Arco 1 –  Oriente sem DESTINATÁRIO

Missão Ágape

Capítulo 5

  1. Home
  2. All Mangas
  3. Missão Ágape
  4. Capítulo 5 - Sonhos?
Anterior
🟡 Em breve

Havia uma sensação muito estranha, algo como estar caindo num grande vazio, mas que também era muito barulhento…

Eram ecos por todos lados, vozes tensas e apreensivas, e também alguns tons mais suaves como o do vento batendo em seu rosto, mas aquele ar parecia lhe puxar para baixo.

Havia também um som peculiar de asas batendo, como a de um pombo ou um papagaio que acabara de pousar em seu ombro e que desejou depois voar.

Ah, também havia uma pressão muito grande em seu peito, como a de um saco de batatas posto sobre si, era de fato muito incomodo, mas sentia que era necessário.

E então aquelas vozes e outros tons caóticos se foram indo, tudo foi se acalmando, até que um outro cenário lhe veio.

Um flash muito rápido de uma mão delicada tecendo fios de palha que logo virariam um cesto, o clima era muito agradável, o sol do final de tarde batia contra sua pele tão alva, tudo ao redor era realmente magnífico.

Mas seu rosto calmo e feliz logo se tornou desesperado, os olhos chorosos pediam por ajuda urgente.

“Me encontre por favor! Você consegue!”

— Como?! — disse James, acordando de repente e tossindo em seguida por sentir sua garganta extremamente seca.

Como havia sentado tão repentinamente, acabou ficando muito tonto, e voltou a se deitar, se jogando para trás como se estivesse na sua cama.

— Espera…? Onde… Onde estou?

Olhou ao redor, e se viu num quarto imenso, aquele espaço dava dois quartos do que era seu. A decoração tinha tons claros, com alguns detalhes em dourado, mas o melhor era a grande janela que dava para a varanda. A porta de vidro estava aberta, e a brisa batia nas cortinas, que pareciam ser feitas do mais fino cetim de tão transparentes e leves que eram.

— Eu… morri? — se perguntou, pensando que estivesse no paraíso. Mas logo se lembrou de tudo, e do porque estava ali — Meu Deus… Eu morri!

Muito assustado, se levantou da cama, mas logo tropeçou quando algo muito fofo se enrolou em seus pés e correu pra longe quando praticamente quase foi amassado pelo peso de seu corpo.

— Droga… Que merda foi isso?

— Oh! Então o dorminhoco já acordou!

James, que estava caído de bruços no chão, logo olhou para cima para ver quem era.

— Você!

— Sim, sou eu. Você está bem? Se lembra de mim?

Como ele podia não lembrar? Aquele homem tinha uma beleza ímpar, seus modos e todos seus trejeitos pareciam as de um herói ou mocinho de um livro de romance barato que suas amigas da escola quando estava no fundamental gostavam de ler. E ainda mais agora, vendo-o dali debaixo.

O nariz era um equilíbrio entre afilado com uma ponte levemente saliente, lhe dando aquela feição delicada, mas também máscula. E o porte físico não tinha onde olhar e achar defeito.

James não conseguiu resistir em se perguntar mentalmente como ele havia conseguido ter um corpo tão saudável daquele jeito.

— É claro que me lembro! Idiota! — xingou, se sentando, e se recostando na cama, pegando em sua testa por ainda se sentir zonzo.

— Hm, então suas faculdades mentais estão em perfeito estado. — Cruzou os braços, se sentando ao lado do rapaz — Como se sente?

— Porque está me perguntando isso?! Por acaso morri e você é algum tipo de anjo que está me preparando para dar a notícia e me enviar para meu julgamento final e pagar pelos meus pecados?!

Kýrios sorriu de canto e arqueou uma sobrancelha.

— Isso é outro departamento, do meu amigo. Mas fico muito lisonjeado por me achar parecido com um anjo. Não posso dizer o mesmo de você.

