Arco 1 –  Oriente sem DESTINATÁRIO

Missão Ágape

Capítulo 26

  1. Home
  2. All Mangas
  3. Missão Ágape
  4. Capítulo 26 - Entre Mortais
Anterior
🟡 Em breve

O “homem” tinha uma postura altiva, seu porte era bem mais forte ao de Kýrios, e seu olhar carregava uma amargura com pitadas de esperança, mas seu cenho franzindo indicava uma certa projeção de que havia alguma obrigatoriedade.

— O quê?!! — sussurrou Kýrios, descrente da identidade da pessoa a sua frente, afinal, o ser era seu amigo mortal a anos.

Mas parece que o jogo era duplo em ambas as partes…

— Então é você de que tanto estão falando no Olimpo… Pensei que fosse um tipo mais encorpado, e de grande poder. — disse, olhando analítico para James.

— Peço perdão então pelo engano, Hughes. — sim, era o CEO do Museum de Londres, e de outros museus pelo mundo — Eu não costumo causar isso nas pessoas, mas, sempre tem uma primeira vez, não? E a propósito, já que finalmente apareceu, podemos pular a parte onde você me ameaça e tenta me impedir de achar essas pistas de uma amiga deusa minha?

James estava muito surpreso, dar de cara com seu futuro sogro era algo inimaginável naquele momento. Seus pensamentos não foram também somente nisso… sua cabeça logo voltou-se para além, para algo que logo deixou seu coração aflito ao saber que sua família, seus pais, podiam estar em perigo naquele momento em que estava ali diante daquele homem.

O patrão de seu pai sorriu e balançou a cabeça em negativa pelo comportamento mais ousado do rapaz.

— É uma decepção saber que eu tinha dado bençãos para você desposar de minha querida filha. Uma decepção saber que a vitória de missão estava bem debaixo de meu nariz. Mas isso fica em segundo plano… Porque você agora vai pagar. Tanto por isso quanto por tê-la deixado aos prantos depois sua fuga irresponsável, mas que agora até agradeço aos deuses pela sua partida. Nunca, jamais, deixaria minha menina ser unir a um ser tão sujo e indigno como um Pista de Parca, um objeto descartável de deuses.

Kýrios, ouvindo aquelas ofensas ao moreno, quis retrucar, mas James não lhe deixou dizer alguma palavra, prendendo os lábios no processo, fazendo parecer para o homem a frente que ele estivesse quase ao ponto de chorar por causas daquelas falas depreciativas.

Sem respostas, Hughes arqueou uma sobrancelha e cruzou os braços, e continuou a dizer:

— Quando eu era um rei, isso a milênios atrás, aliás, quando me tornei um rei, eu também tinha essa paixão toda acalorada pela ação, frenético e ávido por mostrar resultados. Até que tudo foi se dissipando, e no fim, aquele sentimento ruim de vazio me atingiu. Eu lhe entendo que queira fazer um bom trabalho para seus próceres, lhe entendo mesmo. Mas, eu também quero agora fazer minha parte. E para sua má sorte, e que seu pai me perdoe, James Payne, aquele sentimento voltou com tudo em meu peito.

O homem então tirou de sua cintura uma espada, essa feita de bronze, mas era tão polida que parecia ser de ouro negro.

— Se me permite, posso saber o nome de batismo do cavalheiro antes dessa dança começar? Como pode saber, através das reclamações de meu pai, que eu não era muito chegado a aulas de história ou restauração. Além do mais, você sabe agora minha identidade, nada mais justo eu saber sobre a sua, correto?

O homem exibiu um pequeno sorrir de canto, que não durou muito.

— Erictônio, o primeiro, e eterno, rei de Atenas.

— James, o que está fazendo?! — sussurrou Kýrios, dando a impressão de que o rapaz falava consigo mesmo.

— Ganhando tempo… — respondeu — A lança. Estou já buscando a pista… Parece estar muito perto, mas não estou encontrando…

— Você é um gênio! E corajoso.

— Sabe como é, sou o melhor. O que esperava de mim? — disse, engolindo em seco.

Kýrios estranhou tal ração, que não condizia com o que o rapaz falava, e olhou para a mão direita, e viu a mesma um pouco trêmula, as falanges já brancas por segurar a lança com tanta força.

— James, lembre-se, estou aqui com você. Não se preocupe, eu sinto que ele não é tão poderoso assim. Não é um deus. — disse, fazendo James respirar fundo — Hm… Eu me lembro desse rei… mas não sei de onde… — sussurrou.

— É muito honrado orar para seus protetores antes de uma luta. Admiro isso, mas agora chega de falar, vamos ao que interessa. — disse, parecendo agora ansioso e apressado para ter seu esperado ganho de missão.

Quando o homem fez uma menção de se colocar em postura de ataque, James recomeçou seu discurso outra vez.

— Será que não há possibilidade de fazermos algum acordo? — perguntou, girando a lança, numa fingida pose confiante como se nada pudesse lhe atingir, mas na verdade estava deixando a ponta imantada e encantada agir, lhe mostrando a direção de onde estava a pista, mas a mesma parecia estar confusa quanto a sua localização, que a toda hora mudava de lugar.

O homem à sua frente franziu o cenho, mas continuou a se preparar.

— Não há acordos. Não posso perder essa oportunidade que ela está me dando.

— Ela? Ela quem? — perguntou James, mas o homem se manteve em silêncio.

— Oh, deuses… Me lembrei! James, eu agora sei quem ele é! Por deuses… — cochichou Kýrios, ficando nervoso.

