Capítulo 32
De modo que não incomodasse as outras cabines, James, juntamente de Tânatos e Panoptes, faziam suas buscas pelo estabelecimento de vários cômodos de dona Nozomi, que àquela hora estava tentando dançar com o deus do amor, que lhe matinha ocupada tentando fazê-la ficar parada no lugar ou tentando conversa com a mesma, que hora ou outra choramingava sobre seus maus momentos da vida, tudo por conta do chá alucinógeno que Li-Hua lhe servia para que a mesma não voltasse logo à sobriedade tão cedo.
— Droga! Tem que estar por aqui em algum lugar! — resmungou James, terminando de ver todas as gavetas do quarto de dona Nozomi — Tânatos, você não sente nada? Nenhuma energia oculta ou que pareça ser algo sobrenatural?
— Nenhuma. O que é estranho. Seja o que for, essa bruxa tem bastante experiência. E faz um bom uso da magia ao seu favor. — respondeu.
— E você Panoptes, algo que tenha chamado atenção aos olhos?
— Nada. Só quinquilharias de enfeite, perfumes, quimonos, pó de rosto, rouge, coisas eróticas como esses falos de madeira… nada de especial. — disse, balançando no ar o tal “objeto amadeirado”, e depois pondo no exato lugar as coisas reviradas, uma orientação de James, que lhes disse para não deixar tudo bagunçado, pois quando fossem embora dali, não fariam alarde e nem chamaria atenção para eles.
James arqueou uma sobrancelha, intrigado e curioso ao item de falo de madeira… Já tinha ouvido falar nos bordeis de Londres, mas nunca viu alguma daquelas damas usar ou ter aquilo.
— Hm… Certo… — olhou ao redor. Sua cabeça trabalhando a mil.
— Se compartilhasse conosco o que deseja fazer, talvez seria mais fácil de lhe ajudar. — disse Tânatos.
— Não. Todos irão saber na hora certa. Eu garanto que será muito bom para todos vocês. — disse James, e o deus ficou mirando-o desconfiado, mas James se virou para continuar buscando, disfarçando seu estado também de desconfiança sobre aquele deus.
— Assim espero. — Continuou Panoptes — Porque uma coisa que não aguento é alguém me mandando fazer algo sem contar pra quê realmente é. Isso não me traz muitas boas lembranças, se é que me entende.
James entendia, mas tinha que guardar segredo enquanto não tivesse o que queria e logo confirmasse suas suspeitas sobre a lança. Era provável que fosse somente uma coisa de sua cabeça, mas também podia ser que não. Em todo caso, ele tinha que seguir aquele plano e ver qual seria o resultado.
— Merda!! — xingou o gigante, quando foi chutar uma almofada, mas que na verdade se mostrou ser uma haste de ferro, machucando seu pé, mas não a ponto de torcê-lo ou quebrá-lo — Hm? James, olha isso! — lhe chamou ao tirar a almofada disfarce e encontrar uma portinhola debaixo do pequeno tapete que estava grudado com a almofada e a haste de ferro.
O rapaz correu até o gigante, e seus olhos ficaram brilhantes ao ver que havia um símbolo, um pentagrama desenhado num tom de vermelho que parecia ser muito a sangue seco.
— Bruxaria. Certeza. — disse James, se abaixado para tentar abrir, mas nenhuma força que fez deu resultado, nem o chute e um pisar forte para tentar arrombar.
— Está selado com feitiço. — disse Tânatos, se abaixando e tocando nos desenhos, que repeliram sua mão com pequenos choques — É forte, tão forte que estava imperceptível para nós todos.
— Pelo menos sabemos que é aqui que está a direção da tal bruxa de verdade, finalmente… Será que existe algum soro da verdade ou algo assim para podermos tirar a verdade desta mulher? — perguntou James se referindo a dona Nozomi.
— Como eu disse, James, esse encanto não está em minhas habilidades. Não consigo quebrar. E mesmo se eu tentasse…
— Sim, sim. Certo… — bufou em cansaço — Às vezes penso o quão idiota é essa restrição de “domínios”. — Reclamou massageado as têmporas.
— Tenho uma sugestão. Mas pode levar um pouco mais de tempo. E pode deixar as coisas mais perigosas para nós. — disse Tânatos.
— Diga! Qualquer coisa com certeza vai nos ajudar. E Panoptes, procure por favor por algo que dê para copiar esses símbolos. — pediu James, ainda ali abaixado analisando aqueles símbolos no pentagrama.
Tânatos olhou para os lados e deus dois passos a frente de forma melancólica.
— James Payne, se me permite um conselho, em todos domínios há o bem e o mal. E sei que humanos, quando não conseguem as bênçãos dos seus céus, partem para as sombras, trocando tudo que tem para conseguirem o que quer… O que é um caminho as vezes sem volta…
— Está… me sugerindo para vender minha alma à algum demônio?
— Quase isso. Talvez um acordo. Uma troca de favores. Eles sabem o endereço de qualquer ser que usa magia desse tipo em seus territórios. Mas como eu falei, sempre há um preço, as vezes caro demais.
James ficou pensativo, a última coisa que queria era algo “caro demais”.
— Eu faço então. — disse, por fim.
— Vai dar o que em troca? Sua bunda? — questionou Panoptes se aproximando, olhando-o da cabeça aos pés — Você está um bagaço de romã mastigado por um centauro. E dinheiro não será algo com que poderá contar para fazer esse tipo de coisa.
— Não estou tão mal assim. Vou saber me virar.
— Ah não? Aguenta um soco meu então?
