Capítulo 25
James estava dormindo quando de repente acordou com uma mão em sua cabeça, afagando seus cabelos.
O sentimento era muito bom, e gostaria que aquilo continuasse por um longo tempo…
Mas assim que se tornou consciente de aquele afago cheio de intensões, se sentou rápido, assustando Kýrios.
— James? Está tudo bem? Pesadelos?
— O que você… O que você estava fazendo?! Eu… eu senti você…
— Ah, sim, peço perdão por isso… foi… um hábito. É que… Pensei que eu estivesse com meu corpo e então… Por favor, não me entenda mal. Já é complicado eu ter que dividir um corpo. Então… Algumas necessidades ficam… Como dizer…
James esfregou o lado direito do rosto, suspirando exasperado.
— Entendo, só avisa então quando…
Mas assim que sua vista mirou para baixo… Sua respiração entrecortou de espanto.
— Kýrios… Que porra é essa?!
Coberto por um tecido fino, lá estava uma ereção matutina genuína. James estava sentindo ressaca pela bebedeira da noite anterior, mas também, sentia seu corpo quente, e sempre que o lençol se movia contra sua pele ou contra aquela haste firme, sentia sua pele formigar e esquentar mais.
— Como falei antes! Necessidades! Eu poderia resolver isso sozinho! Mas, se eu fizesse isso estaria… Deuses, James, estamos num mesmo corpo! É muito confuso!
— Eu sei o que você quer dizer! Sei que estamos dividindo o mesmo pau! Porra! Pensa que não está sendo difícil pra mim não pensar que posso estar pegando no seu? Nós combinamos que…
— Eu sei! Eu lhe compreendo perfeitamente! Sei o que combinamos, mas… está difícil para mim! Tenho que confessar que… Quase todas as noites, antes de dormir, eu… sabe, para relaxar. Das tensões do dia a dia… Eu posso espalhar amor, ser um deus que trabalha com isso e tudo mais, mas também tenho desejos. E quando se trabalha com isso… alguma parte daquela energia fica. E é aí que tenho que… Você sabe. Já que não tenho mais alguém para me ajudar. Pra me libertar dessas coisas…
— Entendi. Entendi que você tem que se masturbar! Mas se fizer isso você vai também me… Você não pode!
— E como vou ficar? James, uma hora eu vou enlouquecer se não…
— Olha, Kýrios, temos duas opções: ou vamos agora tomar um banho bem gelado naquele lago, ou…
— Podemos fazer logo isso e ponto final? Não é querendo jogar na cara isso agora, mas, eu já te ajudei com isso, lembra?
— Você é um babaca sabia?
— Me perdoe! Mas são medidas desesperadas!
— Uma vez ouvi que meditação ajuda. Está aí a minha terceira opção.
— James, escute, será que pode se concentrar em não sentir nada? Como por exemplo…
— A minha resposta é não.
— Eu imploro! Só será essa vez! Eu juro que faço depois todas aquelas outras duas opções! Eu preciso muito agora, James! Só essa vez!
James fungou massageando a sua têmpora direita, respirando fundo, sentindo sua cabeça doer em consequência alcoólica daquele néctar infinito.
Por um segundo teve vontade de voltar lá com a bruxa Ling Su e pedir para que o colocasse na lança de novo, mas aí então todo seu esforço teria sido em vão.
O plano tinha que seguir.
— Certo! Só uma vez. E nada mais.
— Deuses, James, você não vai se arrepender!
— Eu já estou me arrependendo.
A mão esquerda logo deslizou para baixo do lençol, chegando ao membro sem dificuldades, e James se espantou ao ver que já estava sem sua peça de roupa de baixo.
— Kýrios?
— Calma, tenho uma boa explicação para isso! Você vomitou na sua calça, tive que ajudá-lo a se livrar da roupa suja. Pedi para uma daquelas criadas trazer uma outra peça, mas nenhuma veio. Então, decidi que iriamos dormir sem nada. E você concordou, hm, na verdade já estava meio mal humorado e disse que só queria ir logo pra cama. E está calor mesmo. Vi que você ficou tão confortável… Então…
— Só… faça logo essa merda, ok?
— Entendido. — disse o deus, colocando todo o corpo em uma posição mais confortável, se deitando, e afastando a perna direita com a esquerda.
— Kýrios. — Lhe chamou em advertência.
— Será mais confortável para nós dois. Relaxe, e aproveite. Ou, se for possível, pense em qualquer coisa que não te excite.
— Faça logo.
— Está bem.
O deus então deslizou sua mão para a barriga, brincando com a ponta dos dedos a região toda do abdômen, tendo como reação um tencionar de músculos e um som muito baixinho vindo do rapaz, que mordeu os lábios. Não teve como não se sentir orgulhoso de estar conseguindo fazer o rapaz relaxar, ainda mais quando sentia que quanto mais o provocava daquele jeito, mais firme e pulsante ficava lá embaixo, e mais a perna direita se abria, num pedido instintivo para ser mais e mais tocado. E foi nessa brincadeira de deslizar de dedos, de voltas ao redor do umbigo, entre as coxas, região que estremecia e que sentia os poros se eriçarem… E quanto mais chegava perto do objetivo, mas sentia que o moreno cedia.