— Ah, então estou vivo? Mas…

— Sim, tivemos uma queda feia. Pobre de minha carruagem…

— Que se dane aquela banheira! Como a gente conseguiu sair vivo daquela merda?!

O loiro encostou sua cabeça na beira da cama, olhando para o teto.

— Oras, milagres acontecem. Não é como vocês religiosos contemporâneos falam?

— Não me venha com conversa fiada, quero explicações agora! — disse, se aproximando e pagando o colarinho do outro, que nem se importou com aquela ação agressiva vindo do rapaz.

— É, você ainda não está bem. Precisa descansar mais.

— Quem vai descansar aqui será você, e pela eternidade, se não abrir o bico agora! — ameaçou, puxando o rosto do outro pra mais perto do seu como uma ameaça.

O loiro fungou entediado, e pôs suas mãos em cima das mãos do rapaz, que logo sentiu uma espécie de calor muito aconchegante invadir seu corpo.

O que fez também suas bochechas começarem a queimar.

— O-o que está fazendo comigo?!

— Você precisa descansar, como já falei. Está muito tenso. Sei que deve ter suas necessidades, mas por agora não posso lhe garantir a satisfação delas.

James lhe mirou confuso, até entender do que o outro estava falando.

Como se um raio tivesse lhe atingido, tirou suas mãos do colarinho e debaixo das mãos do loiro, que sorriu em divertimento pelo constrangimento do outro.

— E-eu sou homem! Já disse que…

— Sei, sei. Você só gosta de beldades de saia. Eu também. Mas sei que você parece ser muito tímido para essas coisas.

– Eu? Tímido? — James riu breve em escárnio — Você não me conhece.

— A não? Então vamos lá: É o primogênito dos Payne, adora farrear, já causou vários prejuízos por conta de suas bebedeiras, estava prestes a se casar obrigado e tendo que assumir os negócios da família e por fim, como um perfeito rapaz inocente ainda saindo das fraldas, fugiu com um estranho que lhe prometeu o alívio de todos seus problemas. Um mimado que nunca conheceu o lado ruim da vida. É, não lhe conheço mesmo.

James ficou boquiaberto, queria xingar, entrar em socos com aquele homem, mas logo pensou que estava no território dele, então qualquer ação mal feita, estaria frito.

Mas havia aquele seu lado que gostava de apertar aquele botão de “foda-se” e partir para quaisquer resoluções que viessem a sua mente.

— Eu não sou tímido. — Repetiu o argumento, já que não tinha outra coisa em mente para rebater.

— James, a vida é muito mais do que foi ensinado a ver. Há coisas que estão escondidas nas entrelinhas que nem mesmos nós sabemos sobre nós mesmos. E bem, no meu caso, você pode ficar tranquilo, já tenho minha amada. E sobre você… não tenho preconceitos algum, afinal, sou eu que…

— Que porra você está querendo dizer sobre mim? — perguntou, interrompendo bruscamente o loiro.

— Nada James. Absolutamente nada. — disse, se levantando, e ajudando o rapaz que a muito contra gosto, teve que deixar ser levantando e colocado na cama, já que se sentia muito fraco.

— Você ainda não respondeu a minha pergunta! Pensa que me fez esquecer com conversas constrangedoras sobre minha…

— Sexualidade?

— Vida!! Sobre minha vida pessoal! E pare de desfocar do assunto! Quero uma resposta agora!

Kýrios lhe mirou outra vez em divertimento e riu brevemente enquanto pegava um copo de água para o mesmo, que aceitou sem perceber.

— Você não viu aquelas criaturas que estavam atrás de nós?

— Vi!

— Aquelas aves-mulheres eram as Sirenes. Acho que deve conhecer, seu pai deve ter lhe contado sobre, já que é um restaurador. Então… Como existe aquilo, também existem outras coisas. Como magia. — disse, gesticulado com as mãos no ar quando disse a última palavra — A nossa carruagem estava em queda livre, Panoptes, eu e você estávamos dentro dela, até que… Puff! Viemos parar aqui.

