequeno formigamento em seu estômago, mas tentou não pensar nesse sentido.

— É uma boa estratégia. Muitas civilizações faziam isso para selar a paz, usando comida como presente. Mas você é grego, então…

O deus deu uma breve risada.

— Ah, James, assim você me ofende. — disse, se sentando na beira da mesa, fazendo uma expressão fingida de ofendido, e depois deu sinal para o moreno prosseguir em seu desjejum.

— Não vai me acompanhar?

— Não. Fique à vontade, essa mesa é toda sua.

James arqueou uma sobrancelha, e encarou o deus por curtos segundos antes de recomeçar a tomar seu café da manhã.

Tudo estava realmente perfeito. O pão doce, os sucos, as frutas cortadas em cubos e caramelizadas com mel e aveia dentro de um recipiente amadeirado muito bonito em seus detalhes talhados a queima, até o ambiente ajudava… Um sol ameno, os raios entravam pelas frestas das cortinas de renda dando ao cômodo um ar intimista que deixava tudo mais aconchegante, mas que mesmo assim, por estar desconfiado do que poderia ser aquele comportamento todo, James engolia um pedaço por vez das frutas e o pão, bebia compassado, as vezes olhando para o deus, que mantinha seu sorriso arteiro e um tanto estranho, como o de alguém que estava louco para conseguir algo e sua vida dependia disso.

James até que degustava daqueles sabores perfeitamente equilibrados, não tinha nada doce ou insosso demais, parecia que tudo tinha sido feito por um mestre cuca vindo de Paris.

O olhar do loiro sobre si que era um problema. Seu jeito inquieto deixava James a cada segundo também mais inquieto, pensando no que poderia estar se passando na mente daquele deus amalucado.

— Isso está muito bom mesmo. — disse o rapaz, de boca cheia, um modo que sua mãe sempre lhe advertia para não fazer, mas o fazia pelo simples fato de ir contra regras, e mesmo assim sua elegância fazia aquela falta de etiqueta ser ainda refinado, talvez por causa de seu jeito inglês de ser.

— Que bom que esteja gostando, dei todo meu melhor para este café da manhã ser agradável quando eu fosse pedir para beijá-lo. — disse o deus, de forma descontraída enquanto olhava para suas próprias unhas.

James novamente se engasgou…

E outra vez o deus deu-lhe alguns tapinhas nas costas para ajudá-lo.

— O-o quê?! — vociferou após conseguir desentalar um pedaço de morango que havia parado em sua garganta.

— James, eu imploro, por favor, deixa-me te beijar. Ou então eu somente te tocarei, eu não precisarei ver nada! Somente minha mão e… — suplicou, se ajoelhando ao seu lado, pegando as mãos do outro nas suas.

— Meu Deus, você ficou maluco?! — disse, interrompendo e tirando bruscamente suas mãos das mãos do deus e se levantou da cadeira, se afastando alguns passos para trás.

— Eu fiz tudo certinho não fiz? Por favor, não me interprete mal. Isso tudo não é uma troca de favores James, eu só preciso… Eu preciso saber… Por favor!! — o deus de novo se aproximou e apertou as mão do moreno nas suas, deixando o outro ainda mais tenso.

— Kýrios, eu já disse que…

— Por favor! Eu imploro!

Dessa vez estava sendo diferente, James via em seus olhos uma certa aflição em seu olhar, não havia nada de sedutor ou malicioso, era somente uma preocupação muito grande.

Apesar do pedido repentino e um tanto desesperado, James queria rejeitá-lo pelo óbvio, mas se lembrou dos conselhos daquela deusa e ficou um tanto irritado com isso. Afinal, seu plano de burlar o pedido da deusa parece ter fracassado.

— Então essa foi sua ideia, fazer um café da manhã para vir com um pedido desses pra cima de mim? Sabia que tinha algo errado!

— Por favor! Não é nada disso que está pensando! É que… Uma vez me disseram que pessoas pensam melhor e ficam mais suscetíveis e abertas a acordos quando estão de barriga cheia! Eu fiz tudo, segui tudo corretamente. Alguma coisa lhe desagradou? Eu posso refazer!