E quando chegou naquela haste um pouco avermelhada pelo sangue que corria por seus nervos e que parecia buscar um alívio para acalmar seu trânsito por ali, afastou o lençol, e James pôde se ver o quão firme estava, e ver aquela mão esquerda lhe envolver perfeitamente mesmo que fosse sua mão no fim de tudo… Aquilo fez doer seu membro, pois o mesmo tentava não pensar em nada que fosse atiçá-lo mais ainda. Mas estava sendo impossível.
— Deuses… Sinto que vou gozar só com um movimento mais… Você está tão sensível… — sussurrou.
— Dá pra fazer isso sem ficar falando…? — disse James, no mesmo tom do deus, tentando inutilmente se impedir de sentir algo ou de soltar algum som.
— James… Você tem que relaxar… ou então não conseguirei… chegar… — disse, enquanto começava a descer e subir sua mão pela extensão do rapaz, que mordia seus lábios para tentar conter seus gemidos.
— Não posso… hng… Isso não é… ahm… — Era uma luta muito complicada. Seu corpo queria se entregar, mas sua mente estava gritando para que fizesse algo a respeito.
— James, ou você se deixa levar ou… terei que usar de métodos desonestos. — Avisou, massageando todo o membro em sua mão, e sentindo os primeiros pulsos de um latejo de prazer querendo transbordar.
— Métodos… desonestos?
James então abriu olhos, e direcionou sua vista para baixo. A mão esquerda se direcionou mais para ponta, e com o dedão, começou a espalhar por toda a glande a lubrificação que começou a sair.
Aqueles movimentos suaves passando por toda sua ponta, e parando bem naquela pequena abertura do membro, fazendo movimentos também com indicador, como se estivesse simulando uma leve entrada naquele orifício da ponta, resultando num pequeno som audível de viscosidade quando cobria aquela pequena entrada enervada.
E quando o deus deslizou o indicador pro frênulo e retornou para a entrada da glande, um suspiro de susto pelo intenso prazer veio do rapaz.
Seu rosto ficou todo vermelho, seu coração bateu mais forte, sua respiração ficou irregular, e todo seu corpo estremeceu pelo indício de um forte prazer que ainda não tinha sido explorado daquela maneira.
— Eu poderia fazer isso com minha língua, James… mas as circunstâncias físicas me impedem no momento. — disse, em uma fala completamente proposital e provocativa, usando sua extensa experiência de usar palavras chaves que faziam enlouquecer qualquer um.
E James já tinha sacado sobre isso…
— Cale a boca…! — disse James entre dentes, seu peito subindo e descendo, seus olhos grudados naquela cena obscena e deliciosamente perigosa.
— Eu faria você gozar inúmeras vezes somente lambendo essa pequena área… — disse, fazendo círculos pequenos envolta daquele orifício da uretra do membro, e sempre no fim, espalhando aquele pré sêmen que começou a sair com aqueles estímulos lentos e calculados.
— Cale essa bendita boca!
— Então admite que minha boca é bendi…
James sabia, ele não iria resistir. Não tinha como. O deus quando entrava naquele modo predador era praticamente difícil de escapar. Talvez fosse impossível.
Mas tinha que tentar.
E por saber que não conseguiria continuar tentando não sentir nada, e parecendo que o deus não estava concentrado em seu próprio prazer mas sim em fazê-lo perder a cabeça, James tomou uma decisão de emergência.
— James? O que você está fazendo?
— O que eu já deveria ter feito desde princípio seu demônio da luxúria! — esbravejou, pegando o lençol e se cobrindo o mais rápido que podia, mesmo que somente estivesse usando sua mão direita.
— James, eu já estava quase! Você não pode… — disse, pegando no pulso direito, tentando impedir que o rapaz se movesse.
— Este corpo é meu! Eu que mando nessa porra! Se me impedir eu… — James se interrompeu, pensou que se prolongasse aquela conversa o deus iria dar um jeito de tentar persuadi-lo, e antes que isso acontecesse, desistiu de se ajeitar mais apropriadamente, e pegou o lençol, enrolando-se de mal jeito, e se levantou aos tropeços pela perna esquerda não colaborar.
— James, me escute…!
— Não! Isso não pode acontecer!
— Se você não consegue não sentir nada, então se deixe levar! Por deuses, James, eu já estava quase… estava tão perto…
James o ignorou, e saiu da tenda.
Para sua sorte, ainda estava por amanhecer, e não havia ninguém acordado ali fora, a não ser uns bêbados caídos perto de alguns caixotes, e outros dormindo perto da fogueira, que àquela hora já estava apagada e somente com restos de brasa ainda queimando os últimos resquícios de lenha.
O rapaz mancava, praticamente arrastando o lado esquerdo para o destino ao qual foi a única coisa que iria lhe ajudar.
— James, você não vai fazer isso, vai?!
— Ah, seu idiota, você não me conhece! — disse, reunindo toda sua força de vontade para seguir em frente, e reunindo todas suas forças também para deixar de lado sua vergonha por estar andando daquele jeito, ereto, que mesmo com o lençol cobrindo ainda dava para ver claramente seu “volume vivo”.
Quem fosse vê-lo com certeza pensaria que fosse um louco, ou que estivesse possuído por algo, e em parte, essa era uma verdade.
