Capítulo 41
E finalmente houve descanso, três dias de uma folga verdadeira com direito a um pouco de turismo, pelo menos só no centro de Tókio, onde o deus da morte via no mapa de monstros que não tinha nenhuma ameaça por perto.
Tudo por causa do ultimo ocorrido, que causou um pequeno reboliço nos seres que ficaram responsáveis em guiar os pássaros…
A essência de morte de Tânatos também saiu do corpo de cada um, que voltou a sua aparência original. Somente o deus do amor que ainda ficou um pouco… de mal humor, por ainda não gostar que o rapaz teve isso em seu corpo por esses dias.
James por outro lado, tentava buscar uma resposta para aquele comportamento, e o único que aparecia em sua mente era o que sua protegida tinha falado: “Deus do amor ter sentimento ruim por você, shifu. Deus do amor ter muito, muito agora ciúmes”.
Claro, ao ouvir isso James se engasgou em seu saquê quando estavam em um restaurante somente ele, a moça e o gigante, enquanto que os dois deuses tinham ido vasculhar a área e ir atrás de mais informações sobre a região, vasculhando se por ali não tinha alguma divindade grega ou daquele domínio.
Mas havia um porém para que não acreditasse naquela possibilidade de “ciúmes” vindo do deus do amor: Psiquê.
Como ele podia estar com ciúmes dele se toda hora se orgulhava em dizer que amava sua deusa e que estava louco para encontrá-la?
Isso fazia seu astral murchar, mesmo que. não entendesse o porquê.
— …eu sei, eu sei, não me arrependo. Pelo menos, agora vocês tem a liberdade de usar seus poderes em qualquer lugar. Mas… Droga, não pensei que ficaria tão fraco assim o raio de alcance. — disse James apontando a lança para todas as direções. As vezes vibrava, e depois parava, parecia que o tempo todo a tal pista mudava de lugar. Estava já a mais de duas horas tentando manter aquela vibração quando resolvia colaborar com sua busca.
— E se nós nos separarmos toda vez que a lança vibrar? Talvez conseguiríamos cercar o seu endereço. — sugeriu Kýrios.
— Não. Separarmos seria o mesmo que nada. Como vocês saberiam para onde continuar procurando? — questionou James.
— Poderes? — disse Li-Hua — Eu não ter. Mas eles ter.
— Sim, Li. Eles têm poderes. Mas o negócio é que há seres muito mais fortes que poderiam pregar peças ou os envolver em armadilhas. Esses três dias de calmaria só podem significar uma coisa: confusão. Creio que estarmos juntos é o melhor caminho.
Li-Hua franziu o cenho tentando entender aquele raciocínio. Afinal, todos menos o deus da morte tinham um fragmento da lança, tinham agora um certo poder que poderiam usar livremente, então saberiam se defender e cobririam mais áreas que pudessem logo já ser descartadas para não mais ser procuradas.
Tókio era uma cidade muito grande… Daquele jeito levariam meses para encontrar algo.
— A lança! Está vibrando e novo! — avisou James, já correndo para uma direção, e diferente das outras vezes, a direção era constante, sem qualquer mudanças de norte.
Aproveitando antes que pudesse ocasionalmente mudar, James correu.
Os transeuntes olhavam para aquele grupo que corria atrás de algo, estes que nenhum deles se importava, estavam tão focados em encontrar o que queriam que não ligavam se eram logo tachados de estrangeiros baderneiros ou malucos que saíram de algum manicômio.
Sorte que nenhum policial ou qualquer autoridade os pararam para revistá-los ou prenderem todos por perturbação.
A corrida os levou até um prédio que parecia estar abandonado por muito tempo, havia até algumas partes faltando do telhado.
— Preparem-se. — disse James, quando a lança começou a vibrar com mais intensidade em uma direção única.
Havia uma mulher toda vestida de branco, seus longos cabelos pretos estavam em parte soltos embaixo e presos por uma presilha entalhada em madeira muito bonita, mas que era muito diferente das características daquela cultura.