James não queria, mas sentiu uma pontada no peito por sentir uma pena ao ver o loiro daquela maneira, mas em contrapartida, seu outro lado mais sádico, estava achando engraçado o fato do outro estar sofrendo sobre aquela situação, isso seria uma perfeita punição. E se perguntou como ele mesmo podia ser tão ferino e bucólico ao mesmo tempo.

E ainda por cima tinha o fato de ter entendido toda aquela confusão… E se colocou no lugar do loiro, pensando que estaria da mesma forma se estivesse sentindo aquela agonia toda.

Mas havia o fato sobre as orientações de Psiquê, de que teria que ensinar-lhe a fazer as coisas de maneira diferente do que o deus estava habituado a fazer…

Ouse seja, não havia escapatória.

— Kýrios, me escute, eu tenho uma certa ideia do que pode estar se passando pela sua mente, e a resposta é não. Não se preocupe. Está tudo bem.

— Não está nada bem! Deuses! Eu não posso estar bem! Não posso estar bem dessa maneira!

— Kýrios! — lhe chamou, tirando suas mãos do aperto do outro, para em seguida pegá-lo de surpresa entre seus braços.

— James…? — se espantou, ficando imóvel, quase chorando.

— Eu sei o que está se passando. E você não tem culpa. Fui eu quem lhe provocou. Eu… Olha, apesar de você ser um deus, é também é um homem, sente coisas. Então seja o que estiver pensando, não pense mais.

— Mas o que senti é uma traiç…

— Se continuar você só vai se machucar. E outra coisa, você somente sentiu, não fez nada comigo.

— James, você não está me entendendo.

— É claro que estou! — disse, se afastando somente o suficiente para lhe mirar nos olhos — Você não a ama? — o outro fez que sim — Certo. Você não fez nada. É isso o que conta.

— Não! — se afastou, seus olhos se enchendo de lágrimas — Se eu sentir isso… Não sou diferente de Zeus e seus seguidores! Isso significa que eu…

— Kýrios, as coisas não são bem assim!

— Ah, James, está querendo me dar uma palestra? Logo eu? Sou o deus do amor!

— Você pode ser a porra que for! Mas como você mesmo disse ontem, tudo isso é uma loucura, e há certas coisas que…

James se interrompeu, pois quase ia dizer sobre o que Psiquê disse à ele, ira falar sobre a ela.

Mas se bem que… A deusa nunca disse que não poderia falar sobre… Mas também não disse que poderia.

Seguindo suas intuições, resolveu não dizer.

Mas resolveu agir.

— Ok, vamos consertar isso de uma vez por todas!

Sem esperar pela decisão do deus, pulou para cima do mesmo, que caiu para trás e ficou deitado ali no chão, tendo seu corpo montado, e em uma ação impulsiva, mas no fundo também um tanto ansiada, aproximou de seu rosto e como se fosse fazer um mergulho perigoso, uniu seus lábios.

Num primeiro segundo o deus arregalou os olhos em espanto, mas rapidamente correspondeu ao beijo, e não resistindo também em pousar suas mãos no quadril do moreno, que soltou um pequeno som indevido quando lhe apertou institivamente naquela região. James por sua vez sentiu-se capturado, e não resistiu também de tocar o deus, deslizando suas mãos pelo seu tórax, pelos seus ombros, subindo para o pescoço, sentindo sob seus dedos a pele esquentar e os cada poros do loiro se eriçarem, e tudo ainda com seus lábios unidos, trocando sensações tão intensas e crescentes em acaloramentos que parecia que suas bocas tinham alguma espécie de complemento químico que fazia aquela reação ter uma perfeita ligação para queimar.

E suas línguas… ah, elas se acariciavam de uma forma como se já se conhecessem, como se soubessem um do outro onde cada um podia explodir em prazer e não resistir, acabando em um futuro bem breve em um ajuntamento onde só se apartariam de si quando todo aquele combustível tivesse sido consumido.

E foi nesse momento, ambos se deram conta do que estava acontecendo. E do que estava prestes a acontecer…

Como se a sincronia de seus pensamentos estivesse de acordo, ambos se separaram cada um pra um lado.