— Assim? Sem mais nem menos?

— Assim sem mais nem menos.

James encarou fixamente o homem, analisando-o para pegar sua mentira.

Mas não descobriu nada.

Ou talvez porque o olhar daquele homem ficasse lhe distraindo…

— Você estava ferido.

— Ah sim, eu estava. Obrigado pela preocupação.

— Não estou preocupado, só estou tentando arranjar uma lógica para isso. Era para você estar agora acamado e com esse ombro esquerdo enfaixado. Estou sentindo que está me escondendo algo.

Kýrios lhe mirou em cansaço e pegou o copo d’água de sua mão.

— Tudo ao seu tempo. Se eu começar a falar tudo, mas tudo mesmo, você irá enlouquecer. Vamos devagar. Com calma. Afinal, você tem todo o tempo do mundo agora.

— Você me convenceu nessa última frase. Mas saiba que… — de repente, se sentiu muito sonolento, e logo seu olhar foi parar no copo na mão do homem — Seu filho da…

— Meça suas palavras antes de me xingar dessa maneira. Aceito qualquer xingamento, menos esse. É desrespeitoso demais. Minha mãe não merece esse desaforo.

— Se tirar alguma coisa de mim…

— Ahrf… De novo com essa conversa? Não acha que se eu fosse um traficante de órgãos já não teria tirado algo ou tudo de você enquanto estava desacordado? Ou pior, você nem estaria mais aqui falando comigo. Então agora durma, precisa se recuperar… — Kýrios se interrompeu, fazendo uma expressão de dor e logo pegando em seu ombro — Ãh, eu tenho que ir. Mais tarde, assim que você acordar, vá ao salão de jantar. O que gosta de comer?

James lhe encarou, querendo mais uma vez xingá-lo, mas pelo aviso de antes, não era o inteligente a se fazer de novo.

— Purê de batata e… frango ao molho pardo… — disse, cada vez mais se entregando ao delírio do sono, um sono que nunca sentiu na vida, era uma sensação estranha, como se todo seu corpo estivesse ficando dormente, como se todos seus músculos lhe avisassem que agora iriam descansar por um bom tempo.

— Anotado! E para beber… bom, vou escolher e lhe apresentar o que gosto. Dio sempre faz piadas e trocadilhos comigo sobre eu ser muito parecido com vinho porquê…

— Merda… Você… idiota… me drogou… — disse, dormindo por fim depois de tentar resistir a tamanho sono que lhe capturou.

Kýrios respirou fundo em alívio, e pegou o frasquinho em seu bolso, lhe erguendo e beijando-o.

— Hip, bota mais essa na conta, vou ficar lhe devendo mais essa, amigo. — disse, cobrindo o rapaz, ajeitando-o de modo que ficasse mais confortável.

E bem nesse momento, Panoptes entrou no quarto.

— Pra quê tanto zelo com esse humano? Daqui a algumas décadas, ou pior, ele pode já já morrer nessa nossa próxima busca.

— E é por isso que tenho que cuidar bem dele! Eu não quero passar mais décadas procurado por mais Pistas de Parca, ou me escondendo daqueles filhos da… — Kýrios logo se interrompeu, dando um leve sorriso e canto sem mostrar os dentes — Acho que me deixei contaminar pelo vocabulário vulgar desse rapaz.

— É o que acontece quando nos misturamos entre eles. Pegamos seus maus costumes.

— Mas até que é divertido. Olhe para esse rapaz, na flor da idade, com certeza ainda nem se apaixonou, mas já carregas uma certas experiências… principalmente na cama. Ele tem uma áurea linda, uma áurea que trabalha muito o âmbito do amor, sei que não consegue ver, Pano, mas pudesse, você teria a mesma opinião que a minha sobre este rapaz. Eu adoraria tê-lo como um adorador, e adoraria fazê-lo aprender os reais sentimentos que eles, humanos, são capazes de ter.

— De novo crises de saudade dela, não?

