Capítulo 38
E com essa distração, com o rapaz encarando-o em indagação ao mesmo tempo em que também corava ao mirá-lo, fez um corte lento e delicado na mão dele.
Quando James percebeu, sua mão já estava transbordando sangue, que pingava dentro do circulo onde estavam. E continuando com o ritual, o gigante também entrou no círculo, oferecendo somente uma mecha de cabelo que arrancou com suas próprias mãos, e por ultimo, o deus do amor recitou os versos:
“Oh deusa amada por todos, oh deusa de vários talentos, nos conceda uma audiência, nos conceda uma benção, em troca do amor em nossos corações pela sua bondade, oh deusa, de generosidade!”
As pedras do círculo começaram a flutuar, uma cena muito familiar ao que aconteceu na esfera lá no pântano, o que deixou James um pouco nervoso, porque não queria ter que passar por aquilo de novo. As pedras brilharam em um tom verde, que se misturavam a um véu dourado que surgiu do nada, envolvendo as pedras e tomando o sangue da mão de James, e aceitando a oferenda da mecha de Panoptes.
James esperava mais alguma coisa estrondosa, mas ao vez disso começou a escutar uma melodia muito bonita com um timbre de flauta, acompanhado de sutis batidas que se assemelhavam a um pandeiro meia lua que ciganos usavam em suas festividades. Depois veio um perfume, este que lembrava a cheiro de terra molhada depois de uma chuva longa, o que o fez institivamente mentalizar uma lembrava muito doce de sua infância, quando uma vez correu nas pastagens de uma das propriedades dos Payne, uma fazenda, e neste dia havia chovido, muitas poças de lama se criaram, mas foi embaixo de chuva que escolheu para se aventurar a pular nelas, se sujando completamente, mas tal sujeira incomoda não chegava aos pés da sensação de liberdade tão boa que sentiu aquele dia.
Quando despertou de seu devaneio, se assustou com um rosto feminino bem perto do seu, que sorriu gentil enquanto tinha mãos em seus ombros.
— Obrigada por compartilhar comigo sua antiga alegria, jovem James Payne, servo de Psiquê.
— O-olá! — disse, se sentindo nervoso por sentir a presença forte da deusa diante de si, que emanava uma áurea muito boa, fazendo-o ter vontade de chorar.
Olhando ao redor, viu que Kýrios e Panoptes estavam fora do círculo, observando atentos aos movimentos da deusa, pareciam receosos, torcendo por algo.
— Estou ao seu dispor, o que quer de mim?
— Eu… quer dizer, na verdade nós queremos…
— Nós? — questionou a deusa, mas ao observar o rapaz mover seu olhar para a direita notou que havia alguém mais ali, e sorriu breve — Ah, sim! A quanto… tempo… — e então se virou, colocando toda sua atenção no deus do amor, franzindo o cenho ao perceber algo — Ah, que pena… meus pêsames.
— O quê?! O que disse? — assustou-se o deus, dando um passo a frente, mas sendo puxado pelo gigante.
— Sua felicidade está morta, mas ainda vejo uma fagulha insistente querendo se encontrar. Você precisa cultivar de novo, meu amigo. Ou então sua existência está para acabar. O que houve com sua divindade? Onde está Psiquê? Onde está o My… — de repente se virou bruscamente para James, e então sorriu — Ah. Entendi.
— Brigit, o que está falando? Eu não estou conseguindo entender! Por favor, eu imploro! Eu quero que me responda! — pediu o deus.
— Ah. Meu amigo Er.. E… Ers… Hm? O que houve com seu nome? Não consigo proferir. Ah, então é por isso que está tão debilitado assim? Sua vitalidade está como um rio que um dia foi cheio e agora não resta quase nada. Cuidado, amigo, ou então não vai conseguir chegar ao fim de sua busca desse jeito.
O deus encolheu-se, ainda mais depois de trocar um olhar com James, que nem precisava dizer nada, pois seu semblante e olhar era o de alguém que o reprovava por sua falta de senso de auto preservação. Mas, ao mesmo tempo, o que e ele podia falar? Fazia a mesma coisa.
— Eu vou cuidar disso, Brigit. Prometo.
— Uma promessa que sei que será cumprida. — disse, sorriu, e de novo se virou para James, ainda sorrindo de forma maliciosa, acariciando sua bochecha enquanto seus olhos o analisavam. E num ato um tanto inesperado, se aproximou do rosto do rapaz e chegou ao seu ouvido — Pare de resistir ao que tanto deseja. Quanto mais fazer isso, mais fraco fica. Mas também o deixará perto do fim. Não há nada de errado nisso. Seja feliz. E o faça feliz. — sussurrou, beijando sua testa.
— Ah, e-está bem… mas… — engolindo em seco, continuou — Me perdoe interrompê-la, é que eu, e meu amigo Kýrios…
— Amigo? — e se virou para o loiro — Você são amigos, o agora Kýrios Galanis? Sim, eu sinto uma amizade também. — e se moveu para o rapaz de novo — Oh, eu entendi. Vocês são aquele tipo de amigo. Muito bom, muito bom.
