Capítulo 6
James não sabia como, mas havia conseguido volta para seu quarto…
Sua cabeça estava latejando de dor, e seu coração ainda palpitava por sensações muito confusas. Até aquela moça da praia lhe vinha em sua mente, mas não em uma situação indecente, era numa situação desagradável, suas falas se referiam a Kýrios, disso James teve certeza naquele momento, e ainda mais agora ao ver o mesmo se jogar da mureta e desaparecer.
Ele não era uma pessoa normal, essa era uma outra certeza naquele instante. Mas também… não era um monstro.
Agora como ele poderia investigar isso…? Ele não tinha a menor ideia por onde começar.
Mas talvez fosse melhor não explorar muito isso ainda, pois ele estava no território daquele homem, e por isso, estava em suas mãos. E a última coisa que queria era irritar seu ainda “aliado”.
Mas tinha uma hipótese sobre tudo aquilo: que aquele loiro estava tentando achar um sucessor pra assumir todo aquele lugar, não era atoa que estava se arrumando daquela forma e depois ter se jogado. É claro, o homem, por motivos totalmente desconhecidos, tinha deixado tudo pra ele.
O que ele ia fazer agora com tudo aquilo?
— James Payne?
O rapaz deu um pulo na cama, caindo para trás no chão, seu susto foi muito grande por estar distraído com seus pensamentos.
— Q-quem é?
— Sou eu, Panoptes. Você está bem? Ouvi um barulho ainda agora.
— Sim, estou bem! Eu só… tropecei e caí enquanto botava as calças!
— Entendo. Bom, vim lhe chamar para jantar. A comida já está posta a um bom tempo, mas você ainda não foi até o salão. Kýrios não lhe informou sobre isso?
— Sim, informou, mas… é que acordei agora pouco, e ainda estou me situando aqui no quarto… — disse, indo até a porta e abrindo-a, dando de cara com um homem todo elegante, mas ainda todo enfaixado, somente seus dois olhos um de cada cor, cinza e castanho, que dava para se ver, mas pelo tom de pele que exibia ao redor deles, ele tinha uma nuance voltada para um castanho, lembrando James a cor de mel.
— Você está péssimo. O que houve?
— Nada. Porque pergunta?
— Hm, você estava dormindo da última vez que vim lhe ver, era para estar com uma boa cara quando acordasse… Seus olhos estão inchados… vermelhos… estava chorando?
— Chorando? Eu? Oras, porque acha isso?! Eu não sou um cara que chora! Chorar é para moças! — disse, cruzando os braços.
O cocheiro lhe mirou fixamente, analisando-o, e coçou o queixo em desistência por ter visto o óbvio.
— Que seja, vamos logo jantar. Já estou farto de esperar, meu estômago está roncando e daqui a pouco vai querer comer meu fígado se eu não botar logo algo pra dentro.
— Sim! Vamos lá jantar. — Pigarreou, tentando deixar a voz mais firme.
James sentia uma tristeza por aquele homem. Como ele ia contar que seu patrão havia se matado a poucas horas atrás e de alguma forma seu corpo havia sumido? E por consequência, não viria para o jantar.
Triste, mas uma hora ele tinha que contar.
Seguindo o cocheiro, James entrou junto do mesmo num grande salão, que bem no meio tinha uma mesa pequena que servia para caber somente quatro pessoas.
Bem estranho, já que esperava ver uma mesa que fosse ser para pelo menos vinte pessoas de cada lado considerando o tamanho daquela mansão.
Mas isso não era o mais estranho daquela decoração, o mais bizarro de tudo foi ver Kýrios perto da lareira bebendo uma taça de vinho tinto, seu olhar estava perdido nas chamas enquanto as mesmas dançavam conforme as brisas passavam, as que constantemente entravam pelas grandes janelas. James já havia percebido que aquele local era bastante ventilado, para onde ia tinha sempre uma brisa percorrendo todos os cantos.
— Kýrios. — Lhe chamou James, sentindo um grande alívio ao vê-lo.
O loiro logo se virou, e abriu um grande sorriso, mas também arqueou uma sobrancelha ao mirar o rapaz a sua frente.
— O que houve? Está gripado? — perguntou o loiro.