E aquela reação foi percebida pelo rapaz, que também ficou ainda mais inquieto pela tensão do deus, já que isso significava que o oponente a sua frente era realmente bem acima de seu nível, até do deus.

Mas o rapaz continuou sua atuação.

— Em minha experiência, sempre é bom ouvir o que o outro tem a dizer, principalmente quando este tem algumas vantagens, ou acordos a mais e irresistíveis… — James girou a lança, e mais uma vez a ponta lhe puxava para uma direção totalmente diferente do que apontava nas anteriores.

— Nada é maior do que ela vai me presentear. — Rebateu o homem, e sem aviso prévio correu na direção do rapaz.

James tomou um grande susto quando viu a lâmina passar diante de seus olhos, o brilho ofuscando um pouco suas vistas, e como não estava preparado, um minúsculo corte foi feito em sua maçã, e mesmo com estes golpes, habilmente desviou, mas claro, por causa de Kýrios, que também pegou na lança, fazendo parecer que James havia usado as duas mãos para se defender.

A espada de Erictônio havia virado pó na hora pelo contato com o outro metal, mas outra surgiu em sua mão, como um monte de peças se montando e voltando ao que era antes.

Tanto James quanto Kýrios fitou preocupado.

— Um presente, este de meu pai. Mais prova que isso, de suas boas vontades, acho que não há. — disse Erictônio, se preparando para uma nova investida.

Um ataque de esquerda, direita, a espada as vezes até passava perto de sua garganta, mas por se abaixar a tempo, somente algumas pequenas mechas escuras e onduladas iam ao chão.

Kýrios também ajudava muito nas defensivas, seus reflexos sempre afiados como uma flecha, fazendo os movimentos do corpo do rapaz serem leves e muito efetivos em achar uma abertura de descanso para receber outras investidas mais agressivas.

— Você é filho de quem de verdade? Nix? — perguntou Erictônio estranhando tal habilidade.

— Sou humano. Mas, com algumas habilidades aperfeiçoadas… — James se gabou, mas por dentro gritava desesperado por uma fuga.

Erictônio se lançou de novo, e vários e vários outros ataques de um requintado esgrima foram deferidos sem sucesso. Sua espada toda hora se remontava quando tocava naquela lança de haste corrosiva para a arma do inimigo, o que fazia James se perguntar porque isso não acontecia com suas mãos.

Girando nos calcanhares, um feito de Kýrios, a parte onde havia uma maça sutil teve sua estreia, e foi bem no estômago do homem elegante, que foi para trás, lançado para longe a uns dez metros, tossindo um pouco de sangue por conta daquele ataque.

James ficou impressionado com o tamanho poder em somente um golpe comum, ficou imaginando se não poderia ir além, e… livrar de uma vez por todas daquele impedimento do homem em atrapalhar sua busca.

Mesmo que este fosse um grande e estimado conhecido seu e de sua família.

— Erictônio. — Lhe chamou Kýrios, a voz saindo mais grave, despertando a atenção do homem para o rapaz, mas ainda sim, pensando que era ele ainda — Eu sei de sua história. O deus do amor me contou tudo… E sinto muito mesmo. Mas, os deuses as vezes são cheios de artimanhas. Em todos esses milênios, porque acha que só agora eles dois vão te assumir publicamente?

O homem franziu o cenho e mirou afetado para o rapaz.

— Como eu disse antes. Uma peça, um objeto insignificante. É claro que também seria um recipiente sujo para este traídor… Ele deu o quê? Seus poderes? Sim, o poder pode ser bastante atrativo. — disse, fazendo uma expressão de dificuldade por tentar se lembrar de seu nome, mas fracassou, dizendo logo pelo que o deus era conhecido — Kýrios, este deus, um ser sujo.

— Não tente mudar de assunto, Hughes. Ele, em todo esse momento foi seu amigos, e saiba, que tudo que passaram, todas aquelas dificuldades para você se tornar o que é hoje… tudo foi verdadeiro! E por conta desta amizade, você sabe, que ele não um traidor! Esta luta não tem sentindo! — disse o deus, ainda se passando pelo rapaz.

— Foi uma promessa! — esbravejou, sua voz falhando um pouco — Ela, minha mãe, nunca o fez antes porque era necessário! Foi para me proteger! Sempre foi assim!

— E ter lhe colocado como rei de Atenas foi o suficiente? Erictônio… Eles estão prometendo coisas absurdas para todos nestes últimos tempos. Tudo por temerem a ira de Zeus sobre eles. Ou você acha que depois que tudo isso acabar eles continuarão essa promessa de assumir você para o mundo? Você sabe que em se tratando dela, Atena, nada é levado para o coração! Tudo são meras estratégias calculadas dela!

— Minha mãe me ama! Eu sei que sim! E não será você que irá me dissuadir a trair a confiança dela! E em breve me tornarei um deus de verdade entre eles!

Limpando sua boca do sangue, Erictônio partiu pra cima novamente, mas quando estava prestes a fincar sua espada no ventre do rapaz, que usando sua técnica de esgrima naquela lança, fez um movimento curioso de girá-la para capturar a espada do homem, e o resultado foi o esperado.

Erictônio passou reto, caindo de peito contra o chão de pedra, tendo sua espada estilhaçada e jogada para bem longe.