“Droga! Porra! Essa foi a pior ideia que eu poderia ter feito!”. Pensou James.
Quando o deus viu para onde o rapaz estava os guiando, freou todo o lado esquerdo do corpo.
— Kýrios! Não dificulte as coisas!
— Isso é um exagero! Está levando muito a sério uma coisa tão simples que poderia ser resolvida minutos atrás!
— Essa “coisa simples” que diz não é simples! Há muitas coisas envolvidas!
— Ah por deuses, James, não é por conta disso que você vai deixar de ser homem!
— Não é só isso! Porra! Tem sua questão…!
— Mas eu já lhe expliquei! Não estou fazendo isso porque quero fazer isso com você! São minhas necessidades divinas!
James ficou muito irritado em escutar aquilo. Era uma confusão imensa em sua cabeça e em seu peito. Se perguntava se estava fazendo o certo de resistir daquela maneira, se perguntava se estava certo se deixasse levar… Mas o problema era que tinha o apoio de Psiquê para isso… Mas também havia Kýrios e seu determinado amor por ela… O que era tudo aquilo? Que caminho ele poderia seguir?
— Kýrios, você é um deus, então tem poder suficiente para se abster desses desejos até que volte para seu corpo, até lá, eu o proíbo de fazer qualquer coisa em meu corpo! E a partir desse momento, aquele nosso acordo sobre coordenar as coisas acabou! Eu tomarei de conta! E você, que fique como um parasita em mim! Entendido?!
O deus ficou em silêncio, e assentiu.
— Se é isso que você quer, então faça. — disse, de modo tristonho.
— Ah, porra! Não me venha com esse tom! Se está com o plano de me fazer sentir culpa, não vai funcionar! Já estou atento à suas manipulações!
— Não estou tentando te manipular! James, tenho que dizer que está sendo um porco grosseiro comigo! Está me magoando!
— Foda-se! Você vai me agradecer por isso depois!
— O que você quer dizer com isso?
James respirou fundo, quase de novo soltando algo sobre Psiquê e suas conversas.
— Não quero dizer nada! Aliás, a única coisa que eu queria de você era cooperação. Mas você é incapaz de fazer uma “coisa simples” como essa!
— Oh… Então isso é um desafio?
— Sim! Duvido que fique sem “aquilo” até o final dessa busca!
— Desafio aceito! Você, seu humano malcriado, vai se arrepender por ter desafiado um deus!
Determinado e enfuriado, em vez de frear os passos, Kýrios apressou-os em direção onde antes o rapaz estava indo. James ficou com uma pontada de dúvida se havia feito o certo, mas não protestou, e continuou colaborando com o caminho, até chegarem na beira do lado.
O deus tirou-lhe todas as roupas, deixando-se nu, James quase também protestou contra isso, mas já que havia chegado naquele ponto, então iria colaborar com tudo.
O ar estava frio, e mesmo assim não quis se deixar vencer por aquilo. Era o certo, tinha que ser o certo.
E num impulso tomado por eles em uma concordância inflamada, impulsionaram o corpo para um grande salto, mergulhando na água.
Foi como se o lago estivesse congelando sua pele com agulhadas térmicas…
— F-Feliz?! — questionou Kýrios, começando a bater o queixo de frio.
— S-Sim!
— Ó-Ótimo! — rebateu o deus, o queixo tremendo de frio.
— Sim, muito ótimo! — retrucou James.
— Que bom que está muito ótimo!
— É! Que bom que acha também que está muito ótimo! — revidou o rapaz, encolhendo-se também de frio, e só para judiar mais ainda, mergulhou até ficar somente com os ombros de fora, fazendo-se ambos ficarem tremendo de frio.
E no meio daquela discussão acalorada, alguém que estava caído entre cestas de cenoura ali por perto, acordou, se levantou, cambaleou, e parou diante do lado e uma briga singular á vista.
— Que merda vocês estão fazendo a essa hora nesse lago?
James e Kýrios se viraram imediatamente, e agradeceram pelo lago ter uma água escura, pois assim ficariam seguros de serem flagrados com uma ereção ainda bem disposta que parecia relutante em se render para a temperatura da água.
— Bom dia, Panoptes. — disse ambos, a voz saindo duplicada dessa vez.
— Vocês são burros ou o quê? Saiam logo da porra desse lago, ou então vão pegar um resfriado! E a última coisa que se pode acontecer é alguém ficar doente. Já basta terem quase morrido!
— Estamos em treinamento! — inventou James.
— Sim, estamos em um treinamento muito importante. — disse o deus, entrando na mentira do rapaz.
— Treinamento importante? A essa hora? Vocês são o quê agora? Espartanos? Deixa de invencionices e saiam agora dessa merda de lago!
— O que está havendo…?
— Oh, deuses… — murmurou Kýrios ao ver agora Tânatos chegar, tonto, esfregando os olhos e dando um bocejo discreto.
— Esses dois idiotas. Deu na telha deles que precisam de treinamento a essa hora. Eu até compreenderia se estivessem em algum duelo de espadas. Ou arco e flecha. Mas mergulhados nessa água fria? Ainda por cima nesse sereno todo?
— Estamos treinando resistência! Quero deixar James bastante forte para o que vamos enfrentar pela frente! — disse Kýrios, improvisando.