— Espera, o que… não! Eu não…
— Shhhh! — chiou, pondo um dedo sobre seus lábios — O que eu disse antes, ãh? Mas sim, você e ele precisam de mim. E eu vou ajudar! — e de repente pegou a mão do rapaz nas suas, olhando suas palmas — Você está sem linha de vida? Pela glória do universo, o que você e meu amigo, e seu “amigo”, estão fazendo? Um está quase morto, e outro prestes a morrer. Hm… — e então olhou para Tânatos, lhe fazendo uma expressão triste — Tenha calma, servo da Noite, como eles podem morrer tendo seu coração? Fique calmo. Continue assim, está indo bem. Pois o que tanto almeja estará lá quando arder em chamas, virar cinzas, e finalmente, arder de novo.
Tânatos ficou inquieto, e deu para ver claramente um rubor cinza escuro em seu rosto, que tentou disfarçar se afastando e adentrando para a sombra de uma árvore que havia naquele quintal onde faziam o ritual.
E como se não estivesse satisfeita, se voltou para o gigante, rindo contido dele.
— Se pensa que está livre, está muito enganado. Seus olhos ainda buscam obedecer. Mas calma, sua rebelião não foi em vão. É só que… é de sua natureza servir.
O gigante ficou um pouco irritado, de punhos cerrados e mandíbula tensa, só se acalmando quando Li-Hua cutucou seu braço e lhe deu uma fruta, uma pêra, que foi comida em uma bocada por ele estar em um tamanho um pouco anormal de um ser humano.
— Ah, aí está ela! Bem, eu já falei de você, então não preciso mais dizer. Só tenha paciência, é assim mesmo. Quando conseguir iluminar essas sombras, nunca mais será escuridão. — lhe deu uma piscadela e sorriu de canto, deixando a moça confusa.
— Brigit, por favor, precisamos muito de sua ajuda. Não temos muito tempo, e estaremos em apuros dentro de algumas horas. — interrompeu Kýrios, intercalando seu olhar com James, e logo a deusa arqueou uma sobrancelha, soltando as mãos do rapaz, se virando para ele e invocando um forno, que surgiu da terra, bagunçando toda a perfeição que era aquele gramado.
— Quem irá forjar? — perguntou, fazendo aparecer em sua mão um martelo, este que emanava fogo, que brilhava intensamente, mas não lhe queimava.
Ainda um pouco sem humor, Panoptes levantou a mão, e logo a deusa lhe ergueu a mão com o martelo, e apontou para uma bigorna que fez aparecer ao seu lado.
— As condições. — começou assim que pegou o martelo, e todo aquele fogo lhe envolveu lhe deixando com uma áurea vermelha.
James e Kýrios se aproximaram, o deus pedindo antes permissão para entrar no circulo, sendo concedido pela deusa que abriu um portal de linhas luminosas e esverdeadas, lhe deixando entrar.
Panoptes então se virou e deu a cada um uma pequena bolinha de cores diferentes deixando ambos com feições curiosas.
— São meus olhos. Estão nascendo em algumas partes. E como ultimamente vocês dois andam me enlouquecendo sumindo de minhas vistas, quero que implantem agora mesmo sob suas peles, em qualquer parte que quiserem, para que eu possa senti-los aonde quer que estiverem.
— Pano… — lhe chamou Kýrios, mas foi interrompido pelo gigante, que ergueu uma mão para o mesmo não dizer nada.
— Não, não é exagero! Estou farto de ter que ficar esperando por vocês dois. Eu não me importo se vão a algum local fazer o que der na telha de vocês. Não quero mais ter que ficar esperando saber se estão ainda vivos quando estão se arriscando. Estou nessa busca porque acho justo. Mas também porque quero justiça, quero Zeus e Hera fora do Olimpo, quero uma nova governança, quero uma limpeza. E essas provas de Psiquê bastarão para todos os deuses se oporem contra aquele canalha e aquela sem coração que gosta de viver de aparência! Mas para isso acontecer vocês dois têm que estar vivos! Fui claro?
— Panoptes, você está certo. Mas será que colocar algo seu em nós não será arriscado? Veja por um lado mais estratégico: se você for pêgo, logo saberão nosso paradeiro. Todos nós temos que estar juntos, mas cada um tem que estar num estado individual, se é que me entende.
— Está me chamando de fraco? Você acha mesmo que me deixarei ser pego tão facilmente assim? Sou um gigante! Sou o mais forte e esperto de todos! Não sou eu quem está por um fio!
— É, mas morreu para Hermes… — disse Kýrios, recebendo um olhar feio do gigante — Tudo bem, não está mais aqui quem falou. Me desculpe.
— Coloquem agora meus olhos. Só encostem aonde querem que fique. Estão ainda em brotos, então será fácil se enraizar em sua carne. — exigiu.
James tinha uma orbe verde, assim como a íris dos seus, e ficou pensativo em onde colocaria tal objeto, que parecia mais a uma bolinha de gude bem trabalhada e que parecia a um olho de vidro, só que bem pequeno.
E olhando para o gigante, decidiu aonde poderia ser o local.
— Uma cigana me disse que todos nós temos um terceiro olho, este que é muito importante, porque é uma janela de nossa alma. Então, como uma forma simbólica de confiança, a colocarei aqui para que se conecte com a minha. — disse, colocando no meio da testa.
O gigante ficou um pouco emocionado, mas tentava disfarçar se pondo numa postura endurecida com mãos na cintura junto do martelo de forja.
— E eu colocarei aqui. — disse Kýrios, encostando a orbe em seu peito, do lado do coração, a sua tinha uma nuance voltada para o âmbar — O terei em meu coração, meu amigo. E assim quero que a nossa amizade perdure pela eternidade. Conte comigo para o que for preciso.
Uma pequena lágrima quase caiu dos olhos do gigante, que pigarreou e respirou fundo como ele tivesse bravo.