— Sim, de novo, Pano. E é por isso que dessa vez vou proteger com todas minhas forças essa pequena alma. Dessa vez tudo vai dar certo! Sinto que estou com um pequeno diamante bruto nas minhas mãos. Esse rapaz tem grande potencial! — disse Kýrios de modo muito esperançoso.

— Verdade. Eu vi o que ele fez lá na carruagem. Conseguiu acertar uma Sirene! Será que ele é filho de algum de nossos colegas? Talvez de Apolo?

— Não. Ele é medroso demais para ser filho daquele narcisista.

Panoptes arqueou uma sobrancelha encarando o amigo, já que o mesmo era quase igual ao deus da beleza e das profecias.

— Pano? O que foi?

— Nada. — respondeu o cocheiro — Temos que arrumar aqueles documentos. Está começando a embaralhar de novo.

— Ah, ok… — Kýrios pegou em suas têmporas, respirando em cansaço, e seguiu o amigo.

Mas antes de sair, olhou para trás novamente lá para cama onde o rapaz dormia pesado, já babando. E mesmo com aquela cena tão tosca, sentiu uma fagulha de esperança e de algo mais que ficou confuso dentro de si. Era algo parecido com… afeto misturado a esperança. Algo perto disso.

Logo ele, que tanto trabalhava sobre sentimentos, não sabia realmente o que era aquela sensação que estava lhe cutucando no peito e descendo para o estômago.

•

James mais uma vez se sentia nas nuvens.

E quando acordou, se sentia tão disposto que parecia que ele nunca havia dormido direito em sua vida e aquele foi o verdadeiro significado de dormir. Não sentia nenhuma dor em seu corpo, e nenhum tipo de fraqueza.

Sua vontade era de correr uma maratona por conta de uma sensação de felicidade encher seu peito.

— Vou matar aquele filho da mãe… — foi a primeira coisa que disse ao se lembrar de que estava ali novamente na cama porque havia sido dopado pelo loiro, mas também, ao se sentir completamente bem, sua consciência de justiça logo apitou em sua mente — Certo… vou matá-lo só depois.

Antes de se levantar da cama, olhou para baixo para ver se não havia nenhum animal ali para não ter que de novo causar um acidente de quase atropelar o bichano.

Mas o mesmo não estava ali. Talvez tenha ficado assustado com ele.

— Onde estão minhas roupas?!

James percebeu que estava nu quando a brisa fria que vinha lá de fora bateu em suas partes íntimas, lhe causando um pequeno arrepio pela temperatura um pouco baixa.

Procurou por todos os cantos a sua mala, e assim que a encontrou em cima de uma poltrona perto da lareira, ficou aliviado.

— Está tudo aqui. Graças à Deus. — disse ao abrir a mala e ver que todos seus pertences estavam ali e do jeito que havia deixado.

Somente três mudas de roupa, seu livro favorito de Kama Sutra, e seu caderno de anotações onde ele desenhava tudo que gostava ou sonhava. Pensava que sonhos pudessem ser formas de arte e que por isso, deveriam ser registradas. Pelo menos os que eram belos e que lhe traziam boa lembrança e sensações.

E além daquelas coisas havia seus perfumes, fotografias de família, bonecos de madeira talhados que seu pai lhe fizera para incentivá-lo a ser um restaurador, e várias outras coisas sem valor a não ser sentimentais.

E o mais importante: não tinha dinheiro. Nenhum centavo. Um tostão sequer.

Riu por um breve momento ao pensar que, como ele, que veio de uma família tão rica e bem sucedida, influente em Londres, agora estava sem eira nem beira.

É, a liberdade as vezes custava bem caro…

Mas em parte, não se arrependia. Claro que estava muito preocupado por sua família, que com certeza a essa hora deveria estar desesperada atrás dele. Mas pelo menos, conseguiu deixar algo para confortar um pouquinho o coração deles: uma carta.

Mesmo sendo impedido por Kýrios de fazer aquilo, enquanto arrumava suas coisas, conseguiu escrever escondido e bem rápido sobre sua notícia de fuga ali dentro da mala.