— Se esqueceu que sou um “quase-semideus” agora? — disse, erguendo a lança em suas costas — Quer testar? — disse James, se posicionando numa postura confiante mesmo que suas costas doessem ainda daquela cauterização.
O rapaz e o gigante já iam entrar em um embate, James se sentindo desafiado e querendo mostrar que estava apto e Panoptes querendo mostrar o contrário do que o jovem tentava transparecer.
— Isso será perda de tempo e energia. Poupem-se. — Interveio Tânatos, colocando entre eles sua foice.
— Acho melhor então arranjarmos outra forma. Porque vender sua alma a um demônio é o mesmo que trazer mais problemas para nós. — Opinou o gigante, lhe dando um potinho de rouge mais líquido e um pedaço de papel cartão que havia em uma gaveta da cômoda. O James se rendeu, e logo se pôs a copiar atento em cada símbolo, que parecia ser de caráteres locais, misturados a símbolos universais da bruxaria, assim como uma vez viu em uma obra que seu pai tinha restaurado. Era um quadro, feito por uma das bruxas de Salém.
— Eu seguirei a sugestão de Tânatos. Não temos tanto tempo para outras soluções. — disse James, decidido, terminando de copiar, dobrando o papel e guardando no bolso de sua calça, única peça que vestia, já que havia tirado o quimono e a peruca. Quanto a maquiagem tinha alguns resquícios, estava tudo borrado, mas isso não lhe importava naquele momento. — E eu confio em vocês, sei que não me deixarão na mão. Sendo assim, podemos ir agora?
Os outros dois assentiram, e saindo do quarto, foram em direção cômodo vizinho separado somente por uma porta, onde estavam Kýrios, Li-Hua e a dona do local.
•
Seus olhos apresentavam uma camada marejada e um pouco rosada, parecia que havia chorado enquanto não estavam ali, e mesmo assim, mesmo quando James lhes contou sobre a decisão de fazer um pacto com um demônio para conseguir o endereço da bruxa, Kýrios se manteve num canto, olhando para fora lá na paisagem, com um ar de uma esforçada indiferença.
— Eu vou com você. — Declarou o deus.
— Você não está bem. — Rebateu James.
— E você também não. Não posso deixar meu bilhete de sorte se desmoronar assim.
James soltou um suspiro cansado, e levemente entristecido.
— Sim, não posso morrer, sou muito bem consciente disso, Kýrios. Não se preocupe com isso. Acho que já deve ter visto que passei por coisa pior.
— Você não vai. E ponto.
— Não é você quem decide isso!
— Decido sim! Isso é perigoso demais! Você não vai e ponto final!
— Por que está agindo assim? Estamos ligados com aquela sua vitalidade, não lembra? Posso estar todo moído, mas ainda assim, não morrerei fácil! Você mesmo disse isso! Ou será que era só um blefe para não me assustar?
Os dois discutiam na frente do grupo, que lhes mirava, somente assistindo a confusão que logo viraria algo mais sério se não intervissem.
— Eu vou com ele, Kýrios. — Interrompeu Tânatos — Você não está apto para ajudá-lo agora. Recupere-se. E… — Desviou o olhar, parecendo constrangido com algo — Tome um banho. O mais frio que puder.
— O que está insinuando? — perguntou com um ar bélico.
— Ele não está insinuando merda nenhuma! — se intrometeu Panoptes — Deixa eu logo te arrastar daqui. — disse, já puxando o deus do amor para fora daquele cômodo, mesmo que a muito debate do mesmo.
Li-Hua observava tudo enquanto sentada ao lado da dona Nozomi, e muitas coisas se passavam pela sua cabeça… Principalmente sobre aquele deus do amor: O homem de cabelos dourados estava sentindo algo pelo seu shifu, e isso lhe fazia te um sentimento divertido. Li-Hua sempre lia escondido romances, sejam quais forem, e o que estava a ver em sua frente se encaixava perfeitamente em um deles. Em um dos que eram proibidos de ler por serem fora até dos padrões do que era comercializado pelo mundo.
E tinha o fato de que, não gostava de ver seu mestre daquele jeito. Então tinha que fazer algo.
— Senhor Kýrios. — Chamou antes que o deus e o gigante saíssem, e todos olharam em sua direção — Shifu ter que ir só, entende? Batalha dele. Honra. Impedir é desonra. Machucar muito mais assim. Poder ser pior para ele, e você. Então… você e shifu conversar depois. Depois de tudo. E assim ficar tudo bem. — disse, olhando para o deus, torcendo para que ele entendesse o que ela queria dizer realmente naquelas nuances de suas palavras.
Kýrios franziu o cenho, respirou fundo olhando para o gigante lhe soltar, tendo logo seu pedido aceito quando o outro percebeu que ele estava mais calmo, e com isso se aproximou da garota, se sentando ao seu lado de braços cruzados em um entendimento silencioso.
— Ok. — E olhou para James — Vá. Faça o que você quiser.
James lhe mirou desconfiado. Olhou também para Li-Hua, que exibia um ar inocente… Suspeitosamente inocente.
— Que bom que alguém de nós conseguiu colocar um JUÍZO, na cabeça desse… desmiolado alado. Obrigado, Li-Hua. — disse James, ajeitando a lança em suas costas — Vou indo. Espero que estejam inteiros quando eu voltar.
O deus virou o rosto meio sem jeito. Li-Hua deu um aceno de cabeça e deu de ombros. E Panoptes, foi arrastar agora dona do prostíbulo para deitá-la em um futon no canto do cômodo, havia adormecido de vez.
•
Era perto do anoitecer, escolheram um local abandonado, as ruas ali eram desertas, não havia casas, somente galpões de coisas como tecidos e outros materiais de construção.