— Você…! Explique-se! Agora!
— E lá vamos nós de novo… — o homem deixou a taça em cima da lareira e cruzou os braços — Nós vamos conversar, mas não sem antes jantarmos, podemos?
— Podemos! — disse, indo para a mesa e se sentando irritadiço na mesma.
Panoptes ficou olhando toda aquela atitude estranha do rapaz, e virou seu olhar no loiro, que deu de ombros como se dissesse “Eu realmente não sei o que este pirralho tem”.
A mesa ainda estava vazia, mas bem ornamentada com pratos de prata e taças de cristal. James olhou para os dois e para o lugar que estava vazio.
— Estamos esperando alguém? — perguntou.
— Que bom que perguntou! Sim, mais uma pessoa virá nos honrar com sua presença. É um outro grande amigo meu. Mas, parece que está um pouco atrasado… — Kýrios só teve tempo de completar sua sentença, e logo uma fumaça preta apareceu vindo da lareira, fazendo as chamas se apagarem e o local ficar um tanto sombrio.
Até as chamas das velas da mesa mudaram de cor para uma cinzenta escura, uma coisa que foi difícil de entender, já que luzes são sempre claras.
— Tânatos! Pensei que a morte sempre viesse no tempo certo. — disse Kýrios, e o homem à sua frente revirou os olhos, fazendo a foice desaparecer de sua mão transformando-a em uma fumaça prateada.
James nem precisava perguntar, só pelos seus conhecimentos de história que seu pai contava, e pela entrada assustadora que o mesmo fez ele soube na hora o quão perigoso era o caminho agora que ele havia escolhido.
— Muito engraçado. Sempre as mesmas piadas… — ironizou sem humor o homem que se chamava Tânatos.
— É claro! Isso porque nunca perde a graça. — Riu Kýrios, bebendo um gole de água que de repente apareceu na mesa.
— Concordo com ele. Esse trocadilho nunca perde o humor. — concordou Panoptes.
— Já que estão tão bem humorados, não vão se importar de eu ir continuar meu trabalho… — disse, quase se virando para ir embora, mas foi impedido pelo outro.
— É claro que me importo, Tân. Por favor, sente-se. — disse o loiro, guiando o homem até a mesa.
James ainda estava estático, suas mãos tremiam, não conseguia sentir a ponta de seus pés por tanto medo, além disso sua mente tentava achar logica sobre a atual situação em que estava.
“Ele é… Ele é realmente o… é um…”. Pensou não conseguindo completar nenhum raciocínio que pudesse explicar o que estava já na cara o que era. Mas seu senso cético estava lhe impedindo de acreditar que sua teoria era real sobre aquela situação em que se encontrava. E quando o “homem pálido” se aproximou e sentou era como se James tivesse desaprendido de respirar, nenhum músculo seque do corpo se movia.
— O que há com ele? Está doente? É terminal? Hm… — o pálido pegou um pergaminho de seu bolso e começou a ler, procurando por algo que demorou só um instante — James Payne, inglês, nascido em 1863. Está saudável. Por enquanto.
— Quê?!
A voz de James quase não saiu naquela pergunta…
— Sua linha de vida está longa, mas muito instável… Aconselho não beber muito. Principalmente se aquele bêbado do Dionísio lhe oferecer um de seus vinhos prediletos. — disse Tânatos, guardando o pergaminho em seu bolso novamente.
James ficou sem fala, não sabia como reagir e nem como se comportar.
Ou melhor, não sabia nem o que pensar, já que pelo que viu até agora, muita coisa estranha poderia vir com mais frequência em sua vida.
— Pare de assustar meu pupilo. Olha só, ele está mais petrificado que uma estátua sob o encanto do olhar de Medusa. — disse Kýrios, pondo suas mãos nos ombros do rapaz e verificando realmente que seus músculos estavam completamente tensos — Acho que vou ter que pedir mais alguns daquelas ervas do Hipnos… Você não tem alguma aí com você, Tânatos?
O deus, sim, era o próprio deus da morte, que lhe mirou aborrecido, e o loiro deu de ombros.
— Então, conseguiu achar mais uma Pista de Parca. Está fazendo um bom progresso.