— Deuses… — disse Kýrios, com olhos fixos na mulher. Seu cenho era o e alguém que estava tentando entender algo que não se encaixava em seus pensamentos.
— Conhece aquela mulher?
— Nunca a vi na minha vida, mas o objeto que ela usa em seus cabelos… — interrompeu-se tomado por uma forte dúvida que pairou sobre sua mente.
— Kýrios! — lhe chamou James, tentando impedí-lo de seguir assim tão impulsionado pelo que viu.
Mas foi em vão, pois o deus caminhou até a mulher sem ao menos pensar na possibilidade de a mesma ser alguma armadilha ou coisa pior.
O grupo todo também foi atrás, e quando o deus do amor parou diante da mulher, a cumprimentou:
— Ohayōgozaimasu./ Bom dia. — disse o deus.
A mulher, de feições muito bonitas e gentis, parou o que estava fazendo, uma costura de uma peça pequena, era lindo em seus detalhes pasteis e florais. Se virou, levantando sua cabeça para olhar para o deus.
— Tonikaku, anata wa kimashita./ Enfim, você veio. — disse, lhe dando um cumprimento gentil com um aceno de cabeça.
— O que ela disse? — perguntou James.
— Parece que já estava esperando por nós a muito tempo… — respondeu o loiro, ainda absorto naquele enfeite preso aos cabelos da jovem mulher.
— Muito tempo? Quanto?
— Ela não é mais uma mortal. — disse Tânatos, dando um passo a frente ao notar algo.
A moça sorriu triste, seus olhos gentis pareciam marejados depois de ouvir aquilo do deus.
Li-Hua se aproximou de repente, seu olhar fixo na jovem mulher lhe despertou algo que James não entendeu até a mesma se aproximar e pegar a mão da outra.
— Shifu… Ela ser mãe. Mas não também não mais. Ela querer ajudar. Mas não poder muito.
A mulher de branco deu um aceno de cabeça em positivo, e se levantou indo em direção à James, que deu um passo para trás, mas a mulher insistiu, indo um pouco mais para frente e colocando uma mão em seu rosto.
James sentiu o toque ser frio, não havia nenhum tipo de calor, mas parecia ser acolhedor, bondoso, o que era estranho.
— Watashi wa kare no sewa o shimashita. Shikashi, kare wa hokanohito-tachi no ma de maigo ni narimashita. Watashi o yurushite./ Eu cuidei dele. Mas ele se perdeu entre as outras. Me perdoe.
O rapaz olhou para o deus buscando respostas.
— Ela disse que estava cuidando de alguém, mas o perdeu. — Kýrios traduziu, ficando mais intrigado e curioso — Kaminoke ni aru kazari wa doko de teniireta nodesu ka?/ Onde conseguiu esse enfeite que está em seu cabelo? — perguntou.
— Sore wa kanashī shōjo, kin’iro no kami,-iro no tsuita me to hachimitsu o ataemasu. Kare wa kimyō ni hanashimashita, kare wa kare jishin ni hanashimashita./ Dá moça triste, cabelos dourados, olhos cor de mel. Falava estranho, falava consigo mesmo. — respondeu a mulher de branco.
O deus suspirou atordoado e deu um passo para trás de modo tonteado, e derramou uma lágrima, sua respiração descompassou emocionado.
— É Psiquê! Foi ela! Deuses, ela esteve aqui! Eu quem fiz esta presilha! — muito entusiasmado, continuou em sua indagação — Kanojo wa watashi ni tsuite dō iimashita ka? Watashi ni nanika nokoshimashita ka? Messēji wa arimasu ka?/ Ela falou e mim? Deixou alguma coisa para mim? Alguma mensagem? — perguntou mais uma vez o deus. Estava muito ansioso.
— Īe, messēji wa arimasen./ Não. Nada de recado.
E então o semblante cheio de expectativas murchou.
— Mattaku arimasen?/ Nenhuma mesmo?
A moça fez que não.