— Acho que aqui é um bom lugar. Ou acha que temos que escolher um mais tenebroso? Creio que demônios tenham essa preferência, quero dar uma boa impressão, quem sabe pode ajudar no acordo. — perguntou James ao deus da morte que estava ao seu lado observando os arredores, seu cenho estava franzido demostrava certo incômodo como algo — Tânatos?
— Não se preocupe. Creio que… Não é nada. Talvez eu esteja sentindo somente alguma morte eminente.
— Morte eminente?
— Sim, alguém está prestes a morrer. Talvez alguma criança, ou um senhor de idade avançada. Coisas naturais. Coisas de minha natureza.
— Ah, sim, entendi. — James respirou fundo, olhando para todos os lados.
— James, saiba que sua vitalidade não está tão estável. — Avisou, sem enrolações.
— Mas estou ligado à Kyrios.
— Que também não está estável. Lembre-se, somos deuses, mas também podemos morrer pelo descumprimento ou a falta do que nós somos.
— E o que posso fazer para ajudá-lo? — perguntou, e o deus lhe encarou e arqueou uma sobrancelha em resposta — Ah, entendi. E… bem… Que pena que não posso ajudá-lo.
— James, ele é meu amigo. E apesar de não parecer, ele é éons mais velho que eu. Mas em se tratando de maturidade… É comparável ao seu.
— Está me chamando de imaturo?
— Só estou dizendo que há coisas que devem acontecer. Para um bem maior.
— Sempre há um jeito. E outra, eu não sou o único.
— Vou contar-lhe um segredo, James Payne. — disse, indicando para caminharem mais a frente, e assim que atravessaram uma rua e embaixo de árvore de cerejeira, pararam — Kýrios, nesses mais de cem anos tentando achar essas provas e perdendo os Pistas de Parca, essa é a primeira vez que o vejo tão determinado. E mais que isso, é a primeira vez desde Psiquê e… É a primeira vez em tanto tempo que não o vejo tão… sensível. Isso não lhe diz nada?
— Sim, me diz. Me diz que eu tenho que tomar cuidado. Que essa situação ao qual parece, é que o mundo todo e ela está conspirando para isso acontecer… Eu realmente não consigo entender esse sistema de vocês. Bom, não vou julgar, deuses são estranhos e…
— Ela? — perguntou Tânatos, lhe interrompendo intrigado.
— E-ela, a vida! Isso que estou querendo dizer.
— James.
— Podemos continuar?
— James Payne. — Lhe chamou, ainda mais sério.
James sentiu um frio na espinha lhe abater, como se fosse um aviso ameaçador.
Era certo agora que por mais que estivesse mais sociável com o próprio ceifador em pessoa, James ainda sentia calafrios quando estava ao seu lado. Era assustador de sentir, parecia que o tempo todo estava à beira da… morte.
— Ok! Eu… também tenho um segredo…, mas por favor, não conte à Kýrios. Não que eu tenha uma ordem para esconder, é só que… eu sinto que ele não pode saber sobre isso.
— Diga. — Tânatos lhe mirou ainda mais intrigado, mas também havia uma nuance esperançosa em seu semblante — James, você tem se lembrado de algo…? É sobre isso?
— Não! Quer dizer… Olha, ok, vou falar… — engolindo em seco, respirou fundo antes de continuar — Eu ando falando com Psiquê! Ela é uma maluca! Ela vive aqui — apontou para sua cabeça —, me azucrinando, falando coisas e sumindo quando mais preciso! Mas não é todo o tempo… Ela disse que só aparece quando me vê instável emocionalmente.
Tânatos ficou lhe mirando fixo, estava chocado, claro, mesmo que seu semblante não tenha mudado tanta coisa.
Respirou fundo, fechou os olhos, apertou a mão em volta do cabo de sua foice, e depois retornou a olhar para o rapaz. Sua expressão serena era totalmente diferente do que James esperava.
E sem que ele esperasse, o deus pôs uma mão em seu ombro, lhe mirando fixamente com certo pesar no olhar, até que de repente, abraçou-o.
— T-Tânatos…?!
— Obrigado por me contar isso. Fico mais tranquilo por Kýrios agora. — disse, se afastando em seguida.
— C-como assim? Tânatos, pode me explicar o que está havendo? Eu esperava que ficasse chateado ou algo do tipo! Mas vejo que…
— Seja o que Psiquê estiver lhe aconselhando a fazer, faça.
— Não. Não posso fazer “tudo” o que ela aconselha!
— E por que não?
— Oras! Pelo óbvio! — James apontou para si mesmo — Me desculpe se eu tenho certos princípios a zelar, mas eu sou um homem bem resolvido com o que gosto e o que não gosto.
Tânatos fungou entediado e arqueou uma sobrancelha, uma clara evidencia de que não ia e nem queria discutir sobre isso, já que tinha e sabia a resposta sobre aquilo.
— Seja como for, siga seu coração, e não magoe meu amigo.
— Sim, e é o que estou tentando fazer por todos nós. — disse, se virando para olhar ao redor, e fazendo disso um sinal para trocar de assunto — Hm, aquela esquina é boa suficiente para fazer invocações de demônios?
Tânatos crispou um canto da boca, e fungou brevemente.
— Sim, é boa.
E assim caminharam por mais uma quadra, e quando pararam, James logo se abaixou para pegar o papel para deixar preparado em suas mãos enquanto o deus desenhava algo no chão.
— É um encantamento em grego?
— É uma invocação sem domínio. Usado para chamar qualquer demônio que esteja por perto.