Poderia ser o seu instinto aguçado, mas ele presumiu que aquele homem lhe impediria de deixar algo para sua família, ele parecia desesperado demais em querer levá-lo logo dali.

Então talvez eles agora estivessem odiando-o, mas pelo menos não estariam tão preocupados achando que foi sequestrado ou algo do tipo.

— Hm, ok — respirou fundo —, isso é passado. Tenho que me focar no agora! — se motivou, tentando se convencer de que havia feito o certo em ter saído de casa daquela maneira.

Escolhendo uma roupa leve, foi banhar-se na tina que havia ali atrás de um biombo perto da janela, o que achou estranho, já que essas coisas sempre ficavam o mais escondido possíveis. Não demorou muito para lavar-se, mesmo tendo sentido vontade ter ficado por mais tempo naquela água tão morna e confortável.

— Uau. Incrível. — disse, admirando-se no grande espelho que havia em seu quarto. A moldura era talhada, tinha uma mistura de delicadeza com rusticidade.

Era como o… dono daquela mansão. Bom, James presumia que era uma mansão só pelo tamanho daquele aposento.

E não era só isso. Sua pele brilhava, como se tivesse se banhado em pó de ouro.

Será que havia alguma coisa naquela água?

James por hora não queria saber sobre este detalhe, estava mais interessado em jantar e saber logo todos os detalhes que ele com certeza iria exigir daquele loiro.

Apesar de não muito seguro, saiu do quarto.

Ali fora era tão suntuoso quanto era em seu quarto, e por um momento pensou que iria se perder.

— É só seguir o cheiro de comida. Não é tão difícil. — disse, se gabando por ter morado em uma mansão, e deduziu que todas fossem ou tivessem na mesma estrutura.

Um grande engano…

Quando deu por si, viu que havia parado numa porta aberta que dava para uma praia.

— Mas… Como? — perguntou-se já que não havia descido em nenhum momento alguma escada, e aquele local ficava bem abaixo daquela mansão.

Muito curioso, e também deslumbrado com a beleza do lugar, continuou o seu trajeto.

A areia era branca, fazendo um contraste com o mar azul transparente, com o branco das rochas e o verde da pequena vegetação, simplesmente lindo.

E ali perto, em uma placa bem envelhecida, estava escrito: Navagio – Costa Noroeste – Ilha.

— Que lugar é esse…?

Quando olhou para a porta, viu que a mesma ainda se mantinha no lugar, mas nada tinha atrás dela, era como se tivessem plantado a porta ali no meio do nada na areia.

Tudo muito estranho.

— Estou sonhando? Ainda estou dormindo?

James se beliscou, e viu que não estava dormindo.

— Você não deveria confiar nele.

— Quem está aí?! — perguntou, ao ouvir a voz de uma mulher.

— E se ele for um monstro?

— Quem é você?! — perguntou James, se assustando e caindo de bunda ao ver uma moça com cara de poucos amigos lhe mirando esquisito, como se tivesse raiva dele, mas com algo mais negativo ao fundo que ele não estava conseguindo discernir o que era.

— Ele sempre se esconde de você. Como isso pode da certo? — continuou a moça cruzando os braços sobre seu vestido de linho branco.

— Está falando do Kýrios?

— Eu ainda acho que você deve tomar cuidado. Se ele não mostra o rosto, é porque tem algo muito ruim nisso. Você já se deitou com ele? Já viu suas formas? Ah, já sei, até isso é feito no escuro, não é?

James sentiu suas bochechas esquentarem ao entender o contexto daquela conversa, e logo se levantou pondo-se em postura firme e séria.

— Escuta aqui, moça, eu não sei do que está falando, mas tenho que lhe dizer que não gosto de homens então…

— Ele deve fazer você enlouquecer naquelas paredes daquela mansão. Só pode ser isso para que você não tenha ainda exigido ver o rosto dele.