O deus ficou inquieto, seus olhos ainda mais marejados estavam prestes a desaguar mais algumas lágrimas.
— Kýrios, talvez ela não tenha tido tempo para isso. — disse James, deduzindo qual era o conteúdo do que o deus falava para a moça.
— Como não? Poderia ser somente um “Estou bem meu amor”, “Eu te amo”, “Estou fazendo isso por nós”, ou somente algum código nosso que usávamos em nossos momentos íntimos. Qualquer coisa!
— E esse enfeite no cabelo dela? Talvez seja isso um sinal dela. — supôs Panoptes.
— Isso não pode ser um sinal.
— Porque não? Não foi algo que você fez pra ela? — questionou James.
— Sim! Foi. E é por isso que não pode ser uma mensagem.
— Eu realmente não estou entendendo, Kýrios.
O deus bufou, enxugando os olhos, e respirando fundo ajeitou sua postura.
— Depois daquela flor de lótus eu pensei que… mas agora isso é… — o deus respirou fundo, os olhos parecendo ficarem mais entristecidos — Olha, não precisam entender. Aliás, melhor prosseguimos em nossa investigação aqui. Podemos?
James fez que sim, entendendo que o deus estava omitindo algo que não queria falar naquele momento, talvez era algo muito doloroso para ser compartilhado assim na frente de todo.
— Kite./ Venha. — disse a mulher de branco, puxando a mão do rapaz, que olhou para todo mundo, buscando ajuda ocular, e o único quem lhe deu uma resposta confiante de que poderia ir segui-la sem medo foi Tânatos.
Mesmo assim, tremendo um pouco por dentro, James seguiu, sozinho, para dentro da casa.
Kýrios também foi, e não tendo algum impedimento da moça, seguiu um pouco atrás do rapaz, que era puxado por sua mão pela mulher.
A casa assim como se mostrava por fora, era o mesmo por dentro. Tudo escuro, exceto pelas frestas que iluminavam alguns cantos dos cômodos. Alguns até davam para ver outros por conta de suas paredes estarem destruídas pelo tempo.
O corredor era a parte mais limpa, devido talvez ao fato de a mulher sempre caminhar por ali. O que era estanho também eram que em algumas das entradas dos cômodos haviam plantas aleatórias: rosas, musgos, crisântemos… uma variedade que parecia não ser típica daquele lugar.
— Posso saber seu nome? Me desculpe a indelicadeza. — disse James. A mulher parou, se virou, e lhe sorriu sem mostrar os dentes. E depois continuou sua caminhada tranquila em busca de alguma porta que ela queria que James visse.
— Acho que ela deve ter se esquecido do nome. Tânatos disse que ela não é mais mortal. Ou seja… possivelmente uma alma errante que teve suas memórias levadas pelo tempo. — sussurrou para James, que assentiu.
A mulher de branco então parou em frente a porta de um cômodo, e ergueu o braço, apontando para lá, indicando para o rapaz entrar. James olhou para a mulher, depois para Kýrios, que lhe deu um aceno de cabeça para dizer que estava ali e que iria junto, lhe dando força e coragem para seguir em frente.
Engolindo em seco e respirando fundo, e estando com muito medo de ser uma armadilha, James se aproximou da porta, e abriu.
Seus olhos se impressionaram ao ver que diferente de toda a casa, ali dentro era bem iluminado. As paredes eram brancas, o ar parecia brilhar junto de alguns vagalumes que iam e vinham como dentes-de-leão, flutuando suaves no ar.
O cômodo era grande, e em vez de futons e mobílias, haviam berços, e crianças soltas brincando perto da janela. Todas não passavam dos quatro ou cinco anos de idade. Pareciam saudáveis e cheias de alegria enquanto montavam seus castelinhos ou pintavam e desenhavam em seus papéis.
Dando passos cautelosos, James se encaminhou pelo meio daquele corredor de berços.
— Todas elas estão…
— Mortas. — disse Kýrios com cenho franzido, olhando para os berços e vendo bebês dormindo tranquilamente. James também via, e tentava achar algo de anormal.