— Erictônio… — lhe chamou outra vez Kýrios — Ela lhe deu Atenas somente para se livrar de você. Assim como mães dão doces aos seus filhos para fazê-los parar de choramingar. Hefesto até acredito que tenha algum coração no meio de tantas latarias, ferrugens e engenhocas, mas Atena…

— Cada palavra que sai de sua boca é um motivo a mais para lhe destruir! Sua existência, Pista de Parca, você e aquele deus é o que vai por toda essa harmonia no Tártaro! Todos pensam que Zeus enlouqueceu, mas eu lhe entendo. Sei o que é ter uma chance em suas mãos, ter uma solução para todos seus problemas, e sei o que é a ameaça de perder tudo isso!

Aquelas falas cheias de dor daquele homem surtiu um efeito no rapaz, que sem querer entrou em um estado catatônico.

Várias imagens de pessoas chorando, pessoas sendo mortas, um rio vermelho, corpos humanos em pedaços, e principalmente, uma em específico lhe chamou a atenção, e por mais que estivesse horrorizado, ergueu a sua mão para pegar uma parte, e o que acabou pegando de dentro daquele rio foi um coração cheio de bolhas de queimadura, que também começaram a queimar sua mão, mas isso parecia não lhe afetar, não esboçava nenhuma reação quanto aquilo, mesmo que sua carne, esta de tez pálida, estivesse se desfazendo.

“Sei o que é ter uma chance em suas mãos, ter uma solução para todos seus problemas, e sei o que é a ameaça de perder tudo isso!”

Essas sentenças foram repetidas, mas com uma voz diferente, uma feminina, uma voz calma e doce, uma voz muito familiar.

“— Eu sei de muitas coisas. E uma delas é saber toda a verdade. Saber o que realmente está acontecendo. Tân, você tem que continuar seguindo em frente… — disse James de repente, sua voz saindo um pouco monótona.”

— James? — lhe sussurrou Kýrios, mas foi ignorado.

James se sentia estranho, era como se aquela parte de seu ser estivesse sendo tomada agora por outra entidade. Já não bastava ter aquele deus tomando metade seu corpo para ele, agora tinha que ter também algum intruso querendo falar por ele?

Mas James entendeu no momento em que uma, talvez alucinação, apareceu para ele e acordou do transe. E era ela, Psiquê, que estava sentada tranquilamente em uma daquelas amuradas da Grande Muralha enquanto fazia sua trança lateral.

— Oh meus Deus… agora não…

— Agora não o quê? — perguntou baixinho o deus do amor.

“— James, escute, este deus com quem lutas tem um ponto fraco. Você está vendo? Ele tem uma grande dor no coração. Ele precisa de incentivos para ceder. E quando mais você diz a ele para trair a confiança de sua amada mãe, mais determinado ele fica. Que tal se no lugar disso, você não mostrasse todo seu poder à ele? Essa lança não está somente para enfeite, James. Use-a. Ele está cego para ter a aprovação de seus pais, não vai dar conta de saber que você é realmente somente um frágil humano.”

James não hesitou em acatar aquela sugestão, afinal, mesmo que um uso um tanto inapropriado dos sentimentos do oponente fosse ser muito ruim, mas aquilo era uma guerra, e ele tinha que ser mais lógico.

— Hughes. — Lhe chamou — E eu lhe entendo perfeitamente. Sei o que é ter que ficar sob uma sombra de aprovação paterna e materna. Mas creio que todos temos nossa liberdade para sermos felizes por nossas próprias escolhas. Então, se essa é sua escolha, terei que ir contra, pois é o meu trabalho, minha missão, nada pessoal. E sentirei muito, muito mesmo, em ter que te machucar.

— Então quer dizer que o deus morto lá no Olimpo não tem nada a ver com você aqui ainda nessa busca? — perguntou, num tom sugestivo que indicava uma malícia proposital contra aquele rapaz.

— James… — lhe chamou o deus, estranhando aquele jeito tão frio de repente em não ter se afetado pela provocação do outro.

— Eu sei, Kýrios. Eu sei. Ele está querendo jogar sujo também. Mas isso não me afeta. De verdade.

— Ouvi falar que vocês estavam de dando bastante bem. Hipócrita isso, não é? — continuou Erictônio, limpando o sangue de sua boca novamente, cuspindo pra qualquer lado — Aquele deus do amor, que agora está com outro nome, se achava melhor que todos os outros, mas é só mais um deus com suas podridões e perversidades. Psiquê com certeza não mais aguentou ter que manter um prostituto do lado e que também era capacho daquela meretriz traiçoeira da mãe dele. E uma hora, quando a oportunidade surgiu, a esposa ferida usou tudo isso como desculpa para sair desse poço de lama e luxúria suja que sua família prega.

Kýrios cerrou o punho esquerdo, mas James balançou a cabeça em negativa, tentando contê-lo, tentando alertá-lo de que aquilo era só um veneno que Erictônio usava contra eles num revide que era a única coisa que tinha nas mangas.

— Seja como for, minha missão não acabou. — disse James — A “morte” dele não é o motivo para essa luta toda terminar. — James apontou a lança para o mesmo, e logo toda a haste começou a vibrar — Kýrios. — Lhe chamou em sussurro — Acho que descobri onde está a próxima pista.

A ponta da lança apontava para onde Erictônio se movia, e havia uma linha muito fina, presa ao pulso, que flutuava pelo ar e que não era perceptível, até aquela hora em que James conseguiu ver quando a encontrou depois que sua visão das coisas ficou mais clara de repente.

Um frio na espinha lhe subiu por se dar conta de que o deus mortal havia já encontrado a tal pista, e que estava em seu total poder.

“Porque ele ainda não destruiu ou entregou tal prova à Zeus?”. Perguntou-se mentalmente, tentando buscar um motivo para aquela ação do homem.