— Sr. Perfeito… — murmurou Panoptes em tom de xingamento, vendo o outro deus dar de ombros sorrindo minimamente — Tudo bem. — se virando para a deusa — Vossa divindade, poderia me conceder o talento divino da forja? — pediu, e a deusa se moveu para mais perto, envolvendo o rosto do gigante entre as suas mãos.
— Benção concedida.
E a aura de fogo ficou mais intensa, até o martelo ficou incandescente, mas não queimava o gigante, mas lhe deixou suando, talvez por não aguentar tanta energia assim em seu corpo.
— Onde estão os metais? — perguntou, franzindo o cenho incomodado com algo, se colocando entre a bigorna e a fornalha.
Kýrios lhe entregou, colocando em cima da bigorna, deixando disposto do maior para o menor. Panoptes por sua vez pegou um por um e analisou, sentindo a vibração que cada um emitia dispondo cada um em uma ordem, que aos olhos de James tudo parecia igual.
— Peço que se afastem, porque isso vai esquentar um pouco mais do que esperado. — disse o gigante, levando todos os metais até a uma espécie de balde de ferro mediana, esta que ficou um pouco grande para os pequenos metais.
E como um especialista, colocou com suas próprias mãos o recipiente dentro da fornalha, que brilhou ao entrar em contato com a superfície fria do balde. O esperado aconteceu, os pedaços derreteram em segundos, borbulhando incandescente.
E uma ação inesperada do gigante assustou James e Kýrios, menos Tânatos: Panoptes pegou com suas próprias mãos aquele “líquido” que poderia corroer até seus ossos, e esfriou com seus próprios sopros, deixando o líquido numa consistência mais endurecida, parecendo a uma massa de pão.
— É, pelas suas caras de estátua de Medusa não sabiam que eu podia aguentar esse tanto de quentura não é? Pois é, agora sabem, e espero que não me encham com isso. — disse o gigante, fazendo o mesmo processo com os restantes metais derretidos do balde.
E lá estava agora, em cima da bigorna a “massa”, pronta para ser emoldurada, mas não do jeito que James pensou que seria que fosse… O gigante então pegou a ferramenta da deusa que havia colocado em sua própria cintura e se pôs a moldar a marteladas.
Era impressionante como um ser como ele conseguia habilmente e sem receio algum “esculpir” um objeto tão complexo e delicado como uma castanhola, ainda mais quando algumas partes começavam a esfriar, mas isso parecia tornar o trabalho do gigante ainda mais dinâmico, pois as marteladas se tornavam mais fortes, mas a força era medida de acordo com a necessidade que achava que um detalhe do objeto precisava.
Faíscas, sons metálicos que indicavam o trabalho chegando ao fim, assim como o vapor que saía das castanholas toda vez que o gigante esfriava o objeto com a própria terra que pegavam do chão ao seu redor. Um trabalho que James viu que não conseguiria mesmo fazer sozinho, mesmo que tivesse planejado tudo quando pegou a chave da mansão do deus do amor.
Agora via que seu plano de conseguir as castanholas, o sangue de hidra e ainda por cima encontrar alguém para forjar, estava com uma margem de erro um tanto alta.
Não, não foi por falta de pensar, é claro que havia pensado em pedir para Kýrios lhe ajudar, mas dadas as circunstâncias em que se encontravam, era melhor uma distância segura, e também queria fazer algo por si só, queria aprender a fazer algo sem a ajuda do deus ou de alguém do grupo. Afinal, era melhor somente ele se cansar e se comprometer fisicamente em uma missão solo do que todos. E mais, tinha ciência de que era substituível, mesmo que não quisesse morrer também.
— Hm? Está acontecendo algo! — avisou James quando viu uma sombra sair das castanholas.
— Está procurando divindade e vitalidade. — disse Panoptes — Já vi isso acontecer várias vezes quando Hefesto me chamava para levar algum artefato que ele fez para poder agradar sua mãe, mas sempre tudo era falho… dava até pena ver ele abdicar de um pouco de sua vitalidade pra fazer algo pra ela.
— Nossa… Então… — olhando rapidamente para o deus do amor, nem precisou pedir para fazer tal função que o gigante indicou.
— Bom, ainda tenho um pouco… Quer dizer… ainda tenho bastante, está sobrando. — disse o deus, se lembrando de se mostrar forte para o rapaz, para que ele não pensasse que não pudesse mais contar com sua ajuda.
Se movendo e parando em frente a bigorna e colocou as duas mãos em cima das castanholas.
Nem precisou fazer nada, os objetos começaram a sugar sua energia de divindade, fazendo sua aurea falhar um pouco, e por isso, o fez até cair sobre os joelhos pela fraqueza que sentiu.
E por um impulso de querer ajudar, James correu para pegá-lo antes que batesse a testa nos pedregulhos do chão…
O toque de suas mãos no torso desnudo do deus lhe causaram uma sensação enérgica de calor, com alguns respingos de frio, o que o fez entender perfeitamente como o deus estava se sentindo, e o quão mal estava sendo para ele.
— Porra, Kýrios… — murmurou, preocupado por vê-lo suar frio.
Não fazia horas que havia lhe dado vitalidade, e agora estava perdendo um pouco de sua divindade, esta que se encontrava pela metade porque Zeus tirou a outra de seu ser, e agora, poderia estar a beira de morrer e virar um mortal, o que seria irônico, já que ele também estava sem muitas chances de viver uma longa vida agora.