— Entendido… — engoliu em seco.
Claro que aquilo tudo era uma coisa completamente fora do normal, mas já tinha visto tanta coisa até aquele momento coisas horríveis que quando via algo mais leve como aquilo seu instinto de sobrevivência procurava por algo macabro que pudesse colocar sua vida em risco.
Uma coisa que James percebia era que todos eles tinham uma chave amarrada a um cordão de couro em seu pescoços, e todos pareciam estar absortos em seus mundos, como se a presença dos dois ali não afetasse suas rotinas.
— Veja, aquela ali parece diferente das demais. — comentou Kýrios, indo até uma criança que estava brincando dentro do berço, parecia muito entretida em seus bloquinhos de letras estranhas, letras que James achou que eram japonesas por conta dos traços firmes.
A criança tinha uma estrutura rechonchuda, seus cabelos pretos e lisos eram tão finos que pareciam que a qualquer toque iriam se desmanchar. Era realmente uma criança muito bonita, mas a pele era extremamente pálida, assim como as demais.
Quando o deus ergueu sua mão para poder tocar o pezinho e poder chamar a atenção da criança para si, a criança ergueu a cabeça e lhe mirou fixo.
O deus deu um pulo para trás junto de James, que ficou inquieto e incomodado pelo olhar vazio da criança.
— Acho que ela não gostou de você. — comentou.
— Tem razão. Vamos para a próxima! — disse o deus.
Os dois foram para o berço da esquerda, onde havia uma menina de vestido cinza, deixando ela mais pálida do que já era.
Dessa vez foi James quem tentou chamar a atenção da menina, movendo de leve o bracinho da boneca que a mesma abraçava.
E como a primeira criança, a mesma ergueu seu olhar vazio para ele, que sentiu um frio na espinha, temeroso pela reação medonha e estranha.
— Céus, essas crianças me dão arrepios. — comentou deus, se afastando junto do rapaz e daquele segundo berço.
Os dois então se encaminharam para onde havia as crianças maiores sentadas ali no chão pintando e desenhando, se aproximando sempre de forma cautelosa para que se mantivessem em segurança se caso acontecesse um motim de assassinos infantis.
Foi o que James pensou na hora ao olhar para o que aquelas crianças carregavam em suas mãos: penas, facas, pedaços de vidro, farpas do tamanho de uma colher e que poderia ser mortal tanto quanto uma faca, e tesouras, das mais diversas cores tamanhos.
— Será que é para encontrarmos a criança certa? Ou será que é para encontrar a chave certa que está em uma delas? — perguntou Kýrios.
— As duas coisas que disse são a mesma coisa, mas, sim, creio que se acharmos a criança certa, esta terá a chave também certa. Que sentindo faria se não?
— Eu não sei. Só imaginei que estamos numa “prova” muito fácil para ser assim. E isso é culpa sua. Que me está me fazendo ter essas percepções mais sombrias e malucas de tudo.
É, James poderia ter sido criado com tudo que havia do bom e do melhor, mas sabia que não havia somente beleza naquele mundo cor de ouro em que vivia. E talvez por isso morresse de medo de passar fome e viver na miséria. E por sorte, mesmo com todos esses acontecimentos, Kýrios ainda conseguia manter ele o melhor possível das necessidades.
As vezes até demais…
— Desenhos estranhos. — comentou o deus.
James então se pôs a prestar atenção no que as crianças desenhavam, e ver o que elas criavam o fez sentir um novo arrepio ruim passar pela sua espinha.
Cada criança usava um lápis de giz de cor diferente, e cada uma delas desenhava compulsivamente uma coisa em seus papéis: Uma boneco de cabelos compridos, uma outra pessoa carregando algo nas mãos que parecia uma caixa, uma outra fazia o desenho de uma foice, outro desenhava um boneco menor caído no chão, e por fim, a ultima criança desenhava o mesmo boneco menor, só que dentro de uma caixinha enquanto segurava uma chave.
