Arco 1 –  Oriente sem DESTINATÁRIO

Missão Ágape

Capítulo 37

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Organizando as armas por nível de agudo e irritabilidade, todas foram dispostas ao redor do ninho. James achou que assim, estando com todas elas em um circulo, para que pudesse sentir com mais confiança o que teorizou em sua mente quando estava naquele cômodo do arsernal de armas divinas.

— Hm… Isso é interessante. Eu realmente nunca desconfiei que estas armas poderiam ter esse metal nelas. E justamente em meu poder. Será que…

— Tenho quase certeza sobre isso. — disse James, recebendo do deus um franzir de cenho.

Era um pouco difícil olhar para o mesmo e não sentir seu coração palpitar, mas não tinha jeito, a situação lhe obrigava a ter que fingir que não estava se passando uma pequena tempestade sensações em seu peito e sua mente.

— Por deuses… então… Será que toda aquela sala de armas… será que tudo ali tem algo desse tipo?

— Muito provável. Creio que Psiquê tenha se preparado com muita cautela antes de sumir. E receio que toda sua mansão seja um ambiente de soluções. Mas, no momento, está tomado. E por isso, depois do que me aconteceu, teremos que nos virar para arranjar outros métodos e lugares antes de pensar em ir até lá. Talvez… ela tenha feito da mansão um seguro. Uma última alternativa se caso não conseguirmos encontrar os ingredientes para nos defender. E deve ser por isso que Zeus a tomou de nós.

— Isso é… impressionante. E horrível! Aquele maldito… — disse o deus, ficando um pouco entristecido — Fico pensando em como nunca vi nada disso. Como que ela fez todas essas coisas bem debaixo do meu nariz? Vivíamos quase sempre juntos. Tínhamos nossa promessa de nunca escondermos nada um do outro…

— É, parece que alguém não cumpriu sua parte… — comentou James, e ao ver o semblante deus ficar ainda mais cabisbaixo, tratou de se retratar — Digo, ela teve seus motivos. E dos muitos importantes. É bem certo de que o que quer que ela tenha feito, foi sempre para lhe proteger, Kýrios.

— James, admiro sua bondade em defendê-la. Suas palavras aliviam um pouco a dor que sinto toda vez que pensamentos ruins me aparecem sobre ela… mas…

— Então — interrompeu o deus, numa tentativa de cortar aquele inicio de desanimo —, repito o que você disse pra mim: não se abale, não pense. Essa situação toda tem um culpado, Zeus. E também esse alguém que forjou essa profecia para incriminar você e ela. E tenho certeza, nós vamos conseguir encontrar e acabar com ele, seja quem for.

— Que o universo e o destino lhe ouça, James… — de repente, o deus franziu o cenho, e se virou para uma direção dentro do circulo — Está ouvindo isso?

— Isso o quê?

— Parece… um grito.

— Não ouço nada. A não ser esses grilos e sapos.

— Há alguma coisa por perto… — procurando de onde vinha o som, se moveu em busca, tentando aguçar ao máximo sua audição, acabando por levá-lo a lança do moreno — James, algo está acontecendo.

— Hm?

Olhando para a lança, notou que algo se movia bem de leve na superfície da arma. Os círculos tremeluziam, e começavam a mudar de lugar como minúsculas bolhas em água fervente.

Em reação a isso, as armas ao redor também começaram a reagir diante da lança. E um som estranho e muito estridente se fez mais evidente.

— Acho que a lança está tentando absorver o metal dessas armas! — constatou James, ao também sentir a lança tremeluzir em sua mão.

— Temos que sair deste círculo, ou então perderemos nosso ingrediente! — disse o deus, em seguida puxando a mão do rapaz, mas o mesmo continuou no lugar — James?

— Kýrios! Não estou conseguindo me mover!

— Largue a lança!

— Também não consigo!

— Oh deuses…! Calma! Deixa eu pensar em algo… — disse olhando para tudo ao redor.

Enquanto isso, James sentiu a lança aumentar a intensidade em sua tremulação, começando até se mover sozinha, assim como uma bússola faz em um receptáculo.

— Kýrios!

— Estou pensando!

— Pense rápido!

O deus exibia um estado apreensivo, e tudo para onde olhava só via árvores, nada que pudesse ajudá-lo a tirar o rapaz de dentro do círculo.

Até que lhe surgiu uma ideia, mas sem garantias de ter algum resultado.

— Kýrios, seja o que estiver pensando, faça!

Assentindo, o deus fez aparecer em suas costas a sua aljava, esta que estava cheia de flechas, eram tantas que faziam o suporte encourado quase rasgar.