— Kýrios. — lhe chamou, ao ver que o deus quase fechava os olhos, e por isso, mirou sua atenção em indagação e pedido a deusa.
— Ele vai ficar bem. Contanto que você esteja ao seu lado, se é que me entende. — disse a Brigit, lhe dando uma sutil e discreta piscadela.
“Ah por Deus… não acredito, até ela?”. Pensou.
— Sim, até eu. — disse Brigit, sussurrando perto de seu ouvido como se estivesse em uma confissão.
James arregalou os olhos, e se sentiu extremamente envergonhado, e também aliviado por não ter pensado nada mais embaraçoso da deusa.
— Vossa divindade, Brigit, aqui está. — disse Papoptes, saindo detrás da bigorna e erguendo o martelo para ela, mas recebendo um aceno negativo de cabeça.
— É presente.
— Como é?
— Presente. — de repente a deusa, que trajava joias e um vestido verde musgo se dispersou em uma luz, esta tomou uma forma mais suave após alguns segundos.
James nunca em sua vida, jamais pensaria que pudesse testemunhar aquilo, e apesar de ter já visto tantas criaturas, presenciar aquilo fez seu coração se encher de ânimo e paz.
A deusa tinha mudado sua forma, mas por algum motivo, sua imagem não aparecia, somente sua voz…
— Você… oh por Deus… perdão… senhora… — fechando olhos e sentindo um acanhamento forte, tratou logo de se corrigir — S-Santa Brigit… eu…
— Tudo bem. Não fique nervoso James Payne. Eu estou do lado de vocês. Vejo seus sofrimentos, e por isso quero também ajudar… — disse, sorrindo agora de forma mais contida, mas ainda gentil e acolhedora, e apontou para o martelo, se voltando para o gigante — Esta ferramenta, ela tem vasto poder, saibam usá-la. Ou então acarretará mais problemas do que resoluções. Sei que quer se mostrar forte, mas deixar-se vulnerável também é uma forma de força, gigante grego. — disse, deixando Panoptes um pouco encolhido, um ação que nunca fazia, a não ser com… Hera. — Quanto a você, James Payne, assim como em divindade, te digo também em santidade: você não faz nada de errado por ter um coração que sente, todos os bons assuntos são criações Dele. E você não está fora disso. E um dia, seu pai vai entender isso também, mesmo que seja difícil. Mas isso também depende dele, se o amor irá ser maior que seus conceitos enraizados. — disse, e sorriu de canto de forma gentil.
James tinha um nó em sua garganta, e como não conseguia dizer nada, somente assentiu enquanto segurava o deus do amor entre seus braços.
A deusa, agora santa, olhou para todos no grupo, e depois olhou para as estrelas, e assim como elas, se dispersou em milhares de pontos de luz, que foram desaparecendo no ar, até que o local voltasse a penumbra em que estava, com somente a luz agora fraca da fornalha, que reagia, ficando cinza, assim como a bigorna, e então ambos os móveis se desfazendo em poeira, que foi consumida pelo solo, que parecia estar voltando no tempo, retornando com o gramado verde e liso e agora ainda mais vivo, sobrando somente as castanholas por entre as folhas.
— Por todos deuses… O que foi isso? — perguntou Panoptes, um pouco trêmulo com o martelo incandescente na mão — Kýrios fez alguma coisa de errado nesse ritual. Como que… só era para o aspecto de divindade dela aparecer!
— Talvez ele tenha se esquecido disso… — disse James, voltando seu olhar para o deus, que quase caía na inconsciência, mas não a de um coma, estava mais para uma forte sonolência por estar fraco.
— Não, ele não errou. — se pronunciou Tânatos — Kýrios fez tudo de forma consciente, ele previa algo, e quis chamar também o outro aspecto de Brigit.
— Mas porquê? — indagou James, sua mente trabalhando em ligar os fatos, pensando em cada pequeno detalhe que poderia dar respostas a aquilo, até que algo fez sentido em suas buscas mentais dos últimos acontecimentos — Ah.
“Você não é um destruidor de casamentos.”
Era o que o deus tinha dito a ele naquele pântano. E talvez fosse por isso que ele não só tinha invocado a deusa, mas também a sua forma de santificada. O deus do amor sabia que o rapaz poderia não acreditar em suas palavras, que poderia achar que eram somente algo para consolá-lo e não lhe deixar abalado, mas sabia que ele tinha, mesmo que pouca, de alguma fé nas forças de seu domínio de origem, e por isso, nada melhor que as palavras de alguém de sua familia e território.
Pensar em tudo aquilo fez ainda mais seu coração se aquecer por aquele ser em seus braços. Não era uma coisa pequena sacrificar mais um pouco de sua divindade para fazer somente um gesto que poderia passar abatido, e por isso uma grande vontade de beijá-lo surgiu em seu peito, mas ali estavam três integrantes com os olhos todos voltados nele e no loiro, e fazer isso na frente de todos ainda lhe deixava desconfortável.
— Tem que deitar ele, confortável, sem mais cansar com tudo de agora. — disse Li-Hua, cortando o silencio local — E shifu tem que ficar cuidando. E todos restantes temos cuidar fora até amanhecer.
— Você está certa, senhorita Li-Hua. — disse Tânatos, lhe dando um aceno de cabeça, deixando-a um pouco corada, o que a fez logo correr em pulinhos para dentro da hospedaria para arrumar o quarto do rapaz para o deus ficar por lá com ele — Panoptes, ajude James a colocá-lo para dentro.