Quando James havia decidido agir novamente, a deusa que ainda se encontrava ali sentada lhe chamou.

“— James. Não faça algo que pode se arrepender. Erictônio é só uma criança que ainda guarda uma tristeza que a muito que foi cultivada pela esperança de agora ter uma oportunidade. Sim, eu disse para usar métodos sujos, mas não este. Não me confunda com a mãe dele.”

— Não há tempo pra isso. É fácil dizer quando você está aí no seu mundo seguro enquanto estou aqui prestes a me foder por uma causa que está muito além de minhas capacidades.

— James, com quem você está falando? — perguntou Kýrios em sussurro.

— Está pedindo ajuda a seus protetores, amante do deus do amor? Ouvi falar que eles de seu domínio não ajudam diretamente dessa maneira. Tem que ser merecedor, não é assim que eles trabalham? — disse Erictônio.

“— James, ele não pode sofrer mais do que já sofreu.” Disse Psiquê.

— Mas Kýrios também não pode mais sofrer dessa maneira! — rebateu James, entredentes.

— James você está bem? — questionou mais uma vez Kýrios, mas como das outras vezes, foi ignorado.

— Você nunca irá conseguir pegar essa pista. — disse Erictônio, vendo que o rapaz já tinha descoberto seu segredo — Eu poderia muito bem levá-la agora mesmo para Zeus, mas fiquei curioso, do porquê tem ainda aqueles que defendem a família daquela traidora, Afrodite. Queria ver o que vocês têm de especial para esses poucos arriscarem suas existências.

“— James, mostre a ele que você pode ter uma outra saída para ele.” Orientou Psiquê.

— Será que você pode me deixar em paz?

— Sei que posso estar sendo chato, James, mas pode me dizer o que está acontecendo por favor? — Insistiu Kýrios.

— Você também me deixe em paz! Aliás, será que pode se concentrar somente em ficar atento nos movimentos dele enquanto eu penso?

— James, eu me lembro de uma outra informação sobre ele. Erictônio, por ter sido banido ao esquecimento, acabou se tornando um semideus. Sua mãe lhe nega, então somente Hefesto tinha lhe assumido, mais ou menos, já que este homem iria por ele em decadência, e Atena poderia arrumar uma guerra e destruí-lo se não o esquecesse em algum lugar.

James estava se sentindo perdido, não sabia que caminho seguir. Psiquê parecia querer algo mais pacífico, mas Erictônio não ajudava para as coisas se tornarem mais solucionáveis para esse lado. E ainda tinha o problema de que se não agisse logo, iria perder aquela batalha.

— Erictônio. Nós podemos te ajudar. — disse James, abaixando a lança.

O semideus riu amargo e se levantou, erguendo uma outra espada que se remontou em sua mão.

— Você, um rapaz de vida mansa e boemia, como poderia me ajudar nisso? Está numa causa sem vitória, o deus para quem trabalha já está praticamente morto. E todos os deuses que estão nisso são meros traidores que também terão suas devidas punições.

— E se eu lhe der uma prova de confiança que possa mudar sua ideia? Que essa minha busca não é em vão, que tudo pode ser explicado. Você foi um rei, e eu sempre li que a primeira virtude de reis é a sabedoria. Porque não pode ser sábio agora e não veja realmente o outro lado dessa moeda?

Erictônio lhe encarou, seus olhos transmitiram uma dúvida que foi instalada em seu coração, e James torcia para que aquele apelo desse certo.

— O que tem para mostrar?

James deu um passo à frente muito cauteloso, e deixou a lança ao lado de seu pé esquerdo.

— Isso. — disse James tocando seu ombro esquerdo.

Kýrios abriu a boca surpreendido com aquela atitude repentina.

— James, você está ficando maluco? — a voz mais grave saiu um pouco duplicada, mas o timbre familiar era nítido para os ouvidos de Erictônio, que franziu o cenho.

— O que isso significa? Está trabalhando com alguma outra alma para lhe ajudar já que não tem capacidade por ser humano?

— Ok, já entendi que sou humano. Não precisa ficar repetindo isso o tempo todo. Eu não fico te chamando de semideus. E sim, este que está tomando metade de meu corpo é…

— Tudo bem, sou eu, E… — o deus do amor tentou falar seu nome verdadeiro, mas sua voz se engasgava e acabava não conseguindo mesmo que forçasse — Sou eu, Kýrios, sou o deus de outro nome, o deus de nome banido.

Erictônio franziu a testa surpreso, e arqueou uma sobrancelha, e riu pelo nariz em superioridade para disfarçar.

— Isso é algum tipo de piada?

James e Kýrios respiraram fundo.

— Erictônio, ele é realmente o deus do amor. O corpo que está com vocês no Olimpo foi só uma maneira de atrasá-los para que eu pudesse encontrar a pista de Psiquê primeiro. Eu e este deus planejamos isso com Hades e Perséfone. E foi assim que ganhei esta lança, a qual absorve tudo que há poder, até almas divinas. E ele ficou aqui dentro por um tempo, até eu conseguir que ele ficasse agora dentro de meu corpo porque eu tinha que tirá-lo antes de colocar o sangue de Tânatos e Argos Panoptes, e mais o pó de imã, tudo para estar preparado e enfrentar quem fosse que já estivesse aqui neste domínio para me impedir.

O homem ficou estarrecido com aquela confissão tão detalhada, e sua postura afrouxou, abaixando também sua espada.