— Qualquer um? Digo, pode ser um que não seja sociável… Será que não dá pra chamar um em específico que seja mais… bonzinho?
— Nenhum é sociável, James. A não ser que tenha algo do que interessou a eles. Por falar nisso, ainda não disse o que vai dar em troca.
— Eu… vou falar na hora.
— James Payne.
— Não será algo letal, isso eu prometo.
O deus balançou a cabeça em negativa, e continuou a desenhar o encantamento de invocação.
James achava curioso como ele poderia saber de uma coisa dessas sendo que seu trabalho era somente capturar as almas a beira de morrer e que já estavam destinadas a isso, e não invocar de volta a superfície algo que já foi uma alma um dia, era como fazer o contrário de seu ofício. Mas de toda forma, iria confiar na experiência do deus.
— Sua mão. — pediu Tânatos.
— Oh, sim. — Assim que ergueu sua mão, o deu puxou seu braço e o colocou em cima do círculo de símbolos, e com a própria unha obsidiana, cortou o pulso do rapaz, fazendo-o sangrar. James puxou de volta, e encolheu para seu peito, tentando fechar a ferida com o tecido — Poderia ter me avisado! — reclamou, pois não espera que fosse tanto sangue e um corte profundo como aquele.
— Não temos tempo. — Foi o que disse.
O que soou um tanto sem sentido para James, já que demorou um tempo.
Olhou pros lados, procurando por resultados. E nada acontecia.
— Tem certeza de que fez certo este ritual? — perguntou.
— Fiz.
— Dá uma revisada aí no desenho.
— Está certo.
— Como pode saber?
— Fiz tudo certo. — respondeu, conciso, sempre paciente, esperando tranquilamente ali em pé ao lado do rapaz.
James estava inquieto, esperando alguma coisa de especial acontecer. Passou mais cinco minutos… e nada.
Mas só foi dar um passo à frente que alguém apareceu do nada diante dos seus olhos.
E aferida em seu pulso logo se fechou.
James sentiu a ponta de seus dedos congelarem, e no susto, deu um passo para trás, quase se escondendo atrás do deus.
— Quem são vocês? — perguntou o homem, seu olhar estava confuso, e quando olhou para sua mão, sorriu. Era uma garrafa de vinho, ao qual levou a boca, mas nenhuma gota saiu dela.
— Espera, ele não é japonês? — perguntou James, vendo que o homem, que aparentava ter uns vinte e cinco anos, mal cuidado com sua aparência, falava a sua língua.
— É claro que sou japonês! Mas… A vida me foi cruel… Fui demitido hoje…, mas aqueles idiotas me pagam! Eles vão ver do que sou capaz! Mas… Só depois de eu beber só mais um pouquinho. — disse, erguendo sua garrafa e novamente levando a sua boca. E novamente ficando chateado por estar vazia.
James olhou para o deus, e mesmo sem dizer uma palavra, o outro respondeu a sua indagação ocular.
— É somente uma alma. Uma alma pretendente a ser um demônio. Então foi você que deixou este mundo a meia hora atrás. — disse Tânatos, fazendo um cumprimento respeitoso de pêsames ao homem a frente, que franziu o cenho confuso.
— Então… O que está na minha frente é um… fantasma! — exclamou James, ficando ainda mais temeroso.
— Eu um fantasma? Do que estão falando?
James e Tânatos se entreolharam.
— Vamos dizer que… Sabe as estrelinhas que existem lá no céu? Então, agora você é uma. Ou mais ou menos isso. Se é que tem algum céu para o lugar onde você foi… — disse James, mas o homem ficou ainda mais confuso.
— Você morreu. E foi uma morte brutal. — disse Tânatos, sem mais, nem menos.
O homem arregalou os olhos, e deixou cair a garrafa no chão, que se estilhaçou toda, mas estranhamente os cacos se juntaram, e voltaram a ser uma garrafa em sua mão, mas ainda assim vazia.
— Eu… morri?!!
— Sim. Você… foi dessa pra melhor… ou não. — disse James, ficando mais relaxado ao ver que o fantasma do homem não era hostil, mas também não iria baixar a guarda — Bem, vou ser direto. O círculo onde você está é para invocar demônios, mas você só é uma alma, que parece estar prestes a ganhar uma promoção para esta “patente”, creio que seja assim… Mas isso não é relevante, o que quero dizer é que você foi invocado para me ajudar. Preciso de algo. E claro, terá sua recompensa.
O homem piscou algumas vezes processando tudo o que acabava de escutar.
— Eu quero voltar a vida. — Decretou o homem.
— Creio que isso seja impossível, não é? — perguntou James se virando para Tânatos, que lhe encarou, parecendo estar querendo falar algo importante, mas se conteve.
— Sim, é possível. Mas isso não está sob meu domínio. Você precisa de alguém muito poderoso daqui do seu.
O homem arregalou os olhos em alegria.
— Sim! É claro que conheço alguém muito poderoso! Acho que ele pode me ajudar! Eu só… — o homem franziu o cenho, seu olhar perdido tentando se lembrar de algo — Não consigo lembrar o nome dele.
James fechou os olhos, sentindo uma frustração grande, mas passou uma mão em seu rosto para espantar algum estresse.
— Certo, tudo bem, talvez isso aqui ajude. — disse, desdobrando o papel que tinha o pentagrama junto dos símbolos estranhos.
O homem se aproximou, colocou seus olhos bem perto do papel, e seu semblante ficou radiante.
— Sim! Eu me lembro desse negócio! Meu irmão faz essas coisas! Ele uma vez fez o amuleto pra mim quando fui pra guerra. Nenhuma espada ou flecha me atingia! Eu era o melhor espadachim que já se viu por todo esse país!