— Porque você não usa seus poderes para levitar ele e nos poupar de cansaços desnecessários? — rebateu à ordem do deus, que arqueou ambas as sobrancelhas.
— Panoptes, minha energia fará mal a ele estando nesse estado. — respondeu, paciente e conciso como sempre.
O gigante ficou sem o que contra argumentar, o que o fez ter que desmanchar sua postura competitiva e de resistência em obedecer.
Sem mais assuntos, todos foram para dentro.
•
Faltavam poucas horas, o céu já estava tomando tons mais claros, deixando o breu estrelado da madrugada, esta que no planp anterior deveria ser para descansar, mas que por causa de alguns erros no calculo teve caminhos mais longos tornando tudo mais cansativo do que era.
Sentindo uma pontada em suas costas, se se levantou de novo do futon, onde estava sentado velando o sono do deus, que ainda se encontrava pálido pela perda de uma parte de sua divindade, e ainda por cima, também um pouco de sua vitalidade, que foi passada a ele.
— Merda… — xingou baixinho, pegando em seu ombro para poder se alongar um pouco e ver se aliviava um pouco aquela dor que começava a incomodar.
Ficando da mesma forma como o deus ficava na janela, se debruçou para observar as tonalidades do céu, e como recompensa uma brisa fresca veio, soprando seus cabelos, e lhe dando uma sensação ilusória de alívio, já que… seu peito também estava apertado por causa de seus pensamentos tão agitados sobre tudo.
“Eu vou lutar ainda mais para ser digno, Kýrios. Obrigado por aquilo, sei que deve ser por isso que esteja assim.” Disse, olhando para trás e vendo ainda o deus desacordado.
É, esse era um dos pensamentos que mais preenchia sua mente. Por ser perceptivo, soube na hora que o deu tinha, em nome de provar que suas palavras sobre ele eram verdadeiras, sacrificou um pouco de sua divindade para trazer o outro aspecto da deusa ferreira que era também de outros talentos e poder trazer uma confirmar sua sinceridade e intenções.
O que significa que… o deus estava se importando com ele mais do que pensava que estivesse.
E por isso… aquela fagulha de esperança sobre o deus estar cedendo a ele cresceu ainda mais.
“Não, não posso ficar focado nisso! Kýrios só está assim porque… é lógico, ele é um deus, mas como todo mundo diz, ele é muito ligado com os humanos, e por isso, pode ter uma humanidade que está sendo provocada por minhas indecências… Meu Deus… e consequentemente, provoco seu lado homem mortal.” Pensou, passando mãos em seus próprios cabelos.
— Hm… — murmurou o deus, se mexendo e franzindo o cenho.
James correu para verificá-lo, e assim que chegou viu que o loiro estava suando frio, o que não era um bom sinal, já que dentro de poucas horas eles teriam que se colocar em campo de guerra e se livrar dos pássaros assassinos.
— Kýrios, você tem que ficar bom rápido. Você é um deus, tem que fazer algo a respeito… — sussurrou, tocando na testa e sentindo que não somente suava, mas como também estava febril — Meu Deus… — expressou-se, fazendo o deus franzir o cenho incomodado, e por isso, tampou a própria boca.
E foi bem nesse momento que teve uma ideia, algo que lhe apareceu na mente que era baseado em um fato que poderia dar certo naquele momento.
“Hm… Naquela vez no lago Kýrios tinha dito que quando estamos acalorados nossa vitalidade fica em alta… e por isso Tânatos podia ver isso claramente… hm… será que… e se eu…”. Pensou, direcionando seu olhar para o deus.
Mas em específico, a boca dele…
Seus lábios formigaram e sua boca salivou pelo desejo repentino de tocar e se deliciar naqueles beijos que o deus sabia habilmente lhe dar, mas, será que era a mesma coisa com ele inconsciente?
— Espera, calma… — respirou fundo, balançando a cabeça em negativa para espantar tais pensamentos — Isso seria errado… ele está desacordado. Isso seria uma falta de respeito! Mas também… não tenho escolha! — olhando para a boca do deus, mordeu os seus próprios e fungou esfregando o rosto em seguida, ficando um pouco nervoso em decidir executar tal ação — Calma… Em termos técnicos, eu estarei o ajudando, não é? Assim como ele me ajudou lá no pântano… Isso! Só basta manter o foco altruísta! Olha, Kýrios, está decidido, vou beijá-lo, mas é somente para te recarregar as forças, entendido?
Enquanto isso o deus se mantinha desacordado franzia o cenho, parecia sofrer, ou ter algum pesadelo…
— Tudo bem, tudo bem… certo… é só um beijo, nada mais que isso… um só beijo, acho que isso vai bastar. — disse, aproximando seu rosto do outro.
Observando mais de perto dava para ver seus cílios dourados e volumosos, combinando perfeitamente com algumas sardas que só agora percebeu que o deus tinha, o que lhe fez sorrir.
— Até que fim algo de fofo no meio de toda essa atratividade… — sem querer mordeu de novo seus próprios lábios, sentindo um pequeno rebuliço delicioso em sua barriga.
E como se sua mão tivesse vida, não resistiu em erguê-la para tocar no rosto do deus.
Macia, esse era o principal adjetivo da pele, a segunda era quente, mas essa com certeza era pela febre. A terceira, e a mais incrível, era que mesmo que estivesse suado, não havia cheiro de suor, e sim de um aroma amadeirado de sândalo.