— Concordo com Panoptes. Vocês podem ficar doentes. Há outras maneiras que podemos fazer para lhes fortalecer. Eu mesmo posso ajudá-los, se quiserem, estou já disposto agora para treiná-los qualquer arte. — disse o deus da morte, ainda meio confuso, acordando, e ainda sem dar conta ou pensar do porquê realmente aqueles dois estava no lado.
— Não é necessário. — Começou James — Já estamos aqui. E eu não quero parar no meio do processo… gosto e ir até o fim com as coisas.
— Ha, “gosta de ir até o fim com as coisas”? Ha ha, que incrível, porque então não terminamos logo o que nós estávamos… Ai! Ei! — reclamou Kýrios, recebendo um pequeno tapa em seu ombro esquerdo.
De repente, Tânatos franziu o cenho, e fechou os olhos, balançando a cabeça em negativa.
— Panoptes, vamos voltar ao nosso descanso.
— Como é? Mas é lógico que não! O veneno daquela aranha derreteu seu cérebro? É nosso dever cuidar dessas duas cabeças de Lestrigão.
— Panoptes, melhor deixarmos eles a sós. — disse o deus, enfatizando a última palavra.
Panoptes franziu o cenho para o pálido deus, a mensagem oculta sendo processada em sua mente, e quando deu nota do que era, soltou um:
— Ho… Ah, sim, entendi… mas, mesmo assim… Kýrios não pode, porque ele…
— Não podemos interferir. Coisas fisiológicas. Coisas além do nosso alcance, Panoptes. — disse Tânatos, tentando contornar aquela situação.
— Mas…
— Temos que conversar, Panoptes. — disse o deus, com semblante mais sério do que de costume.
O gigante olhou para James e Kýrios lá no lago, e depois para Tânatos, e cruzou os braços, pensativo.
— O que é que aqueles dois estão falando? — perguntou James, baixinho.
— Eu não sei. Mas sei que… Tânatos está sendo nosso herói. — Kýrios apontou com sua mão esquerda lá para baixo, para o meio das pernas, para a “flecha” ainda apontando.
James esfregou o rosto, e fungou em vergonha, sentindo suas bochechas esquentarem.
— O Tânatos… Ele consegue ver…?
— Ele consegue sentir a “vivacidade”. É o dom dele. Ver quando as pessoas tem, como posso dizer, quando estão perdendo, quando já não têm mais, e quando ainda estão cheias de vida. E no nosso caso… estamos transbordando isso.
James quis mergulhar para sumir naquela água escura, mas estava tremendo muito para isso.
— Ei! Vocês dois! Nós voltaremos assim que… resolverem parar de “treinar”! Estão me ouvindo? — disse o gigante, com um semblante muito curioso para James.
— Ah sim, nós ouvimos! — respondeu James e Kýrios, mas James levantou uma mão para cumprimentar e agradecer o gigante pela compreensão repentina.
Tânatos se virou para ir, Panoptes também fez o mesmo, mas deu algumas preocupadas olhadelas a mais para o lago com seu semblante muito intrigado, deixando James também intrigado pesando que Tânatos não lhe disse só o que estava se passando ali no lago com ele e Kýrios, parecia que o deus havia dito para o gigante muito mais do que pareceu dizer.
— Ufa, essa foi fácil…
— Foi… mesmo. — Concordou James, que olhou para baixo, e agradeceu mentalmente — Finalmente. Vamos. Quero dormir mais um pouco antes da nossa reunião com Ling Su. Tenho que pegar minha parte do trato.
O deus fungou derrotado.
— Trato? Pensei que tivesse acabado com você tendo que levar aquela garota. O que mais há para acertar?
— Você vai saber. — disse, já direcionando seu corpo para sair do lago.
•
As pessoas daquele acampamento já se preparavam para suas apresentações para logo mais à noite, cada uma concentrada, treinando seus talentos, alguns muitos perigosos como malabarismos com fogo, e outros em que havia somente que ter uma certa coordenação para se mover com habilidade e fluidez o adereço de dragão, muito bonito e colorido por sinal.
— Aqui está. — disse Ling Su, entregando a James um frasco com um pó preto dentro — Potencializei com magia. Isso está melhor do que quando ele era somente uma pedra bruta.
Kýrios pegou o frasco da mão direita do rapaz e o ergueu até seus olhos, observando mais de perto.
— É, realmente está bem potente. Mas… E quanto à escama que ele me contou? — ponderou.
— Isso é alguma quebra de trato? — questionou Ling Su, arqueando uma sobrancelha.
— Não tenho como agradecer por isso, minha senhora… — interrompeu James, tentando cortar aquele indício de “planos sendo frustrados por um deus desmiolado”.
— Oh, pare, não me chame assim. Tenho alguma ruga por acaso pra me chamar dessa maneira? — disse a bruxa e líder circense, pondo as mãos na cintura em um ato de uma falsa indignação pelo título do rapaz à sua pessoa.
— Não, é claro que não, Ling Su.
— Que bom. Agora que nossos negócios já acabaram, só posso lhes desejar uma boa e próspera viagem. — disse, e depois se voltou pra sua filha, em seu olhar havia algumas lágrimas de emoção — Seu destino será de muitas lutas e desafios, mas também de muita glória, eu vejo, mas para isso siga o que achar certo de seus mestres. Siga seu coração, mesmo que ele sangre.