Invocando também o arco, tirou de suas costas uma flecha, e logo atirou dentro do círculo. A lança se direcionou para o objeto. O deus então se encorajou pelo resultado, e começou a atirar mais outras flechas ao redor, fechando um círculo.

O que resultou na lança começar a girar.

— Kýrios!

Botando em prática a segunda ação que lhe veio na mente, se preparou com outras em sua mão e se virar para as árvores, o que fez James logo entender e ficar desassossegado.

— Kýrios, não faça isso!

— Tarde demais.

Assim que disse abriu suas asas, moveu-se alguns passos para trás e, tomou impulso, se jogando contra o rapaz.

James sentiu seu pulso doer ao ter um empurrão lhe obrigando a se separar da lança, ocasionando numa torção, que o fez gritar em dor, mas isso logo foi superado pela preocupação ao ver o deus agora em seu lugar, segurando a lança, parando-a de mover enquanto a mesma sugava para si uma áurea dourada.

James tentou correr para ajudar o deus, mas o mesmo ergueu uma mão em sinal para impedí-lo de ir em frente.

— Você vai se machucar!

— Ossos do ofício… — sorriu de canto, começando a suar frio.

James se pôs a pensar em algo para ajudá-lo, mas seu tempo foi tomado quando as armas ao redor do círculo de repente flutuaram, e assim como a lança se puseram a girar, mas em volta do deus.

E usando isso como base, lhe surgiu algo que poderia funcionar, uma lógica um tanto arriscada.

— Kýrios, consegue sair daí?

— Não dá! A lança está me segurando no lugar!

— Tente fazer o que fez antes!

— Não há como pegar impulso!

— Não isso! Tente atirar mais flechas! Use todas elas!

O deus fez uma cara confusa, mas mesmo assim não questionou. Seguindo a sugestão do rapaz, tirou uma flecha de sua aljava, e se pondo em uma posição completamente sobre-humana em cima da lança por causa de uma mão sua estar presa a ela, se posicionou de maneira que pudesse usar as pernas como braços para poder usar o arco.

James nunca na vida tinha visto algo assim, e não sabia que o deus tinha uma flexibilidade e tamanha habilidade em fazer aquele tipo de coisa, era surreal o quanto o deus conseguia acertar onde queria usando apenas suas pernas, enquanto ficava de cabeça pra baixo, com uma mão posicionada na lança enquanto a outra ficava com a função de ajeitar a flecha no arco e na corda, e tudo isso, girando, acompanhando o mover da haste abaixo.

Quando não havia mais flechas o círculo havia se fechado, e o deus se endireitou, mas agora sentado, e foi nesse momento que sua outra mão foi solta, e usando suas asas pegou impulso em cima da lança, pulando, e conseguindo sair por cima daquele círculo que parecia cada vez mais descontrolado.

— Nós temos que fazer alguma coisa! Ou então perderemos o metal das castanholas! — disse o deus assim que pousou a frente do rapaz.

— Acho que não! Talvez seja melhor assim!

— O que quer dizer?

A pergunta ficou sem resposta, o círculo começou a crescer, e todas as armas assim como as flechas saíram de seus lugares e se desgovernaram, girando em torno da lança que girava agora num sentindo contrário.

Um vento se agitou pelo local, puxando tudo que havia ao redor. Água, raízes, algumas pequenas arvores, rãs, e muita folha e terra, tudo que tinha ao redor, até mesmo o ninho de penas não foi poupado, tudo estava sendo tomado por aquela esfera de coisas que a cada segundo crescia.

—Aaaa! — gritou James, a ter seu corpo puxado.

— James!

Batendo rapidamente suas asas conseguiu pegar a tempo o braço do rapaz, o puxando logo para longe, conseguindo voar com o mesmo para atrás de uma árvore, esta que também se encurvava para cair em direção da esfera.

— Kýrios, temos que ir lá! Acho que a lança precisa de alguém para contê-la!

— Você estava lá, e não conseguia se mover! Não vou deixá-lo se arriscar em uma hipótese!

— Então se tiver alguma ideia, estou aceitand… Isso!

— O que quer que faça? — perguntou já esperando por uma ordem, não ponderando dessa vez.

— Kýrios, ainda tem mais de suas flechas?

— Não. Usei todas.

— Droga…

— Eu posso improvisar! Só me fale o que eu tenho que fazer.

— Certo. Está vendo todas essas arvores ao redor? — o deus fez que sim — Quero que ligue todas elas a uma espécie de para-raios. Finque uma flecha contendo sua divindade em cada uma delas. Mas em sentidos aleatórios!

— Entendido! — disse, se virando de costas — Suba! — pediu, mas o rapaz lhe mirou confuso — Não vou deixá-lo aqui sozinho.