Kýrios ficou estático ao olhar para aqueles desenhos.
— James… Você está pensando no mesmo que eu…?
— Sim, mas também há uma coisa que pode explicar isso… Tân não é culpado de nada. Então tire esse pensamento da cabeça agora.
— Por deuses, James, como vou fazer isso? Como não olhar para esses desenhos e não imaginar que meu amigo…
— Como eu disse, pare de pensar nisso. Não tire conclusões precipitadas… Assim como fiz anteriormente… Essa foice não quer dizer nada. Aliás, essa foice pode indicar muita coisa. A simbologia dela sempre vem com ceifar algo, até em baralhos ciganos tem isso. Presumo que a criança que esteja aqui com a tal chave certa foi “ceifada” por alguém muito importante que ela não imaginava que faria isso.
— E como uma criança dessa idade pode imaginar isso? Não tem como. Esse conceito não existe para elas.
— A não ser que essa criança não seja normal. Talvez… Sim! Deve ser isso!
— James? O quê? O que foi que descobriu?
— É só uma suposição. E torça para que eu esteja certo! — disse, voltando aos berços.
O deus lhe seguiu logo atrás, estava ficando inquieto com a inquietude do outro enquanto observava para todos os nove berços que haviam por ali e depois para as sete crianças que desenhavam no chão e em seus respectivos papéis.
— Cada uma tem uma cor diferente de giz. Formando um arco-íris. E pelo que eu me lembre, a uma deusa grega com esse nome, não?
— Sim, a Íris! Deusa das mensagens.
— Exatamente. Isso significa que aquelas crianças são uma massagem. Cores do arco-íris… vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, índigo e violeta. Mas há uma delas que não está com essa cor de lápis. — James voltou à criança, e achou a que desenhava com a cor que não fazia parte daquele grupo de cores — Kýrios, você pode me dizer o que aquela criança está desenhando?
— A que está com lápis preto?
— Sim, e não se aproxime muito, pode acarretar de estragar a pista ou assustá-la.
— Hm… Bem… Parecem números, em japonês. De um à doze. Mas parece que ela pula os números três, quatro e o nove.
— Então ao todo são nove números. Isso é bom.
— James, o que está havendo, pode me explicar?
— Calma, agora não. – disse, indo novamente aos berços.
Haviam nove berços, e todas as crianças tinham uma chave em seus cordões, e em cada uma delas, para onde James olhava, haviam também os mesmos números que pareciam estar ali desenhados, só que um pouco diferente…
— Traduza para mim, com bastante atenção por favor, quais são os números que estão nas chaves dos cordões deles? — pediu.
O deus olhou para cada uma das crianças, e novamente contou os números:
— Hm, está tudo certo, de um à nove.
— Quais crianças tem os números nove, três e quatro?
— Essa que está com um cubo a direita tem o número três, lá no fundo a esquerda que tem cabelos cacheados está com uma chave de numero nove, e essa a direita, ao lado que tem o berço número três está com a chave quatro.
— Boa! — James então foi primeiro na criança que tinha a chave com o número nove, parando em frente ao seu berço, logo a mesma lhe mirou com aquele olhar vazio e estranho e começou a chorar alto.
— James, o que aconteceu com ela?
— Nada. Aliás, eu tenho que fazer algo.
— Como o quê?
— Eu realmente não sei.
James começou a observá-la, tentando deduzir o que ela queria, mas nada lhe vinha a sua mente do que aninhá-la em seus braços para acalmá-la.
Então foi o que fez.
— James! Cuidado!
— Está tudo bem… Só… torça por mim. — disse, erguendo a criança do berço e a colocando entre seus braços, aninhando a cabeça dela em seu peito.
O jeito como ele a balançava era como se já tivesse feito isso a tempos, e parecia estar familiarizado, tinha a sensação disso.
Mesmo tendo um irmão pequeno, ele nunca o colocou para dormir, isso era função de suas amas de leite.