— Céus… esse perfume… — fungou sem querer mordendo de novo seus próprios lábios, mas logo tratou de conter-se.
“James, tenha foco homem! Por Deus… se comporte! Pense no ato de ajudar! Sem malícias!“. Advertiu-se.
Mas era em vão.
Seu coração batia forte por estar perto do deus, e um ímpeto de querer tocá-lo chegava a ser quase impossível de controlar.
— É só pra ajudar, é só pra ajudar… — disse, umidificando os próprios lábios institivamente.
Até que se decidiu por fim se deixar levar.
Não foi um choque, mas de certa forma encostou com alguma força nos lábios do deus, e logo um euforia tomou conta de seu corpo, ao mesmo tempo em que sentia um acanhamento por estar tomando a frente naquilo.
“Oh Deus! Meu Deus! Eu tô beijando ele! Eu tô beijando ele!“. Pensou quando se afastou um pouquinho para controlar-se.
E novamente voltou a unir seus lábios.
Dessa vez foi com mais cuidado, dando selares curtos e seguidos assim como adorava quando o loiro fazia, e isso o instigava a continuar, e a querer aprofundar mais aquele beijo.
Forçando-o a abrir um pouco a boca, sua língua tratou logo de buscar a do outro, e foi aí que todo seu corpo estremeceu, sentindo-se bem, sentindo-se mais ousado a continuar.
— Por céus… até inconsciente você beija bem assim? — disse, lambendo os próprios lábios como se estivesse saboreando um doce.
E nesse contato, as expressões sofridas do deus deram lugar a uma mais aliviada, e o suor em sua testa foi diminuído, a palidez foi sumindo, ficando corado nas maçãs. A única coisa que não mudava era a sua temperatura, que continuava quente, mas agora o calor tinha uma característica diferente.
— Hm… — gemeu o deus entre o beijo.
James sorriu, parando por um momento para ver seu rosto, e ficando contente com seu trabalho, este que se tornava mais que uma ajuda…
Ousando mais, e cedendo as vontades que suas mãos tinham em tocá-lo, afundou seus dedos entre seus cabelos, bagunçando um pouco os cachos do loiro.
Mas isso era pouco, queria mais.
E por isso, abaixou suas mãos, deslizando para o tórax nu, sentindo a firmeza dos músculos tão bem definidos, e indo mais pra baixo conseguiu chegar no abdômen, não resistindo em soltar um leve grunhir ao sentir o quão bem trabalhados eram.
— Eu tenho que parar… céus… eu tenho que… pelos céus!
Distraído pelo beijo que dava sem parar no deus e abaixando suas mãos sem prestar muita atenção quando se focava nos lábios, só percebeu que tinha ido além da linha abaixo do limite do umbigo quando sentiu sob sua mão uma dureza bem volumosa que preenchia toda sua palma.
E por causa desse “pequeno” susto, afastou-se um pouco, mas seus olhos e curiosidade lhe traíam, e por isso, não conseguiu deixar de olhar para aquela área.
E engoliu em seco.
— U-uau… isso é…
A calça folgada só acentuava a firmeza, deixando de certa forma um tanto impressionante de se ver, fazendo também sem querer James imaginar algo que logo temeu não se conter de… executar.
— Sem chance! I-isso me mataria! — se afastou mais um pouco de forma apressada, ficando a três passos do deus.
“É tão sensível assim para ficar duro somente com um beijo? Ou… será que faço um bom trabalho?“. Sorriu, se sentindo de certa forma orgulhoso de seu feito conseguindo um resultado.
E quando se aproximou para continuar a sessão de mais outros beijos de “ajuda”, de repente o deus acordou no susto.
E claro, James se afastou bruscamente, se levantando o mais rápido que podia, indo aos tropeços para a janela, olhando para fora para fingir que estava ali o tempo todo, antes que o deus desse conta de sua proximidade.
— Por deuses… — sussurrou Kýrios, ofegante. Fazendo como primeira ação tocar em seus lábios, sentindo-os formigar, sentindo todo seu corpo um pouco trêmulo, junto de um calor que tomava todo seu corpo.
— E aí está ele, a Bela Adormecida finalmente deu o ar da graça. — disse James, se virando e atuando como quem estava ali a horas esperando pela recuperação do deus.
— James… — chamou-o, ainda tocando em seus próprios lábios — Por deuses… eu apaguei por muito tempo?
— Não muito, só faz uma hora desde o ritual. Estamos no prazo ainda… Oh… — murmurou, olhando pra uma direção no corpo do deus, atuando também em estar se surpreendendo com algo, e sorrindo altivo com isso — Parece que alguém estava em um sonho bastante interessante.
Olhando para a mesma direção que o rapaz, se espantou ao ver em que estado se encontrava.
— Por todos deuses…! Isso de novo não… — sussurrou para si mesmo, se levantando, se virando de costas para o moreno.
“Isso de novo não?“. Questionou-se James em pensamento.
— Bom, já que está bem, até mais demais, vou deixá-lo a sós para resolver este incidente, e depois você me…
— Eu estava sonhando com você, James. Me desculpe. — disse de súbito, ainda virado de costas, mas evidentemente ofegante.
James se engasgou com o próprio ar, tossindo algumas vezes.
— Ah, é-é normal sonhar com pessoas. E sonhos não se pode controlar o que vai surgir, não é? Relaxa. Está tudo bem.