— Eu vou me cuidar! Vá logo!

Olhando para a esfera e depois para o rapaz, o deus franziu o cenho, muito hesitante em acatar a aquela teimosia.

— Se segure em quaquer coisa, se mantenha escondido, por favor James.

— Farei o que for possível. — disse, não convencendo ou deixando o loiro tranquilo, mas como não tinha escolha e nem tempo, respirou fundo e saltou, voando acima das acima das árvores.

Enquanto isso, James voltou sua atenção para a esfera, observando sua desenvoltura, achando estranho a familiaridade que aquilo se desenvolvia. Parecia muito com um tornado, mas que se continha dentro de uma bola gigante de tudo que tinha ao redor.

“Eu preciso fazer isso. Ou então morreremos. Ou melhor, eu morrerei”. Pensou, encarando a bola que se formou.

Lá no alto viu o deus já executando sua orientação, e a cada flecha que lançava um nuvem dourada era deixada para trás, se fincando na árvore escolhida pelo deus. E assim como James previu, a velocidade dos giros tanto dos objetos quanto da lança começavam a diminuir, ao mesmo tempo em que havia uma confusão da lança, parecendo se confundir para onde ter que ir e sugar a energia.

E aproveitando que o deus estava distraído, saiu detrás da árvore, e correu de novo em direção a esfera.

A força do puxão foi tão forte que não teve trabalho de se aproximar, mas a dificuldade se tornou clara quando passou ileso pela barreira, se encontrando com a lança de novo, que o puxou com intensidade, lhe machucando um pouco na barriga, dando a sensação de ter levado um soco.

O deus estava tendo êxito com suas flechas, estas que se assemelhavam a correntes que se ligavam a lança com sua divindade que a arma absorvia. Mas assim que notou uma movimentação estranha na esfera, seu peito gelou ao constatar que o rapaz tinha feito o contrário do que havia prometido.

— James! Não! — disse, esquecendo-se de continuar atirando as flechas e voando o mais rápido que podia para ir ajudar o rapaz.

James passava por uma dificuldade, a lança novamente o havia prendido, mas agora eram ambas as mãos. O giro que exercia começava a lhe deixar enjoado, tonto e com uma sensação de que algo estava para se partir na região de suas costelas.

Mas assim que conseguiu fincar seus calcanhares no chão, teve sucesso em parar a lança, mas não sem a dificuldade de tentar impedi-la de girar de novo naquele sentido.

A arma então começou a vibrar, tentando seguir seu curso, mas por ser impedido começou a fazer outro tipo de coisa que James comemorou em acertar em seu palpite interno: a lança, ao em vez de sorver a energia, começou a repelir aquelas outras armas que também estavam agora paradas e tentando seguir a rota contrária da lança.

— James, o que você está fazendo?! — perguntou o deus, fora da esfera, seu rosto e postura muito aflita por não conseguir entrar.

— Kýrios… por favor, continue disparando as flechas!

— Você vai morrer! Você tem que sair daí!

— Vou morrer se você não fizer o que eu digo! As flechas Kýrios! Por favor, continue atirando!

O deus se viu sem escolha, ou acatava logo a ordem ou tentava tirar o rapaz dali, mas escolheu por assentir, e se afastou, indo continuar a sua tarefa mesmo que muito contrariado, pois seu coração pesava de preocupação pelo rapaz que não fazia horas que havia voltado a consciência e já estava se arriscando e com certeza se machucando de novo.

James se sentiu aliviado pelo deus tê-lo escutado, e mais aliviado ainda quando começou a ver os metais ao redor vibrarem assim como a lança, e por causa da ajuda das flechas contendo divindade, esta que era impedida de ser absorvida pelo seu esforço e pela maneira que segurava no lugar a lança, resultava numa física que logo se apresentou em funcionar de acordo com suas suposições.

Os metais das armas, por causa da vibração extrema que a lança causava nelas, proviam a pegar fogo, queimando onde o material era fraco, e derretendo o metal que se esperava vir a tona.

E por isso, o calor aumentou, e por estar no centro de tudo, toda aquela temperatura caía sobre seu ser, lhe deixando ainda mais tonto, enjoado e agora com uma forte sensação de que iria em breve apagar de novo, só esperava que não fosse dessa pra melhor de novo sendo queimado vivo.

Os metais encantados borbulhavam enquanto caíam no chão, formando uma pequena cratera na terra, fazendo com que aquele espaço servisse perfeitamente para acumular e não transbordar, resultando em fazer tudo ficar ainda mais aquecido pelo vapor que soltavam quando entravam em contato com a umidade do solo.