Frente a frente, um simultâneo desvio de olhares, assustados, peles coradas, respirações ofegantes e uma tensão nítida no ar enquanto um silencio ensurdecedor pairou no ambiente.

— Pronto. Está… em paz agora? — questionou James, mais para quebrar aquele silencio do que verificar o estado do deus.

O loiro tinha lágrimas nos olhos, e os fechou, cobrindo seu rosto, respirando fundo.

— Kýrios?

— Obrigado, James. Você… não sabe o peso que tirou de minhas costas. — disse, não conseguindo encarar o rapaz, e o tom de sua voz não demostrando muita segurança.

— Amigos são pra essas coisas… — disse o rapaz, se levantando, e ficando logo em pé, lhe oferecendo uma mão para ajudá-lo a se levantar — Podemos agora tomar nosso café da manhã sem mais louquices?

Encarando por um longo tempo o moreno, aceitou sua ajuda, e se levantou, passou uma mão em seus próprios cabelos e se sentou no outro lado da mesa de frente para o mesmo, ficando em silêncio por alguns segundos.

Somente, especificamente, cinco segundos.

— James. — lhe chamou, finamente tendo coragem para mirá-lo

— Sim?

— Tenho que te contar uma coisa.

— Sim, diga. — disse, voltando com seu prato de frutas daquele lindo café da manhã, pondo alguns pedaços de manga na boca.

— Eu não consegui dormir.

— Dá pra perceber. — riu breve, se servindo de mais suco de pêra, bebendo outro generoso gole, dessa vez não mais pela desconfiança, e sim, para acalmar seus enervados sentidos após ter entrado em contato com aqueles lábios macios e doces que, mesmo por diminutos segundos, fizeram seu corpo vibrar e entrar em um estado de inflame inconveniente — Coma logo algo, isso deve ser fome também.

O deus assentiu, e se sentou na cadeira a sua frente, olhando perdido para as frutas, ficando por longos segundos assim, até não conseguir se conter mais:

— James…

— Fale.

— Eu me toquei pensando em você. — disse.

Todo o suco foi cuspido pro lado, e pela terceira vez, James se engasgou.

— É-é… — tossiu um pouco para tirar o restante de suco da garganta — P-pelo menos foi bom pra você? — pigarreou, totalmente sem jeito, tentando levar com naturalidade aquelas “desventuras emocionais” e a falta de filtro da sinceridade do outro.

— Ah… Foi incrível, James. Foi tão gostoso… E por isso fiz tantas vezes que… É e por isso que estou preocupado, porque eu…

— Porque não deixamos isso pra trás? — James empertigou-se inquieto — Você já confirmou agora pouco que não sentiu nada por mim. Isso tudo que você fez nada mais é do que pensamentos intrusivos, e quando damos “palco”, elas se intensificam.

— Então… Tudo que senti agora foi…

— Exatamente isso.

— Pensamentos intrusivos… Eu nunca ouvi falar nisso.

— São coisas humanas. É também um novo âmbito da psicologia. Todos tem isso o tempo todo.

— Então… você já teve pensamentos intrusivos comigo, James?

— Estou tendo um agora mesmo.

— Sério? — interessou-se o deus — O que está pensando? — perguntou, muito curioso e maliciando.

— Estou pensando em quebrar esse recipiente na sua cabeça. E depois, afogá-lo naquele lago. Mas só são pensamentos momentâneos de agora, não significa que eu vá realmente fazê-los.

— Ah. — murchou — Acho que estou começando a entender. Bom, então… Um brinde a esses “Pensamentos Intrusivos”! — com a expressão ainda meio afetada, se serviu do mesmo suco que o rapaz tomava e ergueu o copo de madeira.

James fungou em alívio, pelo menos um pouco, por ter resolvido aquilo, e aceitou brindar.

— Um brinde, às boas resoluções.

— E aos pensamentos intrusivos! — comemorou o deus, se animando.