Li-Hua deixou uma lágrima cair, mas se manteve numa postura forte, como uma verdadeira soldada faria. Mas toda aquela pose acabou no segundo em que sua mãe abriu os braços para lhe abraçar, tendo a correspondência muito emocionada da moça, que disse algo em sua língua, deixando James curioso.
— Hm, isso será interessante. — disse Kýrios, em um cochicho.
— O que disse? — perguntou James.
— Parece que ela tem sangue importante. E tem uma missão a cumprir. Agora, porque tem que ir conosco, isso me deixou intrigado.
James ficou também muito curioso, e voltou a sua atenção para a mãe e filha em sua despedida.
— Aqui. Peguem. — Ordenou Ling Su, entregando a James a lança — Eu pensava que era só uma lenda. Cuide bem disso. Não sei porque se preocupa tanto com sua segurança tendo uma arma tão poderosa como essa. Aquela escama não é nada em comparação a isso. Poderia ajudar como complemento, mas toda vitória só dependeria do uso correto e sábio desta lança.
— É sempre bom ter um pouco de cautela. Ser poderoso e ser confiante as vezes pode ser a ruína. — disse James, em uma epifania de inspiração, mas também na verdade o que queria dizer era que “O que sei serve para bater em bêbados de bordel e não em deuses gregos enfurecidos”. Então, para aquele simples rapaz mortal, qualquer tipo de proteção adicional era muito bem-vinda, afinal, orgulho não o manteria vivo, e sim estratégia e oportunidades.
Ling Su olhou para sua filha, e fez um sinal de cabeça lhe dizendo para confiar naquele jovem que era um ano mais velho que ela, e que transparecia uma bela sabedoria, como estava demostrando, fundamentando em positivo a escolha de ter tido a decisão certa de dá-la a aquele rapaz para que ele a protegesse.
Com olhos cheios d’agua, a garota recebeu de sua mãe um punhal de prata muito bem trabalhado.
— Essa é sua herança. O que é seu por direito. Tudo que lhe foi tirado voltará para você, minha Li-Hua.
— Sim, mamãe. — disse, abraçando a mãe mais uma vez.
— Vá. Se encontre. Orgulhe-se de quem você é. — Ling Su deu um leve sorriso, acariciando a bochecha da menina, e em seguida, ergueu sua mão para todos se retirarem de sua tenda, dando por encerrada aquela reunião.
James e Kýrios olharam para a bruxa, dando uma reverência em agradecimento e despedida, Li-Hua também fez o mesmo, olhando sua mãe pela última vez, seu olhar dizendo que um dia voltaria lhe trazendo a honra que parecia que a mesma lutava para conseguir.
E assim, os três saíram da tenda.
O sol estava brilhando, o clima morno nem fazia lembrar do frio do restante da madrugada mergulhada em sereno que aqueles dois haviam experimentado naquele lago gélido. Tânatos e Panoptes estavam já na saída, e o acampamento, nem pareceram notar a saída de James e Kýrios e nem de uma de suas irmãs circenses, Li-Hua. Talvez soubessem que a jovem tivesse um destino da qual eles não poderiam se abalar ou comemorar, mas sim torcer por ela e sua jornada de desafios.
Era algo difícil, mas uma hora aquilo tinha que acontecer para aquela moça…
— Então quer dizer que agora temos uma nova integrante. Isso é bom. — O gigante coçou o queixo, olhou a garota dos pés a cabeça como se tivesse verificando algum puro sangue no mercado que usaria para colocá-lo em uma corrida de apostas — Isso é mal. Muito mal. — declarou.
— Panoptes. — Lhe chamou em advertência Tânatos.
— Não Tân, olhe para ela. É mais fraca que esse filhinho de papai.
— Eu sou fraco? — protestou James — Então o que foi eu ter feito tudo isso até agora? Fui apunhalado, minha alma foi parar num fim de mundo que por sorte era bom. E mais outras coisas que tenho que suportar… Mas esse detalhe não vem ao caso. O que quero dizer é que qual é a sua definição de ser forte? Tenho que segurar o céu?
Tanto o deus da morte quanto o gigante se entre olharam intrigados com aquele comentário do rapaz.
— Cuidado, Sr. Payne, com o que fala. — Advertiu Tânatos, e James respirou fundo, sentindo um arrepio ruim na espinha, deixando o deus do amor confuso com aquela reação, mas, não entrando em ponderação quanto a aquilo.
— Certo, me perdoe. Mas, voltando para o assunto de eu ser considerado “fraco”… Bom, eu consigo carregar isso, e também bebo essa bebida de vocês, o néctar. Sendo que já me disseram que eu poderia virar pó por causa disso. — argumentou.
— Hm…, isso não muda nada o fato de você ainda continuar fraco. E ela mais ainda. Se eu lhes der um empurrão é bem capaz de suas almas pularem fora antes. — disse o gigante, e a menina ficou encolhida, segurando seu punhal com insegurança. Isso até o gigante por uma mão em seu ombro e olhar bem nos seus olhos — Você, mocinha, vou transformá-la na melhor guerreira que esse mundo já viu. Será até melhor que Aquiles. Vejo um potencial em você, criança. Uma coisa que não vejo nesse riquinho ali.