— Então sabe onde esse seu irmão mora? — perguntou James, ansioso.
— Sim! É claro que sim! Por Izanami e Izanagi-sama! Ele vai me ajudar a voltar a vida! E vai derramar sua ira junto a mim quando nos vingarmos de quem me tirou a vida! Me sigam!
James ficou receoso, mas também animado. Mas seja qual for o caso estava confiando sua segurança no deus ao seu lado.
Torcia muito para isso.
•
O homem andava mancado, e sempre com a mão esquerda no bolso, o que era estranho. Mas James resolveu não se ater a isso, estava focado demais em achar logo esse bendito bruxo que ia solucionar seu problema e o problema de seus companheiros de viagem.
— É aqui! É aqui a casa de meu irmão! — o homem saiu correndo em direção a porta, mas foi jogado pra longe por uma barreira invisível que ressoou uma frequência muito aguda — O que… O que houve com minha casa?
— Você é um fantasma. Seu irmão deve ter feito para afastar espíritos dos mortos — respondeu o deus, que franziu o cenho, e fez um movimento olhando ao redor por perceber algo.
— Tânatos? — lhe chamou James.
— Acho que… Não foi nada. Sigamos. — disse, caminhando até a porta da casa onde o fantasma iria entrar. James o seguiu, determinado.
O deus abriu a porta, e adentrou sem medo.
— Argh… Acho que algum rato morreu aí dentro… — James tampou o nariz e a boca com a camisa, quase vomitando por causa do cheiro terrível.
O cômodo era pequeno, e cheio de coisas e ervas penduradas no teto e nas pilastras de algumas paredes. A estrutura e decoração era tipicamente local, com a diferença de que estava tudo escuro, e o forte cheiro pútrido pairava no ar.
Dando passos calculados, ambos foram adentrando outros cômodos, até abrirem um e surpreenderem com o que havia ali dentro.
— M-meu Deus!!
James arregalou os olhos, fechando-os em seguida para não vomitar de vez com a “paisagem” do cômodo, quase desmaiou por ver aquilo tudo, mas para sua sorte, havia um deus ao seu lado que lhe sustentou para que não caísse, e o mesmo olhava com um semblante indiferente para tudo ali.
— Tânatos… Eu quero ir embora daqui, por favor, eu não consigo suportar isso. Eu sei que estou pedindo muito, mas pode fazer o contato com esse bruxo por mim?
— James, você tem que cumprir o pacto que fez a aquela alma. Você tem que fazer isso, ou então terão consequências ruins para sua.
— As consequências ruins já estão vindo até mim! Eu não vou conseguir dormir por dias com essas coisas que vi agora! — disse, ainda de olhos fechados.
— Seja forte. Numa guerra, isso é pior. Pois você vê quem lhe é importante virar meros pedaços de uma carne que um dia lhe abraçou, lhe ajudou, lhe sorria, ou chorou por você. É somente uma casca, uma matéria complexa. Nada mais.
James sentiu uma grande experiência naquelas palavras, até de uma experiencia própria, e sentiu seu peito apertar por imaginar que até ele, um deus que ceifava vidas, até mesmo ele poderia sofrer com essas coisas mundanas de dor de perda.
— Se eu vomitar ou ficar mais traumatizado, é sua culpa.
O deus fechou os olhos por longos segundos e respirou fundo.
— Abras os olhos. E pense: só são corpos. Não há nada mais neles. E por isso devemos olhar como meros objetos, pois suas almas já podem estar em outra dimensão, ou outros domínios, começando suas novas vidas. E esse cheiro pútrido nada mais é do que uma composição química. Enxofre, e dentre outras coisas, é tudo somente matéria orgânica voltando a suas origens de elementos.
James começou a mentalizar tudo aquilo que o deus disse, e ainda cobrindo seu nariz e boca com a manga de sua camisa, respirou fundo, se acostumando com o cheiro e o ambiente, mesmo que isso ardesse em suas narinas e chocasse ainda sua mente.
Havia vários corpos pendurados ali em ganchos, tanto de homens quanto de mulheres. Suas barrigas estavam abertas, e o conteúdo de seus corpos foram reunidos tudo em cima de uma mesa central comprida. E na beira dela, uma faca, parecia recente o sangue escorrendo pela lâmina.
Abrindo os olhos, o choque o foi o mesmo, mas pelo menos sua visão daquilo estava um por cento menos bizarro.
— O irmão daquele homem gosta de consumir humanos. — disse o deus, erguendo com uma de suas mãos um coração, que estava todo mordido, faltando muitos pedaços.
— Ah não me diga! Tânatos, melhor sairmos daqui… Melhor procurarmos por outro bruxo ou bruxa… Oh meu Deus… — interrompeu-se de falar ao ver algo que fez ainda mais seu estômago revirar.
— O que houve? — perguntou o deus.
— Acho que… encontrei o corpo do nosso amigo… Ou parte dele… — disse James, tentando se manter consciente. Ver aquilo estava sendo pior do que ver aqueles mortos no fundo do rio Ganges quando foi fazer missão em Varanasi.
Ali, aos pedaços, organizado em partes como membros inferiores de um lado e superiores de outro, estava a “matéria” do fantasma que eles haviam invocado. Sua cabeça estava sem os dois olhos, e estava em um local entre aqueles dois grupos de partes.
James havia reconhecido pelo fato de o fantasma ter uma cicatriz que cortava desde sua testa até acima de seus lábios, do lado esquerdo do rosto.