No momento de ouvir o tilintar amadeirado o copo que James segurava caiu de sua mão e o conteúdo molhou toda a mesa…

— James! — se levantou rápido para ajudar o moreno, que de repente começou a ganhar uma certa transparência.

— As minhas mãos! Estão desaparecendo! Kýrios! Me ajude! — gritou, sentindo uma dor lancinante em sua barriga.

O deus tentou pegá-lo em seus braços para poder levá-lo a uma superfície mais confortável, mas suas mãos transpassaram pelo rapaz, que cada vez mais sumia.

— Kýrios… O que está havendo?!

— Eu não sei! Nunca passei por isso! Acho que esse lugar está fazendo algo! Aguente firme! Eu vou buscar ajuda!

— Porra, aonde você vai conseguir ajuda? Só há nós dois aqui!

— Eu vou procurar naqueles livros! Deve haver alguma coisa ali! Mas por favor, aguente firme! Tente ficar… ficar… só fique aí!

— Vá, depressa! — disse, e logo o deus correu para o outro cômodo encontrar respostas para ajudar o rapaz.

James se sentia cada vez mais fraco, havia uma força estranha lhe puxando para o desconhecido, e isso lhe apavorava.

O seu último pensamento antes de não conseguir mais resistir foi o loiro lhe sorrindo, erguendo o copo para brindar.

— Kýrios… — murmurou, implorando por ajuda quando se viu perder o foco de sua visão que ficou embaçada, mas segundos depois, um grande clarão atingiu suas vistas, lhe fazendo fechar os olhos para os proteger — Kýrios…

E no outro instante, um calor acompanhado de um arrepio ruim nas costas surgiu junto de um som ambiente muito agitado de pessoas falando ao fundo.

— Ele voltou! Por deuses… posso agora dormir? — disse uma voz diferente, mas bem familiar.

— Ele ainda precisa de nós dois, Panoptes.

— Ele já acordou e está bem, está forte. Já se sente bom do corpo. Não é James?

Ainda um pouco confuso, tentou se lembrar o que estava acontecendo antes de estar ali deitado, e ficou com seu coração apetado ao se recordar.

— Alguém pode tirar essa lanterna da minha cara? — disse, tentando abrir os olhos, mas a luminosidade lhe impedia.

A luz logo saiu de suas vistas, lhe possibilitando enxergar claramente.

Ao seu lado e medindo sua pressão havia uma moça de vestes simples, seus olhos puxados e sua pele bronzeada indicava que a mesma trabalhava muito no sol, suas mãos eram hábeis enquanto com a outra mão limpavam também um ferimento em sua barriga.

— Onde estamos…?

— No hospital. Estamos no hospital de Pequim. — respondeu Tânatos, seu olhar sereno lhe dava a impressão de que estava contente, mesmo que não houvesse nenhum indício de sorriso em seu rosto.

— Mas… E nossa hospedagem?

— Ah, pois é, então… fomos expulsos. — Contou o gigante, cruzando os braços e lhe mirando acusativo — O dono não queria “gente morta” em seu estabelecimento. Mas deixa ele, vai ver o que é gente morta de verdade.

— Já conversamos sobre isso, Panoptes. — Advertiu o deus da morte, fazendo o outro revirar os olhos e cruzar os braços, parecia cansado.

James então se lembrou de mais coisas que passou naquele lugar, ficando corado ao ter uma sensação deliciosa passar por seus lábios, junto de um pequeno formigamento neles.

— Sr. James Payne? — lhe chamou Tânatos.

— Sim?

— Está sentindo algo de errado em seus lábios? — perguntou.

— Ãh, não. Porquê?

— Porquê…

— Pare de incomodá-lo Tânatos. — advertiu o gigante, dando sinal para a enfermeira ir embora, e se sentando na beira cama, cruzando os braços ao mesmo tempo em que arqueou uma sobrancelha para o moreno — Aproveitou a estadia nesse lugar?