— Não falei que uma hora esse plano iria andar? É como sempre falo: o amor supera o tempo. E por minha amada, espero nem que seja por éons!
— Sim, eu sei. Mas não me chamou aqui somente para me dizer poesias ou motivações românticas, o que quer… Então escolheu ser dessa vez “Kýrios”?
— Eu também achei esse nome muito tosco. — Concordou Panoptes.
— Ei! É um nome perfeito! Afinal, além de soar bem, combina comigo e minha situação.
James ouvia tudo com sua mente distante, lhe passava várias imagens de coisas que ele havia vivido, e seu coração estava muito apertado.
E Kýrios percebeu essa energia absorta do moreno…
— Ei, Tân, será que… você pode se segurar um pouco? Ele está congelado. Nós vamos jantar, ele não pode ficar assim.
— Tinha me esquecido que havia um humano entre nós. — Assim que disse isso, toda sua áurea escura desapareceu, ficando somente um cara pálido.
Suas feições eram sérias, tinha uma beleza parecida com a do loiro, mas a sua tinha uma característica peculiar, rosto fino, era como se ele estivesse sempre pronto para lhe dizer algo, já que seu olhar era sempre penetrante, um breu total que cobria até as escleras, como se estivesse lendo a alma da pessoa que mirava.
James sentiu um peso enorme sair de seus ombros, e sua respiração voltou a funcionar normalmente, tanto que até tossiu seco e sentiu novamente vontade de chorar, como se de alguma forma tivesse sobrevivido à algo.
E o ditado sobre “Toda sua vida passa diante de seus olhos quando está frente à morte” tomou bastante sentido agora.
Sim, uma piada ruim mas, era verdadeira e literal.
— Então… Você… Você é…
— Sim, exatamente, Sr. Payne.
O rapaz olhou para os outros dois em busca de respostas, mas os mesmos lhe deram sinal para o mesmo voltar sua atenção ao deus ao seu lado.
— Como isso é possível?! N-Não é só… mitologia?!
O deus franziu o cenho.
— Vocês humanos podem até ter se esquecido de nós, mas sempre estivemos lá, e sempre estaremos. Pois nós fazermos parte de todo um ciclo criado por algo maior. Somos todos uma natureza, uma força, mutáveis e imutáveis ao mesmo tempo. Alguns ganham novos nomes, novas formas, mas a essência continua lá. — disse Tânatos.
— Então… Você… e o que acredito…
— Tudo existe. Como falei. Alguns novos aparecem, e isso é bom, enriquece o ciclo, o que me faz pensar e sentir que não estou sozinho. Que posso contar com alguém.
Apesar de ainda se sentir trêmulo, James achou incrível aquele pensamento, nunca havia pensado daquela maneira. Ou melhor, nunca havia parado para pensar sobre nada. Sua vida se resumia a acatar suas vontades e outros desejos os quais adorava ceder pelo fato de estar saindo da linha que a sociedade ditava para ele ser, e a outra parte era a de tentar escapar das advertências de seu pai e tia.
— Então você existe, anjos da morte existem… E todas as outras formas referentes à sua natureza, existem! Meu Deus… isso é muito para processar…!
— Ok, chega de filosofias, estamos aqui para “matar” a nossa fome, entendido? — disse Kýrios, fazendo outro trocadilho, e mais uma vez Tânatos revirou os olhos aborrecido.
— Estou um pouco enjoado… — disse James, pegando um pouco de água, sua mão estava evidentemente tremendo.
— Acho melhor eu me afastar um pouco. — disse o deus, se sentando onde era o lugar do loiro, ficando de frente para o rapaz — Melhorou? — o moreno assentiu, mas ainda tonto com tudo.
Panoptes deu um estalo, e logo uma mesa com quatro cloches apareceu ao lado do cocheiro, que se levantou para servir à todos, junto de Kýrios, que enchia de vinho as quatro taças na mesa.
O jantar ocorria bem, mesmo que as vezes James se engasgasse com alguma azeitona do pimentão recheado, ou com alguma semente ou cereal que se misturava ao molho de ervas e outras especiarias.
Mas no geral, apesar de ser uma comida com muitos vegetais ao seu ver, até que gostou.