James arqueou uma sobrancelha em indignação. Quanto a garota, a postura amuada de uma menina assustada por estar entre aquelas três pessoas, ainda mais homens, deu lugar a aquela postura de soldada que mostrava para sua mãe para que conseguisse sua aprovação, mesmo que fosse somente visual, um fingimento para esconder a sua fragilidade da qual ela sabia ter.
— Quem ser Aquiles? — perguntou a moça, e logo o gigante sorriu, se afastando e puxando o deus da morte para frente.
— Minha função é ação. Quer teorias e palestras sobre história? Este aqui é o deus certo. — disse o gigante, dando um tapinha no ombro do amigo, que franziu o cenho para ele.
— Não entender direito… Ele ser deus? — perguntou a jovem, muito confusa.
— Panoptes, o que já conversamos sobre isso? Minha identidade não pode ser falada indiscriminadamente assim para humanos ou quaisquer outros seres.
— Ah qual é? Ela uma hora vai saber de tudo sobre nós. Desde quem somos até desde o que somos capazes de fazer. Então, nada melhor do que deixar essas merdas de regras de lado e partir para a ação! E além do mais… estou com fome.
— Não tomaram café da manhã ainda? — perguntou Kýrios.
— Ele tomou, mas, sua verdadeira forma está começando a querer se expandir. Temos que uma hora voltarmos para a mansão, ou ir para o castelo de lorde Hades e tomar nossas poções ou reforçar nossos encantos. Só fios de Métis não adiantará por muito tempo. — explicou Tânatos.
— Droga… Então temos que ir logo para as muralhas…. Ah, e por falar nisso… Tânatos, você tem alguma novidade sobre alguma energia de algum deus pela área? — perguntou James, e o outro deu negou — Isso é muito estranho… Hades disse que eles estavam já um passo na nossa frente, até aquele deus dragão me alertou de que já estava aqui, de que já poderiam estar com suas armadilhas postas aqui seja lá quem ou onde for. Tem algo de muito errado nisso. Aqui é o domínio estrangeiro para vocês, se houvesse algum tipo de magia sendo executada, com certeza já saberíamos de alguma confusão ou atribulações. A não ser que estes deuses ou seres estivessem usando a mesma tática que você e Panoptes estão usando para camuflar suas identidades.
— Não. Se fosse isso já teriam sido descobertos. Pois o que eu uso para camuflagem é algo muito forte para conter minha essência. E ajudei Panoptes com esse mesmo encanto, junto dos fios de Métis. Até mesmo Hécate não teria algo mais forte. E mesmo se ela tivesse, ela não os ajudaria, está do nosso lado, então não usaria de todos métodos para fortalecê-los seja em que estiverem precisando. — disse Tânatos.
James começou a pensar, mas havia tantas coisas que poderiam ser… Mas qualquer coisa que pensasse poderia estar errado ou seria perda de tempo, já que o deus falaria logo o que seria se visse ou sentisse algo, já que ele consegue sentir a tal vivacidade de cada ser, e isso com certeza seria diferente em alguém que não fosse humano.
“Humano… Será?”. Pensou James, abrindo uma expressão contente.
— Sr. Payne?
— E se for um humano? Isso seria possível? Tipo… mercenários? — perguntou James.
— Zeus não trabalharia com isso. Tudo o que estamos buscando é algo muito grande para ser compartilhado com humanos. Ele é o rei. É seu dever mostrar força e estabilidade. E humanos são como pombos, levam a mensagem do que sabem até os confins do mundo. E a última coisa que Zeus quer é perder fiéis que ainda o adoram. E perder força da fé deles nesse momento é o mesmo que escrever sua carta de derrota. — Esclareceu Tânatos.
— Está vendo senhorita Li-Hua? Pergunte o que quiser a esta pessoa, e ele responderá. Menos para aquele ali. — disse Panoptes, apontando o lado esquerdo de James.
— Como assim menos pra mim? Oras, eu também sou um deus! Tenho milhares de anos de experiência que posso compartilhar sem o menor pingo de problema. — disse Kýrios em protesto.
— Eu concordo com Panoptes. Li-Hua, pode perguntar o que quiser para Tânatos, ele e eu, menos para esse cara, Kýrios. Esse é o meu primeiro ensinamento como seu… shifu. — disse James.
— Sim! Como meu shifu aconselhar, eu obedecer, e aprender. — disse a menina, unindo as mãos, uma com palma aberta e outra de punho fechado, e em seguida fez uma reverência em respeito ao seu “mestre”.
— Isso não é justo! Não podem me proibir disso!
— É claro que podemos. Kýrios, ela é ainda só uma jovem, uma criança, e o que você sabe não é apropriado para jovenzinhas como ela. — Rebateu Panoptes, cruzando os braços.
— Como não? É por causa desse pensamento que muitas donzelas sofrem! É meu dever ao ver uma flor como ela ensinar o que este mundo tem a oferecer! Assim, ela pode se defender. Como por exemplo… Li-Hua, você sabe como realmente os bebês são feitos?
— Meus Deus… Kýrios! — James fechou sua boca, e quando olhou para a menina, viu a mesma com bochechas vermelhas.