E por isso, pela falta de um ar mais fresco, perdeu a força para continuar em pé, e caiu sob os joelhos, mas os braços ainda seguravam firmemente, tremiam pela grande força da lança vibrando e dando uma sensação de que seus ossos estivessem virando gelatina.

— Só… mais um pouco…

A lança forçou seu movimento, tentando voltar a girar, e em seus cálculos, se aquilo durasse por mais tempo, não iria conseguir manter aquilo em inércia.

E por isso, de repente algo aconteceu fora da esfera… Uma grande luz tomou conta da clareira.

O lugar ganhou um aroma mais intenso do verde, e por isso, lhe deu mais ânimo para continuar por seus pulmões se encherem de ar fresco, e junto disso uma pequena luz do tamanho de vagalumes caía do alto, entrando em contato com sua pele, que absorveu, e lhe deu quase que instantaneamente um efeito que fez seu coração começar a bater mais rápido.

— Adrenalina… — sorriu de canto, voltando a ficar em pé e a segurar com mais força a lança.

Resultado, as armas ao redor pulverizaram, o metal que havia nelas derreteu-se todo preenchendo as crateras, e como um efeito reverso de vibrar, a lança parou de imediato, ficando estática no lugar, somente emitindo uma áurea ondulada que reverberava um som muito mínimo de um agudo, assim como fazia os metais, agora no solo e purificados.

Quanto a esfera, parecia que tinha parado no tempo, porque as coisas que havia nela flutuavam ao redor, se movendo de forma sutil como se fossem plumas caindo.

Se sentindo cansado mas ao mesmo tempo com a disposição lá nas alturas, se sentou no chão, pendendo a cabeça para trás enquanto respirava pesado. E logo uma brisa foi em sua direção acariciando seu rosto, acompanhado de um bater de asas que se tornava mais sutil quanto mais se aproximava.

— Kýrios… — sorriu, aliviado por ver o deus quando pousou a sua frente.

— Você me enganou. Pela segunda vez hoje. — disse, com feição fechada.

— Primeiro, obrigado. E segundo, é sério que vai querer brigar agora? Se for, então vamos lá, eu tive meus motivos, mas eu sabia que se eu fosse explicar tudo você ia…

Antes que completasse seu argumento, teve seu rosto envolvido pelas mãos do deus, que lhe mirava com os olhos avermelhados.

— Kýrios?

— James, estou muito bravo com você. Mas também estou aliviado. E isso sobrepõe qualquer coisa. Até mesmo… sua teimosia e impulsividade. — disse, respirando ofegante pela agitação de antes — Deuses… você é realmente o pior Pista de Parca. — sorriu, fechando os olhos, caindo cansado sobre seus próprios joelhos.

James sentiu um palpitar que aqueceu seu peito, e foi tão maravilhoso que fez seus braços se moverem como se tivessem vida própria, e abraçou o deus pelo seu pescoço, fazendo-o se abaixar ao ponto de ficar quase agachado e com a ponta de suas penas de suas asas encostando no terreno úmido, sujando-as com lama.

— De nada, James. — sussurrou em seu ouvido, correspondendo de volta a aquele abraço, envolvendo o torso do rapaz.

Não resistiu de se sentir muito feliz com aquele gesto… O primeiro vindo espontaneamente do moreno.

E ao deles, os metais.

— É-é… Acho que… — pigarreando um pouco acanhado, se desfez do abraço com o deus — Bom, agora temos que recolher essas coisas e procurar logo por um ferreiro para as nossas castanholas. — finalizou, se levantando e indo catar os pedaços esfriados no solo, colocando tudo em sua camisa, que tirou rapidamente para tal função — Pode carregar estes outros? É muito… pesado para mim… — pediu, sem jeito ainda pelo abraço.

O deus entendeu o porque da timidez do rapaz, sorrindo discreto por isso, e assentiu ao pedido do moreno, se levantando para ajudá-lo.

— Você foi tão inteligente, James. Mas também muito impulsivo. Mas tenho que parabenizá-lo. Porque eu não teria essa ideia nem em mil anos.

— Não foi algo tão difícil assim. Que dizer… é, fui mesmo um gênio por ter pensado nisso. Ou melhor, por ter lembrado de alguma coisa daquelas aulas de física. Finalmente me serviu pra alguma coisa estudar aquelas baboseiras todas. — se gabou, recebendo do deus um balançar de cabeça em negativa enquanto sorria de canto cruzando os braços e encolhendo suas asas — Mas voltando ao assunto que citei antes, você conhece algum ferreiro divino que esteja disposto a nos ajudar?

— Oh! Sim! Conheço. Mas não de meu domínio.

— E funcionará ele forjar algo para nós usando um material de origem grega?