— Essa Gemista está divina! Vou abençoar quem cozinhou isto. Que esta pessoa tenha muitos amores na vida! — disse Kýrios, brindando sozinho e bebendo seu vinho logo em seguida.
— E que ela tenha uma longa vida… Hm, ela terá, se parar de correr tantos riscos desnecessários com jogos de azar. — disse Tânatos, sua expressão nunca mudando, assim como seu olhar que sempre parecia estar com a alma fora do corpo.
— Será que vocês dois podem parar um pouco de se exibirem? O rapaz aqui está ficando pálido de novo. — comentou Panoptes.
E era verdade, sempre que aquele deus dizia algo James ficava apreensivo. Mas uma coisa havia clareado no meio daquilo tudo.
James era inteligente, quando queria. E a presença daquele deus, mais as coisas estranhas que havia já visto até ali e mais o linguajar estranho do loiro, lhe fizeram raciocinar até que uma resposta lhe veio à mente:
Aquele homem sentado ao seu lado não era um homem normal, era também um deus. Agora qual… Ele não estava conseguindo se lembrar. E mesmo quando forçava a mente para dizer qual era, a resposta vinha na ponta da língua, mas algo parecia sempre bloquear essa informação.
— Não, tudo bem… estou bem. É só que… ainda estou processando toda essa coisa. Mas continuem. Afinal, a minha presença aqui tem um propósito, então vou esperar quando for minha hora.
Tânatos arqueou uma sobrancelha e olhou para Kýrios que devolveu o olha com um semblante orgulhoso e risonho.
— Viu? Não é à toa que sou tão popular entre os humanos. Tem até datas em minha homenagem! — disse Kýrios.
— Eu também tenho. Não que eu queira me vangloriar disso. — disse Tânatos, terminando sua refeição — Isso não vem ao caso. Agora que todos terminamos — voltou então sua atenção para o loiro —, o que você quer de mim agora, Kýrios.
— Olha, não é uma coisa difícil. É só uma coisinha de nada. Algo como… tirar o nome do James da lista de espera.
Tânatos lhe mirou sério.
— Você sabe o que está me pedindo? Isso vai contra a leis da natureza.
— Sim, eu sei disso. Mas é por uma boa causa! Eu não quero ter que esperar de novo por um novo sinal de uma Pista das Parca aparecer! E esse rapaz — Kýrios mirou seus olhos no moreno —, eu sinto no mais profundo de meu ser que tenho que protegê-lo. De que ele será muito importante para a nossa campanha! Aliás, Tân, só de você estar aqui já é contra as regras, pelo menos essas novas que aquele maluco e paranoico decretou.
— Kýrios — começou o deus da morte —, eu confio em você, senão não estaria aqui com vocês dois, mas o que pede… isso eu não posso fazer.
— Mas sempre há um jeito. Até para a morte!
— Sim. Há.
— E então?
— Você e sua mãe são os cabeças dessa busca, vocês não podem correr qualquer risco. Qualquer coisa que lhes acontecer seria como uma vitória para os conspiradores.
— Eu sei, mas dessa vez estou disposto a apostar tudo que estiver ao meu alcance. Então se for pra correr esse risco e poder encontrar ela e todas as provas que ela conseguiu reunir… eu farei!
— Estou vendo que sim. Até colocou esse humano sob seu teto. É sinal que as coisas estão sendo levadas com mais seriedade do que já estava. — disse Tânatos.
Kýrios estava determinado, e James viu pelo seu olhar que nada o faria parar para conseguir seus objetivos.
Até ficou pensando no que ele faria caso não aceitasse ajudar nessa tal busca que agora estava mostrando cada vez mais detalhes e gravidade. E em parte, ficou um pouco incomodado de saber que se não fosse tão importante para essa coisa que ele queria fazer, com certeza não estaria tendo todo aqueles tratamentos e regalias.
— O que eu tenho que fazer? — perguntou James, interrompendo a conversa dos outros dois.
Tânatos lhe mirou preocupado, tanto para ele quanto para o loiro.