— Não, James, eu estava em um lugar ruim, tendo uma lembrança ruim, mas aí você veio… e me tirou daquilo. E então nós… eu e você…
— N-não precisa detalhar, está tudo bem. Sonho é sonho.
— Sim, sonhos são sonhos. Mas os sonhos são sempre influenciados por algo que…
— Nah, bobagem. Isso tudo é só estresse, e eu tenho que ir. Até logo! — disse, se encaminhando rápido para a porta, mas o deus o impediu, barrando com um braço na passagem — Kýrios?
— Você está nervoso James.
— É claro que estou nervoso! Daqui a pouco vamos enfrentar pássaros carnívoros!
— Não. O que estou sentindo é outro tipo de estar nervoso… — se levantando rápido e se aproximando só um passo, inspirou o ar ao redor do moreno, arregalou os olhos, e logo tratou de se afastar — Hm, você está excitado James.
— O-o quê? N-não! Não estou! Quem está duro aqui é você não sou eu!
— Estou assim por reação. Eu sinto James, sinto meus lábios formigarem… — de repente arqueou uma sobrancelha e sorriu de canto — Você, James, por acaso… me beijou?
— Eu te beijar? Ha ha, só pode ter sonhado mesmo, ou melhor, foi mesmo um sonho! Agora, se me der licença, eu tenho muita coisa pra fazer… Kýrios!
O deus lhe cercou, colocando apoiadas na parede uma mão em cada lado perto dos ombros do rapaz, que ficou entre elas, seu coração batendo ainda mais por aquela ação repentina.
— James… Porque você sempre esquece que sou um deus? E ainda por cima, um deus que consegue sentir a quilômetros um ponto de energia de excitação.
— E-eu não me esqueço! E-e é você quem está sentindo ou vendo coisas demais ou completamente equivocadas!
— Sério? Hm, e porque então consigo ver resquícios meus em seus lábios?
— O quê?!
— Vou contar um segredo, James. — se aproximou de seu ouvido — Cada deus, quando se sente curioso, se concentra em sua divindade, e consegue ver rastros do dom que lhes é de função quando está em algo. Eu não sei como é a cor dos outros, mas os meus vestígios são levemente avermelhados. E sua boca está manchada, como se estivesse usado um rouge e borrado todo ele. Ah… James… — disse, voltando a olhar nos olhos do rapaz, e inclinando a cabeça pro lado, exibindo um sorriso de canto.
Se vendo sem saída, a única coisa que lhe restou fazer era ter que admitir seu “crime”, mas não sem antes de explicar.
Mas isso foi impedido quando o deus acariciou seu rosto com a ponta dos dedos, passeando até que chegasse aos lábios.
— K-Kýrios… — sussurrou seu nome, seu corpo se aquecendo ainda mais pelo toque, e por causa disso, insistiu em argumentar — Kýrios, não é nada disso que está pensando! Você estava fraco, não ia acordar tão cedo, e e-eu lembrei de um fato que poderia ajudar! F-foi isso! Não confunda as coisas!
Fitando o rapaz por longos segundos enquanto absorvia aquela informação, sorriu de canto aceitando a explicação.
— Agradeço, James.
— D-disponha. Agora será que pode me libertar?
— Não.
— Não?
— Tenho que devolver o favor.
— C-como é?
— Tenho que te salvar também. Só relaxe.
Sem mais quaisquer detalhes do que ia fazer, atacou os lábios do moreno.
James, nem sequer fez algum movimento de resistência, e assim que o deus forçou a entrada de sua lingua, deixou-se dominar, e correspondeu aos impulsos que sentia o deus lhe passar naquele beijo.
Era perfeito, era ainda melhor agora que o deus estava acordado, tomando sua boca com aquela paixão que deixava seu coração confuso, pois não sabia se o deus estava fazendo algum encanto ou se estava cedendo aos seus próprios desejos.
E apostava que fosse o primeiro…
— Kýrios… — gemeu entre o beijo, recebendo um pequeno riso contido do deus ainda com seus lábios grudados nos dele.
— Você não está relaxando James… — sussurrou, e voltou a beijá-lo, franzindo o cenho em um momento, separando as bocas para encarar o rapaz.
— O que foi? — perguntou.
— James… há algo estranho… — disse, ficando inquieto — Tente relaxar por favor.
— Não tem como relaxar se… céus…! — assustou-se, sentindo uma parte bem específica do deus encostar em sua barriga, logo um pouco acima do umbigo, fazendo-o recostar ainda mais as costas na parede pelo espanto e numa tentativa de resistir a aquela aproximação.
E por isso ergueu sua mão para afastar o peito do deus, mas acabou sendo capturado pelo desejo de tocar mais naquele corpo quando a palma ficou sobre o tórax do outro.
— Kýrios… seja qual for esta ajuda… não está funcionando! Pare de me provocar!
— Você tem que… — respirou fundo, mas não se contendo em beijar mais um vez, e parecendo se forçar a se separar da boca do outro, lhe encarou com um ar preocupado — James, por favor, tente pensar em coisas neutras. Ou então não conseguirei parar. Meu eu está implorando para… — fechou os olhos, e balançou a cabeça em negativa —… quero tirar meus resquícios de você. Não posso deixá-lo sofrendo assim. Esses resquícios podem te fazer mal e…
— Ah… então é isso… Porque não me falou isso logo? — disse, ofegante, se arrepiando toda vez que o deus movia a mão em sua nuca, apertando-a sutilmente enquanto afundava seus dedos entre seus fios.