Lambendo a palma direita do rapaz e conseguindo com sucesso se libertar daquela censura, Kýrios continuou.
— Viram só? Ela sabe. É jovem, mas sabe de alguma forma essas informações. Li-Hua, assim como Panoptes prometeu lhe fazer uma guerreira como Aquiles, eu a farei se transformar numa mulher que qualquer homem irá cair aos seus pés. Menos James, está bem? Ele é seu “shifu”, guarde bem isso na sua cabeça. E além disso, nenhum dos homens irá machucar seu coração, pois vão amá-la pela bela mulher, linda, inteligente e irresistível que irá ser! Então não se importe se é magrela. É só tirar exemplo de uma arara. Pode ser feia assim que sai do ovo, mas ao crescer fica esplêndida e colorida.
— Obrigada. Eu ter muita sorte. Eu ir orgulhar mamãe, e orgulhar vocês também. — disse a moça, seus olhos quase desaguando pelas bonitas palavras daquele deus, entendendo que mesmo que estivesse naquele corpo, ainda sim era outra pessoa falando com ela — Eu entender vocês estar em plano de lutar. Lutar contra quem? — perguntou, como se já estivesse muito animada para a ação.
— É uma longa história… Melhor irmos andando enquanto isso. — disse James, indicando para a menina caminhar ao seu lado.
•
James explicou toda a situação para a moça, a mesma olhava impressionada para o rapaz, ainda mais por ele explicar a ela que ele é um Pista de Parca, ou numa melhor explicação pela falta de conhecimento de miologias da mesma, intitulou-se como “Guia de Destinos”, uma espécie de bússola importante, o que fez Li-Hua o olhar com mais importância ainda.
— Então… Lutar contra deuses?! Mas, eu ser humana. Não digna. — disse, olhando para seu punhal.
— Ah, minha cara Li-Hua, eu também pensava assim quando fui arrastado por esse idiota. Que me prometeu uma vida luxuosa e tranquila, e cá estou, com ele dentro de mim e segurando minha lança agora. — disse James, enquanto caminhava ao lado da mesma. O deus arqueou uma sobrancelha, olhando rapidamente pra lança que estava em sua mão esquerda, e franziu o cenho.
— Ora, James, como assim não cumpri minha promessa? Você já até foi para o castelo de Hades, comeu e bebeu tudo do melhor. Foi bem tratado. Até teve por minhas mãos, mãos do amor personificado, o melhor de seus orgar… Hgm! — o deus foi interrompido por James, que lhe tampou a boca com a mão direita.
— Sim, sim. — continuou James, depois de deixar a boca livre novamente — Mas em compensação tive que mergulhar em um rio de mortos em Varanasi e tive que lutar contra um jiangshi fedido que praticamente me matou. Então Kýrios, cala a boquinha, ok?
A moça ficava intrigada ao ver aquela interação um tanto estranha. Tudo bem que já soubesse que eram duas pessoas num corpo só, mas mesmo assim, era estranho ver o rapaz “mudar” sua personalidade e voz a cada vez que um ou outro falava, ou quando a voz saía duplicada, quando parecia que os dois tinham a mesma ideia para falar juntos.
E essa foi a primeira coisa que pôs em sua cabeça: ajudar seu shifu a ser feliz e em equilíbrio.
Um pensamento muito divertido passou na cabeça da garota, de que mesmo que ainda só conhecesse a alma daquele deus, ainda assim achava que o mesmo era bom, e que fazia seu shifu feliz, mesmo que o rapaz a cada cinco minutos revirasse os olhos um pouco enfezado. Mas, podia-se ver uma certa intimidade e cumplicidade toda vez que se interagiam. Ainda também que achasse muito pecaminoso pensar nisso, gostava de ver como eles se conversavam como se fossem um casal que a tempos já estavam unidos ali naquele corpo.
A sorte estava sorrindo para eles, mesmo que agora tinham uma novata na equipe, que poderia não saber lutar ou fazer qualquer golpe de ataque ou defesa, mas sabia os truques locais.
Dizendo ser uma filha de comerciantes muito ricos e conhecidos por ali, conseguiu um transporte gratuito até o ponto turístico da cidade, a mais famosa no mundo inteiro: A Grande Muralha.
— Nenhum sinal ainda de algum ser divino ou “mágico”? Ou, como em minha teoria, algum assassino de aluguel, Tânatos? — perguntou James, olhando para a paisagem enquanto ajeitava a lança ali apoiada na murada da muralha.
O deus fez que não em resposta, mas seu olhar estava atento, vasculhando todo o raio onde eles estavam, e voltou a voar, para fazer sua segunda ronda.
— Nenhum sinal aqui! — disse Panoptes, lá entre as árvores, a sete metros abaixo.
Aquela falta de pistas ou qualquer indício do inimigo que iria enfrentar estava deixando James muito agitado. Preferiria logo que o quer que fosse aparecesse fazendo um estardalhaço e fossem logo para o duelo, mas aquilo, aquele silencio, estava o deixando inquieto demais.
— Sendo assim, melhor vocês irem se esconder. E esperarem pelo meu sinal. — disse James.