— Este seu mestre está querendo ligar a força vital dele com a sua. Isso quer dizer que você não morrerá tão facilmente. Mas o contrário… se ele for ferido de maneira crítica, que cause quase a sua perda de vida, você é quem terá a linha cortada.
James sentiu toda sua espinha arrepiar-se.
Aquele homem estava disposto a arriscar sua vida ligando-a à dele?
— Pelo que estou entendendo… Você, Kýrios, é um deus. — disse James, e o loiro fez uma expressão surpresa, não esperava que o rapaz fosse descobrir tão cedo e verbalizar isso — Não sou um especialista, mas graças ao meu pai e suas insistentes horas em me fazer ouvir suas histórias, lendas e mitologias sobre as coisas que ele restaurava, tenho um pouco de conhecimento nessa área. E nessas histórias, todas dizem que deuses são imortais. E o que ele me explicou — se referiu à Tânatos —, você pode morrer?
Kýrios, que era sempre tão energético e vivo, recostou-se no encosto da cadeira e cruzou os braços, respirando entristecido.
— Bem, gostei de sua perspicácia e coragem até agora, louvo que ainda não tenha desmaiado com tanta informação visual. Melhor assim. Pelo menos não terei que ficar dias e dias para tentar convencer de que tudo aqui é de verdade… Ok, sim, eu sou um deus, mas estou foragido, nem meu nome verdadeiro posso usar porque me foi tomado, banido, todos se esqueceram, e caso seja lembrado e verbalizado, vão descobrir onde estou, e consequentemente… todos que estão ligados a mim sofrerão as consequências.
— E posso saber o porquê de você está foragido?
Kýrios olhou para Panoptes, que assentiu em concordância sobre ter que contar sobre tudo.
— É uma longa história…
— Não estou com pressa.
— Então aqui vai. Era uma vez um lindo deus que…
— Sério cara? — interrompeu o cocheiro, e o loiro deu de ombros.
— Ok, vou ser direto… Como sabe, deuses existem, todos eles. E tudo estava em paz e seguindo seu ciclo como deveria ser, isso até o momento em que uma tal de Aleteia resolveu fazer uma visitinha ao Olimpo e convocar uma reunião. Eu estava no meu aposento, cuidando de minha amada, ela se encontrava enjoada… Ela… estava esperando nosso quarto filho. — Contou Kýrios.
— Aleteia… nunca ouvi falar. É alguma deusa nova?
— Não, a verdade… — Kýrios sorriu de canto quando Panoptes revirou os olhos — Prometo que isso não é trocadilho ou alguma piada… Aleteia é um espírito personificado da verdade. Ela é a Verdade.
— Verdade personificada… Isso é complicado.
— Ha, isso é só o começo. Aleteia discursou no salão daquela reunião, um assunto que nem eu estava preparado para absorver… Ela chegou acusando à minha mãe de conspirar contra Zeus e todo aquele panteão, dizendo que ela e todos que tinham ligação a ela estavam planejando um novo domínio, que estava tentando ser uma deusa criadora. Aleteia também disse que todas as catástrofes que já aconteceram foram por causa de minha mãe e… eu. E que se eu e todos de meu departamento não existissem, nada de mal teria acontecido, ou nada mais iria acontecer.
— E quem é sua mãe?
Kýrios olhou novamente para Panoptes e depois para Tânatos, que olhou para todos os lados, e assentiu em sinal de que estava tudo bem.
— É aquela que vocês mortais amam e se inspiram nela para quase tudo… A deusa do amor.
James ficou surpreso, pensava que estivesse sonhando, que aquilo tudo que ouvia era alguma forma bem elaborada que seu pai inventou para ele finalmente se inspirar e seguir seus passos, mas sabia que nada daquilo poderia ser só fingimento, havia coisas inexplicáveis demais para serem explicadas.
— Então… Você é…
— Sim, sou exatamente o…
— Hermafrodito! — disse James, cruzando os braços orgulhoso por pensar que tivesse acertado quem era aquele deus.
Os três seres à mesa lhe miraram em decepção, mas Panoptes ficou segurando riso.
— Bem… quase chegou perto. — disse Kýrios um tanto sem jeito — Este é meu meio-irmão, o filho de Hermes.