— E tem mais… — continou James — Há um motivo mais forte sim para eu estar dividindo meu corpo com este deus… Você tem razão em ficar me chamando de humano. Sou mesmo um, sem nenhum tipo de talento mágico ou alguma excelência acima da média em esgrima. Mas Kýrios sim, ele tem tudo isso. Estou vivo até agora porque ele é quem está me ajudado. E não, não temos nada como ficou insinuando, aliás, nunca tivemos, não temos e nunca teremos.

Kýrios se encolheu um pouco em seu lado com aquela ultima afirmação. Já Erictônio ficou em silêncio por vários segundos, várias vezes sua mão ao redor do cabo da espada afrouxava e se apertava.

Era a dúvida… O broto da pior arma que se pode usar contra seu oponente.

— Nenhum herói mostra suas fraquezas diante de seu inimigo. Mas aqui estou vendo… E isso acho muito honroso. E além de ter meus princípios a seguir, vou escutá-lo. Mas saiba, Sr. Payne, que farei isso somente por causa de seu pai. Ele é um bom homem, então, merece uma chance de argumentações.  — disse Erictônio, largando a espada e se aproximando até ficar a três passos do rapaz.

— Há muitas coisas que estamos fazendo para achar e mostrar que este lado está sendo injustiçado. E você está fazendo uma boa escolha em ouvir esse outro lado da história, Hughes.

— Sim, eu sempre faço boas escolhas. — Cerrou os punhos, e abaixou a cabeça, para somente levantar depois com um olhar determinado que James tinha visto no início daquela luta.

O cálculo de James foi bastante preciso, e para sua sorte, Kýrios parecia ter captado aquela mensagem subliminar quando ele colocou a lança no chão bem perto de seu pé esquerdo.

O deus do amor era um exímio arqueiro, empatando com Apolo, mas seu talento com outras armas também podia ser consideravelmente boa para um deus, e isso queria dizer que era muito acima do que um mortal poderia fazer mesmo com anos de treinamento.

E por isso, no segundo em que Erictônio direcionou sua mão para pegar algo de sua cintura, James se abaixou, Kýrios deu um giro para direita, e quando voltou a posição de antes, já havia cravado bem no estômago do outro a lança que pegou rapidamente do chão.

Erictônio arregalou os olhos, e cuspiu mais sangue, sujando toda a frente de sua camisa.

James ficou em choque.

E Kýrios tinha seu lado o olho marejado.

— É… claro… Fui um rei, mas nunca fui realmente… digno de confiança… ou amado… por ninguém. — disse, ainda direcionando sua mão para cintura, mas ao em vez de sacar uma espada, tirou de lá um pequeno cristal cilíndrico, parecia ser a chave de algo. Olhou para seu pulso onde aquele fio finíssimo estava amarrado e que deixava a pista lá nos ares flutuando como uma pipa.

Erictônio se forçou mais ainda contra a lança que estava varando para outro lado de seu corpo, e pegou a mão direita do rapaz, entregando o cristal em sua palma.

— Invente algo para minha menina… E… Obrigado, por me mostrar que o mundo nunca será bom como sempre tive esperança que fosse um dia ser.

E então, o brilho dos olhos dourados daquele semideus deram lugar a um castanho claro de sua humanidade, os mesmos olhos castanhos do amigo de sua família.

James e Kýrios ficaram mais em choque, o deus segurava a lança, com o joelho esquerdo apoiado no chão, enquanto o rapaz segurava na mão direita o cristal. Ambos olhavam para aquele semideus com pesar de uma culpa por aquela ação precipitada.

— Por deuses… Por deuses! Eu… matei um… Eu… acho que vou vomitar… — disse Kýrios, largando a lança no chão, mas foi impedido por James, que largou o cristal também no chão e sacudiu seu ombro esquerdo.

— Kýrios! Nós fizemos o certo! Isso foi certo!

— Não… Ele ia entregar a pista para nós… Ele ia! Mas, eu, você…!

— Mesmo que fosse. Deixá-lo vivo depois de todas as coisas que eu lhe contei… Seria muito arriscado.

— Você está me dizendo que… Já estava com essa ideia desde o princípio?! Ele entregando ou não a pista você iria matá-lo?! Não… Você não pode ser capaz disso! Você é o James, o bom rapaz que eu conheço! Sei que não faria isso! James, por favor, me diz que o que estou entendendo é uma mentira!

James respirou fundo, pegou o cristal e o colocou no bolso, e depois pegou também a lança, se levantando em seguida.

— Há horas em que nós temos que fazer coisas que não gostamos, Kýrios. — James lhe mostrou a lança — Sei que pode estar um caos aqui dentro por conta do sangue de Tânatos, mas ele estará bem até acharmos um novo corpo para ele, e depois, cumprir a nossa promessa que fizemos à ele.

O olho direito também estava marejado agora, e Kýrios ainda se sentia enjoado, mas também muito aliviado em ter ouvido aquele plano secreto do rapaz.

— Deuses, James… Você quer mesmo me matar do coração…! — disse o deus, pousando a mão esquerda no peito.

— Esse é o meu charme, e talvez um dom. — sorriu minimamente, dando de ombros cansado, e cambaleou um pouco.

“— Você foi bem, James”. Disse Psiquê, lhe dando um sorriso sem mostrar os dentes.

— Disponha… Até que tudo isso foi bem fáci… — sussurrou, contente pela aprovação, mas logo seu semblante aliviado deu lugar a uma de apreensão ao ver algo atrás da deusa — Cuidado! — gritou, ao ver um ser todo coberto com um manto preto e com uma foice, e esse mesmo fazer um movimento muito rápido que não deu tempo do gritar ou correr para ir ajudar.