— É claro que vai! James, essas coisas são da natureza, assim como a terra ou a água. Todos os domínios tem direito sobre. A diferença está na magia colocada… é, este detalhe pode atrapalhar um pouco… se eu soubesse forjar algo eu poderia muito bem usar qualquer fornalha para fazer essas castanholas. Mas minhas mãos não foram feitas para isso trabalhos pesados… somente para… — olhando para suas mãos, de repente seu semblante se iluminou ao se lembrar de algo — James! Eu sei quem pode nos ajudar! Eu tinha me esquecido que ele sabe sobre esse assunto.

— Será que vai nos ajudar? — perguntou, entendendo quem seria.

— É claro que vai. Ele estava tão ansioso para fazer algo prático ultimamente. Eis a oportunidade.

— É, vamos ver, eu aposto que ele vai querer arrancar suas asas primeiro antes de executar a tarefa. — disse, se esforçando para segurar aqueles pedaços irregulares de metal — Ah, e só mais uma coisa… não conte a ninguém que eu… bem, passei por uma experiência de morte.

— Hm, não vou contar.

•

Nem precisou. Pois quando retornaram para a hospedaria, um deus pálido os esperava na entrada dos fundos, com uma expressão mais séria do que de costume, carregando em uma mão um pergaminho, enquanto uma ampulheta flutuava a sua frente, era linda e sombria, prateada com detalhes dourados em desenhos que lembravam a pequenas lâminas e foices, enquanto o conteúdo que a preenchia era uma fumaça cinza escuro no lugar da costumeira areia de ampulhetas.

— O que vocês dois fizeram? — questionou, parecendo zangado.

James e Kýrios se entreolharam, e quem tomou a frente foi o deus, mas antes de abrir a boca foi interrompido pelo outro.

— Vocês mexeram na ordem. — disse Tânatos.

— E o que eu deveria fazer? Deixá-lo morrer? Aliás, foi um milagre! Eu estava tentando de tudo, mas ele não voltava. Se ele está vivo é porque foi muita sorte dele mesmo!

— Não, Kýrios. Não há sorte nisso. Olhe. — disse, mostrando o pergaminho.

E em caracteres antigos daquele domínio, lá estava a imagem de James, desenhada no mesmo estilo grego, mas havia algo de estranho, ao redor de sua imagem havia uma aura dourada e prateada, e um outro desenho ao fundo muito fraco em suas linhas, cobria toda a gravura. E ao lado da gravura tinha as descrições do rapaz, tudo o que ele era, tinha feito e o que estava fazendo, tudo de modo bem resumido. Até que de repente o texto estava interrompido, distorcido, para depois voltar aos caracteres normais na outra linha.

James sentiu um arrepio em sua espinha, mas não conseguia decidir se tinha a sensação de ser bom ou ruim. Mas a situação era ruim visualmente.

— Você pode ter feito algo para ter revertido o fim dele, e nisso resultou de sua linha ficar indefinida. Está vendo essas reticencias? Isso significa que não está mais em meu poder prever se ele pode morrer daqui a um mês, ou daqui uma hora, ou até mesmo aqui em instantes. Você, Kýrios, me tirou essa posse. Antes eu podia controlar, avisar que estava em risco, mas agora… ele está por conta própria. Só consigo sentir a toda hora uma grande aura de morte, tudo agora pode ser perigoso para ele. Até… uma simples queda. — disse, e voltou para James, olhando-o com compadecimento — Está completamente nas mãos de seu criador agora.

— Uau. Que bom saber disso… eu acho. — disse James, rindo pelo nariz e cruzando os braços, se mostrando despreocupado — Minha mãe sempre diz que se está com Deus, está amparado de tudo. Então…

— Estou falando muito sério, James. — disse Tânatos — Não duvido que seu criador possa lhe proteger, mas nós tínhamos uma garantia extra enquanto eu vigiasse e tivesse clareza de sua linha de vida. Estamos no escuro agora.

— Mas Tân, ele tem a mim, tem a você, a Panoptes. Somos três seres superiores. Podemos protegê-lo!

— Você o protegeu quando essa quase morte aconteceu com ele? — retrucou.

O deus do amor se encolheu um pouco, e baixou a cabeça, fazendo que não.

Mas James se interpôs.

— Ele conseguiu me salvar duas vezes hoje. O que aconteceu comigo foi… minha culpa, admito. Kýrios estava e sempre está tentando me proteger, mas… não o culpe. Sou eu que… sou um pouco teimoso… e impulsivo. — disse a última palavra entre dentes, tentando engolir o orgulho para defender o loiro que se encontrava tristonho.