Tirando do seu bolso três frascos, o que continha o pó de imã e os outros dois, sangue de Panoptes e de Tânatos, James primeiro abriu o vidro que continha o sangue obsidiando do deus da morte, e o despejou por toda lança, que na hora ganhou uma cor apagada, cinzenta, enferrujada, tirando toda a beleza de ouro, prata e bronze que havia pela haste. Já o segundo frasco, contendo o sangue de Panoptes, foi derramado na ponta onde não tinha a parte afiada, e então aquela parte mudou um pouco, ganhando novos detalhamentos, como se quase virasse uma sutil maça cheia de espinhos. E então foi a vez do frasco de imã em pó, despejada na ponta cortante.
James sentiu a lança toda estremecer, como se a arma estivesse tendo convulsões, mas era somente um talento que a lança tinha de absorver aqueles elementos, e talvez devesse estar trabalhando demais para receber tantos em um curto espaço de tempo.
— Está mais poderosa do que antes. Já dá até para fazer um filete de arranhão em Zeus. — comentou Kýrios, pegando a lança em sua mão e a admirando com um olhar bélico na mesma.
— Sim, e talvez se juntássemos tudo que há de poderoso nela, ela se tornasse capaz de ser uma arma que ninguém teria coragem de ir contra.
— É verdade. — Concordou o deus, ficando com o semblante ainda mais ambicioso pela ideia de poder para derrotar todos seus inimigos, mas logo endireitou-se, notando que começava a sentir seu coração uma espécie de algo perigoso surgir.
E James notou isso, já que estavam usando o mesmo órgão.
— Não se preocupe.
— O quê?
— Isso que está sentindo é algo normal. Qualquer um em sua posição estaria sentindo isso. Não fique com medo.
— Não, eu não posso, James. Se eu começar a sentir isso… não, não posso de forma alguma.
— Porque você é um deus? Hm, creio que isso é algo muito literal. Por exemplo, Hades é o deus do submundo, mas ama Perséfone, uma deusa daqui da superfície. Isso não o faz ser menos deus daquela escuridão toda. E você, tendo algum tipo de ódio dentro de você não lhe faz menos deus do amor. Pelo menos, é o que eu penso.
— Você está certo, James. Mas, sinto que… é difícil explicar. Mas… — suspirando fundo, ergueu a lança, encarando-a — É algo muito poderoso, e temo não ser capaz de controlar. Apesar de que sinto um potencial de que poderia resolver tudo se…
— Sim, isso resolveria todos seus problemas…
James então teve uma brilhante ideia, algo que passou pela sua mente sobre aquele potencial que o deus tinha dito.
— Ah! E se colocasse meu sangue nessa lança também? Isso seria muito bom! Porque você não precisaria mais de mim, ou de qualquer outro Pista de Parca, já que ela trabalharia como uma perfeita bússola lhe indicando todos os lugares e todas as pistas que…
— Hm, acho que não daria certo. — Interrompeu Kýrios, ficando inquieto — Toda arma tem um limite, correto? Não viu que a mesma até tremeu? — argumentou da mesma forma, um pouco tenso — E, é claro que eu precisaria de você. — disse, deixando a lança em cima da murada e pegando a mão direita do rapaz, que sentiu um pequeno calor vindo da esquerda — Mesmo que tivéssemos toda a vantagem do nosso lado, ainda sim eu o quereria, James. Afinal… temos que encontrá-la.
— Sim, é verdade. Temos que encontrá-la. — disse, num misto de determinação e desânimo pelas palavras do deus.
As reações que o deus transmitia eram confusas, suas palavras não condiziam com suas ações, e James tinha essa impressão, ainda mais agora literalmente unido em um corpo só com aquele deus. O mesmo parecia… em conflito interno naquele momento.
Mas, aquela não era hora de pensar sobre essas coisas…
Ainda bem que naquele dia não havia ninguém passeando por ali na muralha, estava fechado para reformas. E claro, a entrada deles foi um pouco clandestina… Conseguiram entrar com a ajuda da moça, que mais uma vez usou seus conhecimentos locais para “chantagear” e liberarem suas entradas.
A lança então parou de tremeluzir, ficou estável, mas sua aparência ainda era envelhecida e sem vida. Kýrios então entregou na mão direita de James, que a pegou, confiante de que agora tudo ia começar e tudo aquilo daria certo no fim.
Tudo estava calmo por ali, mas o ar de repente se tornou meio estranho, como se o vento e as arvores soubessem da ameaça que estava por vir.
— Kýrios, a lança está vibrando. — Avisou James, sentindo-se nervoso.
— Essa é a nossa hora. — disse, se encaminhando para andar pela muralha. — Não se preocupe, James, eu estou aqui com vo…
Não deu um passo a mais, e alguém em sua frente apareceu no outro piscar.
E todo aquele local pareceu ficar estranho, como se houvesse uma fumaça bem fina pairando por todos os lugares em uma fraca neblina.
— Olá, humano. — disse o homem, muito elegante em trajes ingleses que James conhecia bem.
Engoliu em seco, e firmou a lança em sua mão.
— Você? — sussurrou, se posicionando em um modo defensivo, recebendo do outro visitante um sorrir enigmático.
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Capítulo 25
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Missão Ágape
O Olimpo está em crise, e tudo porque de repente uma profecia disse que um deus iria dizimar o seu sistema e tudo que eles lutaram para conquistar e poderem estar no poder até hoje.
E é...