— Porque… — fitando por longos segundos as profundas orbes verdes do moreno, sentiu algo muito forte em seu peito, o que lhe deixou confuso, ainda mais preocupado e um tanto receoso, além disso havia algo no rapaz que o paralisava, que fazia sua mente esvaziar e somente tê-lo preenchendo qualquer racionalidade que se esforçava em ter — Eu me esqueci.
— Bom, agora que lembrou, acho que podemos seguir em frente…
— “Seguir em frente”?
— Sim, com você fazendo seu favor a mim! Tira logo essa.. coisa, esse resquício de mim!
— Sim… — disse, se aproximando de novo.
E dessa vez, puxando o rapaz em um choque brusco que deixou seus corpos completamente juntos.
James sentiu suas pernas amolecerem, e se não fosse pelo deus lhe segurar já teria perdido toda sua dignidade caindo sobre seus próprios joelhos.
— Kýrios…
— Se concentre, James.
— Sim… vou me concentrar… — disse.
E não aguentando mais a espera pelos lábios do deus que parecia brincar roçando sobre os seus, puxou-o pela nuca, e uniu novamente suas bocas.
E de novo voltou ao céu…
Era deliciosamente incrível como beijar o deus lhe proporcionava um prazer indescritível, era como se ele conseguisse encontrar todos seus pontos fracos somente usando sua língua, se encontrando com a sua e lhe fazendo ter a sensação vulnerável e submissa passar por todo seu corpo, e temia que se continuasse, em algum momento, se o deus pedisse ou isso além, se deixaria levar sem pensar duas vezes.
— Já estou quase terminando… — avisou entre o beijo, este que parecia se tornar mais intenso a cada segundo.
— Não… — murmurou de um jeito manhoso, confuso, envolvendo o pescoço do deus entre seus braços, sabendo que era uma falha tentativa de prendê-lo, já que até seus braços tinham perdido um pouco da força.
Rindo contido, o deus moveu uma de suas mãos, envolvendo a cintura agora, apertando, aproximando seus quadris sem querer, tendo como reação um gemido tímido, porem muito verdadeiro do moreno:
— Hmg~…
Ouvir tal som fez algo impremeditável acontecer…
Apertando com um pouco mais de força a cintura do rapaz ao mesmo tempo em que segurava sua nuca, o deus sentiu-se muito tenso, não conseguindo executar tal tarefa de tirar dele a tal excitação e resquícios de luxúria… e o erro de cálculo cobrou seu preço.
— ahm… Kýrios… e-eu acho que… — disse, não resistindo de mover seu quadril contra a do loiro.
— Hmmg…! James…! o que você… — gemeu, enquanto segurava e apertava o rapaz contra seu corpo.
E um indicio de despero por parte do deus veio…
James estava tão absorto naquele véu de desejo que não havia percebido a hora em que o deus se separou de sua boca e apoiou seu rosto na curva de seu pescoço, ao mesmo tempo em que reagia se contorcendo, gemendo baixo enquanto parecia se esconder. E o mais estranho era também suas asas, agora vísiveis, abertas e com penas eriçadas.
— Ãh…? Kýrios? — o chamou, notando também todos os músculos do outro muito tensos enquanto o segurava.
— Feche… os olhos, James. — pediu, sua voz saindo baixa e um pouco afetada.
— Kýrios, está tudo bem?
— James, fechou os olhos?
— Sim, sim, fechei… — disse, fechando-os, ofegando quando o deus moveu sua cabeça, parecendo trêmulo, e encostou seu nariz na curva do pescoço, inspirando forte, mas parecendo tentar se conter de novos estremecimentos.
— Que bom… hgm… os mantenha assim… deuses… — disse, de repente se afastando, mas sem se desvincular do rapaz por completo, mas deixando-o com cuidado no chão antes de se afastar de vez e virar-se de costas rapidamente.
— O que houve? Posso… abrí-los agora?
— Não! Espere só mais um segundo…
James só ouvia a movimentação do deus, agora longe em algum canto do quarto, e o farfalhar de suas asas, assim como os passos apressados e irregulares, pois não se conseguia definir um padrão para onde estava indo, parecia… também tropeçar?
Mas após alguns mais outros longos segundos, sentiu sua camisa ser tirada, e imaginou que algo mais ousado aconteceria, mas ao em vez disso um tecido macio lhe cobriu, por completo da cabeça aos pés.
— Kýrios? O que você está fazendo?
— Está de olhos fechados ainda?
— Sim, estou. E se não me disser o que está acontecendo eu vou abri-los agora.
— Não! Você… você não pode ainda!
— Estou ficando impaciente Kýrios.
— Só mais um segundo!
— Acabou os segundos.
Quando James tirou o lençol de sua cabeça, a única coisa que conseguiu ver foi uma janela redonda escancarada com o vento soprando e balançando as pequenas persianas, e um quarto cheio de penas espalhadas por todos os cantos como se tivesse acontecido ali uma rinha de galos.
Confuso, respirou fundo para se acalmar ainda de seus impulsos de lúxuria que ainda sentia passar pelo seu corpo, e ainda muito mais do que antes.
— O que será que aconteceu…? E onde está minha camisa? — perguntou, tentando focar a mente em deduzir pelos rastros deixados e pela reação tão atordoada do deus.
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Capítulo 38
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Missão Ágape
O Olimpo está em crise, e tudo porque de repente uma profecia disse que um deus iria dizimar o seu sistema e tudo que eles lutaram para conquistar e poderem estar no poder até hoje.
E é...