A pequena garotinha a cada balançar se acalmava, puxando com uma mãozinha a camisa do rapaz, e mesmo que seus olhos se fechassem, sua feição era sofrida.
— Ela deve estar com algum problema. — comentou Kýrios.
— Hm, talvez com fome?
— Talvez, quando um de meus trigêmeos ficava assim era porque…
— Trigêmeos? — se espantou com a informação, havia se esquecido totalmente que aquele deus tinha descendentes e ficou um pouco sem graça com isso.
— Sim, hahaha. Sabe como é… Passei tantos anos sem ninguém e quando tive minha primeira vez com Psiquê, acho que lhe dei todas minhas férteis e perfeitas sementes. Fiquei assustado, mas muito, muito feliz quando eu soube que ela estava começando a carregar um fruto nosso… Ah, me desculpe divagar sobre isso… James, está chateado?
James não sabia o que comentar sobre aquilo, mas sentia suas bochechas esquentarem ao ouvir isso sendo falado tão naturalmente como se ele estivesse lhe oferendo um chá das seis.
— Não, não… não estou… só fiquei impressionado em saber que uma pessoa como você tenha filhos.
— Uma pessoa como eu? O que está querendo dizer?
— Continue Kýrios. Me mostre alguma técnica paterna. — disse, querendo mudar de assunto sobre aquilo.
— Está bem… Continuando… Hedonê, a primeira dos três, uma vez teve cólicas, essas coisas de bebês, e então Psiquê lhe fez uma massagem em círculo sua barriguinha, da direita pra esquerda. Ela me ensinou que isso solta e pressiona o intestino para um lugar certo, e alivia as dores. Mas nunca isso a acalmou… não sei se era birra… Mas tente isso.
James sem hesitar fez o que o deus lhe aconselhou, massageando em círculos a barriga da criança, que aos pouco foi deixando aquele semblante sofrido, e enfim, parando de choramingar.
— Acho que ela se acalmou…
— Você a segura de forma tão confiante… Não sabia que tinha jeito com crianças. — sorriu de canto, admirando a habilidade do rapaz.
— Nem eu. — disse James, abaixando seu olhar para garotinha, a mesma se encontrava quieta agora.
Até demais…
— Kýrios! Ela parou de respirar!
— Mas elas já não estão mortas?
— Então porque parou de respirar?!
— Então… Não estão mortas?
— Kýrios!
— Ok! Deixe-me ver… hm… — o deus se aproximou, e verificou o pulso da menininha. Sua expressão ficou confusa — Está pulsando… Mas porque ela não respira?
— Droga… Talvez…
Olhando para a menininha, a via ficar com as bochechas cada vez mais violetas, como se o ar não quisesse mais entrar em seus pulmões, e por isso o deus mirou para seu pescoço, tendo logo uma ideia:
— Tire essa chave do pescoço dela, agora!
— Tirar? Mas, isso não causaria alguma coisa?
— Eu não sei! Mas meus instintos estão me dizendo para tirar isso!
— Ok, tudo bem… lá vai. — James então arrebentou o cordão, tirando-o do pescoço da pequena menina, que voltou a respirar, mas ainda sim se manteve com olhos fechados, e agora dormia tranquila.
— Guarde essa chave. — pediu James, e o deus acatou, colocando-a em seu bolso.
James aproveitou e logo colocou a criança de volta ao seu berço, se ficou aliviado ao ver que a menininha continuou dormindo tranquila. Sem sustos ou surpresas desagradáveis.
Sem perder tempo, foi até uma outra criança, a que tinha o numero três em sua chave, essa tinha em seu colo uma espécie de estrelinha em forma de pelúcia, e a mesma brincava alegremente, até parar de se agitar e virar sua atenção para o rapaz que parou em frente ao seu berço.
— Para mim? — perguntou, ao ver menininho lhe oferecer o seu brinquedo.
E o mais estranho foi logo a criança do berço vizinho começar a chorar.
— Parece que ela não quer que este menininho lhe dê o brinquedo. — disse Kýrios.