— Sendo turrante ou não, é a função dele, e a nossa, manter você vivo. De certa forma, eu também falhei. Eu tinha que ficar mais vigilante com vocês dois. Mas quando percebi, já não estavam mais nesse recinto, só me restou esperar, porque tinha que vigiar esta área, e também que ficar observando seus relatórios vitais. Até que algo mudou no seu, e não consegui mais me concentrar.

— Sim, sim. Agora que o leite foi derramado não há mais como voltar atrás. Ou será que tem? Afinal, aquele tal Cronos não nos ajudou lá no Olimpo?

— Não! Não podemos cair na tentação de pedir algo a eles! — protestou o deus do amor — James, você ter recebido ajuda desse titã só significa uma coisa: dívida. E não será cobrada de forma barata. Não podemos pedir por mais nada. Não podemos mais nos descuidar desse jeito!

— Kýrios, você está certo. Mas também não podemos desprezá-los. — advertiu Tânatos — Se eles estão inquietos e se esforçando em nos ajudar, significa que esta situação que ocorreu com Psiquê e todo o Olimpo é mais séria do que se pensa.

— Eu ainda me recuso a pedir ajuda deles!

— Kýrios, você não vê que…

— Podemos fazer algum acordor com a Morte do domínio dele?

— Você está enlouquecendo, Kýrios?

— Estou tentando arranjar soluções!

James sentiu um arrepio em sua espinha, e uma borboleta chamou sua atenção.

Era ela.

Estava debruçada na margem do lago, molhada, aproveitando a companhia dos salmões que brincavam com o tecido de seu fino vestino. Quando ia para falar com ela, a deusa lhe deu um sinal negativo de cabeça. Mas só bastou seu olhar para os outros dois deuses para James poder entender que a orientação que a deusa estava querendo dar era: “desfaça logo aquela dicussão, ou mais complicações virão.”

E James também sentiu um pressentimento ruim pela menção daquela entidade de seu domínio de origem.

“James, gostaria de conversar com você depois”. Disse a deusa em sua mente.

Aquilo o fez se inquietar, parecia as vezes em que seu pai o chamava para advertir de algo ou quando sua mãe ficava muito brava por ele entregar sua vida a aquelas noites de boemia por Londres, porque sabia o motivo daquela rebeldia…

— Sabe de uma coisa? — interrompeu James, tendo logo a atenção dos dois deuses — Eu não posso ficar me preocupando com esse relatorio. E sabe porque? — disse, olhando para os dois deuses — Porque eu como humano, antes de saber da existência desse outro mundo, vivia minha vida sem saber se eu poderia estar morto ou não no dia de amanhã. Aliás, nenhum de nós humanos podemos. E mesmo assim vivemos, planejamos, e seguimos em frente. Então… se me permitem um palavriado rude, foda-se essa merda. O que importa é que estou aqui vivo e bem, não? E que conseguimos obter resultados.

Ambos os deuses lhe miraram reflexivos e no fim concordaram com o pensamento do rapaz, que no fim das contas estava certo, por um lado.

— Tudo bem… Vamos ao que interessa. — fungou em concordância o deus do amor — James está certo, temos que nos focar nessa tarefa. As castanholas.

— Tânatos, onde está Panoptes? — perguntou James, querendo mudar de assunto após o longo silencio que se fez que deu até para ouvir a brisa uivando ao longe, parecendo indicar que uma chuva viria pela manhã.

— Trouxeram alguma oferenda? — perguntou o deus da morte, deixando o rapaz confuso com tal questão assim do nada.

— Eu farei. — disse o deus do amor.

E antes de se virar para adentrar na hospedaria, olhou para James de um modo que fazia pensar que estivesse preocupado, mas também havia algo mais… afetuoso, que parecia tentar esconder.

Pigarreando diante aquele gesto que foi tão rápido mas bastante significativo, se virou para o deus pálido assim que o loiro saiu de suas vistas.

— Não sabia que Panoptes era um ser de receber oferendas. Não é só para deuses?

— Sim, está certo. — disse Tânatos, estalando em seguida os dedos e fazendo desaparecer a ampulheta e o pergaminho — E mesmo assim vamos precisar. — disse, indicando o caminho para o rapaz também entrar, parecia nervoso, e queria logo fazer algo para proteger o moreno.

Já que… não era somente uma aura de morte que o deus consguia ver ao redor de James, e sim uma marca vermelha em formato de cruz em suas costas, que brilhava forte, e parecia envolvê-lo enquanto emanava pequenas luzes brancas das quatro extremidades, reforçando uma proteção que não era mais de seu domínio.