— Já chega! Eu não vou ficar aqui escutando e sendo acusado de coisas tão vulgares sobre mim! Eu posso admitir ter dormido com quase todas a damas dos bordéis que frequentei, mas isso… Isso é um absurdo! — exasperou-se dando as costas para aquela moça, e indo em direção à porta novamente.

— Isso, vai lá! Continue com seu mundinho de faz de conta! E depois não diga que não avisei! — gritou a moça ao longe antes que ele fechasse a porta.

— Droga… O que foi aquilo?!

James ficou tão confuso que mal se lembrava do qual motivo pelo que a moça brigava com ele, além do fato é claro sobre sua hétero masculinidade, ao qual parecia estar sendo sempre posta em dúvida desde que conheceu aquele loiro, o qual parecia se divertir em fazê-lo se constranger com esse assunto.

— Eu não posso me irritar com essa porcaria, afinal, quem não deve não teme! Como meu pai sempre me fala! Mas… — e então olhou para a porta, pensando nas palavras daquela moça tão irritada. — Deve ser alguma mal amada. Essa deve ser alguma que aquele cara deva ter partido seu coração. E eu fui o pato para onde ela estava tentando despejar seu veneno de mulher rejeitada. É isso.

Se afastando da porta, começou a sua busca pelo salão de jantar.

•

Mais uma vez James se viu perdido, e cada vez mais a sua tese sobre mansões serem todas iguais estava indo por água abaixo.

Só em meia hora já havia entrado em vários cômodos diferentes e peculiares: um tinha o levado para um castelo bem antigo, uma outra porta lhe mostrou uma fazenda, e outra uma caverna. Era como se aquele lugar todo fosse mágico, ou, em seus pensamentos mais loucos, que aquilo tudo fosse uma ciência bem avançada, e que Kýrios na verdade era um daqueles cientistas malucos que conseguiram fazer uma máquina de transporte para qualquer lugar do mundo.

Se fosse este segundo caso, não era de admirar ter um lugar daqueles, já que cientistas recebiam muitas doações de grandes empresários e outras fundações para suas pesquisas, quase como os restauradores recebiam, assim como seu pai.

— Que eu tenha mais sorte dessa vez…. — disse, ao girar a maçaneta de uma porta branca muito alta e detalhada com entalhes de penas douradas.

Entrando bem de mansinho para não ter nenhuma surpresa como das outras portas que havia entrado, James foi dando seus passos na pontas dos pés. Observou toda área, e logo comemorou ao ver que estava em um quarto normal, o que significava que seu sucesso para encontrar o salão estava se aproximando.

— Certo, um quarto. Menos mal.

Mas assim como tudo estava sendo em sua vida recentemente, nada estava saindo como queria…

“Há alguém aqui!”. Pensou, ouvindo passos.

Olhou pra trás, mas a porta já havia se fechado…

“Merda!”. Bufou tentando se acalmar.

“Certo, insistir em tentar abrir a porta é pedir pra morrer!”. Pensou.

“E seja o que ou quem for não posso deixar que me veja! Não de novo!”. Empertigou-se, afinal, havia entrado em tantas portas e visto tantos seres estranhos que ao botarem os olhos nele já queriam arrancar sua pele que ele estava começando a ficar arisco, temeroso e paranoico quando escolhia e apostava entrar em alguma porta.

Olhando para todos lados, seus olhos e instinto de defesa escolheram por não ter opção o lugar que era óbvio, mas bastante funcional para aquele momento.

Como se tivesse perdido todo o ar,  cambaleou um passo para trás e se escondeu debaixo da cama ao ouvir passos de alguém saindo de um outro cômodo que parecia um guarda-roupas.

E a pessoa nada mais nada menos era…

“Kýrios…?”. Perguntou-se, estranhando vê-lo ali assim naquele estado.

O loiro estava como veio ao mundo, e todas suas formas eram evidenciadas pelos reflexos da lua cheia que invadia aquele quarto que por alguma razão, estava escuro.