— Então o que eu deveria fazer? Não aceitar?
— Talvez seja isso.
— Não. Talvez seja exatamente isso. Que Deus me ajude… — James respirou fundo, se aproximando com muita cautela da criança que lhe oferecia aquela estrelinha. Seu coração ficava cada vez mais apertado, e uma sensação muito ruim lhe invadia o peito, junto de uma vontade estranha de chorar.
Era uma decisão difícil… Aceitar ou não aceitar? Parecia que toda vez que começava a ficar decidido para aceitar, a criança com chave de número quatro ao lado chorava com mais intensidade, o que fazia James recuar por medo, e pela dor de perda estranha.
— James, vá em frente. — incentivou o deus, vendo-o num dilema interno e muito doloroso.
— Eu quero, mas não consigo… Algo está me fazendo não seguir em frente… — disse, sua voz embargada cada vez mais evidente.
— Tudo bem. Então, faremos isso juntos, ok? No três. — avisou — Um… Dois… Três!
Juntos, pegaram a estrelinha da criança, que paralisou seu olhar tristonho e depois, sem explicação, caiu deitada.
E o mesmo, aconteceu com a outra.
— Deuses! Ambas… pararam de respirar! James! Acho que fizemos algo de errado! Ah malditos titãs! O que nós vamos fazer! — disse, pegando em seus braços a criança com a chave de número quatro, e arrancou seu cordão, a embalando para ver se conseguia fazer o mesmo como foi com a primeira — James! Não fique parado! Pegue essa outra e a embale!
— Não posso. — disse, seus olhos deixando cair algumas lágrimas.
— James! Podemos salvá-las! É só fazermos como a criança da chave nove! Vai dar certo!
— Não Kýrios. Não vai dar certo.
— É claro que vai! — disse o deus tentando embalar da melhor forma que podia aquela criança, mas ela não acordava — James!
— Kýrios, elas… não tem mais vida. — disse, sua mão trêmula enquanto segurava aquela estrelinha de pano — Não tem mais como.
— Como não?! É só fazermos o mesmo processo! Arranque o cordão desse menininho!
James fez o que o deus sugeriu, arrebentando o cordão junto da chave, mas nada aconteceu. Nenhuma das duas crianças acordou.
Kýrios estava desesperado, mas ao ver o moreno desistir de salvá-las, decidiu ir confortá-lo.
— James, olha, tudo bem… É claro que uma hora poderíamos falhar… Essas coisas estão fazendo você ir além de suas capacidades. Então, não se cobre tanto. Saiba que não estou bravo. Mas também saiba que estou aqui, e não vou desistir de você por isso.
— Kýrios. Acho que nós fizemos a coisa certa.
— O que disse? — perguntou confuso.
James enxugou os olhos, fungou e depois direcionou seu olhar para o deus.
— Olhe para a criança que está segurando, Kýrios.
O deus imediatamente direcionou seu olhar do rapaz para a criança em seus braços. Se não fosse pelo berço estar muito perto, derrubaria a criança no chão.
— O que… O que é isso?! O que está acontecendo?!
A criança tinha virado um feto todo ensanguentado, já era um bebê bem formado, mas parecia ter sido tirado mesmo assim da barriga de sua mãe. Até com cordão umbilical estava ainda. E para piorar, o sangue que cobria seu minúsculo corpo estava misturado um icor dourado, emanando uma aura, também dourada, que o deus sentia e distinguia com exatidão de quem era.
— James… Isso não poder ser real… É… — engoliu em seco —é claro que não é…! O meu filho… eu o deixei no templo de minha mãe! Isso não é real! É algo para nos assustar!
James se aproximou, e pegou uma mão do deus, e pôs em sua palma a chave de número três.
— É real, Kýrios. Tão real que… eu não sei como explicar, mas, este bebê… É o mesmo que…
— Está respirando! — Kýrios se assustou quando de repente o bebê tossiu.
Quando tentou ajeitá-lo mais perto, o feto se desfez, virando uma pequena luz, que se dispersou no ar em breves segundos.