— Bom, eu… — antes que pudesse responder, percebeu o olhar maldoso do gigante, e logo entendeu o qual era o significado da pergunta do outro — Não! Não aconteceu nada! Ora, pelo amor de Deus… — disse, vendo os outros dois fazerem uma careta de incomodo, mas continuando mesmo assim — Digo… Kýrios está bem, eu acho. E em todo esse tempo que fiquei lá a única coisa que fiz foi ficar caminhando, lendo, comendo, dormindo…

O gigante deu um breve riso balançando a cabeça.

— Tudo bem, Sr. Payne. Não Queremos um relatório turístico. E também não me importo com o que tenha acontecido. O que me importa é saber que nem você ou ele tenham se matado por alguma discussão boba. Então, para mim, só o que importa é que você e ele fiquem bem fisicamente para continuar essa busca. De acordo?

— Sim, de acordo. Quer dizer, não pela parte que deve estar pensando de mim e daquele imbecil. Repito, não aconteceu nada! Nada, e nada! E ponto final.

O deus da morte ainda lhe encarava, em silencio, com uma expressão de quem podia receber milhares e infinitos argumentos, mas nada iria fazer sua cabeça mudar de opinião quanto ao que estivesse pensando sobre ele.

— Certo… Então se é assim, podemos já sair desse lugar ou quer ficar mais alguns dias? — perguntou o gigante, também querendo dar por encerrado aquela argumentação toda do rapaz, porque assim como a do deus ao seu lado, também compartilhava de pensamentos com restrição de mudanças sobre o rapaz e o deus do amor.

Em derrota, mas feliz por conseguir terminar aquela conversa, teve em seguida a consciência de onde estava. Arregalando os olhos e procurando a lança por todo o cômodo.

— Onde está a lança?!

— Está aqui. — disse Tânatos, tirando-a das costas e a entregando ao rapaz, que pegou a arma, olhando-a com aflição.

— Droga…

— O que houve? Aconteceu alguma coisa enquanto esteve lá dentro? — perguntou Panoptes.

— Kýrios, eu o encontrei lá.

Tânatos e Panoptes se entreolharam intrigados.

— Não sabia que isso era possível. —comentou Tânatos — Cada um tem o seu lar quando vai pra esse lugar. Veja, está vendo essas marcas?

James aproximou a lança de seus olhos, bem aonde o deus lhe indicou, e viu que havia vários micros círculos entalhados na lança. Eram tantos que dava a impressão de eram escamas cobrindo toda a haste.

— Acho que… foi ele quem me puxou pro seu mundo. — disse James, se lembrando do fato que o loiro o tinha chamado ali porque estava preocupado, e principalmente, entediado.

— Ele está bem? — perguntou o deus.

— Está. Mas agora… Eu não sei. Ele ficou lá sozinho. E eu sumi do nada…

— Ele com certeza deve saber que você está bem. — disse Panoptes, lhe consolando.

James respirou fundo, imaginando o quão desesperado e aflito o loiro podia estar agora. Mas resolveu não se focar nisso, e sim, em saber que fisicamente ele estaria bem naquele lugar na lança.

— Onde está o Dragão Azul? — perguntou, mudando de assunto, pois se pensasse mais no estado do deus, não conseguiria continuar a missão.

— Está naquele templo. Disse que só entregaria nossa recompensa somente à você. Disse que não confiava em nós dois. — respondeu o gigante — Mas sabe de uma coisa, eu é que não confio nele. Ele sabe que eu e Tânatos podemos nos defender mesmo que isso gere uma confusão do Tártaro neste domínio, mas você é humano, fraco, manipulável, seria mais fácil para ele.

— Entendo sua preocupação, mesmo não concordando com “ser fraco e manipulável”. Mas pense, porque ele faria algum mal à mim… — e de repente pensou em algo que não gostou nem um pouco de pensar — Ah.

— Entendeu?

— Sim, entendi. Vingança. Precaução. — James ficou pensativo, e chegou a conclusão de que o deus dragão só era um guardião tentando livrar seu território de intrusos e de uma eminente quebra de acordo em seu domínio. — Então com isso, devemos pensar agora em um outro plano, mas dessa vez, um plano defensivo. Um mais bem calculado.

— James, se for o caso de ter que adiarmos essa missão… Eu posso fazer algo para poder prolongar mais a minha estadia entre vocês. — disse Tânatos, cerrando os punhos numa discreta maneira de demostrar sua apreensão.