— Hm, acho que vou usar essa, assim não vou assustá-lo. — disse, indeciso por duas calças folgadas, uma branca e outra bege.

“Porque uma roupa me assustaria?” Perguntou James, um tanto curioso e esperando por mais falas daquele homem.

— Ah! Essa é perfeita, vai me esconder perfeitamente.

— Hgm! — sussurrou James, se engasgando ao ver os predicados do loiro quando o mesmo se virou de frente.

O rapaz já tinha visto vários corpos nus de vários homens, principalmente quando tomava banho nos vestiários masculinos depois de suas horas de esportes no clube de cricket onde frequentava, mas nunca havia visto um corpo como aquele que estava vendo à sua frente.

Homens ingleses tinham seus adjetivos, mas agora que via os daquele grego… não sabia que palavra para poder definir o quão belo era. E o principal… o quão “vultoso” era.

“Mas que porr…! Os gregos…  são assim? Isso é sobre-humano! Isso definitivamente não é algo normal!”. Perguntou-se, mentalizando uma comparação consigo, e vendo que não chegava aos pés daquele homem, mas, se orgulhando pelo fato de ter outras coisas além de um corpo bonito.

“Eu também sou rico. E posso ter o que quiser tanto quanto ele. Oras.” Pensou, se dando conta logo em seguida de que estava se comparando, uma coisa que nunca havia feito por sempre se achar melhor.

— Até que ficou bom. — admirou-se Kýrios em frente ao seu espelho depois de vestir uma calça, mas logo em seguida ficou emburrado — Odeio essas roupas. — Bufou, tirando a calça e a jogando em cima da cama, e logo indo até uma coluna esculpida em detalhes muito requintados e bonitos e que vinha até a metade de seu corpo em altura.

James mais uma vez teve que se focar em ver o que ele ia fazer do que ficar observando o corpo do outro, até se ajeitou o mais confortável e num ângulo mais favorável para poder ver que coluna era aquela que o loiro havia parado em frente para observar.

— Acho que vou dar uma volta. — disse, pondo a mão dentro daquela coluna e um brilho muito bonito saiu de dentro.

“O que é isso?” Perguntou-se o rapaz ficando ainda mais curioso quando uma espécie de tecido muito fino e transparente balançava com qualquer brisa fraca que lhe batia ou se mexia lentamente a cada movimento pequeno do homem.

— Isso sim é perfeito. — disse o loiro, aproximando aquele tecido em seu tórax.

Para a surpresa de James, aquela película fina e leve começou a envolver todo o corpo do homem, fazendo sua pele ficar cintilante em dourado com algumas linhas em vermelho. A nudez logo foi coberta por uma neblina dourada assim como o tecido, mas só nas partes íntimas, já que o torso, braços e pernas ainda ficaram desnudas.

Era como se… tivesse vestido uma nuvem.

Simplesmente lindo. Foi o que passou pela mente do moreno sem que o mesmo pudesse se advertir de pensar.

Seus olhos mais uma vez grudaram no outro, e sentiu como se tivesse sendo hipnotizado por aquelas formas. James ficou tão absorto que só percebeu que Kýrios estava em cima da mureta quando o mesmo abriu os braços num gesto muito estranho de querer fazer algo muito grave.

“O que ele pensa que vai fazer?!”

Antes que sua boca abrisse para poder gritar para ajudar o homem, o mesmo se jogou.

James saiu debaixo da cama apavorado, seu coração parecia sair pela boca por conta de uma cena tão ruim como aquela.

No impulso, correu para a varanda e para a mureta.

— Mas… Onde…??!

Seu olhar desesperado buscou avidamente pelo corpo estatelado do loiro, e seu peito se apertou ao imaginar isso, que ele pudesse estar a essa hora sem vida em alguma parte daquelas pedras perto do mar, mas sua busca não teve resultado.

Kýrios não estava em nenhum lugar.

O vento batia em seu rosto, e quando sentiu um pequeno fio frio escorrer pelo seu rosto logo tratou de tocar para ver o que era.