E como se fosse somente uma boneca de pano, o ser girou a foice, e fez um corte preciso, fazendo a cabeça da deusa cair lá embaixo junto com o corpo.

O ser de capuz cinza que cobria metade de seu rosto, este que tinha feições bastante familiares, abriu um sorriso maléfico, e apontou para ele, indicando que seria o próximo que iria ter aquele mesmo destino. A parte de seu rosto parecia muito parecida com alguém de seu convívio, tão familiar que ficou com o peito apertado por supor algo muito ruim daquilo.

— James?! O que está havendo?! — questionou Kýrios ao correr junto do rapaz e vê-lo agir de forma desesperada enquanto ia para a amurada da muralha.

— Onde…?! Onde está?!

— James, o que está procurando? — questionou o deus, muito agoniado pelo desespero do rapaz.

James ficou procurando onde estava o corpo de Psiquê, mas ali embaixo só havia árvores, e os dois companheiros de viagem.

Quando viu o outro deus ali do lado do gigante, sentiu um arrepio ruim passar pela sua espinha.

“Não, pare de pensar nisso. Tânatos não é nosso inimigo! Deve ter sido outra coisa! Tem que ser!”. Pensou, tentando se acalmar e esquecer isso de sua mente, já que poderia ser somente alguma coisa externa o tentando ludibriar para que começasse a se corromper e assim, que a missão pudesse falhar.

— James, pelos deuses, o que está havendo? — perguntou, tentando ajudar o rapaz de alguma forma já que o mesmo se encontrava trêmulo.

—Por favor, Kýrios, eu preciso que não me pergunte mais alguma coisa, eu preciso me focar, me acalmar… Se eu disser alguma coisa agora eu poderei estar fazendo algum tipo de injustiça.

O deus ficou muito intrigado, mas decidiu respeitar o tempo do rapaz.

— Tudo bem, então, pelo menos, podemos chama-los agora? Eles podem estar ficando preocupados com a nossa demora, ou nem sabem que já enfrentamos o nosso inimigo… Agora que me dei conta… Eles não vieram nos ajudar.

James assentiu, e estranhou esse fato também, e colaborou para se levantar junto do deus, que logo foi para a amurada e deu sinal para os dois amigos e a jovem moça subirem.

•

Os três subiram em segundos, e acharam estranho o local onde James estava estar todo com indícios de lâminas riscadas nas pedras e sangue manchando o chão, e mais que isso, havia um corpo inerte um pouco mais para o outro lado da muralha.

— Isso é estranho, nós teríamos que ouvir algum sinal, aliás, Tânatos nem sequer sentiu nenhuma presença divina ou de algum semideus. Isso não faz sentido. — disse o gigante, analisando o corpo de Erictônio, cutucando-o com um galho como se ele fosse um rato morto.

— Talvez… Hécate tenha ajudado. Não a culpo, ela está fazendo seu trabalho, e está sobrevivendo. — supôs Tânatos, também examinando o corpo do semideus, e tendo um resultado mais positivo que o gigante, achando um raminho seco com algumas sementes de romã.

Era um encanto, e dos bons.

— Deuses… E ainda por cima, escondeu também a pista. — comentou Kýrios, pegando o raminho e o levando ao nariz, se afastando na hora em que sentiu o aroma — Pelo amor! Isso está fedendo à rancor!

James achou curioso esse fato, então, fazendo uma nota mental sobre o fato de o deus não somente sentir sentimentos ligados à amor e excitação, e sim estes mais negativos.

— Hm, você disse rancor… Então… Isso teve algo a ver com alguma divindade. Pelo que me lembro… Nêmesis? Talvez não tenha sido Hécate que ajudou Erictônio, mas sim, essa deusa? — presumiu James, tendo o olhar de todos para si, menos de Kýrios, pelo óbvio — O que foi?

— Nada não. — disse Panoptes — Só achei que não conhecia muito sobre nosso domínio.

— Oras, posso ter fugido, literalmente, das aulas. Mas há algumas coisas de conhecimento popular. — rebateu.

Bom, era verdade que sabia muita coisa nesse modo, mas outra parte se deu depois daquela luta.

Algo surgiu ou despertou em sua mente, muita informação que não tinha antes, apareceu.

Principalmente, nomes de alguns deuses.

— Deixe me ver isso. — pediu Tânatos o raminho e Kýrios lhe deu. O deus da morte fez a mesma expressão, mas ao fim franziu o cenho. — Não, não é a Nêmesis. Esse odor amargo de brasa está mais para… — seus olhos se arregalaram um pouco, logo voltando a sua costumeira face inexpressiva — A um traidor entre nossa causa.

Os três ficaram chocados, menos a moça, que tentava processar tudo o que estava acontecendo.

— Tân, seja quem for, temos que logo arrumar isso. Já é ruim demais ter que lidar com possíveis falhas na segurança, mas descobrir que há uma maçã podre no meio… Deuses, espero que já não tenham feito algo a Hades e Perséfone. — comentou Kýrios, passando uma mão no rosto, lado esquerdo.

— Kýrios tinha dito que isso estava fedendo a rancor, quem seria esse ser que cheira à isso? Algum gigante? Algum ser como aquelas medusas? Ah, me lembro de… uma vez minha mãe me contou sobre espíritos, fantasmas que foram assassinados. E fantasma tem em qualquer domínio, não? — questionou James, tentando ajudar com aquelas informações repentinas em sua mente.

Mas no fim, quem conseguiu encontrar uma resposta exata para aquela indagação foi Tânatos, que ficou com um olhar decepcionado após pensar por outros  curtos segundos e achar a identidade daquele cheiro de rancor.