— Não, não podemos. Mesmo com um passo atrás do Olimpo, temos que seguir, e conseguir mais essa pista para achar Psiquê e suas provas. Além do mais… — se movimentando e se esforçando em sair da cama, quando o gigante fez menção de ir ajudá-lo, ergueu uma mão negando, e se apoiou em pé com a ajuda da lança — eles não podem me achar. Tenho um plano que acabei de pensar agora mesmo. Mas não sei se é possível.

— James, tudo nesse mundo é possível. É só falar, que a gente faz. — disse Panoptes, ficando com um semblante entusiasmado para agir.

— Espero que estejam bem dispostos… — de repente sua barriga roncou — Hm, café da manhã?

— Não, Sr. Payne. É almoço. — disse Tânatos, com um semblante ainda apreensivo.

Comentários no capítulo "Capítulo 21"

COMENTÁRIOS

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*

*

Capítulo 21
Fonts
Text size
AA
Background

Missão Ágape

3.7K Views 5 Subscribers

O Olimpo está em crise, e tudo porque de repente uma profecia disse que um deus iria dizimar o seu sistema e tudo que eles lutaram para conquistar e poderem estar no poder até hoje.

E é...

Chapters

  • Capítulo 47 Proemial
  • Capítulo 46 Alto Mar
  • Capítulo 45 Anelos
  • Capítulo 44 Verdades da Alma
  • Capítulo 43 Premências Difíceis
  • Capítulo 42 Enraizados
  • Capítulo 41 Chaves Sinceras
  • Capítulo 40 Presença
  • Capítulo 39 Luz Misteriosa
  • Capítulo 38 Possibilidades
  • Capítulo 37 Espólios
  • Capítulo 36 Fogo
  • Capítulo 35 Visitas Indesejadas
  • Capítulo 34 Penalidades
  • Capítulo 33 Mais, ou Menos
  • Capítulo 32 Temerário
  • Capítulo 31 Serviços Extras
  • Capítulo 30 Zelus
  • Capítulo 29 Magnetismo
  • Capítulo 28 Despertando
  • Capítulo 27 Sem Céu para Inocentes
  • Capítulo 26 Entre Mortais
  • Capítulo 25 Nuances
  • Capítulo 24 Céu de Luzes
  • Capítulo 23 Sobreposição (parte 2)
  • Capítulo 22 Sobreposição (parte 1)
  • Capítulo 21 Café Quente
  • Capítulo 20 Conselhos
  • Capítulo 19 Muros em Chamas (parte 3)
  • Capítulo 18 Muros em Chamas (parte 2)
  • Capítulo 17 Muros em Chamas (parte 1)
  • Capítulo 16 Cem Olhos
  • Capítulo 15 Nobre Amizade
  • Capítulo 14 Impulsos
  • Capítulo 13 Abaixo da Superfície
  • Capítulo 12 Fim de Festa
  • Capítulo 11 Fagulhas
  • Capítulo 10 Noite de Cores
  • Capítulo 9 Sopa de Ossos
  • Capítulo 8 Saindo do Ninho
  • Capítulo 7 Dádivas
  • Capítulo 6 Reunião Cancelada
  • Capítulo 5 Sonhos?
  • Capítulo 4 Empecilhos
  • Capítulo 3 Efúgio
  • Capítulo 2 Bençãos á Vista
  • Capítulo 1 Sem Opção
  • Capítulo 0 Prólogo dos Contratempos do Amor

Login

Perdeu sua senha?

← Voltar BL Novels

Assinar

Registre-Se Para Este Site.

De registo em | Perdeu sua senha?

← Voltar BL Novels

Perdeu sua senha?

Por favor, digite seu nome de usuário ou endereço de e-mail. Você receberá um link para criar uma nova senha via e-mail.

← VoltarBL Novels

Atenção! Indicado para Maiores

Missão Ágape

contém temas ou cenas que podem não ser adequadas para muito jovens leitores, portanto, é bloqueado para a sua protecção.

Você é maior de 18?