— Agora sabemos o porquê ele está sendo pretendente a se tornar um demônio… Talvez estejam já manipulando-o a se tornar uma alma obsessora para que ele persiga por uma vingança ao seu irmão. — disse o deus.
— Por Deus… Como isso é monstruoso… Eu realmente não aguento ver mais disso… — sua fala foi interrompida quando um som de metal contra metal foi ouvido e visto diante de seus olhos.
James não conseguiu ter reação nenhuma, a não ser ficar congelado no lugar em que estava perto da mesa das vísceras.
— Visitantes. Não gosto de visitantes. A não ser que me paguem por serviços… Ou fiquem para o jantar… — o homem sorriu para James e Tânatos, que estava com sua foice a frente do rapaz, lhe protegendo contra o machado que o homem forçava para acertar James.
— Viemos… atrás de seus serviços. — disse James, engolindo em seco e percebendo que o homem a sua frente falava a sua língua, talvez fosse algum encanto que o mesmo estivesse usando.
— Como me acharam?
— Seu irmão. — respondeu o deus.
O homem deu um passo para trás, olhando para cada um de forma ameaçadora.
— Ele os contratou para se vingar? É isso que são? Youkais? Vejo… sinto duas áureas distintas… — o homem lambeu os lábios — Morte e vida. Ambas especialmente deliciosas… Nunca me alimentei de um ceifeiro…
— Não importamos com o que você faz. Só queremos que nos ajude em algo. — disse Tânatos, ainda protegendo com sua foice na frente do rapaz e ao mesmo apontada para o tal bruxo.
— Sim, é claro. Mas saiba que tem um preço.
— Sim. — Começou James, tentando arranjar saliva para umedecer seus lábios que haviam ressecado pelo momento tenso — Vejo que se alimenta de forma… Exótica.
— Sim. Carne e vitalidade. Se soubessem o quão isso te deixa revigorado… Vida eterna!
— Então é isso que ofereço. Vitalidade.
— James. — Lhe chamou o deus em advertência.
— Confie em mim, Tânatos.
— Hm, interessante. Então é isso? Assim? Fácil?
— Sim. Mas antes, quero faça algo a respeito disso. — James tirou de sua costa a lança, colocando-a nas vistas do bruxo — Quero que me faça amuletos dela, quatro para ser mais específico, mas que ainda sim, continue uma arma para mim.
Tânatos lhe mirou surpreso, seu cenho franzido indicava reprovação quanto aquele plano.
— Isso é muito interessante… Sinto um poder muito grande vindo dela… — o olhar sedento do bruxo pairou sobre a lança, mas James logo a afastou.
— Creio que não se arrependerá de nosso trato. Sabe, a vitalidade que sente em mim na verdade é a de um deus, a roubei. — Mentiu, mas somente para parecer mais “um cara sem princípios” — E é dos melhores… — sorriu, mesmo que ainda estivesse muito nervoso por dentro — Há imortalidade. É de um deus da luxúria. Imagina consumir isso? Quanto prazer irá ter ao degustar… Este é meu pagamento.
As pupilas dos olhos do bruxo se dilataram, ficando mais ambicioso a cada palavra do rapaz.
—Sim… Consigo ver que é verdade a origem que fala dessa áurea de vitalidade e luxúria… Isso seria um sonho realizado… — lambeu os lábios, olhando agora para James como se ele fosse realmente um pedaço de pernil defumado, o que em sua concepção era.
— Que bom que nos entendemos. Podemos começar agora?
O bruxo fez que sim, e ergueu o braço em uma direção contrária do cômodo onde tinha aqueles corpos.
•
O bruxo os levou para um cômodo limpo, o ar era totalmente diferente do que do resto da casa. Até a decoração era mais requintada. Havia uma certa organização ali entre suas coisas de bruxaria.
— Tenho que dizer, isso não vai ser benéfico para sua lança. Vejo tanto poder… Retirar metal dela e dividir em amuletos vai reduzir muito seu poderio.
— Não me importo. Pode ser que as coisas fiquem mais difíceis para mim, mas pelo menos, não vou carregar isso sozinho.
— Já que é assim. Vou querer uma parte dela pra mim. Afinal, vai me custar muito trabalho, muito além de minhas habilidades.
— Feito.
— James? — lhe chamou Tânatos, mas o rapaz balançou a cabeça em negativa para que não o advertisse.
— Como gostaria de mais clientes como você. Mas, acho que uma hora perderia a graça. Coisas fáceis demais enjoam. Caçar com desafio é mais emocionante.
James tentava não deixar seu lado de fazer justiças se sobrepor aos seus objetivos, mas estava sendo difícil ter que fazer vista grossa a um criminoso canibal e que ainda por cima… matou seu irmão.
Estar diante de um criminoso estava lhe fazendo coçar as mãos para enfiar a lança naquele bruxo e fazê-lo pagar pelos seus crimes e dar cabo de sua vida.
Pobre daquele homem… Como pode ter sido assassinado pelo seu próprio irmão dessa forma? Já era muito bizarro e errado o fato daquele bruxo matar inocentes para se alimentar, mas, seu próprio irmão também?
Aquilo não tinha perdão.
— Então, o que meu irmão disse a vocês?
— Ele não se lembra de nada, a não ser do fato de que tinha um irmão que mexia com magia e que era muito orgulhoso dele. E por isso, conseguimos chegar até aqui. — respondeu James.
— Nada mais?
— Não. Nada mais. — disse, e o bruxo lhe mirou desconfiado, e voltou a trabalhar em suas ervas e preparos.
Não demorou muito, suas ações eram rápidas, precisas, como se estivesse sempre com pressa. E assim que trouxe todas suas coisas acima da mesa de centro que separava ele do rapaz e do deus, ergueu as duas mãos num pedido à lança.