— Temos que voltar agora para o submundo. Temos que alertar Hades e Perséfone, eles podem estar correndo perigo. — disse Tânatos, guardando o raminho em sua bolsa humana de utilidades.

James ficou lhe observando, ao mesmo tempo em que tentava não deixar seu julgamento influenciar por conta daquelas visões que teve antes.

Já Kýrios, ficou em silencio, intrigado, pensando o porquê o rapaz estava olhando de forma tão séria para o seu amigo.

•

O caminho até a saída do domínio do panteão chinês foi calmo, sem surpresas extras. Fora isso, teve uma pequena tristeza na despedida de Li-Hua por conta de a moça estar deixando para trás seu lar e mergulhar naquele novo mundo louco junto com aqueles três estrangeiros, que ao seu ver, ainda eram um mistério, já que sua mãe os escolheu sem lhe contar o motivo do porquê tinha que seguir com eles.

— Ah finalmente vou poder ter um pouco de liberdade! — disse Panoptes, se espreguiçando.

— Não baixe sua guarda, ainda não estamos em nosso território. — Advertiu Tânatos, e logo abriu um portal de sombras, raízes, sussurros e sangue.

Kýrios e James fungaram em alívio por estarem voltando ao outro domínio, e depois de Panoptes, entraram pelo portal, atravessando, e finalmente com aquela prova conquistada em mãos.

— Estará seguro para você, senhorita Li-Hua. — disse Tânatos, vendo o olhar assustado da moça para aquele portal que não emanava nada de harmonia e leveza, pelo contrário, parecia algo que foi tirado de seus pesadelos.

— Eu ser humana.

— Senhor James Payne também é humano. Você pode sentir um desconforto, um pesar, uma falta de ar, dor de cabeça, enjoo, sensação de desmaio, pânico irracional, mas logo se acostumará com o ambiente. Prometo. — Orientou Tânatos, lhe erguendo a mão.

A moça ficou ainda mais temerosa, o encarando por curtos segundos e intercalando entre ele e o portal. Era difícil não temer tendo duas coisas com aparência duvidosa e adjetivos não tão promissores para sua saúde.

Mas, o olhar daquele deus, mesmo que agora fossem duas orbes de puro breu, mesmo assim lhe faziam sentir uma certa e longínqua boa energia de confiança.

E, no seu mais íntimo ser, achava aquele que breu misterioso tinha uma certa beleza que lhe fazia ter pequenos e tímidos pulinhos em seu peito.

E junto a isso, lembrou que sua mãe não a entregaria a alguém que ela achasse que pudesse prejudicá-la, então, seguiu essa linha de raciocínio e sentimentos.

Já do outro lado do portal, James, Kýrios e Panoptes estavam em posição defensiva, o gigante com seus dois punhais, enquanto que o rapaz apontava a ponta afiada de sua lança, mas não sabendo em qual alvo se fixar.

Quando Tânatos entrou pelo portal com a moça, que caiu de joelhos por conta da densidade do lugar, o deus franziu o cenho, e seu disfarce humano se desfez, voltando à sua normalidade sombria, até a aranha que estava dentro de seu capuz atrás saiu dali e se colocou em seu ombro, com patinhas agitadas e tilintando como se tivesse se colocado para lutar também.

A frente de todos eles, um exército de almas e outros monstros do submundo, cercando o grupo, emitindo uma clara mensagem de ameaça.

— A deusa sabichona sabia que uma hora ele iria falhar. Estava claro no desespero daquele resto de filho abortado. — disse uma mulher, ou melhor, uma erínia.

— Megera. Porquê? — perguntou Tânatos, ficando à frente do grupo. A foice apareceu em sua mão e todos as almas e monstros recuaram.

— Eu é quem lhe pergunto, Tânatos. Porquê? Porquê está lado desses traidores do Olimpo? Nosso rei e nossa rainha valem o sacrifício por isso tudo?

Tânatos logo entendeu o que estava acontecendo.

— Você os entregou?

— Eles iriam causar a ruína deste lugar. Lorde Hades está mole demais. E Lady Perséfone… Se deixou cegar pela amizade que tinha com aquela esposa daquele deus do amor, o traidor do Olimpo. Não vê que Zeus está tentando manter a ordem? Não vê que são eles quem estão errados? Tânatos, pense. — disse Megera, apontando sua afiada unha para o rapaz.

— Como você tem tanta certeza de que eles são culpados? Há provas disso? — questionou Tânatos.

— Ah, eu tenho. Zeus sabia que iriam perguntar. — disse a erínia com um sorriso maquiavélico no rosto, seus também dentes afiados e olhos vermelhos deixando tudo mais aterrorizante do que já era.

Em um estalar de dedos, um monstro rastejante trouxe uma espécie de pote, e dentro dele estava algo flutuando naquele líquido cinzento.

James e Kýrios sentiram ao mesmo tempo um arrepio muito ruim passar sua espinha, e não era só porquê estavam num mesmo corpo.

— James? Kýrios! — lhe chamou Panoptes, tentando impedi-los de ir para frente, mas os mesmos lhe miraram em um pedido que chegava a ser quase um implorar, e o gigante, assentiu e libertou o braço esquerdo.

A erínia entendeu o movimento do rapaz, e deu sinal para o monstro rastejante deixar o pote bem diante de seus pés.