— Lágrima…?

James ficou sem entender aquilo. Havia chorado? Mas porquê?

Ele sentia o coração bater a cem por hora, suas mãos estavam geladas, bem diferente de segundos atrás quando estava com seus olhares capturados pelo loiro e sua misteriosa e estranha “roupa”.

Procurando mais uma vez com o olhar buscou o homem, mas não havia nenhum sinal do mesmo.

— Será que… estou ficando louco? Esse quarto… será que é um quarto encantado e… Estou tendo alucinações? Tenho que sair daqui! Isso não pode ser real! — disse, se afastando da mureta, trêmulo, ainda sem acreditar no que havia presenciado.

Sem olhar para trás, com medo de ver mais alguma coisa que fosse lhe chocar, saiu do quarto.

Comentários no capítulo "Capítulo 5"

COMENTÁRIOS

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*

*

Capítulo 5
Fonts
Text size
AA
Background

Missão Ágape

3.7K Views 5 Subscribers

O Olimpo está em crise, e tudo porque de repente uma profecia disse que um deus iria dizimar o seu sistema e tudo que eles lutaram para conquistar e poderem estar no poder até hoje.

E é...

Chapters

  • Capítulo 47 Proemial
  • Capítulo 46 Alto Mar
  • Capítulo 45 Anelos
  • Capítulo 44 Verdades da Alma
  • Capítulo 43 Premências Difíceis
  • Capítulo 42 Enraizados
  • Capítulo 41 Chaves Sinceras
  • Capítulo 40 Presença
  • Capítulo 39 Luz Misteriosa
  • Capítulo 38 Possibilidades
  • Capítulo 37 Espólios
  • Capítulo 36 Fogo
  • Capítulo 35 Visitas Indesejadas
  • Capítulo 34 Penalidades
  • Capítulo 33 Mais, ou Menos
  • Capítulo 32 Temerário
  • Capítulo 31 Serviços Extras
  • Capítulo 30 Zelus
  • Capítulo 29 Magnetismo
  • Capítulo 28 Despertando
  • Capítulo 27 Sem Céu para Inocentes
  • Capítulo 26 Entre Mortais
  • Capítulo 25 Nuances
  • Capítulo 24 Céu de Luzes
  • Capítulo 23 Sobreposição (parte 2)
  • Capítulo 22 Sobreposição (parte 1)
  • Capítulo 21 Café Quente
  • Capítulo 20 Conselhos
  • Capítulo 19 Muros em Chamas (parte 3)
  • Capítulo 18 Muros em Chamas (parte 2)
  • Capítulo 17 Muros em Chamas (parte 1)
  • Capítulo 16 Cem Olhos
  • Capítulo 15 Nobre Amizade
  • Capítulo 14 Impulsos
  • Capítulo 13 Abaixo da Superfície
  • Capítulo 12 Fim de Festa
  • Capítulo 11 Fagulhas
  • Capítulo 10 Noite de Cores
  • Capítulo 9 Sopa de Ossos
  • Capítulo 8 Saindo do Ninho
  • Capítulo 7 Dádivas
  • Capítulo 6 Reunião Cancelada
  • Capítulo 5 Sonhos?
  • Capítulo 4 Empecilhos
  • Capítulo 3 Efúgio
  • Capítulo 2 Bençãos á Vista
  • Capítulo 1 Sem Opção
  • Capítulo 0 Prólogo dos Contratempos do Amor

Login

Perdeu sua senha?

← Voltar BL Novels

Assinar

Registre-Se Para Este Site.

De registo em | Perdeu sua senha?

← Voltar BL Novels

Perdeu sua senha?

Por favor, digite seu nome de usuário ou endereço de e-mail. Você receberá um link para criar uma nova senha via e-mail.

← VoltarBL Novels

Atenção! Indicado para Maiores

Missão Ágape

contém temas ou cenas que podem não ser adequadas para muito jovens leitores, portanto, é bloqueado para a sua protecção.

Você é maior de 18?