•

A madrugada ainda dava o ar de sua glória, o ar fresco, os grilos e os vagalumes abrilhantavam e embelezavam o jardim, que também era presenteado pela estrelas, estas que foram saudadas por um copo de saquê tinha ido parar entre elas depois de um certo pedido de um certo deus que, mesmo levando um pequeno lanche feito com suas próprias mãos para poder amenizar os estragos eminentes que poderia haver, mesmo assim não serviu para abrandar a indignação de um metro e oitenta e cinco.

— Eu não me rebelei contra a rainha do Olimpo para ser sujeito a virar um servo de Poseidon! — esbravejou Panoptes, seu rosto vermelho pela tal proposta.

— Não é Poseidon, é Brigit. — corrigiu Kýrios.

— Tudo a mesma coisa! Tudo recai em servir a um deus!

— Deusa. Ou Santa. Como preferir. — corrigiu Tânatos dessa vez, recebendo do gigante um olhar que poderia queimá-lo e torná-lo poeira se pudesse.

— Panoptes. — lhe chamou James, tendo sua atenção e irritabilidade — Em termos técnicos, você não estará servindo a esta deusa, você estará nos ajudando. Todos nós aqui estamos nos sujeitando a algo para isso funcionar. Eu compreendo, eu sei que é difícil, que não lhe trás boas recordações, mas é por uma boa causa. E mais, esta será uma boa oportunidade para superar alguns… traumas.

Panopetes franziu o cenho, lhe encarando com ar bélico, mas de repente seu franzir tomou um tom confuso, principalmente depois que se aproximou um passo e farejou algo no ar.

— Tem cheiro diferente em você. — disse.

— C-Cheiro? Que tipo de cheiro? — perguntou James, dando um passo para trás enquanto cruzava os braços.

— Um cheiro… — seus olhos logo se direcionaram para o loiro ao lado, que em reação desviou o olhar, mas um sorrisinho muito contente não lhe deixava disfarçar. E quando ia comentar sobre isso, o deus da morte interveio, pousando uma mão em seu ombro e fazendo um sutil balançar de cabeça — Ah, deixa pra lá.

— Acho que deve ser porque eu e Kýrios tivemos problemas em um pântano, e por isso devo estar com esse cheiro de lama.

— Deve ser isso… cheiro de lama. — disse o gigante, num tom sugestivo, o que lhe fez ganhar uma advertencia silenciosa do deus pálido que fez um gesto de reprovação com a cabeça.

— Certo, sendo assim… podemos contar com sua colaboração?

— Pode, mas com uma condição.

— Qual?

— Vamos indo, explicarei quando chegarmos até essa deusa. — disse, se voltando para o deus do amor, lhe encarando de novo enquanto o mesmo fazia um gesto de agradecimento enquanto ainda carregava uma cesta de torradas e um potinho de vidro fechado contendo um molho de Tzatziki.

A ida da tal deusa tinha sido um problema lembrado, já que não conseguiam ir até onde ela poderia estar, por conta da chave agora estar guardada pelos motivos de segurança, que Tânatos aconselhou não usar por ter a chance de estarem agora sendo vigiados e rastreados por causa da confusão na mansão ter alertado todos os monstros que haviam por lá. E por isso, tiveram que ir por outros meios um pouco mais seguros.

— Tudo certo para o ritual? — perguntou James, deixando uma ultima pedra na formação do círculo que o deus do amor orientou construir — Oh, lembrei! O sangue de hidra!

— Sem problemas! — disse o deus mostrando um frasco, e ganhando um olhar curioso do rapaz sobre ter aquilo com ele — Longa história. — disse, erguendo sua mão num gesto de pedir a mão do moreno.

James o fitou confuso, e olhou para os lados, vendo o gigante e o outro deus lhe darem sinal para ir em frente, já que ninguém tinha dito antes que ele também seria um outro “ingrediente” do ritual.

Não era que ele não confiasse naquele deus, sua hesitação estava em ficar acanhado tentando esconder algo que com certeza estava na cara: seus sentimentos.

Não havia como disfarçar naquela hora, e desconfiava que até Tânatos já sentiu e poderia estar sabendo que algo íntimo aconteceu entre ele e Kýrios, ele podia ver “aquela” vitalidade a mais em seu corpo, então com certeza estaria sentindo também o cheiro do toque do deus do amor em seu copo, e claro, não ia mencionar nunca isso. Preferiria que ambos os outros seres ficassem em estipulações do que explicar isso.

— Oh, certo, corte e sacrifício de sangue, clássico. — comentou James, erguendo a mão para o deus, que tirou de seu bolso uma ponta de flecha sobressalente.

— Serei cuidadoso, James. Esse corte não irá doer nada. — disse.