— Em pensar que se juntariam a eles dessa forma… Eu até entenderia se Lorde Hades e Lady Perséfone quisessem isso contra Zeus, mas também querer isso contra minhas irmãs e todos seus súditos? Eles vão ter o que merecem! — rosnou a erínia, e todos os monstros sibilaram, rosnaram, rugiram e fizeram outros sons mais de sua natureza.

Uma energia muito ruim vinha daquele pote, e James sentia claramente isso.

— Kýrios, James. Não se aproximem. — disse Tânatos, seu tom era sério, mais do que o costume, temendo por algo.

— Está tudo bem, Tân, sinto que é algo que não vai ameaçar nossa vida. — disse Kýrios, com olhos fixos no pote.

— Eu sinto algo muito ruim, Kýrios, talvez devêssemos escutar Tânatos… — advertiu James, pondo uma mão no peito, sentindo-o ficar cada vez mais apertado.

— Não, eu quero ver que prova é essa pelo o que estão me acusando e causando tudo isso. Uma delas, creio eu. Se é que já não inventaram mais calunias.

— Kýrios, escute James, o que está no pote não é algo bom. — Insistiu Tânatos, que tentou alcançar Kýrios se transportando em uma fumaça negra, mas foi tarde demais, pois o deus do amor já tinha pego o pote em sua mão com a ajuda de James, que o seguiu obrigado para não deixar aquele vidro se quebrar.

O conteúdo e o líquido balançaram um pouco, e mesmo assim ainda não deu para ver o que havia dentro.

— Tân, por favor, pode limpar esse líquido? Essa água parece ser a mesma das termas. Deixe-a como a água dos mortais. — pediu.

— Kýrios, peço pela última vez, que deixe esse pote no chão. O que tem aí dentro só o fará se desfocar da missão. — aconselhou Tânatos.

— Isso significa que você sabe o que tem aqui dentro. Sentiu o que há. — Não foi uma pergunta, fez uma constatação, e como resposta, o pálido deus fez um sutil assentir — Seja o que for, temos que ver, acho que… Mesmo que doa, temos que saber da verdade. — disse James, mudando de ideia de estar contra a ver aquilo quando sentiu o peso do pote em suas mãos.

Em uma tristonha confirmação, Tânatos assentiu ao pedido de James e Kýrios, e tocou a ponta do cabo de sua foice no vidro, e logo a água do submundo ficou incolor como as águas puras e frescas de uma nascente.

E o que o rapaz e o deus viram, lhe deixaram completamente atordoados.

Comentários no capítulo "Capítulo 26"

COMENTÁRIOS

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*

*

Capítulo 26
Fonts
Text size
AA
Background

Missão Ágape

3.7K Views 5 Subscribers

O Olimpo está em crise, e tudo porque de repente uma profecia disse que um deus iria dizimar o seu sistema e tudo que eles lutaram para conquistar e poderem estar no poder até hoje.

E é...

Chapters

  • Capítulo 47 Proemial
  • Capítulo 46 Alto Mar
  • Capítulo 45 Anelos
  • Capítulo 44 Verdades da Alma
  • Capítulo 43 Premências Difíceis
  • Capítulo 42 Enraizados
  • Capítulo 41 Chaves Sinceras
  • Capítulo 40 Presença
  • Capítulo 39 Luz Misteriosa
  • Capítulo 38 Possibilidades
  • Capítulo 37 Espólios
  • Capítulo 36 Fogo
  • Capítulo 35 Visitas Indesejadas
  • Capítulo 34 Penalidades
  • Capítulo 33 Mais, ou Menos
  • Capítulo 32 Temerário
  • Capítulo 31 Serviços Extras
  • Capítulo 30 Zelus
  • Capítulo 29 Magnetismo
  • Capítulo 28 Despertando
  • Capítulo 27 Sem Céu para Inocentes
  • Capítulo 26 Entre Mortais
  • Capítulo 25 Nuances
  • Capítulo 24 Céu de Luzes
  • Capítulo 23 Sobreposição (parte 2)
  • Capítulo 22 Sobreposição (parte 1)
  • Capítulo 21 Café Quente
  • Capítulo 20 Conselhos
  • Capítulo 19 Muros em Chamas (parte 3)
  • Capítulo 18 Muros em Chamas (parte 2)
  • Capítulo 17 Muros em Chamas (parte 1)
  • Capítulo 16 Cem Olhos
  • Capítulo 15 Nobre Amizade
  • Capítulo 14 Impulsos
  • Capítulo 13 Abaixo da Superfície
  • Capítulo 12 Fim de Festa
  • Capítulo 11 Fagulhas
  • Capítulo 10 Noite de Cores
  • Capítulo 9 Sopa de Ossos
  • Capítulo 8 Saindo do Ninho
  • Capítulo 7 Dádivas
  • Capítulo 6 Reunião Cancelada
  • Capítulo 5 Sonhos?
  • Capítulo 4 Empecilhos
  • Capítulo 3 Efúgio
  • Capítulo 2 Bençãos á Vista
  • Capítulo 1 Sem Opção
  • Capítulo 0 Prólogo dos Contratempos do Amor

Login

Perdeu sua senha?

← Voltar BL Novels

Assinar

Registre-Se Para Este Site.

De registo em | Perdeu sua senha?

← Voltar BL Novels

Perdeu sua senha?

Por favor, digite seu nome de usuário ou endereço de e-mail. Você receberá um link para criar uma nova senha via e-mail.

← VoltarBL Novels

Atenção! Indicado para Maiores

Missão Ágape

contém temas ou cenas que podem não ser adequadas para muito jovens leitores, portanto, é bloqueado para a sua protecção.

Você é maior de 18?