— Não, não, não, não, não! Para onde ele foi?! James, me explique o que está acontecendo! — exigiu, indo até o rapaz e lhe segurando pelos ombros firmemente, sujando a camisa do rapaz.
— Uma vez eu estava lendo sobre superstições deste país… Era uma das vezes quando meu pai me colocava de castigo para ler algo… e naquela vez tive que ler sobre a cultura japonesa, sobre suas artes… mas dentro desse livro também falava um pouco de suas superstições…
James fechou os olhos, e balançou a cabeça em negativa.
— Nove, eles acham aqui como um numero de sofrimento. Quatro, número de morte. Mas havia também o número quarenta e três… que se referia a natimortos. Está conseguindo me entender?
— Estou tentando… Por favor, continue!
— Aquelas crianças desenhando, sete cores, e uma que não fazia parte do arco-íris, era uma mensagem da deusa Íris. Ela deve ter ajudado Psiquê a esconder essas chaves, e fez isso através desse enigma… Deve ter também encontrado essa youkai, uma Ubume, para sequestrar essas crianças. Diz na lenda que é o espírito de uma mulher que faleceu no parto ou, sobre uma mulher que morreu para garantir a sobrevivência do filho. Psiquê estava grávida quando sumiu, não? É claro que ela de alguma forma convenceu Iris e mais alguém a ajudá-la a tirar a alma do bebê e guardá-lo em algum lugar, então, o bebê que Zeus matou era só um corpo, não tinha mais alma ali, a não ser a essência de deuses de vocês dois.
— James, por favor, estou ainda muito confuso…! É muita coisa para assimilar!
— Quatro e três, quarenta e três. Número de má sorte para japoneses. Número de natimorto. Psiquê teve um bebê de qualquer forma, mas foi um natimorto por condições precárias… Ela protegeu a criança colocando-a aqui. Mas alguma coisa deu errado… Alguém levou a alma de seu bebê. Deixando novamente, para trás, somente a essência divina.
— Como pode saber tudo isso? Como pode ter deduzido todas essas coisas?!
— Kýrios, eu realmente não sei! Só sei que quanto mais seguimos nessa busca, mais minha mente começa a funcionar. É como se tudo estivesse se limpando, abrindo… E eu… Não me sinto bem… — disse, cambaleando um pouco, mas para sua sorte, Kýrios ainda estava lhe segurando pelos ombros.
— Pode ser pelo fato de ser um Pista de Parca? Pode ser que todas as respostas estejam aí dentro, mas tudo isso que vamos encontrando podem ser gatilhos de abertura para as informações que estão guardadas dentro de você! É claro! Como não pensei nisso antes! James, você não é somente uma bússola, mas também uma espécie de caixa de respostas!
— Ah, me sinto muito melhor pela grande promoção. — ironizou, ainda se sentindo enjoado — Pensei que eu fosse inteligente, mas é tudo mentira…
— Oras, James, você é sim muito inteligente! Se não fosse pelas suas deduções, como iria provocar esses gatilhos para ganhar essas informações?
Era um bom argumento. Se ele não tivesse uma percepção um tanto aflorada, com certeza não teria descoberto sobre aquela mensagem da deusa Iris.
— Então é isso. Seu filho pode estar vivo… pelo menos a alma dele está sendo guardada por alguém. O que quer dizer que…
— Meu filho está vivo! Deuses! James! Eu não sei o que consigo sentir nesse momento! Estou triste por tudo isso, por essas crianças… Mas também estou muito feliz que descobrimos algo sobre o meu filho! James, você não sabe o quanto de felicidade em meu peito estou sentindo!
— Kýrios… Acho que vou… — mal teve tempo de completar sua sentença, e acabou vomitando nos pés do deus.
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Missão Ágape
O Olimpo está em crise, e tudo porque de repente uma profecia disse que um deus iria dizimar o seu sistema e tudo que eles lutaram para conquistar e poderem estar no poder até hoje.
E é...