As ações seguidas fizeram James querer enterrar sua cabeça no lugar daquelas pedras, afinal, ter um gigante e um deus da morte na plateia assistindo um deus do amor lamber a palma de sua mão não era algo que pudesse fantasiar em público.

Mas ali estava ele, sentindo seu rosto queimar, os poros de sua pele se eriçar e as pernas começarem a bambear por imaginar a maciez aveludada da língua do deus em outra parte de seu corpo que não fosse em sua mão.

E tal pensamento foi suspenso por Tânatos, que bateu o cabo de sua foice em uma pedra aleatória que estava cerca de seu pé, chamando a atenção do deus do amor.

— Sim?

— Creio que já é suficiente, Kýrios.

— Ele já sentiu dores demais por hoje. Quanto mais endorfina ser liberado no corpo dele, melhor. — argumentou.

— Acho que está fazendo liberar mais do que endorfina neste rapaz… Ei! — comentou Panoptes, sendo advertido pelo deus da morte, que cutucou-lhe no pé com o cabo da foice.

— James, está se sentindo mal? — perguntou Kýrios.

— Estou bem. Muito bem. Acho que… estou sentindo bastante endorfina na palma de minha mão. — sorriu de canto e se pôs numa pose relaxada, jogando o peso para um lado do corpo para emitir uma estampa de indiferença, descaradamente fingida.

— Hm… tudo bem… cortarei a sua mão agora.

— Será que pode só cortar em vez de avisar porque… isso vai me deixar nervoso e…

— Para a deusa que vamos chamar, temos que oferecer algo bom. Por isso você tem que estar confortável, James. Ela não aceita oferendas, sacrifícios e nem invocações contendo desespero, dor ou sofrimento. Essa dela época ficou no passado quando… se converteu em uma entidade de seu domínio.

— Em meu domínio? Está querendo dizer que uma deusa se tornou… Espera, essa Brigit é a mesma Brigida? A Santa Brigida? A mais popular na Irlanda?

O deus do amor sorriu orgulhoso pelo acerto e assentiu em possitivo.

— Que bom que a conhece, assim não teremos problemas.

— Problemas?

— Sim. Vamos dizer que… apesar da popularidade, ela muito tímida, mas também… ousada. — respondeu o deus, deixando James confuso com a descrição.

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Capítulo 37
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Missão Ágape

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O Olimpo está em crise, e tudo porque de repente uma profecia disse que um deus iria dizimar o seu sistema e tudo que eles lutaram para conquistar e poderem estar no poder até hoje.

E é...

Chapters

  • Capítulo 47 Proemial
  • Capítulo 46 Alto Mar
  • Capítulo 45 Anelos
  • Capítulo 44 Verdades da Alma
  • Capítulo 43 Premências Difíceis
  • Capítulo 42 Enraizados
  • Capítulo 41 Chaves Sinceras
  • Capítulo 40 Presença
  • Capítulo 39 Luz Misteriosa
  • Capítulo 38 Possibilidades
  • Capítulo 37 Espólios
  • Capítulo 36 Fogo
  • Capítulo 35 Visitas Indesejadas
  • Capítulo 34 Penalidades
  • Capítulo 33 Mais, ou Menos
  • Capítulo 32 Temerário
  • Capítulo 31 Serviços Extras
  • Capítulo 30 Zelus
  • Capítulo 29 Magnetismo
  • Capítulo 28 Despertando
  • Capítulo 27 Sem Céu para Inocentes
  • Capítulo 26 Entre Mortais
  • Capítulo 25 Nuances
  • Capítulo 24 Céu de Luzes
  • Capítulo 23 Sobreposição (parte 2)
  • Capítulo 22 Sobreposição (parte 1)
  • Capítulo 21 Café Quente
  • Capítulo 20 Conselhos
  • Capítulo 19 Muros em Chamas (parte 3)
  • Capítulo 18 Muros em Chamas (parte 2)
  • Capítulo 17 Muros em Chamas (parte 1)
  • Capítulo 16 Cem Olhos
  • Capítulo 15 Nobre Amizade
  • Capítulo 14 Impulsos
  • Capítulo 13 Abaixo da Superfície
  • Capítulo 12 Fim de Festa
  • Capítulo 11 Fagulhas
  • Capítulo 10 Noite de Cores
  • Capítulo 9 Sopa de Ossos
  • Capítulo 8 Saindo do Ninho
  • Capítulo 7 Dádivas
  • Capítulo 6 Reunião Cancelada
  • Capítulo 5 Sonhos?
  • Capítulo 4 Empecilhos
  • Capítulo 3 Efúgio
  • Capítulo 2 Bençãos á Vista
  • Capítulo 1 Sem Opção
  • Capítulo 0 Prólogo dos Contratempos do Amor

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