— Temos um acordo honesto? Sem truques ou deslealdades? — perguntou James.
— Deslealdade não me alimenta. — disse, e olhou para o deus, lhe encarando com um sorrisinho de canto — E creio que arranjou um bom seguro para não haver falhas.
James sorriu confiante de canto, o que só era um grande fingimento.
Se o bruxo soubesse que Tânatos não poderia usar seus poderes ali pelo fato de estar sob uma restrição de domínio que tinha que respeitar… Com certeza já tinha sido enganado por aquele homem, que parecia igual aos traços do fantasma, e não era só porque eram orientais, pareciam gêmeos mesmo, univitelinos. E isso era um pouco assustador de se ver.
— Um bom acordo deve ter seguros. — disse James.
— Está certo. — disse o bruxo, terminando de arrumar tudo em cima da mesa de centro, acendendo todas as velas ao redor num estalar de dedos — Podemos começar?
James assentiu, e entregou a lança.
O bruxo a pegou, e a colocou diante do nariz, cheirando-a intensamente como se fosse o melhor perfume de todos.
— É uma arma valiosa. Pena que irá diminuir seu poder. — comentou o bruxo, e a colocou no meio do pentagrama desenhado na mesa.
Pegando uma faca, fez a mesma esquentar em brasa magicamente com um encanto sussurrado em sua língua, para em seguida encostar na haste, que resistiu quando a faca começou a tentar tirar raspas de seu metal.
O bruxo então fechou os olhos, se concentrando para usar mais de seu poder.
O local todo começou a tremer, indicando que o encanto não era tão simples quanto parecia que era.
— Preciso… De mais força! — esbravejou o bruxo, puxando de repente o braço do rapaz, e cortando sua veia, para que pudesse deixar o sangue escorrer.
— Tânatos!
O deus olhava a tudo de modo indiferente, sem um pingo de preocupação.
Isso até ver uma áurea esverdeada começar a sair pelo ferimento.
— Pare, agora. — Avisou o deus, em um tom ameaçador.
— Só irei continuar quando receber minha parte! Acha que confio na facilidade desse acordo?
James tentava puxar seu braço, mas a força que o bruxo fazia mantendo-o ali era sobre-humana.
Tânatos franziu o cenho, e então voltou ao seu semblante sereno de antes.
James arregalou os olhos diante daquela atitude tão estranha.
— Tânatos?!
— Você quem quis fazer esse acordo. É a sua vontade sendo feita.
O peito do rapaz se apertou diante daquela fala, o que fez o bruxo sorrir em satisfação.
— Está aí uma lição, rapaz… — e se aproximou de seu rosto — Nunca confie em deuses. — Assim que disse, partiu para abocanhar a ferida do corte.
E foi nesse momento que James não entendeu o que aconteceu…
Ele já estava conformado que o deus ao seu lado não lhe ajudaria, que tanto sua carne quanto sua vitalidade iriam ser consumidas por aquele psicopata canibal, e que seu plano de fazer amuletos da lança iria por água abaixo.
Mas James não contava com um outro deus aparecendo ali de repente e fazendo o bruxo morder seu braço ao invés do dele.
— K-Kýrios?!
— Chegou bem a tempo, meu amigo. — comentou Tânatos, dando um aceno calmo junto de um mínimo esboçar sorridente de canto bem sutil, um raro momento que James não conseguiu deixar de notar mesmo estando muito chocado com o que estava acontecendo ali.
— É, pois é, não gosto de ficar por fora de festas. — disse e virou sua atenção para o bruxo, que lhe mirava com olhos arregalados enquanto tentava se afastar do deus que mantinha sua boca e seus dentes presos a seu braço — Que coisa feia… Humanos, tão previsíveis e as vezes entediantes.
Abrindo suas asas, com uma delas ainda se recuperando das penas, Kýrios começou a emanar uma energia ofuscante que fez o bruxo começar a se debater desesperado. James cobriu os olhos, mas tentava ver o que acontecia ali.
O grito do homem era agoniante, algo estava lhe acontecendo. James tentava raciocinar, tentava procurar uma explicação para o que ocorria. Aquele era mesmo o Kýrios que ele conhecia?
Quando o brilho e os gritos cessaram, James se levantou um pouco atordoado, caindo de bunda para trás.
— Kýrios…??
— Eu te falei, James, que não era para vir só!
— Mas… Tânatos está comigo!
— James, ele seria mais útil do que à mim. Não posso em hipótese alguma usar meus dons, isso seria perigoso até para você. Mas fiz o que pude, me perdoe. — disse Tânatos.
O bruxo havia desmaiado, seus olhos antes que exibiam uma ferocidade agora estavam brancos, sem vida. As vezes se contorcia em espasmos violentos, babava, como se estivesse tendo algum ataque epiléptico.
— Uuh, até que isso foi bom. Me sinto um pouco mais aliviado. — disse Kýrios, limpando seu braço e o seu sangue de icor num pedaço de tecido como se estivesse tirando somente uma sujeira qualquer, jogando o lenço no bruxo, como se ele fosse um montante de lixo — Pode me explicar agora o que está havendo aqui, James?
— O que é que está acontecendo com ele?! — ignorou a pergunta do deus, por estar chocado vendo o bruxo se contorcer de forma bizarra.
— Eu somente despejei nele um pouco de minha tensão de minha abstinência, se é que me entende.
— Está me dizendo que ele está dessa maneira porque… oh.
— Exatamente. — disse o deus, e desviou o olhar.