— Oh, certo… vou tentar me lembrar… Hm, são tantas histórias que meu pai me contou… Droga, como eu poderia saber que um dia eu teria que usá-las? Mas tanto faz. Você não pode ter seu nome mencionado, não? Acabei de me lembrar agora.
— Sim, e que bom, em parte, que tenha se equivocado. Então já sabe, mesmo que me reconheça, não fale meu nome.
— Tudo bem, primeira regra acertada. Continue.
— Ah, tudo bem, então, que com essa acusação e mais o fato de algumas deusas e deuses sentirem ciúmes ou inveja de minha mãe, se aliaram com essa Aleteia e compraram sua causa. Principalmente Zeus. Agora minha mãe está enclausurada em seu palácio, sem comunicação com ninguém.
— Então é por isso que estou aqui? Para ajudar você a libertar sua mãe?
— Espera, é mais que isso! Minha amada, quando tudo isso começou, por uma década de pesquisas e com muito esforço entre fugas e lutas, conseguiu reunir provas da inocência de minha mãe e de todos que lhe envolvem, inclusive a minha, mas os conspiradores que nos odeiam a capturaram… Eu fui ao seu resgaste, me rebelei por sua soltura, mas recebi minha punição como um traidor: a baniram para o esquecimento. Pelo menos… assim penso. Porque não consigo encontrá-la. Nem em oráculos.
Kýrios foi ficando cada vez mais desanimado enquanto contava toda aquela história, e ficou bem entristecido no fim. James pôde sentir em seu peito a dor dele, de perder quem lhe importava muito. Era engraçado como sua empatia estava bem aguçada depois que o conheceu, era como se estar na presença daquele homem, corrigindo, deus, estivesse aflorando essa virtude.
— E não é só isso, não? Porque eu sinto que não.
Kýrios se inclinou na mesa, olhando fixamente para o rapaz, franzindo o cenho com um pensamento estranho que lhe passou na mente de repente.
— Você… é bem perspicaz. Pensei que era só um idiota.
James tensionou a maxilar, irritado, e também se inclinou na mesa, encarado o deus a sua frente.
— E você é bem… determinado. Pensei que era só um exibicionista barato que veio “turistar” em Londres.
Panoptes abriu a boca surpreso com o que o rapaz disse, mas acabou não conseguindo dizer nada, já Tânatos exibiu uma pequena menção de um sorriso de canto, achando divertido aquela situação, ainda mais pelo rapaz tratar aquele loiro da mesma forma mesmo sabendo quem ele era agora.
— Não tenho culpa se tudo que faço é o melhor possível.
— Não, não tem. Afinal, creio que esteja limitado a característica que tem como título. Diferente de um humano, que pode ser o que quiser.
Kýrios, que estava com um sorrisinho convencido no rosto, o fez desaparecer no mesmo segundo que o rapaz disse aquelas coisas.
— Isso… não é verdade. — disse, se levantando da mesa com um semblante entristecido, e saindo do salão.
James tinha vencido aquela disputa discursiva, mas estava com um gosto de derrota muito incômodo em seu peito.
— Esse foi o melhor jantar de todos que ja tive com vocês. — disse Panoptes, colocando uma mão no ombro do rapaz. — Faça a coisa certa, meu amigo não merece isso. — disse dessa vez Tânatos, e assim que terminou de dizer aquelas palavras finais, dissolveu-se no ar, deixando para trás uma brisa muito fria. A chamas das velas voltaram ao alaranjando vivo, e tudo no local se tornou mais alegre.
— Eu… vou indo também. Boa noite, Sr. Payne. — disse Panoptes, deixando a mesa e saindo pela mesma porta que Kýrios havia saído.
Aquele salão era grande, mas se tornou ainda maior ao se ver só ali na mesa. James teve uma sensação ruim, e como sua mãe dizia, ele poderia até tentar, mas era um mocinho bom que não gostava de machucar as pessoas.— Merda… — murmurou, se levantando, e correndo para logo consertar seu erro.
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Capítulo 6
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Missão Ágape
O Olimpo está em crise, e tudo porque de repente uma profecia disse que um deus iria dizimar o seu sistema e tudo que eles lutaram para conquistar e poderem estar no poder até hoje.
E é...