James olhou para o bruxo, e depois para o deus, e depois para o deus ao seu lado, que deu de ombros. Sentiu suas bochechas queimarem ao mesmo tempo em que estava chocado.
— Você não devia fazer isso! Como esse bruxo vai fazer meus amuletos?!
— Simples, ele não vai!
— Você não pode fazer isso! Tudo o que estou fazendo aqui é para o bem de vocês! Seu idiota!
— Então queria que eu o deixasse te matar e roubar essa lança?
— Eu tinha tudo sob controle!
— Não tinha. — Rebateu Tânatos — E por isso, não agi. Pois logo soube que Kýrios interveria.
— Vocês dois… — James apertou os punhos, e socou a mesa muito irritado — Eu exijo, Kýrios, que tire essa coisa dele imediatamente! Ele tem que terminar o que estava começando!
— Só se me explicar o que é.
— Certo! Já que querem tanto saber eu vou falar então! — James se levantou, caminhou pra e pra cá, até parar no meio do cômodo e se virar para os dois deuses — Essa lança, ela tem o poder de absorver tudo e transformar, a deixando muito poderosa, e vocês, estão muito limitados nessa viagem. Ou seja, eu tenho um poder nas mãos, mas não sei usar direito, e vocês tem todas as habilidades, mas não podem usar. Isso uma hora irá nos matar! Então para deixar tudo mais equilibrado, pensei no seguinte: — voltou a se sentar, entusiasmado demais para tentar explicar tudo.
Kýrios cruzou os braços olhando intrigado para o rapaz.
— Sei que não há nenhum ferreiro mágico que possa derreter a arma e transformá-la no que eu planejei. Na verdade, até tem, mas não está do nosso lado. Então pensei “Já que não temos ninguém para fazer isso, eu encontrarei alguém para tirar algumas partes da lança e moldá-las como amuletos.
— E onde isso iria nos ajudar? — perguntou Kýrios.
— A lança absorve qualquer energia e material. O metal encantado da lança faz isso. Então eu faria um para cada de nosso grupo. Assim, não dependeriam só de mim. Vocês teriam liberdade para usar seus poderes, dons, habilidades, seja qual for o que sabem fazer, em qualquer domínio que estiverem, já que, não estariam usando seus poderes diretamente, e sim, colocando poderes em seus amuletos e assim, usando-os como uma energia bruta e natural do universo, usando os amuletos como “mini-lanças”.
Kýrios arregalou os olhos por um momento, olhando impressionado para o amigo.
— Por que não disse isso antes?
— Porquê… — James respirou fundo — Me desculpe ter que dizer isso, mas por mais que tenha nos ajudado e tudo mais, eu não consegui confiar no seu pai, Kýrios.
O deus arqueou uma sobrancelha.
— Ares, o deus da guerra, um subordinado direto de Zeus, seu braço direito nessa campanha toda para nos caçar, você acha que ele não iria fazer algo? Implantar em nós alguma coisa mágica espiã? Panoptes já foi vítima disso, e teve que tirar todos aqueles olhos dele. Eu não poderia deixar isso acontecer novamente! E farei o que for para essa missão dar certo! Me entende agora?
O deus do amor e o da morte se entreolharam, analisando toda aquela explicação do rapaz.
— Eu não sinto nada de estranho ou invasor e “espionatório” em meu corpo. — disse Kýrios.
— Eu também não. — Concordou Tânatos.
— O que é uma resposta boa. O que também não anula de eu querer continuar com meu plano dos amuletos.
— Ok, ok… Você me convenceu. — disse o loiro, indo até o bruxo e sugando de volta pra si toda aquela tensão de abstinência de desejos carnais divinos.
O deus ficou novamente um pouco emburrado, como se algo estivesse o espetando, pois passava as mãos nas têmporas e suava frio agora.
Já o bruxo parou de convulsionar, e acordou apavorado. Seus olhos assim que pousaram nos do loiro, se arregalaram. E como um demônio que estivesse fugindo da luz, se arrastou para trás, ficando encolhido no canto do cômodo. Ainda tremia, assustado.
— Você, tem um trabalho a fazer ainda. — disse kýrios, dando passos calmos e altivos em sua direção.
— Fique longe de mim! — esbravejou o bruxo.
— Me desculpe pelo ocorrido de antes. Foi… um engano. — Kýrios sorriu de forma galanteadora, fazendo o bruxo franzir o cenho — Prometo não mais lhe assustar. Então, que tal terminar o que estava fazendo? Aquele rapaz ali ainda cumprirá com o quer que seja que ele tenha prometido no acordo entre vocês. Mas, claro, seja bonzinho agora e faça seu trabalho honestamente. Está bem?
O bruxo fez que sim frenético, ainda encolhido no canto.
— Bom menino. — disse o deus, dando um tapinha amistoso em seu ombro — Pronto, James, viu como é fácil resolver as coisas quando tudo fica esclarecido?
— Ah é mesmo? Então isso significa que quer esclarecer o que está…
— Vou esperar lá fora. — disse, interrompendo o moreno, e saindo do cômodo imediatamente.
James quis ir atrás, mas Tânatos elevou uma mão, indicando ao rapaz para deixá-lo sozinho.
— Você está de prova que estou querendo resolver as coisas. — disse James.
— Está? — ponderou o pálido deus.
— Sim. Mas não da maneira que está pensando. — respondeu, fazendo o deus fechar os olhos e balançar a cabeça em negativa.
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Capítulo 32
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Missão Ágape
O Olimpo está em crise, e tudo porque de repente uma profecia disse que um deus iria dizimar o seu sistema e tudo que eles lutaram para conquistar e poderem estar no poder até hoje.
E é...